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José António Pinto Ribeiro Caldas, cidade cultural ... - CCDR-LVT

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P r o p r i e d a d e<strong>CCDR</strong>‐<strong>LVT</strong>Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regionalde Lisboa e Vale do TejoRua Artilharia 1, nº 33 – 1269‐145 LisboaTel.: 21 383 71 00 | Fax: 21 383 12 92www.ccdr‐lvt.ptD i r e c t o rAntónio Fonseca FerreiraD i r e c t o r e x e c u t i v oCarla GomesFo t o g ra f i a s : G u t o Fe r r e i ra [ c a p a e c o n t ra c a p a ]P r o j e c t o e d i t o r i a l , d e s i g n e p r o d u ç ã oDDLX [www.ddlx.pt]José Teófilo Duarte [Direcção]Eva Monteiro | Tânia Reis [Design]Rui Cardoso [Contacto]C o l a b o r a d o r e sAna Sousa DiasCarla AmaroCarla Maia de AlmeidaDavid Lopes RamosEduardo Oliveira FernandesFernanda CâncioPedro Almeida VieiraF o t o g r a f i aGuto FerreiraCâmara Ardente, produções fotográficasI m p r e s s ã o e A c a b a m e n t oEuro-ScannerT i r a g e m 2500 exemplaresI S S N 1646‐1835D e p ó s t i o L e g a l 224633/05L V T # 9 – N o v e m b r o | 2 0 0 8 | Q u a d r i m e s t r a l


índiceEditorialSetúbalAs novas oportunidades de desenvolvimento......... 2António Fonseca FerreiraNotícias Breves........................................................................4OpiniãoO mérito da discussão...........................................................8Fernanda CâncioEntrevistaJosé António <strong>Pinto</strong> <strong>Ribeiro</strong>................................................ 14Ana Sousa DiasReportagem<strong>Caldas</strong>, <strong>cidade</strong> <strong>cultural</strong> ......................................................22Carla AmaroTerritóriosDefender e projectar definitivamenteo nosso património edificado é determinante......32Carla Maia de AlmeidaDestaqueA Energia no ordenamento do território..................38Eduardo Oliveira FernandesPatrimónioJardim BotânicoSeja um amigo também...................................................40Carla Maia de AlmeidaDestaqueBerlengasNavegando para a sustentabilidade......................... 46Pedro Almeida VieiraRoteiroOs Petiscos do fado...............................................................52David Lopes RamosAgenda Cultural..................................................................56


Editorial | António Fonseca FerreiraSetúbalAs novas oportunidades de desenvolvimentoFoi com muita satisfação que assisti, ao fim de tantosanos, a uma conjunção de esforços sem precedentespara reflectir sobre o futuro da Península de Setúbal,que se estendeu inclusivamente ao litoral alentejano.Refiro-me à Conferência «Oportunidades de Desenvolvimento»,na qual participaram perto de três centenas de pessoas,entre presidentes e representantes de municípios, empresas, instituiçõesde solidariedade social e organismos da administraçãocentral.Reuniram-se em torno de uma mesma ideia a Comissão de Coordenaçãoe Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo(<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>), o Governo Civil de Setúbal, a Associação de Municípiosda Região de Setúbal (AMRS), a Comissão de Coordenação e DesenvolvimentoRegional do Alentejo (<strong>CCDR</strong>A-A), a Associação de Municípiosdo Litoral Alentejano (AMLA), a Associação Empresarial daRegião de Setúbal (AERSET), a Administração dos Portos de Setúbale Sesimbra (APSS) e a Associação das Empresas de Construçãoe Obras Públicas (AECOPS).A acrescentar a estes factos, temos as novas infra-estruturas deinternacionalização decididas pelo Governo – e de que Mário Linodetalhadamente deu conta na sua intervenção na Conferência –desde a maior plataforma logística do país no Poceirão (impulsoindispensável para o desenvolvimento portuário) ao novo aeroportointernacional e à travessia do Tejo, com ligação à rede ibéricae europeia de alta velo<strong>cidade</strong> ferroviária.A região de Setúbal tem vivido tempos difíceis. Com o desmantelamentodas tradicionais indústrias pesadas – construção e reparaçãonaval e siderurgia - deixando sequelas ambientais e económicas,e as cíclicas crises sociais. Instalou-se o cepticismo e umespírito negativo que têm de ser afastados de forma consequente.Os tempos que aí vêm auguram excelentes oportunidades dedesenvolvimento. Mas estas só perdurarão, de forma sustentável,se os agentes regionais se unirem e cooperarem, no quadro deuma concertação estratégica de base territorial, transformandooportunidades em projectos, obras, riqueza e coesão social.A elevada representação do Governo, com o ministro das ObrasPúblicas a fechar os trabalhos e o secretário de Estado do Ordenamentodo Território a encerrá-los, é prova de que o próprio executivoestá confiante no renascimento da margem Sul do Tejo.Diversos sinais têm evidenciado isso, aliás, nos últimos tempos.O lançamento do projecto Arco Ribeirinho Sul, de que tanto sefalava há mais de uma década, ganhou agora um impulso decisivopara revitalizar as áreas industriais degradadas à beira Tejo,em Almada, Seixal e Barreiro.Por toda esta região surge um novo ciclo de investimentos noturismo – no novo «turismo residencial», com preocupações inéditasde sustentabilidade – assim como na indústria, com o reforçodos investimentos de empresas como a Autoeuropa e a Portucel.A Região de Setúbal terá, nos próximos dez anos, o maior volumede investimentos do país, considerando territórios equivalentes.O eixo Sines/Porto de Setúbal/Plataforma Logística do Poceirão/Estação de Alta Velo<strong>cidade</strong>/Novo Aeroporto – com a lógica ligaçãoferroviária convencional à Linha do Norte na zona Cartaxo/Santarém – transformar-se-á num «aglomerado» virtuoso deactividades e internacionalização.Apostámos numa visão de futuro, ao lançar este desafio aos actoresda Região de Setúbal, um desafio que agora começa a concretizar-se.É com muita satisfação que acolhemos o seu entusiasmoe reunião cooperante. A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> apoiará todas as iniciativas emedidas que tenham por desígnio transformar os recursos desteterritório em progresso económico e social. ■Os portos, em particular os de Setúbal e de Sines, revelam umavitalidade interessante, e têm investimentos significativos emcurso e programados para os próximos anos.|


NOTÍCIAS BREVESGrande Conferênciaem SetúbalNovo ciclo deoportunidadesPerto de três centenas de pessoas assistiramà conferência «Oportunidades deDesenvolvimento», que decorreu emSetúbal a 19 de Setembro e contou coma participação de empresas públicas eprivadas, organismos da administraçãocentral, universidades e autarquias.A sessão de abertura foi presidida pelosecretário de Estado do Ordenamento doTerritório e Cidades, João Ferrão.Mário Lino, ministro das Obras Públicas,Transportes e Comunicações, aproveitoua sessão de encerramento para fazer umponto de situação sobre os investimentosque vão ter lugar nos próximos anos naqueledistrito, como a rede de alta velo<strong>cidade</strong>,o novo aeroporto e nova travessia do Tejo,e exortou os agentes da região a mobilizarem-separa tirarem o máximo partidodas «generosas oportunidades» que aí vêm.A iniciativa, lançada pela <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, pretendeuconstruir uma visão partilhadasobre o desenvolvimento sustentável desteterritório, congregando as principaisentidades representativas da penínsulade Setúbal e litoral alentejano. O objectivofoi também discutir o futuro de SetúbalPedro Lemos Vieiranuma perspectiva optimista, abrindocaminho a um novo ciclo, numa região quetem sido ciclicamente marcada por criseseconómicas e sociais.São promotores deste evento o GovernoCivil de Setúbal, Associação de Municípiosda Região de Setúbal (AMRS), Associaçãode Municípios do Litoral Alentejano (AMLA),Associação Empresarial da Região deSetúbal (AERSET), Administração dos Portosde Setúbal e Sesimbra (APSS) e Associaçãodas Empresas de Construção e ObrasPúblicas (AECOPS). A organização estevea cargo do Sem Mais Jornal/Sado 2000.O programa prolongou-se por todo o dia,na Estalagem do Sado, tendo focado asáreas do Turismo, Economia do Mar e ZonasRibeirinhas, Indústria e Grandes Infra-‐Estruturas. O evento contou com a participaçãode entidades como o institutoTurismo de Portugal e a Estrutura deMissão para os Assuntos do Mar, para alémda participação de empresas como.a Portucel, a Autoeuropa e a LOGZ – quetem a seu cargo a Plafatorma Logísticado Poceirão. ■Pode consultar as comunicações da conferência em:www.ccdr-lvt.pt.Arco Ribeirinho Sul vai ser requalificadoAntónio Fonseca Ferreira, presidenteda <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, foi nomeado para coordenaro grupo de trabalho do Projecto ArcoRibeirinho Sul, que visa a requalificaçãourbanística de importantes áreas damargem sul do estuário do Tejo e contribuirpara a valorização e competitividade daÁrea Metropolitana de Lisboa. A resoluçãodo Conselho de Ministros que aprovao plano foi publicada a 12 de Setembro.O grupo de trabalho terá por missãoelaborar, no prazo de 90 dias, uma propostade Plano Estratégico, em estreita articulaçãocom as autarquias envolvidas e com asempresas dos terrenos.Com este projecto pretende-se desenvolverde forma integrada um vasto território,designadamente cerca de 55 hectaresna Margueira, concelho de Almada, cercade 536 hectares na Siderurgia Nacional,concelho do Seixal, e cerca de 290 hectaresnos terrenos da Quimiparque, no concelhodo Barreiro. ■ |


Open Days 2008Lisboa lidera regiões marítimasinovadorasA Região de Lisboa e Vale do Tejo lideroupela segunda vez este ano um consórciode regiões no âmbito dos OPEN DAYS –Semana Europeia das Regiões e dosMunicípios, que decorreram de 6 a 9 deOutubro em Bruxelas. O tema escolhidopelo conglomerado liderado pela <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>– Water-based Competitiveness Network(WBCnet) enquadra-se na temática«Regiões inovadoras: Promoção da investigação,desenvolvimento tecnológicoe inovação», tendo um maior enfoqueem torno da Economia Marítima.Regiões, o evento contou este ano como apoio da Presidência francesa da UEe do Parlamento Europeu, assim como coma presença de diversas personalidades,entre elas o Presidente da ComissãoEuropeia, José Manuel Durão Barroso, eo Primeiro-Ministro francês, François Fillon.A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> organizou dois semináriosem Bruxelas. O primeiro, intitulado «Trendsin Maritime Transport Innovation: How canthe Regions take advantage?», teve lugara 7 de Outubro, na RepresentaçãoPermanente de Portugal junto da UniãoEuropeia (REPER). O segundo seminário,«Innovative Maritime Regions: Which betsfor tomorrow?» realizou-se também naREPER, no dia 9 de Outubro.A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> também esteve presente noCafé dos Investidores - plataforma decontacto entre <strong>cidade</strong>s e regiões, empresas,sector financeiro, grupos de interessee instituições comunitárias, integrada naAldeia Temática «Inovação e Investigação»- onde recebeu a visita da ComissáriaEuropeia para a Política Regional, DanutaHübner (na foto).Por fim, e ainda no âmbito dos Open Days,a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> organizará um evento localdedicado aos media, subordinado ao tema«A Região de Lisboa e Vale do Tejo e o Mar:Projectos de desenvolvimento regionale oportunidades de negócio».O conglomerado liderado por Lisboa e Valedo Tejo deste ano conta com a participação,para além de Lisboa e Vale do Tejo, de oitoregiões costeiras europeias e portuárias:Andaluzia (Espanha), Sicília (Itália),Canárias (Espanha), Zelândia (Holanda),Açores (Portugal), Macedónia Orientale Trácia (Grécia), Ática (Grécia) e Heraklion(Grécia).O mote deste ano para os Open Daysfoi «Regions and Cities in a ChallengingWorld». Organizados pela ComissãoEuropeia (DG REGIO) e pelo Comité dasParticiparam 216 regiões e 32 países, umnúmero recorde. No âmbito deste mega-‐evento, realizaram-se cerca de 120 sessõesem Bruxelas (workshops, seminários edebates), contando o Café dos Investidorescom cerca de 120 expositores. Os eventoslocais serão cerca de duas centenas. ■Mais informações em: http://ec.europa.eu/regional_policy/conferences/od2008/index.cfm|


ConferênciasinternacionaisO Futuro doTurismo e oFim do PetróleoJames Howard Kunstler, que se tornoumundialmente conhecido com o livro«The Geography of Nowhere: The Rise andDecline of America’s Man-made Landscape»(1993), autor do recentemente editadoem Portugal «Fim do Petróleo» («LongEmergency») esteve em Lisboa no dia 16de Outubro para uma conferência no âmbitodo ciclo «Desenvolvimento Regional emContexto de Globalização», organizado pela<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e pela Ordem dos Economistas.Para Kunstler, o fim da energia petrolíferabarata, a base do modelo das sociedadesurbanas industrializadas em que vivemos,irá obrigar a mudanças de carácter político,social, industrial, comercial e económico.Teremos de nos adaptar a novos tempos,onde a energia já não será acessível comohoje. A inevitabilidade do fim das sociedadesindustrializadas, sustentadas pela energiabarata do petróleo, obrigará as pessoas adeixar as <strong>cidade</strong>s para viverem em pequenascomunidades agrárias localizadas?Kunstler acredita que sim.«Energia e Urbanismo» é o tema da conferênciaem que o autor norte-americanoreflecte sobre as consequências da rupturaque se avizinha e sobre a forma comodeveremos adaptar-nos às novas circunstâncias.A sua escrita novelística e as suas capa<strong>cidade</strong>senquanto comunicador ajudarama ganhar o destaque público que actualmentetem, tendo dado palestras no Google,nas universidades de Yale e Harvard e noMIT, entre outros. O próprio descreve assuas palestras como «stand-up comedycom alguns momentos negros».O ciclo internacional de conferências culminacom um tema estratégico para a regiãoe para o país: o Turismo. A convidadaé Muriel Muirden, consultora internacionalmentereconhecida e managing directorda ERA - Economics Research Associatespara a Europa, África e Médio Oriente, queestará no Auditório 3 da Fundação CalousteGulbenkian no dia 4 de Novembro, pelas9h30. Luís Patrão, presidente do institutoTurismo de Portugal, será o moderadordesta conferência.Muriel Muirden especializou-se no planeamentoestratégico de resorts e virá a Lisboapara falar do papel que o turismo residencialterá no desenvolvimento regional e daeconomia nacional, assim como das novastendências deste tipo de turismo a nívelinternacional. A ERA é líder mundial naconsultoria de lazer e entretenimento naEuropa, trabalhando para organizaçõespúblicas e empresas privadas, como a Marksand Spencer e a Aga Khan DevelopmentNetwork.Muriel Muirden estará na Gulbenkian a 4 de NovembroO ciclo conta com o patrocínio da ANA,REN, BES, Galp Energia, Turismo de Portugale Grupo Pluripar, para além do apoio daFundação Calouste Gulbenkian,Companhia das Lezírias, Fundação Luso-‐Americana, Associação IndustrialPortuguesa, Bom Sucesso, Associaçãode Turismo de Lisboa, Hotel Sheratone Quintas de Óbidos.A conferência de James Kunstler contatambém com o apoio da Fundação VoxPopuli. Poderá encontrar mais informações,comunicações e imagens em.www.ccdr-lvt.pt. ■Serviços da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> pagos pelo MultibancoJá é possível fazer o pagamento de qualquerserviço da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> através do Multibanco.Lisboa e Vale do Tejo é a primeira <strong>CCDR</strong> aavançar com este sistema, uma alternativaaos pagamentos presenciais ou por cheque.O novo sistema de pagamentos, previstono QUAR (Quadro de Avaliação e Responsabilizaçãodos Serviços), está disponíveldesde 25 de Agosto. Com as guias dedepósito é emitida uma referência quepermite o pagamento do serviço emqualquer caixa Multibanco do país.Pode ser efectuado desta forma o pagamentode pareceres ou de licenças emitidaspela <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, de acordo com ascompetências previstas na legislação.O novo sistema de pagamento abrangetodos os serviços, quer sejam prestadospelos serviços centrais em Lisboa ou pelasdelegações sub-regionais.Esta medida visa melhorar a relação como cidadão/cliente – sejam empresas,particulares, câmaras municipais ou outrosorganismos – e insere-se no projectode modernização dos serviços da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>.O objectivo, consagrado no QUAR da<strong>CCDR</strong>‐<strong>LVT</strong> para este ano, foi mesmo.superado, face aos prazos inicialmenteprevistos. ■ |


Gentilmente cedida pela Câmara de Lisboa<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e Câmara de Lisboa acordammedidas para qualidade do arA <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e a Câmara de Lisboa celebrarama 16 de Setembro um protocolo quevisa a adopção de medidas de melhoria daqualidade do ar no município, em particularnas principais artérias da <strong>cidade</strong>.Este é o primeiro protocolo a ser celebradocom uma autarquia, na sequência daaprovação do Plano de Melhoria daQualidade do Ar na Região de Lisboa e Valedo Tejo, em Agosto.O protocolo prevê, entre outras medidas,a redução do tráfego automóvel de atravessamentoda <strong>cidade</strong>, assim como o estacionamento,para além da redução e renovaçãoda frota automóvel municipal e a promoçãodo uso dos transportes públicos.O tráfego automóvel é a principal fontede emissão de diversos poluentes comimpactos no ambiente e na saúde pública,entre eles as partículas inaláveis (PM10),onde se têm verificado as maiores ultrapassagensface aos valores limite previstospela legislação nacional e comunitária.No caso da Avenida da Liberdade, consideradauma das mais poluídas da Europa, só em2007 houve 149 excedências ao valor-limitediário para as partículas, quando o máximopemitido é de 35 ao longo de um ano. ■Vice-presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> há três anosFernanda do Carmo na frente ribeirinhamais 30 contratosassinadosNo âmbito do Programa OperacionalRegional de Lisboa / QREN foram assinadosno passado dia 30 de Setembro contratosde financiamento relativos a quatroconcursos. A cerimónia decorreu naFundação Cidade de Lisboa, com a presençado ministro do Ambiente, Ordenamentodo Território e Desenvolvimento Regional,Francisco Nunes Correia.Estiveram ainda presentes o secretáriode Estado do Ordenamento do Territórioe Cidades, João Ferrão, o secretário de Estadodo Desenvolvimento Regional, Rui NunoBaleiras, o secretário de Estado da Educação,Valter Lemos, e o secretário de Estado daProtecção Civil, José Miguel Medeiros, alémdo presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, António FonsecaFerreira, e do presidente da Junta Metropolitanade Lisboa, Carlos Humberto Carvalho.Foram assinados com as entidades beneficiárias,na sua maior parte municípios, 30contratos nas tipologias de: Requalificaçãoda Rede Escolar do 1º. Ciclo do Ensino Básicoe da Educação Pré-Escolar (14 Contratos);Parcerias para a Regeneração Urbana– Frentes Ribeirinhas e Marítimas (6 Contratos);Prevenção e Gestão de Riscos Naturaise Tecnológicos – Acções Imateriais (7 Contratos)e Mobilidade Territorial (3 Contratos).Fernanda do Carmo cessou funções comovice-presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, tendo assumidona passada semana o cargo de vogalde administração da Sociedade de ReabilitaçãoUrbana Frente Tejo, SA. Na <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,Fernanda do Carmo era vice-presidentepara as áreas do Ambiente e Ordenamentodo Território desde Setembro de 2005.Ao longo do seu percurso profissionalpassou pelos Ministérios da Presidência(2005, adjunta do ministro) e daAdministração Interna (integrada noGabinete do Comandante-Geral da GuardaNacional Republicana, 2003-2005). Foiigualmente directora de Serviços Internosdo Centro para o Planeamento eCoordenação do Instituto GeográficoPortuguês (2002-2003), assessora dosecretário de Estado do Ordenamento doTerritório (1999-2002) e técnica superior da<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e da Direcção‐Geral doOrdenamento do Território eDesenvolvimento Urbano. ■O Programa Operacional Regional deLisboa conta já com 30 concursos abertose 23 com decisão, que correspondem a 185candidaturas aprovadas. Dos 307 milhõesde euros programados até 2013, 111 milhõesjá foram submetidos a concurso, estandomais de 60 milhões atribuídos.Como sublinhou o Ministro do Ambiente,a região de Lisboa encontra-se nos 20por cento de execução do seu programaoperacional, acima da média nacionalde 16 por cento. ■|


O mérito da discussãoA denominação tem mudado. O estereótipo não. Aquilo a que se dá agora o nome de«bairros críticos», antes «problemáticos» (como quem diz «perigosos») ou «degradados»(como quem diz pobres) situa-se no pensar colectivo como uma espécie de nódoa napaisagem, uma fronteira intransponível na <strong>cidade</strong>, lá onde situamos isso a que chamamos«subúrbios», não por definição geográfica mas por deliberação de distância. Ocorrênciasrecentes trouxeram esses lugares de fora para dentro do olhar do público – para dentrodos muros da <strong>cidade</strong>. Para o meio de nós.Opinião | Fernanda CâncioFotografia | CA, produções fotográficas |


Estávamos em Julho quando as imagens de meiadúzia de homens aos tiros numa rua de um bairrosocial catapultava de novo o tema dos bairros «críticos»para a actualidade política e jornalística. Descobriu‐seentão, de novo como sempre se descobrem as coisasquando se volta a falar delas, uma realidade feita de milhares depessoas – alguém saberá dizer quantas? – a viver em bairros derealojamento, milhares de rendas em atraso e de fogos a precisarde obras, milhares de beneficiários do rendimento social de inserçãoque se suspeita viverem de expedientes e «não quererem trabalhar».Descobriu-se até que isso da pobreza e da destituição económica– únicos motivos pelos quais o senso comum admite aconcessão de uma habitação social – pode compaginar-se complaystations e plasmas e casas que por dentro são, mais coisamenos coisa, como as de toda a gente «remediada», e com umaatitude reivindicativa e até altiva que no imaginário colectivo nãocondiz com a ideia de pobrezinhos.Depois, em Agosto, veio a «onda de criminalidade» . E vieram tambémas grandes operações policiais nos bairros. Imagens nocturnasde pessoas desgrenhadas e crianças ensonadas à misturacom fardas negras, cães e armas, rusgas gigantes para mostrar aopaís que a polícia não dorme nem deixa dormir «os maus», «osoutros». Nestas coisas da criminalidade, é fundamental haver«outros»: pessoas e territórios, lugares exteriores onde se vaicomo ao estrangeiro, como a território inimigo, em incursõespunitivas e/ou preventivas que mesmo que não surtam qualquerefeito na criminalidade visam reconfortar-nos – a nós, que nãosomos «eles».No meio de tudo isto, discutiu-se, em jornais, talk-shows e colunasinflamadas, o critério, o motivo e o sentido dos programas deapoio social, das prestações e dos realojamentos. Enquanto unsretomavam, em diferentes declinações, a fórmula do Paulo Portasde 2002 («os ciganos do rendimento mínimo») e defendiam qualquercoisa como «abandonar os malandros à sua sorte», outros,como o historiador Rui Ramos, falavam das experiências feitaspelos cientistas sociais «de esquerda» e seu braço armado, o Estado,com «os pobres». Outros, claro, como o também historiador RuiTavares, lembravam que isso de deixar os pobres à sua sorte jáfora tentado – e não dera grande resultado. Quando a discussãoestava a ficar interessante, porém, parou. Porque apareceu outracoisa mais excitante para discutir. Ou porque era chegada a alturade, mais ou menos assente o que estava mal, era preciso discutircomo fazer melhor.É pena. A discussão devia continuar. E devia trazer à colação umpouco menos de impressões e um pouco mais de realidade vertidaem dados mensuráveis. Devia, por exemplo, comparar as conquistasna luta contra a pobreza nos diversos Estados membros da UEe concluir que nos países onde o nível de pobreza está abaixo damédia europeia (que é de 16%) isso sucede devido a prestaçõessociais eficazes. Que esses países que, como a Irlanda, são apresentadossistematicamente como exemplos económicos, investemlargamente na melhoria de vida das camadas menos abonadasda população e aplicam há décadas uma política de habitaçãosocial e até de rendas controladas, política essa que lhes permiteevidenciar um nível de pobreza superior ao de Portugal antes dasprestações e inferior após as prestações – ou seja, as prestações|


fazem toda a diferença. Que o problema estará não na existênciade «ajudas» mas provavelmente na sua formulação, gestão e fiscalização.Que a erradicação das favelas é obrigatória em todos ospaíses que querem merecer o epíteto de civilizados, e que nessamatéria, como de resto no que à pobreza diz respeito, Portugal fezprogressos espantosos nos últimos vinte anos. A discussão deviaprosseguir até à tentativa de perceber o que corre mal nos realojamentos.Até perceber se era possível correr realmente bem. Se aideia de caridade, mesmo a caridade disseminada e sem rosto deum país inteiro, de institutos e autarquias, não transporta sempreconsigo o gérmen de um ressentimento qualquer, por maiscontraditório e até chocante que tal pareça. E que decerto continuara estereotipar os bairros sociais e a sua população não éexactamente nem inteligente nem meritório – e muito menoseficaz se a ideia é integrar e pacificar.O problema da descontrução de um estereótipo é que o resultadofinal tende a ser, justamente, o reforço desse mesmo estereótipo.Ou seja, como questionar e interrogar a ideia de bairros críticossem a reificar? Impossível: qualquer discurso sobre o tema caminhaneste paradoxo. Até porque, para ter esta conversa, é precisoadmitir que há um problema. Que nestes lugares, de resto tãodiversos entre si em tantos aspectos, há algo de comum. E queesse algo necessita de reflexão, de esforço, de soluções.Nenhuma forma pois de fugir a isto: esse nome que queremosdesconstruir, esse estereótipo que queremos interrogar e perspectivarcorrespondem a algo de real. A qualquer coisa de crítico.Nenhuma forma também de evitar que esse gesto, essa atitude, ade isolar estes bairros como um problema a necessitar de solução,os afaste de nós no preciso momento em que deles nos aproximamos.Fazer de algo um objecto tem essa consequência: encontrarestranheza mesmo no que nos é comum.O que será pois um bairro crítico? E porque é que tendemos aidentificar os bairros críticos com os subúrbios, e vice-versa?No livro de reportagem que escrevi sobre a noção (e a realidade)de subúrbio (Cidades sem nome/crónicas da vida suburbana –<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> 2005, Tinta da China 2008), constatei que ninguém ouquase ninguém está pronto a assumir que vive num subúrbio.«Subúrbios são os sítios onde não vivo», era uma espécie de motedo livro. Ninguém quer viver em sítios maus. O lugar onde se viveé o lugar que se escolheu, mal ou bem. Dizer mal é assumir umfalhanço, um erro que num país em que a mobilidade habitacionalé excepcionalmente reduzida corresponderia a assumir umfalhanço sem remédio e portanto um desespero irredimível.Parece pois claro que a ideia de subúrbio, classicamente a quererdizer um lugar fora das muralhas (orbs) da <strong>cidade</strong>, portanto periféricoe de certo modo inferior na sua distância ao centro, não éhoje intrinsecamente má ou boa, mesmo se mantém a ideia deuma ausência de qualificação (qualificada seria a <strong>cidade</strong>, em teoria).No livro citado escolhi de resto quatro exemplos o mais distintospossível de subúrbios – o subúrbio clássico da Brandoa,uma zona rural que nos anos 60 foi loteada e sujeita a construção10 |


clandestina em altura, o núcleo urbano consolidado suburbanizadopela proximidade de uma grande <strong>cidade</strong> (Vila Franca deXira), o condomínio de propagandeado luxo a meia hora da capital(Belas Clube de Campo) e o subúrbio mental, social e económicodo Bairro da Bela Vista (Setúbal). Mas as únicas pessoas queencontrei, no âmbito desta e de outras investigações, a assumirviverem em «sítios maus» foram os habitantes dos chamadosbairros de realojamento – esses bairros que, mesmo se colocadosno centro de uma <strong>cidade</strong> (é aliás o caso do Bairro da Bela Vista),são sempre encarados como «subúrbios» sociais e mentais ondee em relação aos quais se constrói uma distância fantasmática.É como se os habitantes desses sítios se dessem licença para rejeitaro lugar onde vivem e portanto a sua vida, num processo deauto-condenação e de resignação que se dá a ver por exemplo nadestruição de equipamentos, no desmazelo das casas que se vãodegradando sem que haja por parte dos residentes, de um modogeral (há muitas excepções, claro), um gesto para o evitar. Há umahipótese de motivo mais ou menos evidente para isso: os bairrosde realojamento são sítios para onde se foi transportado por umalógica exterior, a mando de, por ordem de. As pessoas podiamnaturalmente recusar – mas isso implicaria perderem a «barraca»sem nada em troca, recusarem uma casa barata/«dada» pelaqual haviam esperado muitas vezes anos a fio como pelo paraíso.E que o desgosto que muitas delas viriam a sentir fosse prévio: namaioria dos casos as pessoas receberam a casa nova como umacoisa boa, uma nova oportunidade. Uma vida nova – precisamenteo que era suposto ser. Que foi, pois, que sucedeu para sobrevir odesgosto e a revolta?A pergunta tem uma resposta ainda mais difícil por ser óbvio que,apesar do que os seus habitantes sustentam, os bairros de realojamentonão são, nem do ponto de vista urbanístico nem dosequipamentos, piores que tantos outros «empreendimentos»erguidos nas últimas três/quatro décadas nos arredores de Lisboae Porto, de arquitecturas quase sempre insalubres e «equipamentos»quase sempre reduzidos ou inexistentes. E sem aquilo a quea socióloga Maria João Freitas, da administração do Instituto daHabitação e da Reabilitação Urbana, chama a «cosedura territorialcom o existente» – a tal conexão com o território urbano consolidado,qualificado, prestigiado. Porque será então que quandose fala em «degradação urbana» se pensa nos chamados bairrosde realojamento ou de «habitação social»? Se, como parece óbvioe Freitas faz questão de frisar, não existe no País, devido à proverbialdeficiência de ordenamento e planeamento urbanístico,«grande diferença entre o desenho e a localização dos bairrossociais e os dos outros», porque será que a essa má imagem, exteriore interior, se colou só aos bairros ditos sociais, num processode estigmatização que, frisa a socióloga, «lhes reforça a marginalização»?Autora de uma tese de doutoramento sobre as questõesdo realojamento e da integração, elaborada na perspectiva «deque era preciso aprender com o que se passara com as políticasfrancesas dos anos 60 e 70, para tentar não repetir os mesmoserros», Freitas, como as também sociólogas Isabel Guerra (doCentro de Estudos Territoriais do Instituto Superior de Ciências deTrabalho e Empresas) e Dulce Moura (hoje adjunta do secretáriode Estado do Ordenamento), constatou que nos anos 90, com o PER(Programa Especial de Realojamento), Portugal copiou fórmulas| 11


que se haviam já revelado penosamente erradas. A saber, «umaaposta na densificação e na homogeneidade», essa ideia queIsabel Guerra tão bem combateu na frase «as pessoas não sãocoisas que se metam em gavetas» quando descreve o acto deagarrar na população de um bairro de barracas e transferi-la paraum bairro de prédios. Resultado: a «promoção social» almejadanão se verifica, o estigma que pesava sobre o primeiro bairrotransfere-se para o segundo. Um estigma que, como o antropólogoJosé Cavaleiro Rodrigues escreve em As lógicas sociais dos processosde realojamento (revista Comunidades e Territórios, 2003), passamuito pela avaliação dos próprios. Sentindo-se «roubados» danova identidade social sonhada, desenvolvem um «processo acusatório»em relação aos vizinhos. A «sociabilidade e a solidariedadeiniciais do bairro de barracas» são substituídas pela «generalizaçãode formas de interacção negativas». É o «gosto pela casa e o desgostopelo bairro» (mais uma síntese feliz de Guerra), que se dá aver na destruição, pelos mais jovens, de tudo o que possa ser destruídonesse lugar maldito, das caixas de correio aos candeeiros eaos parques infantis. Uma auto-mutilação que reforça o estigma,num paradoxo que Maria João Freitas lê como uma forma decomunicar «abandono e desagrado». Como quem diz, olhem parao nojo de bairro em que vivemos. Olhem para o nojo que nos deram.Como é que podemos querer viver aqui? Como poderemos ser aquifelizes? «Diz-se que ‘destroem aquilo que é seu’», conclui Freitas.«Mas se calhar não sentem aquilo como seu». A casa nova, de quese reclamou incessantemente o direito adquirido, não é afinal a«sua» casa, mas aquela que uma sociedade sem rosto entregacomo penhor de uma qualquer «culpa». Uma esmola que ao invésde colmatar a exclusão a confirma e se transforma numa desculpa,em mais um factor adverso, mais um motivo para desistir.O problema da descontrução de umestereótipo é que o resultado finaltende a ser, justamente, o reforçodesse mesmo estereótipo. Ou seja,como questionar e interrogar aideia de bairros críticos sem areificar? Impossível: qualquerdiscurso sobre o tema caminhaneste paradoxo. Até porque, parater esta conversa, é preciso admitirque há um problema. Que nesteslugares, de resto tão diversos entresi em tantos aspectos, há algo decomum. E que esse algo necessitade reflexão, de esforço, de soluções.Trata-se, afinal, de um processo muito simples e compreensível:chama-se desilusão. Uma desilusão que reforça os sentimentospelo bairro abandonado, o sítio de onde se foi expulso. Tem dehaver sempre um paraíso – e se enquanto estavam no bairroantigo os habitantes dos bairros sociais sonhavam com a casanova, na casa nova (agora menos nova) sonham com o bairro queconstruíram com as suas mãos, onde não tinham luz nem águacorrente nem banheira nem esgotos mas onde se lembram de tersido felizes. É significativo que nos 10 documentários que, comAbílio Leitão, fiz para a RTP2 (A vida normalmente, exibidos emSetembro/ Outubro de 2008) e que, precisamente, tinham comoobjectivo programático um olhar interior e desejavelmente desconstrutorde estereótipos dos bairros ditos críticos; o único bairroem que os habitantes afirmaram um apego visceral é o da Covada Moura, um bairro auto-construído que tem objectivamente,tanto do ponto de vista da tipologia das casas como dos arruamentos,muitos menos condições que a generalidade dos bairrossociais.Estranho, isto. Amargo, até. O bem que se quis fazer – porque foipor bem que se destruíram os ditos bairros de barracas e se investiuem novos alojamentos, a estrear – resultou assim. Talvez, afinal,as pessoas tenham necessidade de sentir que o que têm se devea mérito seu, a trabalho seu, a escolha sua. Talvez não se possa decidir-lhesa vida imperialmente, por melhores que sejam as intenções.Talvez tenhamos de pensar isto tudo melhor. Mais e melhor.Todos, incluindo os que se comprazem nas desculpas e os queapostam no abandono. Porque não há problemas que se resolvamcolocando-os fora da vista – não há sequer isso, fora da vista.Estamos todos na mesma <strong>cidade</strong>. ■12 |


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Entrevista | Ana Sousa DiasFotografia | CA, produções fotográficas14 |


José António<strong>Pinto</strong> <strong>Ribeiro</strong>Ministro da CulturaO gabinete está impecável, algumas pilhas de papéis sobre a mesa de trabalho, livrosalinhados nas estantes. Mas o ministro diz que não, que a desarrumação é imensae inaceitável. E é assim mesmo que José António <strong>Pinto</strong> <strong>Ribeiro</strong> se revela na entrevista:com as ideias arrumadas e claras, as pontas soltas afinal bem presas.«Fazer mais e melhor, com menos meios» – a frase do dia 30 de Janeiro último, quandotomou posse – mantém-se inalterada mas acrescenta-lhe uma explicação. Quer optimizaros meios disponíveis, sem desperdício e com imaginação e, sobretudo, organizarparcerias, em envolventes redes de cooperação a todos os níveis. Com os municípios,juntando esforços e orçamentos; com os outros ministérios, a partir de propostas muitoconcretas; com os países lusófonos, na defesa da Língua; com a União Europeia, o BancoMundial, todos os parceiros possíveis. Trabalhar com, eis a questão.| 15


Recentemente reuniu-se com representantes da AssociaçãoNacional de Municípios Portugueses e à saída reconheceu queo Ministério da Cultura deve 10 a 14 milhões de euros àsautarquias. Vai pagar essas dívidas agora?A dívida foi sendo acumulada nos últimos dez anos, por ministrosque me precederam neste cargo. Não há um cêntimo de dívidaque tenha sido contraído por mim. Pago todos os compromissospor mim assumidos e não sei viver de outra maneira. Muitasobras foram realizadas a contar com contribuições nacionais, noâmbito do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimentoda Administração Central (PIDDAC).Por exemplo, as bibliotecas municipais. Actualmente, temos 169bibliotecas municipais que representam muitos milhões deeuros. É uma rede essencial, uma iniciativa exemplar de TeresaPatrício Gouveia [secretária de Estado da Cultura, 1985/89]. A Gulbenkiancessou as bibliotecas itinerantes mas entregou o acervode livros para continuar a ser usado. As bibliotecas iam às aldeias,tinham um itinerário que percorriam. As bibliotecas municipaisexistem na sede do concelho e é preciso organizar um esquemapara fazer irradiar a partir daí, e muitas autarquias não o têm.Algumas têm «bibliobus», carrinhas que fazem aquele percurso,agora, já só em torno da sede do concelho, mas há muitas que nãotêm. Há mesmo algumas que resolvem isso de uma forma curiosa– há funcionários que vivem nas aldeias e quando vão para casaao fim do dia levam livros e depois trazem-nos. Mas isso estáainda muito dependente de vontades individuais.É preciso continuar a investir?É preciso haver mais investimento, são 308 concelhos e é precisofazer o que falta, onde seja necessário. Tentamos recuperar patrimóniode bibliotecas mas há sítios onde essa renovação nãoé possível. Também houve investimentos em arquivos distritaise na recuperação de cineteatros.Muitas destas obras foram feitas com a contribuição do ProgramaOperacional da Cultura (POC), no Quadro Comunitário de Apoio I,II e III. Temos dívidas do II e do III que estão por saldar. É isso queexplica essas dívidas.O dinheiro do POC não chegou ao Ministério da Cultura?É dinheiro que não foi disponibilizado pelo Ministério da Culturapara esse efeito. Se foi disponibilizado para outros fins, desconheço.Julgo que muitas vezes foi mal orçamentado, mal gerido,mal executado, perdeu-se e não foi transferido para as autarquias.Não sei exactamente o regime de cada uma das dívidas e por queé que elas não foram pagas. Muitas vezes, são dívidas acordadaspoliticamente, contratualmente, institucionalmente, mas quenão foram adequadamente orçamentadas. Portanto, há umadívida política, uma dívida moral e uma dívida jurídica que, muitasvezes, não coincidem. Quando a ministra que me antecede,Isabel Pires de Lima, diz na rádio que vai disponibilizar 450 mileuros para fazer as obras na Sé de Silves, ela assume um compromissopolítico. Mas quem está do lado de lá a ouvir considera queela assumiu um compromisso jurídico.Que não chegou a ser concretizado?Não está orçamentado, não há dinheiro, eu não posso pagar.Apareceram-lhe muitos casos como esse?Apareceram.Os valores não orçamentados estão incluídos na dívida àsautarquias?Não têm nada a ver, não é dívida nenhuma. Dívida pressupõeque há um regime contratual definido, que há um quadro legal decontracção de despesa. Eles incorrem na despesa deles, que vai serparcialmente financiada por nós, mas está tudo feito como deve ser.16 |


Logo que tenha dinheiro, pago. Há duas coisas que paramim são claras: não gastar o que não tenho e não fugirà responsabilidade do que existe. É preciso fazer contas aomilímetro, rigorosas. O apuramento está feito, ao cêntimo.Isso vai ser pago?Logo que tenha dinheiro, pago. Há duas coisas que para mim sãoclaras: não gastar o que não tenho e não fugir à responsabilidadedo que existe. É preciso fazer contas ao milímetro, rigorosas.O apuramento está feito, ao cêntimo.Há projectos em conjunto com os municípios, como foianunciado nessa reunião?Fui reunir com a Associação Nacional de Municípios, que nãolevantou o problema das dívidas. Dois presidentes de câmara disseram– «há umas dívidas, era bom pensar como é que isso seliquida». Respondi: «Vamos tratar disso logo que seja possível».O tempo da conversa sobre as dívidas foi só este. Estive lá duashoras e meia.Pelas notícias que li, parecia que esse tinha sido o tema dareunião.À saída, uma jornalista perguntou unicamente isso. E houveimenso esforço, quer do presidente da ANMP quer da minhaparte, para esclarecer que ninguém estava a omitir a dívida, quetodos estávamos preocupados com o assunto. Mas que não foraesse o objecto da reunião.orçamento que será seis ou sete vezes o meu. O que significa quehá dinheiro para fazer cultura, não é muito mas podemos utilizá-lode uma forma mais racional, mais competente, de modo a queo resultado seja, do ponto de vista <strong>cultural</strong>, muito maior.Falei com eles em torno de um conjunto de programas, desdea itinerância de companhias de teatro, à forma de fazer cinema,à garantia de conteúdos. Temos imensos cineteatros recuperados,no país todo.Hoje em dia não se pode dizer que a cultura se limita ao Portoe a Lisboa?Nunca se limitou. Estamos a criar uma rede de equipamentos.O betão e o restauro foram muito importantes, mas agora é precisogarantir ocupação, utilidade, programação.Falámos sobre um programa que neste momento está já a serfeito, juntamente com a Fundação de Serralves e o Centro de Estudose Formação Autárquica de Coimbra. É um curso de formaçãode programadores culturais para autarcas e não autarcas, paraa programação <strong>cultural</strong> ser feita localmente, em função dasnecessidades locais. Não é possível fazer programação <strong>cultural</strong>com um mínimo de adequação e aferição se for feita a partir deLisboa.Aí cabe a experiência do Artemrede?E o objecto da reunião era?O objecto da reunião era fazer uma coisa que me interessa especialmentee para a qual os municípios estão totalmente motivados:trabalhar em coordenação, em rede, em parceria, para ver seconseguimos ser mais eficazes. Trabalhando em rede, fazemos ascoisas com mais economia, há imensa redundância que se podeevitar. Na lógica de uma frase que disse e que me perseguiráaté ao fim da vida, fazer mais e melhor com menos. Foi isso quelhes fui dizer. O conjunto dos municípios portugueses tem umÉ boa, é para manter. Mas precisamos de criar programação <strong>cultural</strong>local. O que significa qualificação das pessoas, mas tambémuma adequação do programa às consciências possíveis dos públicoslocais. Não é possível mandarmos uma grande peça de teatro,de uma grande companhia, a Lamego, que tem um cineteatrorestaurado lindíssimo, e depois aparecerem 30 ou 40 pessoas,incluindo 25 bilhetes oferecidos.| 17


A experiência do Teatro Viriato de Viseu pode ser reproduzidanoutros sítios?Pode ser reproduzida ou o próprio Teatro Viriato pode ter uma itinerânciamuito mais contaminante. É preciso definir estratégias,saber como se faz um festival de cinema, de música, uma bienal.Muitas vezes essas coisas existem mas não têm comunicação.Nem se sabe, nem eles sabem mantê-las, nem têm a capa<strong>cidade</strong>de ser reproduzidas de ano para ano e portanto aquilo faz-se umavez e morreu. Nasce, acontece, acaba, três anos depois a mesmacoisa, e não fica rasto. A eficácia <strong>cultural</strong> é menor.E a ANMP ficou interessada?um conjunto de coisas que terão de ser feitas em rede ou centralmente.Por exemplo, eu gostaria de que as lojas dos museus tivessemuma única marca e um modelo, uma espécie de franchising comprodutos de grande qualidade e uma gestão qualificada. E o mesmopara os cafés e restaurantes associados, de modo a que fossemsítios onde as pessoas fossem com prazer.É preciso ver como se faz cinema localmente. Apesar de havergrandes resistências a isso, com os meios que nós temos, podemostratar o cinema como obras mecanicamente reprodutíveis,como dizia o [Walter] Benjamin. Fazemos cópias digitais? A cópiadigital não é igual, porque a cor não fica exactamente igual..E depois a projecção… Fazemos ou não fazemos? Eu quero instalarequipamentos para fazer projecção digital nos cineteatros, maspara isso tenho de falar com as autarquias para que façam a compradesses equipamentos.A máquina tem tendência a perder vapor no dia-a-dia.É preciso ir lentamente tapando as fugas.Sobretudo, é preciso meter vapor na máquina,todos os dias ir ver se está feito. O Gabinete não vaisubstituir-se às direcções‐gerais, aos ministérios,aos serviços, aos institutos, às fundações. Está aquiapenas para ajudar a pensar, a desenhar, mas depoisquem faz são eles.Está de acordo, está interessada, temos pessoas que vão trabalharem conjunto, que vão fazer esse levantamento. Quem é que faza gestão dos museus? Eu quero que eles possam fazer gestão dosmuseus, que se qualifiquem para isso mas que consigam envolveras populações nessa gestão.Mas a gestão não depende do Instituto dos Museus e da Conservação?É, nos museus que são do Instituto. Mas há museus municipais,museus particulares, há uma rede que inclui museus de várianatureza quanto à titularidade. É preciso ver se pode ser feitauma gestão de proximidade. É uma espécie de princípio de subsidiariedade,se não forem capazes, nós faremos, mas em princípioeles são mais capazes e mais competentes para fazê-lo. HaveráDe uma forma unificada?Unificada, com o mesmo tipo de equipamento, para ser enviadoelectronicamente e projectado. Se isto for possível, não vejo porque não o havemos de fazer. Mas isto implica coordenação. Hátrabalho que, se for feito em rede, pode ter muito maior eficácia.E não é uma rede só de municípios. Há redes locais, em função deum conjunto de instituições, em função de uma proximidade deinteresses, às vezes puramente decorrente de um fluxo de tráfego.Talvez fosse possível fazer, por exemplo, um itinerário <strong>cultural</strong> quefosse Lisboa, Palmela, Setúbal, Montemor-o-Novo, Évora, Estremoz,Elvas. Ou um arco a partir de Lisboa, para Sintra, Mafra, Óbidos,<strong>Caldas</strong> da Rainha, Alcobaça, Batalha, Leiria, depois o Tejo – Tomar,Vila Nova da Barquinha, Santarém. Por que não?18 |


São «soluções imaginosas», como costuma dizer?Exactamente. Sobretudo, é uma coisa que não se faz em Portugal,por causa do individualismo: se ele tem um cineteatro eu tambémtenho de ter, se ele tem uma rotunda, eu tenho duas, se eletem bicos de papagaio eu tenho rebicos. Nunca percebi isto. Nãofizemos a revolução Industrial, não nos habituámos a trabalharem conjunto, não temos a noção de que o resultado final é maisdo que a soma das partes, temos inveja, uma compita que nãoé virtuosa..itinerantemente. É preciso abrir os museus ao público – às crianças,aos adultos e à Terceira Idade. Para as crianças, é preciso haverum projecto educativo.Muitos museus já têm serviços educativos.Têm, mas é preciso alargá-los. A Casa da Música, no Porto, tem 33mil pessoas em serviço educativo – eu quero 350 mil. Quero umsistema em que possa fazer o tracejamento, fazer a avaliação daeficácia do trabalho educativo.E é possível fazer isso com os outros ministérios? Estou a falardo Ministério da Economia, da Educação, dos NegóciosEstrangeiros, por exemplo.Está a partir do princípio de que as pessoas voltam?Se não voltam, é porque não ficaram contagiadas. Podemos emitirum cartão vantajoso para quem volta.(…) se ele tem uma rotunda,eu tenho duas, se ele tembicos de papagaio eu tenhorebicos. Nunca percebi isto.Não fizemos a revoluçãoIndustrial, não noshabituámos a trabalharem conjunto (…)Acho que sim. Temos três áreas essenciais e uma quarta que é políticamas não é de conteúdo político. As de conteúdo político sãoLíngua, Património, e Artes e Indústrias Criativas. A quarta é abriro Ministério ao público, levá-lo aos palácios e museus, explicaro que lá está dentro. Se posso dizer assim, fazer as folhas da Cinematecageneralizadamente. Melhor ainda se houver pessoas quequeiram explicar ao vivo ou contar histórias sobre aquilo. Podemosfazer parcerias com universidades da Terceira Idade, com cursosde História de Arte. Já fizemos um acordo para um curso de pós-‐graduação em Gestão e Empreendedorismo Cultural e Criativo,em parceria com o ISCTE. Vamos permitir e incentivar a sua frequênciaa oito directores nossos, que vamos escolher. Provavelmente,quase todos directores de museus, e mais dois ou trêsoutros que aprendessem como se ensina, para depois ensinaremÉ possível contaminar o Ministério da Educação para queno sistema de ensino haja uma atenção maior à cultura?Estamos a conceber um projecto que é uma espécie de passaporte<strong>cultural</strong> dado à criança quando entra em qualquer estabelecimentode ensino. Tem de fazer, pelo menos, seis actividadesculturais. Por exemplo, assistir a um ensaio geral, se for mais crescidojá sabe comportar-se, por que não?Muitos alunos do ensino artístico não costumam ir aespectáculos nem a exposições. Parece-me que isso tem de vercom um sistema de ensino que não valoriza a parte artística.| 19


Eu acho que é ao contrário, tem de ver com a nossa iniciativa.Se ninguém fizer nada, nós continuamos no tempo do D. AfonsoHenriques. Se alguém tomar a iniciativa de fazer, sugerir, talvezse faça. Mas se ninguém sugerir, ano após ano, continua-se a fazera mesma coisa. Quanto é que isto custa? É possível fazer? Fala-secom a ministra, ela diz «é uma bela ideia». Podemos fazer coisas.O que é que fazemos com a Academia das Ciências para que hajaum conjunto de académicos que resolvam as dúvidas sobre a LínguaPortuguesa? Por que é que não temos isso? Os espanhóis têm,os franceses têm. Somos poucos? O que é que nos leva a não fazer?O que é?Inércia. Não ter feito. Aquilo que leva a que o dicionário da Academiatenha sido começado há 200 anos e tantos anos depois aindanão esteja acabado.Existe a letra A…eu tenho de fazer. Quando é preciso desfazer é que é complicado.Quando não está feito, é só atraso.A máquina do Minstério é muito lenta?A máquina tem tendência a perder vapor no dia-a-dia. É preciso irlentamente tapando as fugas. Sobretudo, é preciso meter vaporna máquina, todos os dias ir ver se está feito. O Gabinete não vaisubstituir-se às direcções-gerais, aos ministérios, aos serviços, aosinstitutos, às fundações. Está aqui apenas para ajudar a pensar,a desenhar, mas depois quem faz são eles. Perguntar se está feito:como é, onde é que está, quando é? Vamos calendarizar. E paraisto é preciso mobilizar pessoas e pôr a casa em ordem. Isto é o maisdoloroso porque é um trabalho muito grande e eu não tenhotempo.Que relação tem o Ministério com as comissões de coordenaçãoregional?Exactamente. Porquê? Por que é que não se faz a letra B?E há dinheiro para isso?Essas coisas vão-se resolver todas, porque é um problema de definiçãode objectivos e de ficar focado. Não se faz tudo num dia,é preciso começar já. Muita coisa pode ser feita na lógica de trabalhoem rede, da parceria, de fazer com os outros. No Conselhode Ministros e nos ministros individualmente, encontrei vontadede fazer. Podiam estar cansados, depois de três anos e meio deGoverno. Longe disso, e é mérito do Primeiro-Ministro. Ele incuteesse espírito e todos estão disponíveis.O que é que se passa com o Museu dos Coches?Quando cheguei ao Ministério, o Museu dos Coches estava decidido.É uma resolução do Conselho de Ministros. O Ministério daEconomia trata, aloca-se aquele dinheiro – é o dinheiro do Casino,está decidido que é assim. Eu não teria feito assim, teria inflectidoo curso mas com o acordo dos outros ministros. Está feito, tocaa andar. Mas há aqui um problema: eu tenho de deixar vago o espaçoonde está o Instituto Português de Arqueologia. Onde é que euvou arranjar o sítio? Estamos a fazer um acordo.Com o Ministério da Defesa?O acordo ainda não está feito, é confidencial, quando estiver assinadodirei a toda a gente.Não é bizarro que ninguém tivesse resolvido essa questão?Acho mais bizarro que não se tenha feito a Revolução Industrialem Portugal.Isso é voltar um bocadinho atrás…As comissões de coordenação regional não são todas iguais e sãoextraordinárias. São o que é possível ter de regionalização. Defendia regionalização no referendo, há dez anos, e acho que faz todoo sentido, porque há coisas muito difíceis de coordenar, de fazer,se não houver a devida alocação de fundos para o sítio. Nem tudosão rosas na regionalização.O que eu quero dizer é que é possível fazer coisas, mesmo como mesmo orçamento. Porquê? Porque é possível ir buscar dinheiroàs parcerias, às autarquias locais, aos outros ministérios, é possívelfazer coisas com o QREN, ir buscar dinheiro para fundos de capitalde risco, é possível fazer parcerias com empresas e com a sociedadecivil. E isso significa que é possível gerar e gerir fundos quenormalmente estão adormecidos, e que são mal utilizados. É possívelir buscar mais dinheiro para o Ministério da Cultura, mesmoque esse dinheiro não venha do Orçamento.É possível avançar para a sua ideia de centrar a política emtorno da Cultura? Sente receptividade, por parte do Governo,a essa ideia?Eu acho que é possível. Mais do que isso, acho que é necessário.Isso passa pela sensibilidade do Governo mas sobretudo por umasensibilidade social. Em momentos dramáticos como este queestamos a viver, do mercado, da situação da globalização, da crise,na Europa, as pessoas têm de ter uma grande capa<strong>cidade</strong> paraler o real, para perceberem os problemas e serem capazes deenfrentá-los e resolvê-los. Isso é cultura.É indispensável que as pessoas sejam cultas no sentido de seremcapazes de ler o real e trabalhar para transformá-lo. Mais aindase aprenderem a fazer isso com os outros.Tem falado do valor económico da Língua, o que quer dizer comessa expressão?Isso significa pensar a mesma lógica de rede com todos aquelesque falam português.E não se fez. Isto também é voltar atrás, voltar atrás só um ano…mas não se fez. A ideia foi: «é para fazer, então faça-se, tratem dearranjar uma solução». Não tenho nada a dizer sobre o passado,faço as minhas críticas para dentro. É cá comigo. Não estava feito,Dos outros países?Sim, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, S. Tomé, Timor,20 |


mas também as diásporas portuguesas, mas também Macau, tambémVenezuela, África do Sul, Estados Unidos. E a diáspora cabo-‐verdiana na Holanda e nos Estados Unidos, e a diáspora brasileira.Há muitas diásporas e temos que usar isso para ensinar a LínguaPortuguesa.Vai sempre dar à sua frase do dia em que tomou posse:fazer mais com menos dinheiro?O problema dessa frase é as pessoas a leram como «tenho dinheiroa mais, não preciso de tanto, isto faz-se com muito menos». Nãoé verdade. É possível ser mais rigoroso, mais exigente, mais minucioso,mais programado, mais articulado com os outros e fazermais e melhor. Fazer de uma forma multilateral, com o BancoMundial, com a CPLP, com a União Europeia.Basicamente, é quebrar a inércia?Quebrar a inércia e fazer com os outros. Acho que a Comissãode Coordenação Regional de Lisboa e Vale do Tejo faz isso mesmo.Há muita coisa para fazer e gosto imenso disso. Tenho pena deque nós tenhamos grande dificuldade na utilização de algunsregulamentos europeus, porque Lisboa aparentemente está rica.Está a falar do facto de a região de Lisboa e Vale do Tejo ficarfora dos objectivos prioritários do QREN?Isso significa que não demos atenção aos aspectos culturais, quandoainda havia fundos comunitários disponíveis. Fizemos um enriquecimentomenos harmonioso, menos coordenado. Temos um nívelde vida, um per capita medido quantitativamente, o que faz comque alguns programas não sejam utilizados em Lisboa apesar decontinuarmos a ter necessidades. Os programas europeus para acultura deviam ser relidos, devia haver níveis de pontuação regional.Como é que se mede?É possível medir. É como medir a saúde pública, os graus de educação.Estamos a fazer um acordo com o INE para termos dadosestatísticos nacionais e locais. Temos de ter os instrumentos quepermitam identificar os défices de natureza <strong>cultural</strong>.Gostava de trabalhar com a União Europeia, com as ccdr, como Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, no sentidode ver estes regulamentos e perceber em que medida podemser alterados de acordo com a especifi<strong>cidade</strong> <strong>cultural</strong> da região.Pode haver regiões que são muito pobres e têm muito desenvolvimento<strong>cultural</strong>, vamos admitir que é possível. Ou o contrário: regiõesque são ricas, ou acima da média, e não têm os equipamentos,a capa<strong>cidade</strong>, o contágio, a intervenção <strong>cultural</strong> que é necessário ter.A ideia é disponibilizar instrumentos económicos, através da revisãodestes programas, fazer tudo o que económica e financeiramentefacilita este tipo de actividade. Vamos ver o que se passacom os PROVERE [programas de valorização económica de recursosendógenos] vamos estudar as características e saberes específicasde cada zona para tentar mobilizar recursos económicos.Há muito a fazer. Por exemplo, fazer com que os instrumentosmusicais não paguem 20 por cento de IVA. Por que é que os cd demúsica não pagam 5 por cento de IVA como os livros? Por que é quenão trabalhamos isto? Se me perguntar por que é que não estáfeito, é porque ninguém quis fazer, ninguém levantou o problema. ■As comissões de coordenaçãoregional não são todasiguais e são extraordinárias.São o que é possível terde regionalização.Defendi a regionalizaçãono referendo, há dez anos,e acho que faz todo o sentido,porque há coisas muitodifíceis de coordenar,de fazer, se não houvera devida alocação de fundospara o sítio. Nem tudo sãorosas na regionalização.| 21


<strong>Caldas</strong>,CidadeCulturalReportagem | Carla AmaroFotografia | Guto Ferreira22 |


Depois de um hiato de quase 20 anos sem um espaço digno de eventos culturais de projecçãointernacional, <strong>Caldas</strong> da Rainha figura agora nos roteiros como uma <strong>cidade</strong> que não podedeixar de ser visitada por quem gosta de bons concertos, teatro, ópera, bailado, exposições.Desde a inauguração do Centro Cultural e de Congressos (CCC), em Abril deste ano, a terraque se deu a conhecer ao pais pela cerâmica de Bordalo e pelas «milagrosas» águas termais,está a mudar a imagem e a ganhar outra vida com a chegada de milhares de pessoas paraassistirem a espectáculos de grande qualidade. Até se diz, nas <strong>Caldas</strong>, que o de Lisboa,o CCB, não o supera em matéria de oferta <strong>cultural</strong>. É o caminho certo para, daqui a dezanos – é a expectativa da autarquia e de quem define a programação do CCC – <strong>Caldas</strong> seráuma referência também mundial. Um equipamento megalómano merece ambição à altura.Quem passava pela Rua Dr. Leonel Sotto Mayor,nas <strong>Caldas</strong> da Rainha, e olhava para o local ondefoi construído o mais recente Centro Cultural ede Congressos (CCC) do país, não tinha motivospara aí fixar o olhar; quanto muito, servia-se doespaço para estacionar o carro no então parque de estacionamentoao ar livre, do ponto de vista estético e paisagístico menosagradável de se ver. Os que vivem à volta agradecem a substituiçãode um por outro, porque não deve haver ninguém no seu perfeitojuízo, não obstante o jeito que dá ter ao pé de casa um sítio parao veículo, que prefira, quando abre a janela ou a porta de casa,deparar-se com um cenário como o anterior. O CCC é bonito e ficabem aqui, ou não fosse considerado por quem sabe um exemplode arquitectura.Visto de fora, não se tem a percepção do espaço interior. O CCCtem mais área do que parece.E sem visitantes, como nesta manhãde sábado, ganha metros quadrados. Raquel Adrião não vê outrajustificação para o vazio de gente senão o facto de ser «sábado demanhã», o que significa «a possibilidade de as pessoas ficarem adormir até mais tarde»: «Neste dia, a esta hora, é sempre assim,calmo». Sem visitantes a quem dar informações, esta jovem frentede casa (função que exerce) percorre a ritmo lento o primeiro pisoda galeria de arte, onde ainda está patente [terminou a 15 de Setembro]a exposição Rosto e Identidade, com Retratos da ColecçãoBerardo – nesta sala, as imagens tiradas pela inglesa que se radicouna ilha da Madeira Bridget Jones e pelo americano Robert Willson;no andar de baixo, pinturas e fotografias de vários artistas.Raquel dedica-se ao trabalho de frente de casa apenas em parttime,uma forma, diz esta jovem de 18 anos, de «praticar o queaprendo na escola profissional», a ETEO – Escola Técnica Empresarialdo Oeste, onde frequenta aulas de Comunicação, RelaçõesPúblicas e Marketing. «Estou tentada a seguir Relações Públicasem parte por causa deste trabalho. Mais logo vou ter oportunidadede exercer, quando as pessoas começarem a chegar, um poucodepois do almoço». Um dos visitantes não será certamenteHenrique Santos, que já viu a mostra duas vezes: a primeira «sozinho»,pouco depois da inauguração, a segunda «para fazer companhiaà minha mulher», que também não quis deixar de ver a exposição».Henrique é um frequentador habitual do Centro Culturaldesde que abriu. Para aqui vem muitas vezes à noite, «ver os espectáculosque não posso perder, em especial concertos», e sempre,invariavelmente, aos sábados e domingos de manhã, «para ler osjornais». Um vício adquirido cedo, por influência do pai que nãoadmitia pequenos almoços sem na mesa, «aberto», o Diário deNotícias. O hábito de ler jornais mantém-se, o que mudou foio local de leitura ao fim-de-semana; antes, num café próximo dafamosíssima praça da fruta, onde a mulher habitualmente fazcompras – «é lá que está agora» - e actualmente na esplanada doCCC, «pelo menos nos dias em que não chove».Na mesa ao lado da de Henrique, um casal com a filha. Clienteshabituais deste espaço, ainda têm em cima da mesa os bilhetesque acabaram de comprar para o espectáculo de amanhã à tarde.Margarida tem sete anos e está «ansiosa» para ver Olivia. Não fazideia de que neste preciso momento Olivia já está a ser preparado.Enquanto no Grande Auditório a equipa de técnicos andam«às voltas» com as cortinas, as luzes e o som, nas traseiras do centro<strong>cultural</strong> está a ser descarregado o camião que transportatodos os objectos e adereços necessários ao espectáculo. A agitaçãonos bastidores não passa pela cabeça de Margarida. E é assimque deve ser, para que o espectáculo seja mágico e cause nascrianças o deslumbramento. Mas alguma coisa Margarida sabe,que a peça de teatro «é sobre uma porca muito simpática quegosta de dançar ballet quando não tem sono». Cristina e Álvaro| 23


«Somos consumidores decultura e gostaríamos quea nossa filha adquirisseesse hábito. Se a levarmoscom regularidade a eventosculturais é natural quevá ganhando o gosto».Um desejo agora mais fácilde concretizar, dada aproximidade do centro<strong>cultural</strong> à terra onde vivem.Roque irão estar ao lado de Margarida no Grande Auditório e apesarde não estarem ansiosos – talvez por se tratar de uma peça maisdireccionada a um público infantil –, estão «felizes» com o entusiasmoda filha. «Somos consumidores de cultura e gostaríamosque a Margarida adquirisse esse hábito. Se a levarmos com regularidadea eventos culturais é natural que vá ganhando o gosto».Um desejo agora mais fácil de concretizar, dada a proximidadedo centro <strong>cultural</strong> a A-dos-Francos, onde residem (a 15 quilómetrosdas <strong>Caldas</strong> da Rainha). «Já não precisamos de ir tantas vezesa Lisboa» ver teatro, concertos e exposições. Até agora, a programaçãodo CCC não envergonha, acho mesmo que está ao nível dado Centro Cultural de Belém, quer em termos de qualidade, querde variedade».Desde Maio que a <strong>cidade</strong> está a usufruir de uma oferta <strong>cultural</strong>como nunca teve. A falta de um espaço como este era consideradauma lacuna grave que prejudicava não só os habitantes das<strong>Caldas</strong> da Rainha como toda a população da região do Oeste(entre Lisboa e a Figueira da Foz, não há nenhum edifício de característicassemelhantes e quem quisesse ver espectáculos tinhaque se deslocar). Havia um hiato de quase 20 anos sem um espaçoactivo e de intervenção; a actividade <strong>cultural</strong> nas <strong>Caldas</strong> perdeu-senos escombros dos dois únicos espaços então existentes e mandadosdemolir pela autarquia: a Casa da Cultura, junto ao parquee em frente ao Hospital Termal, e o cineteatro Pinheiro Chagas,na antiga praça do peixe (leia-se Praça 5 de Outubro).Em relação ao cineteatro, na altura ainda se pensava na suareconstrução, mas rapidamente, como explica Maria da ConceiçãoPereira, vice-presidente da Câmara Municipal e também vereadorada cultura, «a autarquia chegou à conclusão de que seria sempreum espaço limitado em termos de área»: não só os lugares sentadosnão eram suficientes para o número de espectadores que sepretendia atrair como o próprio palco era demasiado pequenopara receber as grandes companhias de espectáculos. Desaparecidosos únicos locais onde nas <strong>Caldas</strong> se podia ter «um cheirinhoa cultura», ficou no ar a ideia de construir «um edifício criado deraiz para o desenvolvimento de actividades culturais, que pudesseacolher diversos tipos de espectáculos».Esse dia chegou em 15 de Maio de 2008, com a materialização deum projecto de 18 milhões de euros. Um dia que os caldenses dificilmenteesquecerão. A pompa e circunstância com que o momentofoi festejado atraiu gente de todo o lado para assistir ao «cortar dafita» e ao grande concerto oferecido à <strong>cidade</strong> pelo pianista AntónioPinho Vargas. Este foi o espectáculo que marcou a abertura oficialdas portas do CCC, mas na véspera, numa espécie de ante-estreia,David Fonseca, nascido nas <strong>Caldas</strong>, actuou e lotou a casa. Em apenasalgumas semanas <strong>Caldas</strong> quase recuperou o que lhe faltou em anoscom uma apresentação de espectáculos em modo «non-stop».Por causa do CCC milhares de pessoas deslocaram-se à terra queem tempos ficou famosa pelas suas «águas quentes» de «cheirointenso» e com «poderes curativos» e pela cerâmica de RafaelBordalo Pinheiro e, antes dele, de Manuel Mafra. Há muito queo país deixou de associar a marca «<strong>Caldas</strong>» à louça e às termas,sectores que deixaram de sustentar a economia da <strong>cidade</strong> – asfábricas de cerâmica estão a fechar e a procura de tratamentos no24 |


Hospital Termal Rainha D. Leonor tem um passado mais produtivoque o presente, apesar de ser o mais antigo do mundo (fundadoem 1485) e de se ter modernizado com a criação dos serviços deHidrologia e de Medicina Física de Reabilitação com o objectivode fidelizar clientes habituais e de seduzir novos.Neste momento, o Centro Cultural e de Congressos é a «cabeça decartaz da <strong>cidade</strong>» e é através dele que <strong>Caldas</strong> da Rainha quer integraro circuito dos grandes espectáculos e ser uma referência nopaís, ao lado de equipamentos como – e porque não? – o CentroCultural de Belém (em Lisboa). Se disso depender a qualidadeda programação e a qualidade dos equipamentos técnicos, umae outra não ficam aquém da do CCB. Carlos Mota, director artísticodo Centro Cultural das <strong>Caldas</strong> da Rainha, espera isso e muito maisse lhe derem «as condições necessárias»: «Posso garantir-lhe queem dez anos esta <strong>cidade</strong> figurará nos principais roteiros nacionaise internacionais». Trinta e cinco anos a fazer programação<strong>cultural</strong> sustentam-lhe a certeza de que «O CCC é o maior sucesso<strong>cultural</strong> dos próximos anos», que avalia não apenas pela selecçãocriteriosa da programação como pelo retorno do investimentoem apenas alguns meses de actividade. A cultura não é lucrativaem país nenhum, mas «o CCC tem sido um caso excepcional, conseguindouma rentabilização entre 20% a 40% do investimentorealizado. Se todos os espaços culturais conseguissem valoressemelhantes seria extraordinário».tenha sido considerado nas medidas de compensação para a regiãodo Oeste, definidas depois de o Governo ter optado por Alcochetepara a localização do novo aeroporto de Lisboa e não pela Ota,como inicialmente estava previsto. «Tenho pena que os autarcasnão tenham sequer ponderado essa possibilidade quando apresentarama lista de exigências ao Governo». Oportunidade perdida,agora que as medidas de compensação já foram definidas.Recorde-se que a opção por Alcochete levou o Governo a criar umprograma de acção para o Oeste com vista a compensar 17 autarquiasda região Oeste e da Lezíria: Alcobaça, Alenquer, Arruda dosVinhos, Bombarral, Cadaval, <strong>Caldas</strong> da Rainha, Lourinhã, Nazaré,Óbidos, Peniche, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras, Santarém,Cartaxo, Azambuja, Vila Franca de Xira e Rio. Depois de algunsmeses de negociações chegou-se a um consenso: além de fundoscomunitários na ordem dos 2,1 mil milhões de euros, as câmarasmunicipais receberão 220 milhões de euros de privados. Entreos principais projectos contemplados no plano de compensação– num total de 120 com prazo de concretização até 2017 – estãoa construção do Hospital Oeste/Norte, a construção ou remodelaçãode um novo hospital de Torres Vedras-Oeste/Sul, a criaçãoda Agência Regional de Energia e Ambiente, a requalificaçãourbana de oito municípios, a construção de cinco postos da GNR,uma nova esquadra da PSP, a criação de parques e centros de negóciosem cinco municípios e a modernização da linha férrea doOeste (Figueira da Foz/Cacém).Apesar de se considerar um director artístico pouco caro que conseguefazer muito e bem feito «sem muitos meios» (leia-sedinheiro), lamenta que o apoio financeiro ao centro <strong>cultural</strong> nãoPara o responsável pela programação do CCC, o «calcanhar de Aquiles»para todos os programadores é « o aspecto financeiro»: «O orçamentodevia ser mais assertivo, mais de acordo com a realidade».| 25


José Ramalho, responsável técnico do CCC.Carlos Mota, director de programação.O preço de um grande espectáculo ou de uma grande exposição,de projecção internacional, pode atingir valores tão elevados queCarlos Mota se recusa a avançar um número aproximado: «Ficariaassustada».A falta de meios financeiros é uma queixa velha das pessoas ligadasao meio <strong>cultural</strong>. Mais ainda das que têm de gerir o dinheirosem prejuízo da qualidade. É o que se passa dentro das portas dogrande auditório, do pequeno auditório e da galeria de arte queleva as pessoas a maioria das pessoas a este espaço. Isso – as exposições,os concertos, o teatro e o circo – e os cafés literários, os cafésmusicais, os cafés teatrais, os cafés convívio. Sessões que permitema interacção do público com autores, músicos e actores. A adesãodo público a estes encontros tem sido um sucesso. Quem «dá a cara»pelos cafés literários é Isabel Castanheira, proprietária da Loja 107.Na <strong>cidade</strong> serão poucos a quem o nome nada diz; os que gostamde ler e compram livros conhecem-na seguramente. O anonimatoperdeu-o, na <strong>cidade</strong> pelo menos, por causa da livraria que abriuna Rua Heróis da Grande Guerra, justamente no número 107,quando chegou a Portugal logo após o 25 de Abril de 1974. Até entãovivia em Angola, onde a única aproximação aos livros era atravésda leitura. Uma vez em Portugal e sem emprego, e atendendoà sua paixão por livros, também como objecto em si, rapidamentedecidiu o que fazer na vida. Um vínculo emocional que não sefecha no interior da livraria, chega ao CCC com os cafés literários.«Tem tudo a ver com livros. Os livros são a minha vida». A ideianão era nova, mas faltava o espaço adequado. A oportunidadesurgiu anos mais tarde, depois da inauguração do centro <strong>cultural</strong>.«Quando me aliciaram não hesitei um segundo. É o espaço ideal».A reacção do público a estes encontros mede-se pela afluência:«sala sempre cheia», diz Isabel com cara de satisfação. É ela quepensa nos autores que gostaria de levar aos «seus» cafés literários,é ela que os convida, é dela que depende, no fundo, a adesão daspessoas. «Se o autor ou a obra não interessa às pessoas, de certezaque elas não vêm cá para conversar com ele». É em redor das mesasde café que as pessoas conversam com o escritor, falam sobre a obraou um livro em particular – «muitas vezes o escritor faz a apresentaçãodo seu novo livro nestes encontros –, colocam questões,expõem dúvidas. Manuel Alegre está na calha mas ainda nãosabe qual será o próximo autor a beber um café literário no CentroCultural das <strong>Caldas</strong> da Rainha.Defensora incondicional do CCC, é sem contenção que IsabelCastanheira deseja ambição para o centro <strong>cultural</strong>. «Quanto maisambiciosos formos, mais conseguiremos fazer por esta terra e poresta região. Fazia falta nas <strong>Caldas</strong> um equipamento destes». Masapesar desta convicção inabalável, Isabel também realça que«<strong>Caldas</strong> tem mais coisas, <strong>Caldas</strong> não é só o CCC».Não é, mas a novidade perdoa o excesso de propaganda – se éque, no que toca a eventos culturais, falar-se ou o escrever-sedemais prejudica – e nesse processo de divulgação Isabel é umaincansável promotora. Em cima do balcão da Loja 107 não faltamfolhetos com informação de agenda, com tudo o que vai acontecerno CCC durante o mês que está a decorrer. A que junta a divulgaçãoboca-a-boca, tantas vezes mais eficaz do que qualquerpalavra impressa. «Enquanto os meus clientes compram um livroaproveito para os colocar a par da programação do CCC».26 |


Maria da Conceição Pereira, vive-presidente e vereadora da cultura.da Câmara Municipal de <strong>Caldas</strong> da Rainha.Isabel Castanheira, proprietária da livraria “Loja 107”.Um trunfo que atrairá mais visitantes ao centro <strong>cultural</strong>, pelomenos é essa a expectativa do director artístico, é a criação, emJaneiro, de um produto inovador em Portugal: um cartão de crédito<strong>cultural</strong>. «Vamos oferecer um Visa Mundial aos utentes subscritoresdo bilhete anual», que neste momento já rondam os 160. O bilheteanual é uma ferramenta importante para «fidelizar» espectadorese para o espectador é um forma barata de assistir a espectáculosde qualidade (permite ver 25 espectáculos por 100 euros– um preço de promoção em vigor até ao fim do ano). «Cercade 25% da plateia do Grande auditório tem ocupação garantida»,já para não falar dos subscritores dos bilhetes semestral e trimestrale dos utentes do bilhete empresas, este último ainda semuma adesão satisfatória devido «à falta de pessoal na promoçãodeste produto».Outra novidade que Carlos Mota pretende implementar no CCCé a possibilidade de os utentes «levarem» no seu telemóvel trêsminutos do espectáculo que acabaram de ver, um concerto porexemplo. Objectivo: divulgar. «Vamos oferecer um pequeno equipamentoque podem introduzir nos telemóveis e enviar o respectivoconteúdo para os amigos. Às vezes não chega dizer que gostaramou que foi muito bom, é preciso mostrar o que vimos».A opção por este método mais agressivo de publi<strong>cidade</strong> é umatambém um modo de dizer que a cultura não pode estar à margemdas novas tecnologias, até porque não se lhes pode negareficácia na difusão. «É o efeito bola de neve aplicado aos espaçosculturais».O serviço educativo – visa sensibilizar os mais jovens e os maisidosos, permitindo-lhes o acesso a bilhetes mais baratos – e asparcerias com centros de actividades complementares e de temposlivres são também mais valias apresentadas à população peloCentro Cultural e de Congressos das <strong>Caldas</strong> da Rainha.Para Carlos Mota, no entanto, o que distingue o CCC dos outros«não é tanto os aspectos inovadores, mas a sua conceptualização».Um aspecto que tem levado técnicos do Centro Culturalde Belém a visitar o Grande Auditório para, quem sabe?, «copiarem»o modelo. O Grande Auditório é a «menina dos olhos» de JoséRamalho, director técnico do CCC. É ele que nos faz a visita guiadae apesar de não lhe falhar a memória na descrição pormenorizadadas características mais relevantes de cada um dos espaços, é a estagrande sala, que o dia 6 de Dezembro receberá o bailado QuebraNozes (a obra-prima de Tchaikovsky), que José tece os comentáriosmais demorados e elogiosos. Desde a versatilidade do palco «quede um momento para o outro se transforma numa enormearena», prolongando-se pelo espaço ocupado pela plateia», atéà qualidade dos equipamentos de som (já aqui foram gravadosdois CD) e de luz, sem esquecer o tamanho e tecido das cortinas.Considerações que resultam na síntese: «Este edifício é o melhorequipamento <strong>cultural</strong> fora de Lisboa».Para que a classificação se mantenha, não basta a excelência daprogramação. É preciso que as pessoas saibam o que lá se faz e sevai fazer. E isso está ao alcance de todos os que acederem ao sítiowww.ccc.eu.com/ do CCC. ■| 27


O CCC POR DENTROGrande auditórioOs seus 660 lugares são distribuídos pelo fosso de orquestra, duasplateias, tribuna e camarotes. O palco tem 600 m2.Espaço principal do CCC, é aqui que acontecem os eventos de maiordimensão. Sendo uma sala dinâmica e ajustável às necessidadesde cada situação, está apta a responder com qualidade às maisexigentes produções artísticas nacionais e internacionais, bemcomo cimeiras, congressos, conferências e colóquios (a promoçãodestes encontros é outra das funcionalidades do CCC com que seespera atrair milhares de visitantes; em Novembro, por exemplo,está prevista a realização do Congresso sobre a Diabetes, parao qual se espera a chegada de 800 pessoas, que nas caldas ou naregião vão comer e pernoitar, o que do ponto de vista do turismoe uma mais-valia).Pequeno auditórioTem uma bancada telescópica de 120 lugares, que se pode complementarcom mais 28 cadeiras, podendo assim receber 148 pessoas.É um espaço que acolhe uma diversidade de projectos como.o teatro, a música, o cinema ou mesmo um baile. As «Noites deEstúdio», às quintas-feiras, dedicadas aos estudantes do ensinosuperior, prometem ser uma referência da vida nocturna daregião.Sala multiusosCom 240 m2, dá apoio a congressos, sessões de formação e reuniões.Está também vocacinada para oficinas de produção artística.Sendo um espaço flexível, há a possibilidade de o reorganizar emvárias salas de trabalho distintas (até quatro no total), que podemtambém ser utilizadas para danças de salão, festas temáticas,workshops ou mesmo ensaios de orquestra.Café concertoÉ o ponto de encontro por excelência do CCC e tem uma programaçãoparalela e diversificada. Aí se realizam cafés concerto, cafésliterários, cafés teatro e cafés convívio, e quem os frequenta tema oportunidade de trocar impressões com o autor, actor ou músicoconvidado acerca da respectiva obra. Oferece um serviço de copapersonalizado e espaço de lazer, com espectáculos de dança, teatro,ilusionismo, projectos audiovisuais, debates, performances, mastambém tertúlias e lançamentos editoriais. O espaço tem umaampla vista para o exterior e para a Praça da Animação, onde osmais pequenos irão ter o seu local de convívio. No café concertoé possível aceder a um serviço de Internet sem fios gratuito.Sala de ensaiosÉ um espaço de dimensão e capa<strong>cidade</strong> técnica equivalente aopalco do Grande Auditório. É um local privilegiado para a montagemde espectáculos sem necessidade de recorrer ao uso do palcoda sala principal. ■(Fonte: www.ccc.eu.com/)28 |


O QUE SE FEZ E VAI FAZER NA REGIÃOAlém do Centro Cultural e de Congressos das <strong>Caldas</strong> da Rainha,muitos outros projectos merecem referência. Alguns representamo «empurrão» que a Região de Lisboa e Vale do Tejo precisava parase desenvolver e dessa forma se destacar a nível nacional em matériade investimentos.MÉDIO TEJOParque AlmourolCom este projecto pretende-se dinamizar do ponto de vista patrimoniale económico a área ribeirinha entre Constância, Arripiadoe Vila Nova da Barquinha. Em 12 quilómetros de margem do rioTejo vai-se investir fortemente para transformar o espaço no principalcentro de turismo activo e de aventura, de natureza e delazer do país. Em desenvolvimento desde 2001 e resultante deuma parceria público-privada entre a Associação Empresarial daRegião de Santarém (NERSANT) e as câmaras municipais deConstância, Vila Nova da Barquinha e Chamusca – justamente asque apresentam os orçamentos «mais frágeis» da região, segundoo presidente da direcção da NERSANT, José Eduardo Carvalho–, o Parque Almourol é dos projectos mais ambiciosos alguma vezpensados para as autarquias nele envolvidas, implicando uminvestimento total na ordem dos 33,6 milhões de euros. Destes,já foram aplicados cerca de 21,3 milhões nos projectos já concretizados:os Centros Náuticos de Constância e Vila Nova da Barquinha,o Parque Ambiental de Santa Margarida, o Centro Ciência Viva,a Casa Horto Camões, o Parque Urbano de Vila Nova da Barquinha,o Miradouro do Almourol, o Cais e Rampas de acesso ao rio e arequalificação urbanística. Falta ainda concretizar, ainda no âmbitodo Projecto Parque Almourol, a Musealização do Castelo, o ParqueAventura, os Percursos Ribeirinhos, o Hotel «Quinta do ParqueAlmourol» e toda a sinalética. Prevista está ainda a criação deuma bolsa de oportunidades de investimento privado associadasao Parque: o Parque Aventura, urbanizações, parcerias público-‐privadas de recuperação urbana nas margens ribeirinhas, restauração.Para o empresário José Eduardo Carvalho, a optimização destaárea só foi possível graças à «conjugação de três factores: água,ar e terra». O primeiro não levantou qualquer problema, uma vezque ali passam o Zêzere e o Tejo, e com a vantagem de se poder«aproveitá-lo» na sua parte mais estreita. O resto passou pelacriação de uma série de equipamentos geridos pela SociedadeParque Almourol. Na lista de equipamentos contam-se bungalowscom uma capa<strong>cidade</strong> de acolhimento de 150 pessoas em simultâneo,estruturas para a prática de modalidades desportivasdiversas como tiro ao arco, slide, rappel, trilhos, escalada, paintball,BTT e actividades naúticas. Os centros estarão abertos aopúblico todos os dias do ano.Duas peças fundamentais neste projecto são a Musealização doCastelo de Almourol e o Parque Ambiental de Santa Margarida(a que fazemos referência mais detalhada).| 29


Musealização do Castelo de AlmourolFoi a 6 de Junho, em Tancos, que se deu um passo decisivo paraa musealização do Castelo de Almourol. Um protocolo assinadopela Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha e o Exércitoportuguês, através da Escola Prática de Engenharia [de quemo monumento está à guarda, como pertença do Ministério daDefesa], desbloqueou um processo que prevê ainda a conservaçãodo ilhéu no rio Tejo, que será algo de uma acção de limpeza (temmuito caniço) e de conservação, o desenvolvimento de projectosde restauro da Capela de Nossa Senhora do Loreto, onde está previstofuncionar um centro de interpretação com uma exposiçãopermanente, e a criação de um estaleiro de arqueologia, «comescavações no ilhéu e na zona envolvente do convento», segundoinformações da própria autarquia. «O acordo regula também asintervenções para a construção de percursos ribeirinhos ao longodas margens do Tejo que envolvem o castelo e a ilha de Almourol».Situado no leito do rio Tejo, o castelo está classificado comomonumento nacional e é considerado um ícone da engenhariamilitar portuguesa, estando afecto ao Ministério de DefesaNacional e à guarda do Exército. A intervenção na fortelaza serámínima - de modo a preservar a sua simbologia como «marcado imaginário da Reconquista e da transição e articulação entreo Norte e o Sul» e através de uma candidatura ao QREN – Quadrode Referência Estratégico Nacional, na sequência do ProgramaEstratégico Intermunicipal Parque Almourol. É o Instituto de Gestãodo Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) que vaiacompanhar as obras.Parque Ambiental de Santa MargaridaCom mais de seis hectares de extensão, o Parque Ambiental deSanta Margarida (PASM) é um espaço lúdico-pedagógicosituado na Coutada, uma zona rural do concelho de Constância,onde se desenvolvem actividades de lazer e de (in)formaçãoambiental. É um espaço ideal para se estar sozinho ou com afamília e amigos. Tem parque de merendas, campo de jogos, parqueinfantil, torre de observação, jardim de plantas aromáticas emedicinais, lagos, riachos, uma extensa área de relvado, prados desequeiro, sobreiral, peças escultóricas e uma ecoteca com espaçointernet, centro de documentação ambiental, galeria de exposições,laboratório, auditório, anfiteatro ao ar live com vista para umgrande lago, e «loja da Terra». Tudo isto com um investimento de2.198.381 euros.PENÍNSULA DE SETÚBALJardim Urbano (Costa da Caparica)É a primeira obra do programa Polis da Costa de Caparica. São 14hectares de lazer abertos à população. Situado na Mata de SantoAntónio, entre a Av. Afonso de Albuquerque e a linha de praia,o novo Jardim Urbano está dotado de um conjunto de equipamentosde lazer e desporto, como parques infantis e juvenis, parquede merendas, campos de ténis e edifício de apoio e restaurantes.Conta ainda com um Centro de Monitorização e InterpretaçãoAmbiental que se tornará no testemunho das preocupaçõesambientais que desde o início o Programa Polis procurou acautelar.Através do Plano de Pormenor do Jardim Urbano, o Programa Polispretende fazer florir uma Costa de Caparica mais bonita, maisverde, onde será melhor viver frente ao mar. O objectivo era tornara Mata de S. to António da Caparica num espaço urbano de ordempaisagística, com uma função predominante de recreio e de protecçãodo solo, uma zona de lazer para todas as idades, em plenaCosta de Caparica. Tendo preocupações de valorização ambiental,foi definido um conceito de protecção do território através deopções paisagísticas que preservem um grande grau de naturalidadenos espaços verdes. Era também importante fazer destesespaços zonas vividas pela população, ou seja, aliar o uso de recreiocom a protecção do território. Numa fase posterior será aindaconstruído um campo polidesportivo.O desenvolvimento deste projecto tornou a Mata de S. to Antónioda Caparica num espaço urbano de ordem paisagística, com umafunção predominante de recreio e de protecção do solo. O espaçoera anteriormente ocupado por um parque de lazer com equipamentosdegradados, para além de habitação precária clandestina.Funciona de domingo a quinta-feira das 8h00 às 22h00, sextae sábado das 8h00 à meia-noite.Projecto de Execução da Frente de Praias Urbanase Espaços Públicos Adjacentes (Costa da Caparica)É também um projecto do Polis da Costa da Caparica. Inclui diversosequipamentos de acordo com o estabelecido em Plano de Pormenor:remodelação do paredão, estacionamentos, requalificação30 |


e prolongamento da Av. Humberto Delgado, apoios de pesca,zonas verdes, acessos pedonais, equipamento hoteleiro, obrasde defesa costeira e alimentação artificial das praias; camposde jogos informais; edifício de polícia marítima, posto de socorrose posto de turismo, Centro Internacional de Surf, recuperaçãodunar. Estão ainda previstos instrumentos de requalificaçãodo espaço público, tais como 27 apoios de praia ao longo do.paredão.Projecto Praça José Afonso (Setúbal)O projecto para a Praça José Afonso incidiu sobre uma área detrês hectares, limitada a norte pela Av. Luisa Todi, a sul pelaTravessa Oriental do Largo, a nascente pela Rua dos Trabalhadoresdo Mar e a poente pela Rua João de Deus. Trata-se de um grandeterreiro no centro de Setúbal, utilizado para diferentes manifestaçõese eventos lúdicos e recreativos. Antes do início das obras,além de construções degradas e de um centro de juventude,o parque servia de parque de estacionamento. A proposta paraa requalificação da Praça considerou como pressuposto fundamentala consolidação da sua imagem como Terreiro. Toda a zonaperiférica foi arborizada e para preservar o carácter lúdico que,até então, a praça assumia, o projecto incluiu a construção de umanfiteatro ao ar livre com capa<strong>cidade</strong> para 2.500 espectadores.que tem como elemento estruturante um pórtico cénico de grandeefeito plástico e estrutural. Teve um custo global de 4.120.536euros.Parque Urbano de Albarquel (Setúbal)É a segunda obra pública – depois da Praça José Afonso – no âmbitodo Polis de Setúbal e um passo importante para manter a identidadede Setúbal enquanto <strong>cidade</strong> integrada numa grande áreametropolitana como a de Lisboa. Situado numa área à beira-rio,onde anteriormente existia o parque de campismo «Toca do PaiLopes», teve uma intervenção exemplar, demonstrando que uma<strong>cidade</strong> como Setúbal, integrada numa área metropolitana, podemanter a sua identidade e assumir a sua centralidade.Tendo custado 3,7 milhões de euros, este equipamento «religa»,como se impunha, três elementos fundamentais e indissociáveis:o rio, a baía e a área urbana de Setúbal, e contribui para transformaro Sado num pólo de atracção turística e de preservação dosvalores patrimoniais e naturais.O programa de requalificação urbana, que abrange mais de duasdezenas de municípios, na opinião de Fonseca Ferreira, presidenteda Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região deLisboa e Vale do Tejo, figurará como «a primeira medida políticade <strong>cidade</strong>s no País», tendo salientado, no entanto, no dia da inauguração,que na grande intervenção do Polis em Setúbal «ficaainda um espinho atravessado entre o Parque Urbano e a zonaribeirinha urbana», (leia-se: terrenos da Praia da Saúde contíguosao equipamento). Mas a requalificação da área dos estaleirospoderá, justamente, ser uma das próximas intervenções. Integrandoquatro edifícios já construídos – divisão de desporto da câmaramunicipal, bar-esplanada, Restaurante e espaço lúdico, as outrasvalências compõem um espaço polidesportivo com bancada viradapara o rio, miradouros na zona mais elevada, caminhos pedonais,parqueamentos, um pequeno parque infantil com um equipamentode corda para crianças com mais de oito anos.LEZÍRIA DO TEJORequalificação ribeirinha do SorraiaAs margens do rio Sorraia são a nova «sala de visitas» de Benaventee de Coruche. Em Benavente, a intervenção teve um custo de2.101.195 euros e consistiu na construção de um extenso parqueverde com excelentes condições para o lazer e o desporto ao arlivre. Tem uma ponte e um caminho pedonal que ligam o Parquedo Sorraia à Vala Nova, onde se encontra uma esplanada.Em Coruche, a requalificação custou 6.253.159 euros. As margensforam profundamente transformadas: o figurino urbanísticoe a ligação do espaço urbano com o curso de água foram completamentealterados. Criou-se um passeio pedonal ao longo de todaamargem direita do rio e no antigo recinto de feiras foram instaladosvários equipamentos lúdicos. Um skate-park e uma paredede escalada, um bar/cafetaria com esplanada sobre o rio, jogosde água e parque de estacionamento são alguns dos equipamentosaí instalados. A jusante da ponte existem zonas de descansoe de contemplação da Lezíria. Esta intervenção permitiudevolver toda uma faixa urbana para novos usos, promovendouma maior utilização da zona ribeirinha pela população. ■As fotos são da autoria de Filipe Jorge e foram retiradas do livro“Mudança e Desenvolvimento”, editado pela <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> em Dezembro de 2007| 31


Joaquim Rosa do CéuDefender e projectardefinitivamenteo nosso patrimónioedificado é determinanteTerritórios | Carla Maia de AlmeidaFotografia | CA, produções fotográficas32 |


O mapa da organização do turismo emPortugal mudou radicalmente. O novomodelo aposta em cinco grandes regiõese seis pólos de desenvolvimento turístico.Joaquim Rosa do Céu, licenciado emEconomia e actual Presidente da CâmaraMunicipal de Alpiarça, foi eleito em Maiopara presidir à Comissão Instaladorada Área Regional de Turismo de Lisboae Vale do Tejo, a maior e mais complexadas cinco regiões. Antes das eleições paraa presidência da T-<strong>LVT</strong>, marcadas paraNovembro, falou do trabalho quejá foi feito e desvendou um poucodo que se deverá seguir.Quais foram as prioridades desta comissão instaladora atéagora e quais são os passos que se seguem?O fundamental era a elaboração de uma proposta de estatutos,para colocar à apreciação da tutela política. Isso foi feito, a portariafoi publicada, os estatutos estão aprovados. Depois foi necessáriopreparar todos os actos conducentes à instalação em definitivodesta entidade, o que passa por um acto eleitoral, conforme osestatutos da T-<strong>LVT</strong> (Turismo de Lisboa e Vale do Tejo). Há um conjuntode membros fundadores, que inclui os municípios da regiãoe uma série de associações de direito privado, que terão a oportunidadede se pronunciarem relativamente à aceitação deste convitede membros fundadores. No início de Outubro teve lugar umareunião da comissão instaladora que definiu o dia para a realizaçãodas eleições e, a partir daí, eleger os órgãos que estatutariamenteestão previstos em termos electivos. Falo da mesa de Assembleia-‐Geral e da Direcção, que depois terão a incumbência de concretizaros restantes órgãos, nomeadamente o Conselho Consultivo.As antigas regiões estão formalmente extintas, e no âmbito destaárea geográfica estamos a falar de três regiões de turismo – CostaAzul, Ribatejo e Templários – e de duas juntas de turismo – Estorile Ericeira. A comissão instaladora está a fazer a gestão correnteneste espaço temporal, com as dificuldades que resultam sempreda extinção de entidades com um passado e o seu nascimentonuma formulação completamente diferente.Quais são, no seu entender, as vantagens desta reorganizaçãodas regiões de turismo?Acho que há aqui uma vantagem enorme. Esta reorganização dácoerência a um modelo e faz corresponder esse modelo a outrasformas de desconcentração já implementadas em termos de administração.Esta coerência, em termos territoriais e até políticos,| 33


As antigas regiões estão formalmente extintas, e no âmbitoda área geográfica de Lisboa e Vale do Tejo estamos a falarde três regiões de turismo – Costa Azul, Ribatejo e Templários– e de duas juntas de turismo – Estoril e Ericeira.A comissão instaladora está a fazer a gestão corrente nesteespaço temporal, com as dificuldades que resultam sempreda extinção de entidades com um passado e o seunascimento numa formulação completamente diferente.bem como da capa<strong>cidade</strong> para prosseguir a colaboração com a autoridadecentral de turismo no que são os desígnios da política centralpara o país, é agora possibilitada. Com o mapa anterior de 19 regiõesde turismo sem qualquer unidade territorial, sem escala, semcapa<strong>cidade</strong> financeira, sem conseguirem ser interlocutores válidosem coerência com outras formas já desconcentradas perantequem tem o poder de decisão e pode facilitar – e muito – o trabalhoaos investidores, tudo isto agora vai ser possível. Qualquerinvestidor, qualquer interveniente na acção turística vai saberquem são os seus interlocutores, vai saber a quem pedir responsabilidades,passando a ter os instrumentos para operar de umaforma completamente diferente dentro das novas dinâmicas quese pretendem para o crescimento deste sector.Haver 19 regiões era mau para a promoção do turismo?Com certeza que cada região fez um trabalho extremamenteválido, não ponho isso em causa, mas tinham uma atitude promocionalde um determinado produto ou uma determinada marcanão integrados. O que se pretende agora é que os efeitos da complementarizaçãosejam aproveitados pela área regional ondeestamos inseridos.Surgiram muitas críticas de vários sectores, nomeadamentea de que se estava a diminuir a identidade de marcas regionaisque tinham trabalhado tanto para se afirmarem. Concorda?É muito difícil encontrar uma situação de mudança que não levantepolémica e interpretações díspares, mas acredito que não vai serdifícil encontrar o entendimento. Acho que há um espaço temporalpara a crítica, mas a partir do momento em que as coisas se tornamefectivas há que terminar o tempo da crítica e iniciar o tempo daconstrução. Quero acreditar que é assim que vai acontecer.Em que medida vai ser aproveitado o trabalho que foi feito atéagora?Eu acho que dentro dos piores disparates que se podem fazer, emtermos de mudança, é ter o pretensiosismo de pensar que tudo oque foi feito até ali, foi mal feito. O que é fundamental, quando sefaz planeamento turístico, é elaborar planos e implementar projectosem concreto. Esta região e as outras vão precisar de avançarrapidamente para um plano estratégico promocional e implementaros projectos que esse plano vier a definir. É evidente quetudo o que foi feito antes, por exemplo, na projecção de marcas deinteresse e de validade turística, com certeza que o plano a elaborarvai contemplar essas situações.Pode ser um pouco mais concreto?Só posso dar a minha opinião. Por exemplo, acho que é essencialesta região ter um observatório à escala regional e não só à escalade Lisboa, como já existe. Acho que é fundamental implementarum plano de sinalização turística que seja coerente e eficaz, porquetambém não existe. Acho que é preciso fazer uma promoçãono mercado interno, concertada, de modo a que existam aquisinergias que possam ser aproveitadas complementarmente. Ouseja, para que o que é hoje a oferta de Lisboa se possa estender,em termos de aproveitamento e de venda do produto, a outrasregiões contíguas. A promoção do mercado externo é uma coisamais discutível e aí a autoridade central do turismo é que tem dese pronunciar sobre isso.34 |


Além das novas cinco grandes áreas regionais de turismo, quecritérios presidiram à criação dos pólos de desenvolvimentoturístico: Douro, Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Oeste, LitoralAlentejano e Alqueva?O que posso comentar, não sendo legislador, é que isso emanadirectamente do PENT (Plano Estratégico Nacional do Turismo),e que essas excepções foram consideradas como estratégicas.entendimento entre as partes, tendo por base um objectivocomum. Digamos que a gestão sairá muito mais facilitada setodas estas situações forem acordadas sabendo o que é que cadaentidade tem de fazer em determinado momento. É fundamentalque o plano estratégico absorva esta realidade, que lance e dêa ideia de projectos específicos que complementem a acçãode cada uma destas entidades, tendo em vista a promoção detoda a Área Regional de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo.E como cidadão, o que é que pensa?Porque se escolheu Santarém como sede da T-<strong>LVT</strong>?Eu compreendo a explicação. O PENT definiu um conjunto de objectivosestratégicos, centrados em algumas marcas, e o legisladorentendeu que essas marcas eram melhor defendidas numa organizaçãomenos ampla. Sinceramente, eu acho que seria desejável,em termos de gestão territorial, que houvesse uma coincidênciatotal com as cinco regiões-plano. Mas compreendo também osargumentos da outra parte, e acho que não é grave se as entidadesregionais e os pólos que aí se integram forem capazes de trabalharconstrutivamente num clima de entendimento.Que especifi<strong>cidade</strong>s se colocam a esta entidade, dadaa extensão e a diversidade da área?Eu acho que a T- <strong>LVT</strong> é uma região complexa. Parte de uma situaçãode uma entidade regional com um pólo completamente constituídoa Oeste, com três municípios desta região que pertencem a outropólo, Leiria-Fátima; com a Associação de Turismo de Lisboa e todaa importância que tem; com a Junta de Turismo do Estoril, cujaforça e vitalidade são enormes… Portanto, é complexo, este modelo.Agora, eu acho que se lhe pode dar coerência, em termos dePorque foi entendimento da comissão instaladora que Santarémseria o local ideal para absorver a sede da nova entidade regional,e a tutela concordou com essa opção. Acho que faz sentido nósacabarmos com aquela ideia um bocado bacoca do centralismodo Terreiro do Paço. Estamos a falar de um país tão pequenino quetem de caminhar forçosamente para atitudes de descentralização.De qualquer modo, a existência de uma delegação em Setúbale outra em Tomar tem o reconhecimento de uma situação queme colocou há pouco: então e o que se fez antes, vai ser esquecido?É evidente que não. A Costa Azul tem hoje, em termos proporcionais,uma vitalidade que é reconhecida e, portanto, justifica-se. Quantoa Tomar, pelas novas políticas sobre o que deve ser a promoção donosso património, e também por uma razão que nos parece essencial– fica na ponta norte da região, com uma envolvente paisagísticafantástica –, faz sentido que aí se crie uma delegação. Agora, istonão significa de modo algum um partilhar de acções e de decisões.Estamos a falar de delegações entendidas como front-offices, nãode delegações com autonomia de acção. Tem que ver com a aplicaçãode um conceito de proximidade que é necessário levarà oferta e à procura, e é nesse sentido que existem delegações.| 35


O património edificado temtido uma atenção insuficiente.Existe hoje uma procuracom significado e que podecrescer; é uma procura quenos interessa, porque tempoder de aquisição. Defendere projectar definitivamenteo nosso patrimónioedificado é determinante.A que tipo de turismo gostaria de dar mais atenção?O património edificado, na minha opinião, tem tido uma atençãoinsuficiente. Acho que existe hoje uma procura com significadoe que pode crescer; é uma procura que nos interessa, porque tempoder de aquisição. Na minha opinião, defender e projectar definitivamenteo nosso património edificado é determinante.O que lhe posso dizer é o seguinte: eu sou a favor da auto-limitaçãode mandatos. Portanto, devo ser coerente com este princípio,e três mandatos é um prazo muito razoável. Recandidatar-me ounão, é uma questão que se colocará no tempo próprio.Caso saia, o que é que gostaria de deixar feito ainda durante asua presidência no município de Alpiarça?Já há ideias para isso?As entidades regionais de turismo vão contratualizar com a autoridadecentral de turismo a sua participação nesta matéria. O quelhe posso dizer é que, por exemplo, a monumentalidade do nossopatrimónio em termos de importância mundial vai começara vender e o Turismo de Portugal está a anunciá-la. Estamos a falarde Alcobaça, Aljubarrota, Tomar… Há muito património a valorizare a «vender». Por outro lado, vivemos muito de constatações queexistem e o «sol e praia» é uma constatação. Complementarmente,têm que nascer outras actividades. Fala-se hoje muito emturismo náutico, e se este vier a ser considerado uma prioridadenesta região, é desejável que complementarmente apareça aoferta de alguns serviços próximos. Portanto, é outra oportunidadeque se abre.Pretende deixar a Câmara Municipal de Alpiarça para sededicar a este projecto?Gostaria muito de lançar um concurso público nacional para aconservação e a requalificação de um bem patrimonial que nóstemos, a Casa dos Patudos, e que eu gostaria que fosse entendidocada vez mais como um museu do país. Aproximamo-nos do centenárioda República e acho que era uma boa homenagem a JoséRelvas, um homem que proclamou uma mudança de regime, quelegou a Alpiarça e ao país um espólio de valor incalculável, e quepor força do seu testamento é uma responsabilidade municipalem termos de manutenção, com as dificuldade que um municípiotem para incorporar esta exigência. Temos levado o acervo daCasa dos Patudos um pouco por todo o país; neste momento,estamos com uma exposição na Assembleia da República quemarca o início das comemorações do centenário por parte da instituição.Toda a gente tem consciência de que a Casa dos Patudostem insuficiências que são conhecidas e que importa ultrapassar,até porque a grandiosidade do acervo e da atitude altruísta deJosé Relvas merecem que o país não possa justificar que 80 km dedistância relativamente à capital possam servir de argumentopara ela continuar desprezada e esquecida. ■36 |


UM NOVO MAPA DO TURISMODas 19 regiões e zonas de turismo existentes no território dePortugal continental, o Governo fez uma «limpeza» e reorganizouo mapa em cinco grandes áreas regionais que incluem toda a áreaabrangida por cada uma das NUTS II (Nomenclaturas das UnidadesTerritoriais para Fins Estatísticos de Nível II). São elas: Norte, Centro,Lisboa, Alentejo e Algarve. Paralelamente, criou-se uma espéciede regimes de excepção, abrangendo as regiões apontadas peloPENT (Plano Estratégico Nacional do Turismo), e que correspondemao Douro, Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Oeste, Litoral Alentejanoe Alqueva. Com esta reorganização, o Governo pretende apostarainda mais forte no Turismo como frente de desenvolvimentoeconómico para o país, o que era dificultado com «um númeronotoriamente excessivo de órgãos regionais e locais de turismo».No decreto-lei publicado a 10 de Abril de 2008, lê-se ainda queeste novo quadro de interlocutores é «compatível com outras formasde administração desconcentrada e/ou descentralizadas»e que «permitirá o estabelecimento de parcerias, entre outros,como o Turismo de Portugal, I.P.»Na região correspondente à NUT II de Lisboa e Vale do Tejo, a T-<strong>LVT</strong>(Turismo de Lisboa e Vale do Tejo) é a entidade regional de turismoque funciona como entidade gestora, cabendo-lhe a valorizaçãoturística desta área. Conforme consta dos estatutos publicadosa 21 de Agosto de 2008, compete-lhe, em matéria de promoçãono mercado interno, «definir e executar uma estratégia regionalde promoção turística; definir e implementar uma estratégiaregional de comunicação e marketing turístico; criar e gerir postosde turismo na Área Regional de Turismo – Lisboa e Vale do Tejo,de forma autónoma ou em parceria com os municípios; conceberedições turísticas regionais; e apoiar eventos com conteúdo turístico.»São 51 os municípios fundadores da T-<strong>LVT</strong>, numa extensa lista demembros que incluem, entre muitos outros, as duas principaiscentrais sindicais; a Associação de Turismo de Lisboa; a ANA –Aeroportos de Portugal; a APL – Administração do Porto de Lisboa;a ARESP – Associação da Restauração e Similares de Portugal;e a AHP – Associação de Hotelaria de Portugal. ■Fonte: Diário da República, 1ª série, nº 71 e nº 161.| 37


Destaque | Eduardo Oliveira Fernandes [Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto]A ENERGIANO ORDENAMENTODO TERRITÓRIOApresença tradicional da energia nos exercíciosde ordenamento do território foi sendo encaradano passado segundo uma perspectiva restrita deidentificação dos locais para potenciais barragensou outros grandes empreendimentos energéticose, pela expressão vestigial e quase caricatural de prevenir os impactesda passagem de linhas de alta tensão ou de gasodutos ou oleadutos.A energia continua ainda a ser vista entre nós, sobretudo, como umproduto de consumo e, algumas vezes, como factor de produção,que alguém deverá providenciar, desejadamente, a custo baixo.Para além disso, a experiência do quotidiano revela todos os diasque o tema da energia não atrai muito o interesse da sociedadecivil, mesmo quando os actores têm formação académica e alguma«cultura» e poder na gestão da coisa pública. A energia é vistacomo uma «coisa» técnica desligada da sua identificação plenacom o ambiente, não já em termos dos potenciais impactosdo seu uso mas, sobretudo, enquanto recurso natural que «está»e «vem» do próprio ambiente.Ainda não despertámos enquanto comunidade para a percepçãoda energia como, aquilo que é, um recurso natural abundante noterritório a desafiar os avanços da tecnologia, a qualidade da gestãoda coisa pública mas, sobretudo, a nossa sensibilidade aosvalores ambientais do nosso tempo.Por isso, a visão dominante da energia na óptica da oferta, pareceesquecer-se que, em mercado, tão importante é a procura comoa oferta. Ou seja, em termos de energia, tão importante é a necessidadede energia e a forma como é satisfeita como o tipo derecurso disponível para tal.A cultura do petróleo, em que ainda vivemos e que perdurará certamentepor mais algumas décadas, foi a alavanca do desenvolvimentoeconómico-social que conhecemos e que se consolidou nosúltimos 150 anos mas não escapa à responsabilidade, quase fatal,do aquecimento global devido às emissões de CO2. Este porém, nãofoi, por certo, o único «malefício» de um cultura de poderes, centralizada,cartelizada e cúmplice dos sistemas fiscais, estabelecidaem torno dos combustíveis fósseis. Pior do que isso, terá sido certamente,a barreira criada ao longo de décadas ao progresso doconhecimento e ao desenvolvimento de tecnologias energéticasrelacionadas com o aproveitamento da energia solar e outras renováveis,segundo um paradigma de descentralização e de proximidademais orgânico, mais ambiental e mais democrático.Neste tempo de alguma perplexidade quanto ao impacto dos custosda energia na economia e na sociedade, temos de nos libertar dapecha <strong>cultural</strong> que varre toda sociedade portuguesa de ver como«energia» apenas a electri<strong>cidade</strong>, que representa, afinal, apenas20% das compras de energia pelos utilizadores finais. É certo que,mesmo para a produção de electri<strong>cidade</strong> estamos longe de nos38 |


EolicaZona.com.locais.de.produtividade.elevadaZona.com.locais.de.produtividade.muito.elevadaOndasZona.com.condições.favoráveisRadiação.SolarRecurso.muito.significativoRecurso.significativoBiocombustíveisZona.de.potencial.elevado(agricultura.intensiva.de.regadio)BiomassaFloresta.de.produçãoFloresta.multifuncionalPontos.de.injecção.actuaisZona.de.influência.da.centraltermoeléctrica.a.biomassa.em.concursoNUTS.III0 5 10 20 30 40Kilometerspodermos considerar desprovidos em recursos em termos de energiashídrica, eólica ou das ondas. De tal modo que não será difícilde imaginar que estas poderão assegurar num futuro próximomais de 50% das necessidades do país. Mas tão pouco nos podemosconsiderar desprovidos de energia solar e de biomassa, agora,não necessariamente apenas para electri<strong>cidade</strong>, mas para uso deenergia - calor. Convém recordar que a energia usada sob a formade calor representa porventura duas a duas e meia vezes a energiaeléctrica utilizada ou seja cerca de 50% da energia final contracerca de 20% para a electri<strong>cidade</strong>.Ora, se a energia hídrica, eólica e das ondas respondem aos padrõesconvencionais, da perspectiva do «supply» a verdade é que a energiasolar e a biomassa são, por definição, descentralizadas e oferecemoportunidades de usos de proximidade e de interacção procura –oferta como nenhuma outra. A própria energia fotovoltaica, queentusiasma os portugueses atraídos pelo isco de um tão residualquanto mesquinho interesse financeiro, e que constitui, estamoscertos, o grande futuro do aprovisionamento eléctrico até ao fimdo século, é mais parte de uma rede com gestão centralizada, ebem, do que uma forma descentralizada de aprovisionamento deenergia final ou útil.É costume dizer-se, num tom por demasiado habitual, quePortugal é pobre em recursos energéticos, pensando, é claro, nosrecursos fósseis. A verdade é que, em termos de recursos energéticos,Portugal tem condições para se tornar num verdadeiro casode estudo no aproveitamento «elegante» das fontes de energiarenováveis, isto é, mais do que inteligente, também carregadode culto dos valores ambientais que farão do nosso território umterritório particularmente aprazível para as populações locaise visitantes. E é aqui, que nasce o desafio que, em termos de energia,se coloca ao ordenamento do território.A experiência vivida no quadro da elaboração do PROT do Oestee Vale do Tejo é um caso de estudo da nova forma de lidar com aenergia em ordenamento e de organizar a gestão dos recursosenergéticos com o sentido da responsabilidade ambiental e social,na óptica da sustentabilidade. Por um lado, identificaram-se asnecessidades de energia para as actividades económicas e parao bem-estar dos cidadãos apurando até onde aquelas necessidadespoderão ir em termos do estado da arte e das tendênciasda tecnologia. E, por outro lado, inventariaram-se as potencialidadesdos recursos naturais disponíveis para a obtenção da energiafinal ou útil localmente necessária procurando o «matching» procura– oferta mais eficiente e racional. Foi, assim, possível chegara um planeamento aferido por critérios de impacto ambientalestratégico e que conduzem a uma ideia de «autonomia energética»que, sem por em causa a solidariedade do todo nacional, visa criarum quadro de estímulo à valorização do potencial da energia deproximidade por parte dos promotores das próprias actividadeseconómicas e dos responsáveis autárquicos. ■| 39


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Jardim BotânicoSeja um amigo tambémO Jardim Botânico da Universidade de Lisboa comemora 130 anos no dia 11 de Novembro.Guarda uma colecção notável de plantas de todo o mundo, com destaque para a NovaZelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul. Apesar das dificuldades, continuaa crescer em visitantes e mantém uma série de actividades, desde visitas guiadas temáticasa programas de educação ambiental. A adopção de árvores é uma das formas de ajudar.Quem quer ser amigo do Botânico?Património | Carla Maia de AlmeidaFotografia | Guto FerreiraVamos pelo meio de duas fileiras de washingtonianasaté aos jardins do Botânico. Para a maiorparte das pessoas, são apenas palmeiras. Palmeirasgigantes, de porte imponente e esguio, que atingemos 30 metros de altura e são originárias doMéxico. Cabe-lhes dar as boas-vindas aos visitantes do jardim queeste ano comemora o seu 130º aniversário. Cerca de 80 mil visitantesem 2007, um número que tem vindo a aumentar de anopara ano. Mas não será de arromba a festa que está marcada parao próximo dia 11 de Novembro. Há muito que se sabe das dificuldadespor que passa o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa,apesar das sucessivas mudanças do poder central e local. Água,acessos, requalificações, pessoal, manutenção – falta dinheiropara quase tudo. O empenho e o esforço imaginativo de quem aquitrabalha não chega para modificar o estado das coisas. A Liga dosAmigos do Jardim Botânico tem sido uma ajuda preciosa, maso problema é estrutural. Por isso, em vez do financiamento paraas obras desejadas, o acontecimento deste ano de comemoraçõesacabou por ser o concurso de ideias lançado pela CâmaraMunicipal e pela Universidade de Lisboa. De onde virá o dinheiropara concretizar o projecto vencedor? É o que falta saber.Maria Amélia Martins-Loução, vice-reitora da Universidade de Lisboae directora do Jardim Botânico desde 2003, considera-se «umaoptimista», o que pode ser uma qualidade apreciável para o exercíciode cargos difíceis. «Se houver um projecto coerente, atractivoe estruturante para todo aquele espaço, estou certa de que não sóo Governo, mas, particularmente, outras entidades – mecenas –possam ajudar a desenvolver aquela área, que é extremamenteimportante para a <strong>cidade</strong> de Lisboa.» Estamos a falar não apenasdos quatro hectares de terreno onde se localiza o jardim, mastambém de um largo perímetro urbano que vai do Príncipe Realà Avenida da Liberdade, passando pelo Parque Mayer e pela Praçada Alegria. «Trata-se de um plano de renovação de toda aquelazona, que está muito degradada. Tem de haver um pólo <strong>cultural</strong>na zona dos Museus da Politécnica e outro no Parque Mayer. Porisso, um dos critérios que vai pesar muitíssimo na avaliação daspropostas dos arquitectos é a viabilização financeira daqueleespaço.»No momento em que esta edição da <strong>LVT</strong> está a ser fechada, decorrea segunda parte do concurso de ideias, já com uma maior exigênciade complexidade na elaboração dos projectos. Maria AméliaMartins-Loução faz parte do júri e, como é natural, reserva-seo direito de não tecer comentários aos conteúdos. Dos cinco vencedoresda primeira fase, ficou voluntariamente de fora o projectode Eduardo Souto Moura, classificado em quarto lugar. Para a segundafase, mantiveram-se a concurso as equipas de Manuele Francisco Aires Mateus, ARX Portugal Arquitectos, Vão Arquitectose Gonçalo Byrne. A entrega definitiva será feita ainda este ano,mas a directora do Jardim Botânico dificilmente poderá anunciar,no dia 11 de Novembro, uma nova vida para o espaço verde maisrico de Lisboa. Uma riqueza natural e museológica que contrastacom a falta de meios financeiros. «Tinha esperança de que houvessemais qualquer coisa que fosse passível de ser inauguradano dia da festa, mas não houve nada de substancial. Fizemos| 41


tentativas de melhoramento do jardim, que não foram conseguidasporque nós não temos financiamento e a câmara tambémnão. Temos de ter paciência e aguardar.»Entre as várias preciosidades do Jardim Botânico a necessitarde atenção está a biblioteca herdada dos Jesuítas, uma das melhoresem Portugal na área da museologia. Os alunos do Colégio Jesuíta,que recebiam formação religiosa e não só, foram os primeirosa ter aqui o seu Horto Botânico. Corresponde à parte cimeira dojardim e denomina-se Classe, por ser o local onde as aulas debotânica eram ministradas. Neste patamar encontra-se tambémo Observatório Astronómico, uma peça centenária de arquitecturadidáctica, construída para o ensino da Astronomia, hoje numestado deplorável de degradação. Existem vários projectos paraa sua recuperação, mas, escusado será dizer, nunca passaram dopapel. À parte maior e mais frondosa do jardim, o Arboreto, chega-sepassando a íngreme escadaria em calçada portuguesa. Mesmodepois de esta ter sido recuperada, o acesso não é fácil, sobretudopara crianças e pessoas idosas. O encerramento da outra entradapela Rua da Alegria só veio piorar a situação.A natureza não é estática e, por vezes, parece virar-se contra si.No Arboreto há árvores com as raízes levantadas e pelo menosum pinheiro a ameaçar tombar. Construído em socalcos, o queo torna num espaço muito interessante e algo misterioso, o jardimressente-se dos terrenos extremamente friáveis e dos movimentosnaturais do subsolo. «Num mês, o chão mexeu 12 milímetros»,diz a bióloga Alexandra Escudeiro: «Isto é brutal, em termos geológicos,e tem consequências para este pinheiro. Vamos ter de tomarprovidências. Mas primeiro temos de explicar as razões, porqueas pessoas quando vêem uma árvore destas a ser abatida têmreacções muito emotivas.»Mais difícil é explicar por que motivo o Lago de Baixo se encontraseco e em estado de abandono, causando uma impressão dedesconforto aos visitantes. Na verdade, a causa é simples: «O lagorachou e está sempre a perder água. Já se infiltrou no túnel daEstação do Rossio.» As constantes perdas de água, neste e noutrospontos, levaram a directora Maria Amélia Martins-Loução a fecharo antigo percurso que facilita a rega, o que se traduziu em poupançana factura da EPAL, cujo total se situa entre os 45 a 55 mileuros por ano. Por ser considerado um grande consumidor,.o Jardim Botânico paga o dobro de um cliente normal. Tendo emvista a melhor optimização dos recursos, a EPAL financiou umestudo para saber o que seria necessário para tornar mais eficienteo uso da água. A utilização das cisternas, por um lado, e a adequaçãode plantas menos consumidoras no extracto herbáceo, por outro,são duas das soluções avançadas.Actualmente, cerca de 1500 espécies distintas criaram raízes nosterrenos do Monte Olivete. Projectado em meados do século xix,por iniciativa do professor de botânica Conde de Ficalho, o jardimfoi inaugurado em 1878, 110 anos depois do Jardim Botânico daAjuda, o primeiro do país. À época, os jardineiros tiveram comomissão fazer um périplo pela Europa, para recolher plantasdos quatro cantos do mundo. «A escolha das espécies foi muito42 |


criteriosa», salienta Alexandra Escudeiro. «Não foram escolhidassó pelo seu sentido estético ou botânico, mas também por razõesecológicas, geográficas e simbólicas. É a nossa colecção viva.Há plantas da mesma espécie que estão no jardim, no herbárioe no seminário.»Entre os exemplares mais impressionantes estão as árvores degrande porte, como as araucárias, os metrosíderos, as sequóias ouas ficus. Outras, fascinam pelo simbolismo e pela história: as cicas,por exemplo, descendem de um grupo primitivo de plantas queviveram há cerca de 150 milhões de anos e pouco evoluíram nosúltimos 60 milhões, sendo consideradas verdadeiros «fósseisvivos.» O mesmo se pode dizer da ginkgo biloba, espécie que resistiuaos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, e se tornou,por isso, símbolo de sobrevivência. Plantas de bom augúrio noJapão são os bambus, também presentes no Jardim Botânico.Há árvores curiosas no seu aspecto, como a barriguda paineira,de onde se extrai a sumaúma, ou essa árvore que mais parece umcacto gigante, o dragoeiro, cujos caules rijos e carnudos serviramoutrora para fazer barcos, gamelas e colheres. Há magnólias, canforeiras,ciprestes, nogueiras e teixos, entre tantas outras árvorese arbustos. Muitas, foram adoptadas por pessoas singulares oufamílias, através da Liga dos Amigos do Jardim Botânico, criadaem 1986 para promover e salvaguardar este património.Adoptar uma árvore tem um significado simbólico único. Entre osvários casos curiosos encontramos o daquela avó que começoua adoptar sequóias para deixar aos netos, ou o do rapaz que quisa árvore escolhida pela noiva, um cipreste do México, ou aindao da família que tem três árvores a crescer juntas, representandopai, mãe e filho. Os Amigos do Jardim Botânico, entre os quais secontam várias figuras públicas, têm benefícios por esta ajuda quese traduz num contributo financeiro para manter o jardim: pagamum euro por metro quadrado de copa, por ano, dinheiro que éusado para a conta de água. Quanto maior a árvore, maior o valor– mas há plantas para todos os tamanhos das carteiras. O interessenunca é demasiado. «Era preciso que mais pessoas contribuíssemcom a adopção», afirma Maria Amélia Martins-Loução.Desde que foi fundado, o Jardim Botânico tem dois propósitosessenciais: a conservação da natureza e a conservação das colecções.Raramente visto pelo público, mas fundamental, é o Bancode Sementes, guardião de várias espécies raras e ameaçadas.Surgiu logo em 1878 e tem como objectivo a conservação de recursosgenéticos de sementes de plantas endémicas de Portugal.Estas são sobretudo provenientes do próprio jardim, mas não só.Há uma colecção activa para a troca com outros jardins e instituições,e outra para a conservação a longo prazo. Neste último caso,as sementes são colhidas na natureza e, depois de limpas deimpurezas, colocadas numa câmara de secagem, onde permanecematé alcançarem o grau ideal de humidade para conservação.Depois, são hermeticamente fechadas e remetidas para a câmarafrigorífica, permanecendo aí a uma temperatura de 18 grausnegativos. As mais antigas têm quinze anos, mas é possível quehaja sementes mais recuadas ainda capazes de germinar. A naturezatem recursos surpreendentes.| 43


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Apesar de lamentavelmente esquecido pela agenda política,o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa continua a ser umlugar especial. Confirmá-lo-iam, se pudessem falar, as dezenasde gatos que ali encontram refúgio (porque um jardim sem gatosé um desperdício de espaço), e, com um pouco de sorte, alguémque os queira também adoptar. No Verão, quando a <strong>cidade</strong> se ressentedo calor e o ar fica ainda mais irrespirável, as árvores sãoum tesouro de sombras, oxigénio e frescura. No Inverno, é o cheiroda terra molhada e o verde extremo das plantas que seduz o visitante.Pena é que sejam, por vezes, apenas os turistas a descobrirem-no.Gostaríamos de ver este lugar mais habitado, que oslisboetas cultivassem hábitos de passear ao ar livre, em família,em vez de cumprirem os circuitos dos centros comerciais. Há uminteresse renovado por cada curso de formação para guias queo Jardim Botânico promove, e isso são boas notícias. No último,apareceram desde estudantes de botânica e arquitectura paisagísticaaté estudantes de história, arqueologia e geografia.Todo o ano é dia de Jardim Botânico, mas a 11 de Novembro sopram-‐se as velas do bolo de aniversário. Das 9h00 às 20h00, haverádebates, conferências, exposições e lançamentos de livros. Os alunosda Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa farão visitas guiadasaos seus auto-retratos, um conjunto de peças escultóricas quedepois ficarão à vista no jardim. Junte-se à festa! ■Jardim Botânico da Universidade de LisboaRua da Escola Politécnica, 58Tel. 213 921 800Aberto aos dias úteis, das 9h00 às 20h00Fins-de-semana e feriados, das 10h00 às 20h00(a partir de 1 de Novembro passa a encerrar às 18h00)MUSEU DA PRESIDÊNCIADA REPÚBLICA RECEBEPRÉMIO EUROPEUO Museu da Presidência da República foi contemplado com o PrémioEuropa Nostra, em Durham (Inglaterra), no âmbito do projecto deinvestigação Aberto de terça sobre a domingo, o Palácio das 10h00 de Belém. às 18h00. Sábados das 10h00 às 17h00 Fonte:Museu da Presidência da RepúblicaO espaço onde se encontra instalado o Museu da Presidência daRepública é o edifício recuperado das antigas garagens do Paláciode Belém, da autoria dos arquitectos Rui Barreiros Duarte e AnaPaula Pinheiro. A organização do museu segue um fio cronológicoe temático, com o qual se pretende apresentar a história do regimerepublicano e dos seus presidentes desde a revolução republicanade 5 de Outubro de 1910 até aos nossos dias. A República e os seusPresidentes corresponde ao primeiro núcleo temático da exposição,e visa dar a conhecer o significado do sistema político da O Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da RepúblicaRepública, a sua história em Portugal, os símbolos nacionais e os e sede da Presidência da República, é objecto de tratamento especial,num núcleo expositivo que tem por objectivo valorizar, darseus três ciclos institucionais.a conhecer e aproximar as pessoas deste património artísticoPara além do visionamento de um filme que relata o período e <strong>cultural</strong>. Para além da apresentação de objectos que fazem partehistórico que decorre entre o dia 5 de Outubro de 1910 até à reeleiçãode Jorge Sampaio para o cargo de Chefe de Estado, o visitante dade do Presidente, o visitante poderá desfrutar de uma visitada sua colecção, alguns deles ainda hoje a uso, ao serviço da activi-poderá ficar ainda a conhecer a personalidade e a biografia de virtual àquele espaço, complementar da própria visita.cada um dos Presidentes da República. Ao longo do percurso, sãoapresentadas peças relacionadas com cada um dos presidentes, O Museu da Presidência da República conta na sua colecção comquer se tratem de objectos pessoais, que suscitem leituras particularesda sua personalidade e actuação política, ou de materiais de Estado, objectos pessoais e condecorações, a que se junta ummais de mil e quinhentos objectos inventariados, entre presentescoligidos durante o exercício do cargo, como é o caso dos presentes acervo documental que reúne os arquivos particulares, políticosde Estado.e biográficos da maioria dos presidentes da República. ■| 45


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Berlengasnavegando para asustentabilidadeDe ilha de piratas e frades, as Berlengas chegam aos nossos dias como um santuárioecológico, classificado como Reserva Natural, Zona de Protecção Especial para AvesSelvagens e Reserva Biogenética do Conselho da Europa. No entanto, fruto da pressãoturística e da poluição, este pequeno arquipélago apresenta agora graves problemasecológicos e ambientais. Algo que um projecto multidisciplinar e internacional queragora alterar, tornando as Berlengas num arquipélago auto-sustentável.Destaque | Pedro Almeida VieiraFotografia | Câmara Municipal de Peniche| 47


Em 1978, no filme «O Rei das Berlengas», D. LucasTelmo de Midões, interpretado por Mário Viegas,putativo herdeiro deste arquipélago – que fora usurpadoà sua família pelo rei D. Afonso Henriques aquandoda fundação de Portugal –, acabou num manicómio.Mas mesmo que, nesta comédia de Artur Semedo, este tresloucadopersonagem tivesse sido bem-sucedido na «independência dasditas», o reino das Berlengas teria sempre muitas dificuldadesde se manter sustentável, de sobrevivência.Localizado a cerca de 10 quilómetros do Cabo Carvoeiro, o arquipélagodas Berlengas tem, de facto, muito pouco para ser sustentáveldo ponto de vista humano – ou melhor, para aguentar a presençahumana. Constituído por um conjunto de ilhas graníticas– de que se destaca a Berlenga, as Estelas e os Farilhões –, bemcomo vários ilhéus, este arquipélago é feito de granito, praticamentesem solo e tem apenas cerca de 100 hectares. Portanto,é um lugar agreste e, por isso, pouco apetecível para se viver, poisos recursos naturais são escassos e o seu isolamento é grande,sobretudo durante o Inverno.Contudo, ao longo dos tempos, houve vontade humana para colonizaras Berlengas. A primeira ocupação mais sedentária haveriade suceder no início do século xvi, quando a então muito influenteOrdem de São Jerónimo se estabeleceu na Berlenga Grande, sobos auspícios de D. Leonor, mulher de D. João II e irmã do então reiD. Manuel. Os frades construiriam assim um mosteiro, como localde retiro, mas também para oferecer auxílio à navegação e às vítimasdos naufrágios e pilhagens de corsários na costa atlântica.No entanto, logo aí se mostrou que as Berlengas não eram mesmosítio para se viver: a escassez de alimentos, as doenças e os constantesassaltos de piratas e corsários, levou ao abandono do mosteiro.Cerca de um século mais tarde, ao longo do reinado deD. João iv, as ruínas desse antigo mosteiro dos Jerónimos seriammesmo desmanteladas para aproveitar as pedras e edificar a Fortalezade São João Baptista. E as Berlengas passaram assim a serum simples, mas importante reduto militar. Como forte teveentão um papel importante contra as investidas espanholas apósa Restauração e, já no século xix, também nas Guerras Peninsulare Liberais. Mas depois disso, foi perdendo pujança e acabou apenaspor funcionar como local de apoio à pesca e à navegação, coma instalação de um farol. Ou seja, ficou novamente desabitada,excepção feita ao faroleiro.Mas se as condições sempre foram agrestes para o Homem,a Natureza soube aproveitá-las. O seu isolamento fez com que,mesmo em tão pequeno espaço, se desenvolvesse uma riquezaecológica bastante relevante. Nas Berlengas encontram-semesmo duas espécies endémicas, únicas no Mundo, de flora(Armeria berlengensis e Herniaria berlengiana), possuindo tambémuma elevada quantidade de espécies aquáticas, além deconstituir uma importante zona de nidificação de aves marinhas,48 |


com destaque para a cagarra, o roquinho, o falcão-peregrino e oairo.Tamanha riqueza levou que fosse classificada como ReservaNatural em 1981, num período em que se delimitaram muitasoutras áreas protegidas em Portugal. Oito anos mais tarde, alémdas ilhas, uma zona marinha envolvente foi também abrangidapor este estatuto de conservação. E mais recentemente, surgiuo reconhecimento internacional com a classificação de ReservaBiogenética pelo Conselho da Europa e de Zona de ProtecçãoEspecial para Aves Selvagens (ZPE) pela União Europeia.No entanto, estes estatutos de conservação pouco indicam emrelação ao estado de conservação. Na verdade, as Berlengas estão,do ponto de vista da sua riqueza biológica, numa fase de declínio,que custa a inverter. A situação da população de aio – a ave queconstitui o símbolo da Reserva Natural – é disso um caso paradigmático.Na década de 30 do século passado estavam referenciadoscerca de 12 mil indivíduos, mas em 1981, ano da classificação comoReserva Natural, apenas foram contadas 196 aves. No mais recenteregisto conhecido, relativo a 2003, foram apenas encontradascerca de duas dezenas sem que houvesse nenhuma a nidificar.Em grande medida, este decréscimo abrupto deveu-se à proliferaçãode gaivotas, que invadiram a ilha, comendo os ovos de aio,devido em certa medida à proliferação de lixeiras no continentedurante décadas. Mas também, e muito, por causa do turismo.Com efeito, contrastando com o isolamento de Inverno, traduzidona presença de somente dois vigilantes da Natureza, visitas eventuais,as Berlengas são invadidas por turistas ao longo do Verão,quer vindos nas carreiras regulares quer em outras embarcaçõespróprias ou alugadas. Em alguns dias, mais de mil visitantes chegamà Berlenga Grande – mesmo se o Plano de Ordenamentodesta área protegida estipula uma capa<strong>cidade</strong> de carga máximade 350 visitantes –, criando assim problemas logísticos e de infra-‐estruturas, nomeadamente na área do saneamento básico e deenergia, para além da própria pressão sobre um ecossistema frágil.Acrescem também os problemas com a infestação por chorão– uma planta carnuda que pode colocar em risco as espéciesendémicas.Foi para corrigir esta insustentável situação que está em cursoo projecto «Berlenga, Laboratório de Sustentabilidade», desenvolvidosob a égide da Secretaria de Estado do Ambiente e coordenadopelo Centro para Prevenção da Poluição (C3P). O projecto foi iniciadoem Julho de 2007, tendo um prazo de execução de 18 mesese um orçamento global que deverá atingir 1,2 milhões de euros,dos quais 10% provenientes da autarquia de Peniche. Um aspectodesde logo inovador deste projecto é a parceria estabelecida porum vasto grupo de entidades públicas e privadas, agrupadas noseio do C3P. Com efeito, a entidade coordenadora – criada emfinais de 2002 pelo Instituto de Soldadura e Qualidade e pelaInternational Trade Bridge (ITB), uma empresa norte-americana| 49


sediada em Ohio e fundada por Carlos M. <strong>Caldas</strong>, um luso-americano– conta, neste projecto, com o apoio técnico e financeiro doInstituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), daautarquia de Peniche, da Direcção de Faróis, das Águas de Portugal,da EDP, da Efacec, da Galp Energia, da Portugal Telecom, do INESCPorto, do INETI e da sociedade de advogados Rui Pena, Arnaute Associados. Além disso, tem ainda o apoio da National Aeronauticsand Space Administration (NASA).«O nosso objectivo é dotar as Berlengas com tecnologia e equipamentosque a tornem auto-sustentável, diminuindo assima pressão humana», sustenta Sérgio Leandro, docente da EscolaSuperior de Tecnologia do Mar de Peniche e assessor da autarquialocal. Para isso, os geradores a diesel – que permitem o funcionamentodo restaurante e das instalações de alojamento e apoioturístico – estão já a ser substituídos por painéis solares. Alémdisso, para solucionar os problemas dos resíduos sólidos, estáa ser equacionado uma solução para os poder separar e compactar,trazendo-os depois para o continente. No caso das águas residuais,Sérgio Leandro diz estar em estudo a instalação de umtamisador e de uma pequena estação de tratamento de esgotos,de modo a permitir melhorar a qualidade da água, um aspectoessencial para que as praias da Berlenga Grande possam vir a hasteara Bandeira Azul, o que nunca até agora aconteceu. «Depois detudo concluído, como se minimizas os impactes, eventualmentepoder-se-á alterar a capa<strong>cidade</strong> de carga prevista no Plano deOrdenamento».A participação da NASA é sobretudo ao nível de know-how e deintercâmbio de informação. No ano passado, quando o projectofoi lançado, Carlos, presidente e fundador da ITB, destacava o pioneirismodesta experiência nas Berlengas, sublinhando que «estapoderá ser aplicada a nível mundial em áreas de difícil acessoe que não dispõem de água potável e tratamento de esgotos,como zonas de África e do Médio Oriente», acrescentando mesmoexistirem «pequenas áreas do projecto que são aplicáveis nasmissões ao espaço». Aliás, o projecto das Berlengas tem algumassemelhanças ao projecto que a NASA está a começar a implementarno Novo México, numa das suas bases que testam foguetões e acompatibilidade de materiais, pois necessitam, sendo locais remotos,de serem auto-sustentáveis em termos energéticos e de saneamentoe limpeza de resíduos.Em suma, depois da execução deste projecto, as Berlengas deverãosurgir de cara lavada e com melhores condições para compatibilizaremas prioridades da conservação da Natureza com um usoturístico sustentável e de qualidade. E aí, conforme desejo daautarquia de Peniche, poder ter condições para ser aceite pelaUNESCO como uma preciosa Reserva da Biosfera.No entanto, mesmo com este trabalho bem feito, há que estaratento ao futuro. Se outros perigos não surgirem e as Berlengasse tornarem sustentáveis pode dar-se sempre o caso de um herdeirode D. Lucas Telmo de Midões, como na comédia de ArturSemedo, querer empossar-se rei das Berlengas... ■50 |


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Os petiscosdo fadoRoteiro | David Lopes RamosFotografia | CA, produções fotográficasO fado de Lisboa não é de grandescomedorias. Sendo «o rigoroso» exigetinto, e do carrascão, a acompanhar.Se for daquele mais à moda, uma sangriaestará bem. Dos sólidos escolher-se-ãocomidas que nos lembrem a pátriamarítima: bacalhau, peixes, um ou outromarisco. Coisas da «cozinha tradicionalportuguesa». Nas carnes, e como estamosem Lisboa, dêmos passagem aos bifes.Bom proveito.Fado e comida são temas de desgarrada? São dois davida airada? Ou será mais prudente não misturaruma coisa com a outra, «à cause des mouches»? Comose sabe, mesmo que não se saiba muito sobre o assunto,como se passa comigo, o fado, sobretudo caso se tratede «o rigoroso», necessita de «clima», quer dizer, de «silêncio quese vai cantar o fado!» A comida, por seu lado, se tiver aromas capitosose sabores apurados, pode suscitar um estado de quase euforia,susceptível de fazer nascer algum ruído de fundo.Também é verdade, no entanto, que as casas de fado mais institucionais(chamemos-lhe assim para as distinguirmos das casas de«fado vadio») incluem na sua oferta o jantar. Não é obrigatório,mas costuma ser um momento simpático de uma «ida aos fados».Não se vá com altas expectativas culinárias. Não se espere umencontro com uma comida de grande sofisticação.A generalidade das casas de fado lisboetas colocam a sua ofertaculinária sob o chapéu da «cozinha tradicional portuguesa».Nada a objectar, sobretudo caso se tenha em conta, como se lê nosite www.fado.com, que «o fado não é apenas uma canção acompanhadaà guitarra. É a própria alma do povo português. Ouvindoas palavras de cada fado pode sentir-se a presença do mar, a vida| 53


dos marinheiros e pescadores, as ruelas e becos de Lisboa, as despedidas,o infortúnio e a saudade. A grande companheira do fadoé a guitarra portuguesa. Juntos, fado e guitarra, contam a essênciade uma história ligada ao mar.«O fado, por ser de todos os portugueses, está na taberna e nosalão aristrocrático. Surgido na primeira metade do século passado(xix), depressa se tornou na canção popular de Lisboa. Desde entãomanteve a sua característica de expressão de sentimentos associadosà fatalidade do destino. O fado está marcado pelo phatosdas tragédias da Grécia clássica. A canção emblemática de Lisboaé também indissociável dos seus bairros mais típicos. Alfama,Bairro Alto, Madragoa e Mouraria são os seus mais autênticosberços. Por esta razão, ouvir o fado é conhecer Lisboa. É tambémconhecer os portugueses, no mais profundo da sua alma de povoque enfrentou o mar desconhecido».Se a pretensão fosse fazer ironia pouco inspirada, acrescentar‐se-‐ia que é certamente em razão desta ligação marítima que a ofertade comida das casas de fado é maioritariamente constituídapor pratos de bacalhau, polvo, tamboril, lulas, marisco, caldeiradae cataplanas de vários peixes. Nas carnes, saliência para algunsbifes, para o presunto, sobretudo pata negra, cabrito assado no forno,favas guisadas com enchidos, coelho guisado, carne de porco parentedaquela à moda das Mercês, especialidades de carne de porcopreto para grelhar, carne de vaca e de vitela assadas no forno. Unscaldos, em particular de peixes, de mariscos e caldo verde, bemcomo uns queijos, sobretudo o da Serra ou aparentado, mais unsdoces, entre eles o leite creme, o arroz doce, trouxas de ovos, sericaia,encharcada, toucinho do céu ou pudim de Abade de Priscos,entre outros.com alegria, porque estava muito bom. Mais recentemente, umanoite, na Parreirinha de Alfama, dessa grande senhora que é donaArgentina Santos, uma das mais originais e sabedoras vozes dofado, que transformou o que poderia ser encarado como um defeito,a pronúncia deficiente dos erres, numa mais valia da sua formade cantar, comi uns excelentes linguadinhos fritos com um arrozde legumes belíssimos. Nos começos desta casa de fados emblemáticada <strong>cidade</strong> de Lisboa, dona Argentina Santos, além de cantar,encarregava-se ela própria da confecção da petisqueira.Uma pergunta retóricaMas há uma gastronomia lisboeta? A avaliar pelo que está publicadosobre o tema, pode reconhecer-se que sim. Mais, está até codificada.Por exemplo, Alfredo Saramago, no final do século passado, dedicou-lheuma obra em formato grande, e, depois, já no século xxi,em 2002, publicou um ensaio sobre o mesmo tema, «Para umaHistória da Alimentação em Lisboa e seu Termo». Ambos os livrosforam editados pela Assírio & Alvim.Neste último, no capítulo «Lisboa, no controverso século xx», AlfredoSaramago, ao enunciar as casas de comer da capital, escreve a dadopasso: «Além de todas estas casas e de outras que ficaram de foradesta larga enumeração, havia ainda os retiros das hortas, maisfrequentados aos domingos por amantes de petiscos e de fado,onde se comia peixe frito, carapaus e peixe-espada, bifes avinagradose boa salada de alface. Os vinhos era do Termo ou doCartaxo. Célebres ficaram os retiros «Perna de Pau», onde oficiavaa Tia Gertrudes, e o «Zé dos Patacos», mas havia outros no Areeiro,Campo Grande, Campolide, Xabregas, Calçada de Carriche,etc..(...)».Não sou grande frequentador de casas de fado. Há uns anos largos,a agora famosa Mariza dava os seus primeiros passos no SenhorVinho, onde a diva era (é) Maria da Fé, comi um arroz de bacalhau,amêijoas e grelos, de que me lembro, não direi com saudade, masNo início dos anos 90 do século passado, José Quitério, no âmbitodo «4º Concurso de Gastronomia de Lisboa», integrado nas Festasde Lisboa 93, elaborou, sobretudo a partir das obras CulináriaPortuguesa, de António Maria de Oliveira Bello (OLLEBOMA) e54 |


RESTAURANTESA SEVERARua das Gáveas, 55 (Bairro Alto)Telefone: 213 428 314; www.asevera.comA TASCA DO CHICORua do Diário de Notícias, 39 (Bairro Alto)Telefone: 213 431 040A TAVERNA d’EL REILargo do Chafariz de Dentro, 14 (Alfama)Telefone: 218 876 754; www.tavernadelrei.comADEGA MACHADORua do Norte, 91 (Bairro Alto)Telefone: 213 224 640ADEGA MESQUITARua Diário de Notícias, 107 (Bairro Alto)Telefone: 213 192 280Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lourdes Modesto,uma lista de pratos de Lisboa. Ei-la:CAFÉ LUSOTravessa da Queimada, 10 (Bairro Alto)Telefone: 213 422 281; www.cafeluso.ptPetiscos: fava-rica; peixinhos da horta; pastéis de bacalhau; peixinhosde escabeche (carapauzinhos, petinguinhas e sardinhas das maispequenas); pipis. Sopas: sopa de camarão; sopa de amêijoas; sopade ostras; sopa rica de puré de peixe; sopa à Tia Gertrudes da«Perna de Pau». Mariscos: amêijoas à Bulhão Pato; santola recheada;ostras recheadas à lisboeta. Bacalhau: meia-desfeita; pataniscas;filetes de bacalhau; bacalhau à Brás; bacalhau guisado à LisboaAntiga; bacalhau à Batalha Reis. Outros peixes: caldeirada à fragateiro;pescada em salmão; linguados com recheio de camarão;filetes de linguado fritos à lisboeta; salmonetes com alcaparras;filetes de polvo fresco; canoa de pargo; canoa de pescada; pudimde peixe com macarrão; pudim de pescada quente. Caça: lebreà Bulhão Pato; perdizes à Convento de Alcântara. Bifes: bife à Marrare;bife à Jansen; bife à Faustino; bife à cortador; bife enrolado à lisboeta;bife na frigideira de barro; bife com molho de queijo. Outras carnes:iscas com elas; favas guisadas com enchidos; ervilhas com paioe ovos; chispalhada; mão de vaca com grão (ou feijão branco).Os doces foram deixados de fora, uma vez que «a doçaria de Lisboaé escassa». Argumenta Quitério: «Actualmente, perdida a doçariaconventual dos antigos mosteiros da <strong>cidade</strong> – e até alguma doçariaprofana como os Cocós – os únicos doces que se podem considerarverdadeiramente de Lisboa são os pastéis de nata («pastéisde Belém» é uma marca registada) e dois tipos de broinhas deNatal. O que é manifestamente insuficiente para que esta categoriapossa integrar o concurso».Tudo visto, poderia desejar-se que, nas suas ementas, as casasde fado reflectissem, de forma mais expressiva, o que Lisboa tempara oferecer neste capítulo. Embora, bem vistas as coisas, os frequentadoresdas casas de Lisboa onde se canta o fado não vão lápor causa da comida. Assim sendo, a oferta quase unânime de«comida tradicional portuguesa» está bem. ■O CANTO DO CAMÕESTravessa da Espera, 38 (Bairro Alto)Telefone: 213 465 464; www.cantodocamoes.comCASA DE LINHARES/BACALHAU DE MOLHOBeco dos Armazéns de Linho, nº 1 (Alfama)Telefone: 218 863 767; www.casadelinhares.comCLUBE DE FADORua de São João da Praça, 92-94 (Alfama)Telefone: 218 852 704; www.clube-de-fado.comFAIARua da Barroca, 48 (Bairro Alto)Telefone: 213 426 742; www.ofaia.com/PARREIRINHA DE ALFAMABeco do Espírito Santo, 1 (Alfama)Telefone: 218 868 209SENHOR VINHORua do Meio à Lapa, 18 (Madragoa)Telefones: 213 972 681/213 977 456TIMPANASRua Gilberto Rola, 24 (Alcântara)Telefone: 213 906 656VELHO PÁTEO DE SANT’ANARua dr. Almeida Amaral, 6 (Campo de Santana)Telefone: 213 141 063/4| 55


ARTEMREDETEATROS ASSOCIADOSjuntos > mais fortesCatarina Vaz <strong>Pinto</strong>*As redes de teatros são uma realidade jácom vários anos na generalidade dospaíses europeus, mas, no nosso país, estemodelo organizativo tem uma históriarecente, pois só há pouco tempo o país viusurgir, de norte a sul do território,numerosas infra-estruturas culturaisfinanciadas quase sempre com recursoaos fundos estruturais europeus.Na Região de Lisboa e Vale do Tejo, a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> desde logose preocupou com a actividade dos equipamentos cujaconstrução financiara, tendo decidido, por isso, promover,em 2003, a realização de um estudo que identificasse osmeios e instrumentos mais adequados à dinamização,qualificação e criação de condições de sustentabilidadedos teatros municipais.Esse foi o início de um longo processo, ainda em curso,de sensibilização e debate sobre o papel dos teatros municipaisno desenvolvimento regional, bem como de qualificaçãodas suas práticas de programação, de gestão, difusãoe relação com os públicos e que deu origem à constituição,em Janeiro de 2005, da ARTEMREDE – Teatros Associados,rede formal actualmente constituída por 15 municípiose uma escola: Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Almeirim,Barreiro, <strong>Caldas</strong> da Rainha, Cartaxo, Entroncamento,Moita, Montijo, Palmela, Santarém, Sobral de Monte Agraço,Torres Vedras e o Externato Cooperativo da Benedita. A partirde Janeiro de 2009 juntar-se-á também Sesimbra.A ARTEMREDE é uma estrutura associativa que vem complementar,reforçar e apoiar a actuação de cada um dosseus membros relativamente aos teatros de que são proprietários.As actividades da associação são financiadasatravés das quotas dos seus membros – quotas de funcionamentoe de programação – e da angariação de outrosfinanciamentos disponíveis para projectos culturais, nomeadamenteno FEDER e no Programa Foral, angariação essaque constitui um das principais mais-valias deste trabalhoem rede.Já com três anos e meio de vida, a ARTEMREDE tem concentradoa sua actuação no domínio da programação de espectáculos,da formação e da promoção da «cultura de rede».A programação de espectáculos é elaborada em conjuntopela direcção-executiva da associação e pelos responsáveisde programação de cada um dos teatros associados.Até Setembro de cada ano é elaborado um catálogo deespectáculos que integra projectos (para 2009, inclui 88)56 |


de música, teatro, dança, multidisciplinares, artes circenses,cinema, público infantil e juvenil, seleccionados pela direcçãoexecutiva da ARTEMREDE (cerca de 45%) e pelos própriosassociados. Serão no ano seguinte financiadas eapresentadas através da ARTEMREDE as propostas escolhidaspor, pelo menos, quatro associados, no caso dos .projectos nacionais e cinco quando estrangeiros. .A escolha deve incluir pelo menos um espectáculo decompanhias profissionais sedeadas nos municípios queintegram a associação. Este é um dos mecanismos que viabilizao acesso das companhias locais a circuitos de difusãomais alargados.A elaboração deste catálogo é um processo em constanteavaliação e mudança: tem-se procurado evoluir no sentidoda qualificação dos espectáculos a apresentar, da ofertacada vez maior de espectáculos internacionais, do desenvolvimentode projectos educativos associados aos espectáculos,através de um conjunto cada vez maior de oficinasque têm como objectivo qualificar as condições de recepçãodos espectáculos, formar e fidelizar públicos; da construçãode núcleos temáticos de programação, concentrados notempo, que permitem integrar um maior número de associados,atrair mais público, induzir a visibilidade acrescidae reforço da imagem da associação. A «Festa da Marioneta»,este ano já na sua 2ª edição, é o exemplo paradigmáticodeste tipo de iniciativa.Para além dos espectáculos seleccionados através do catálogo,uma parte mais reduzida do orçamento de programação(cerca de 25%) é utilizada para apresentação deespectáculos em co-produção com os teatros nacionais ououtros organismos não pertencentes à ARTEMREDE, paraapresentação de extensões de festivais de prestígio e tradiçãorealizados nalguns dos municípios associados (casodo Cistermúsica, em Alcobaça, ou do Festival de Teatrode Almada) e também para promover novas criações.Em 2007, a ARTEMREDE convidou o coreógrafo Rui LopesGraça a criar uma nova obra, «A Arte da Fuga», que integroubailarinas das companhias profissionais de dança dePalmela, Sintra e de Almada e foi apresentada em 10 teatrosassociados. Em 2008, a ARTEMREDE encomendou acriação do espectáculo de marionetas «Xerazade não estásó!», a integrar na «Festa da Marioneta», tendo a actrizCarla Chambel como principal protagonista. O espectáculovai circular, a partir de Outubro, em 14 teatros da rede.Estas iniciativas são fundamentais para integrar a ARTEMREDEnos circuitos nacionais e internacionais da produção e difusãode espectáculos, para legitimar a associação comoagente inquestionável no domínio das artes no nosso paíse com isso, valorizar também a actuação e a imagem dasautarquias que a integram.No campo da formação, a ARTEMREDE iniciou em 2006 umvasto e ambicioso projecto de qualificação dos profissionaisdos teatros associados, que abrangeu acções de formaçãonas áreas técnica, de gestão e artística, e que tem procuradoresponder, quer às inúmeras carências detectadas, quer àsnecessidades permanentes de actualização nestes domínios.O Plano de Formação, que ascende a cerca de de 380.000 ¤,inclui 14 cursos, envolvendo cerca de 328 formandos.Mas talvez a característica mais interessante da ARTEMREDEseja a da inovação que, através das inúmeras reuniões e encontros,da formação, da utilização intensiva da tecnologiae da comunicação on line, tem vindo a introduzir nas metodologiasde trabalho e de organização entre todos aqueles– artistas, responsáveis políticos, mediadores, técnicos –que estão envolvidos neste longo e complexo processo quevai desde a criação e produção de um espectáculo até à suarecepção pelo público. Inovação essa que radica na consciênciade que só através de uma nova atitude de escuta, de espíritode colaboração, de negociação, de partilha, se poderãoultrapassar as imensas dificuldades que as circunstânciasdo mundo, das <strong>cidade</strong>s e de cada um de nós continuama colocar ao quotidiano dos teatros municipais. ■Saiba mais em www.artemrede.pt* consultora| 57


MÚSICATEATROKumpania AlgazarraSábado, 05 novembro | a definirTorres VedrasDuração Espectáculo: 85min. s/ intervalo | Público Alvo: Geral | Faixa Etária: m/6 anosGénero Artístico: Música do MundoUma animada viagem ao encontro de diferentes sonoridades que cruza influênciasda música folk de leste, árabe, afro com ska, polka, swing, entre outros. A originalidadena fusão, a energia das letras e as melodias vibrantes contribuem para o ambientefestivo que os Kumpania Algazarra levam ao palco. Um espectáculo contagiante!Kumpania AlgazarraDireitos HumanosQuinteto Lusotango com BailarinosQuinteto LusotangoSábado, 08 novembro | 21h30Teatro Sá da Bandeira, SantarémQuinta, 27 novembro | 21h30Cine-Teatro São Pedro, AbrantesSábado, 29 novembro | 21h30Centro Cultural Município do Cartaxo, CartaxoQuinta, 18 dezembro | 22h00Centro Cultural Gonçalves Sapinho, Externato Cooperativo da BeneditaDuração espectáculo: 70min. s/ intervalo | Público alvo: geral | Faixa etária: m/3 anosGénero artístico tango argentino [música + dança]Astor Piazzolla representa uma referência no tango, uma inovação, um engrandecimentona cultura musical Argentina e do mundo ocidental. Piazzola foi umbandeonista e compositor argentino. Segundo muitos especialistas, foi o compositorde tango mais notável da segunda metade do século xx. Estudou harmonia e músicaerudita com a compositora e directora de orquestra francesa Nadia Boulanger que foialuna de Sergei Rachmaninoff. Na sua juventude, tocou e realizou arranjos orquestraispara o bandoneonista, compositor e director Aníbal Troilo. Quando começou a fazerinovações no tango, no ritmo, no timbre e na harmonia, foi muito criticado pelostocadores de tango mais antigos. Ao voltar de Nova Iorque, Piazzolla já mostrava aforte influência do Jazz na sua música, estabelecendo então uma nova linguagem,seguida até hoje. Quando os mais ortodoxos, durante a década de 60, bradaram que amúsica dele não era de facto tango, Piazzolla respondia-lhes que era músicacontemporânea de Buenos Aires. Para os seus seguidores e apreciadores, essa músicacertamente representava melhor a imagem da metrópole argentina.Direitos HumanosCarlos MartínezQuarta, 10 dezembro | 10h10Centro Cultural Gonçalves Sapinho, Externato Cooperativo da BeneditaSexta, 12 dezembro | 21h30Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida, MontijoSábado, 13 dezembro | 21h30Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaDomingo, 14 dezembro | 16h00Centro Cultural Município do Cartaxo, CartaxoDuração espectáculo: 70min. s/ intervalo | Lotação máxima: 200 espectadoresPúblico alvo: geral | Faixa etária: m/6 anos | Género artístico: mímicaUm espectáculo de mímica que aborda alguns dos Artigos dos Direitos Humanosaprovados pela ONU em 1948. Seguindo o estilo muito próprio de Carlos Martínez,DIREITOS HUMANOS é uma reflexão, em tom cómico, sobre a experiência humanae suas carências que se transporta para o mundo cénico, onde, através da sualinguagem de compreensão universal dá vida a este tema de importância elementar.58 |


Interieur Nuit_ © Eleonore DumasMULTIDISCIPLINARGrão de Bico © Ângelo FernandesCRIANÇAS E JOVENSGrão de BicoTeatro O BandoSábado, 20 dezembro | 10h00Centro Cultural e de Congressos das <strong>Caldas</strong> da Rainha, <strong>Caldas</strong> da RainhaDuração Espectáculo: 50min. s/ intervalo | Lotação máxima: 60 espectadoresPúblico alvo: Infantil [dos 3 aos 7 anos] | Faixa etária: m/3 anos | Género artístico: TeatroObservações: Espectáculo realizado numa tenda, implantada no Palco ou num outrolocal com as condições mínimas para a acolher [ver Rider Técnico]Será possível contar teatralmente as peripécias de uma aventura que intriguemeninos de três anos e homens e mulheres, mais novos e mais velhos, com idênticae saborosa cumpli<strong>cidade</strong>?Baseado num conto de tradição oral, que nos revela inúmeras versões, este grãode bico é recriado num ambiente intimista, no qual o multimédia estabelece a pontepara lá do [in]visível, entre o espectador e a sua imaginação.Interieur Nuit_de Jean-Baptiste André [Association [W]]Segunda, 01 dezembro | 17h00Centro Cultural Gonçalves Sapinho, Externato Cooperativo da BeneditaQuinta, 04 dezembro | 21h30Cine-Teatro São Pedro, AbrantesSábado, 06 dezembro | 21h30Cine-Teatro de Alcobaça, AlcobaçaSegunda, 08 dezembro | 21h30Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida, MontijoQuinta, 11 dezembro | 22h00Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, MoitaSábado, 13 dezembro | 21h30Centro Cultural Município do Cartaxo, CartaxoTerça, 16 dezembro | 21h30Teatro Sá da Bandeira, SantarémQuinta, 18 dezembro | 21h30Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaSábado, 20 dezembro | 21h30Teatro Municipal de Almada, AlmadaDuração espectáculo: 60min. s/ intervalo | Público alvo: geral | Faixa etária: m/6 anosGénero artístico: acrobacia + dança + música + vídeoConcebido com a colaboração de Jacques Bertrand e Christophe Sechet, estaé a primeira criação de Jean-Baptiste André, uma obra inovadora, na fronteirade diferentes disciplinas artísticas. O artista utiliza movimentos corporais, a contorção,a coreografia e o vídeo para nos oferecer uma bela peça, que assenta nos conceitosde equilíbrio e de espaço. O público é levado a interrogar-se sobre a relação entre otempo e o espaço, o interior e o exterior, o real e o imaginário. Jean-Baptiste Andrémistura, com sucesso, as artes do circo à dança, ao teatro, ao vídeo e à músicaelectrónica, conduzindo a uma pesquisa do corpo e das suas metamorfoses. Palhaço eacrobata, o artista leva ao extremo os limites do corpo, não pelas proezas que executa nopalco, mas sobretudo pelas questões sugeridas pelos seus movimentos.INTÉRIEUR NUIT_ é mais do que um simples espectáculo: é uma experiência a ser vividapelo espectador, um momento de intimidade e de proximidade para ser partilhada.| 59


Sombras MágicasOFICINASDos Sons Nascem HistóriasMiguel HortaQuinta, 04 dezembro | 10h30 | 14h30Teatro Sá da Bandeira, SantarémDuração espectáculo; 90min. s/ intervalo | Lotação máxima: 25 participantesPúblico alvo: adulto | Faixa etária: m/55 anos | Género artístico: música + escrita criativa| Observações: a lotação máxima refere-se ao número ideal de participantes.São realizadas 2 sessões por dia.Partindo dos sons recolhidos neste universo que habitamos, inventamos histórias,sugeridas por ilustrações auditivas. Pequenos excertos sonoros do nosso quotidianoque nos vão servir de inspiração para a criação de textos e das suas ilustrações.O material base é simples. Um processador «Midi» que alberga a nossa bibliotecade sons, matéria de onde faremos nascer os nossos contos. Numa época demasiadopovoada por imagens, um espaço de recolhimento criador através dos sons e da suacapa<strong>cidade</strong> de redesenhar o mundo.Sombras Mágicas[Oficina associada ao espectáculoAs Sombras de Bradshaw, de Richard Bradshaw]Sábado, 01 novembro | 16h00Auditório Municipal do Pinhal Novo, PalmelaSábado, 08 novembro | 16h00Biblioteca Municipal de Palmela, PalmelaDomingo, 09 novembro | 10h30Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaSegunda, 10 novembro | 10h00Teatro Sá da Bandeira, SantarémQuinta, 13 novembro | 14h30Fórum Municipal Romeu Correia, AlmadaSábado, 15 novembro | 11h00Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida, Montijo2h | Máx. 12 participantes ou 1 turma | Dos 6 aos 8 anos ou dos 9 aos 12 anosMonitor: Cristina do Aido, Rui Pedro <strong>Pinto</strong>Descobrir a magia das sombras. Compreender como o objecto e a luz se relacionamentre si e com o que está mais próximo e com o que está mais distante. A partir deuma imagem, uma música, uma breve história, um poema ou uma palavra, criar econstruir personagens sombra que como no teatro ganham uma vida própria na luz.Conhecer os segredos da animação e as várias técnicas de sombras animadas. Testaras sombras construídas.60 |


Construção de Monstros Marinhos[Oficina associada ao espectáculo Xerazade]Domingo, 02 novembro | 14h00Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaSábado, 15 novembro | 16h00Jardim José Maria dos Santos - Antigo Posto GNR do Pinhal Novo, PalmelaSábado, 22 novembro | 10h00 | 14h00Fórum Municipal Romeu Correia, AlmadaSábado, 06 dezembro | 16h00Centro Cultural do Poceirão, PalmelaDomingo, 07 dezembro | 10h00Teatro-Cine de Torres Vedras, Torres VedrasQuarta, 10 dezembro | 09h00Cine-Teatro S. Pedro, AbrantesSábado, 13 dezembro | 15h00Auditório Municipal Augusto Cabrita, BarreiroQuinta, 18 dezembroBibilioteca Municipal de Alcobaça, Alcobaça4h | 30 participantes | M/6 anosEsta oficina consiste na colocação do jovem em contacto com uma realidade criativadistinta onde, para se alcançar a dramatização, se passa pela construção doobjecto cénico; ou seja, a marioneta. Esta marioneta, de estrutura simples, evocao imaginário dos monstros marinhos que povoaram e ainda estão presentes nosmapas marítimos e na mente dos marinheiros em confronto com o desconhecidodo mar. E como a imaginação não tem fim, estes monstros podem povoar todasas mentes. Cada jovem constrói a sua própria marioneta, sendo a mesma um ponto departida para um projecto mais alargado em torno de histórias que abordem apresença do monstro marinho.Uma Serpente Bem Perigosa![Oficina associada ao espectáculo Xerazade]Sábado, 08 novembro | 16h00Centro Cultural do Poceirão, PalmelaDomingo, 09 novembro | 16h00CoopHanjo, PalmelaDomingo, 16 novembro | 16h00Grupo Desportivo «Leões» de Cajados, PalmelaSábado, 29 dezembro | 16h00Biblioteca Municipal de Palmela, PalmelaDomingo, 30 novembro | 16h00Jardim José Maria dos Santos - Antigo Posto GNR do Pinhal Novo, PalmelaSábado, 06 dezembro | 15h30Teatro-Cine de Torres Vedras, Torres VedrasTerça, 18 dezembroCentro Cultural e Congressos das <strong>Caldas</strong> da Rainha, <strong>Caldas</strong> da Rainha1h30 | 25 participantes | dos 6 aos 9 anos | Monitor: Miguel Horta [+ 1 monitor para apoio]Baseada numa passagem da história, uma oficina de construção plástica de umapersonagem, uma temível serpente. Pelo meio, a leitura das partes mais arrepiantesdo encontro de Sinbad com aqueles terríveis répteis... Um trabalho colectivo comdiversos materiais que servirá de memória para um dia bem passado no Teatro.Oficina de construção de uma das temíveis serpentes que aparecem na história. Umtrabalho colectivo em torno de uma serpente de 4 metros [pelo menos].Uma actividade que começa com a leitura de algumas partes do livro onde se referem asserpentes. Feita a serpente: segue para a escola bem guardada pelo público.[Nota: os tempos de secagem serão ocupados com leitura de algumas partes do livro]Monstros Marinhos[Oficina associada ao espectáculo Xerazade]Sábado, 01 e 08 novembroCine-Teatro São Pedro, AlcanenaTerça a Quinta, 04 a 06 novembro | 09h00Cine-Teatro São Pedro, AbrantesDomingo, 16, 23 e 30 novembro | 14h30Fórum Municipal Romeu Correia, AlmadaTerça a Quinta, 25 a 27 novembro | 16h00Biblioteca Municipal do Sobral de Monte Agraço, Sobral de Monte AgraçoQuarta a Sexta, 17 a 19 dezembro | 14h00Centro Cultural e Congressos das <strong>Caldas</strong> da Rainha, <strong>Caldas</strong> da Rainha12h | 20 participantes | M/6 anos | Observações: 3 sessões de 4h cadaEsta oficina é constituída por três fases distintas:1ª fase: Consiste na construção de uma marionetas de esponja, cuja personagemserá um monstro marinho reinventado pelo seu criador, tendo por base um conjuntode ilustrações e gravuras presentes nos mapas de navegação. 2ª fase: Consiste nadramatização de uma cena colectiva, onde se explora a manipulação das marionetas,o jogo teatral e o imaginário das aventuras de Sinbad o Marinheiro. 3ª fase: Apresentaçãoda estrutura teatral dos formandos no final das sessões aberta ao público.| 61


Croma KeyTécnicas de Vídeo e Animação[Oficina associada ao espectáculo Xerazade]Sábado, 08 novembro | 14h30 às 17h30Sábado, 15 e 22 novembro | 10h00 às 13h00 | 14h300 às 17h30Museu da Cidade, AlmadaSegunda a Quarta, 15 a 17 dezembroBiblioteca Municipal de Alcobaça, Alcobaça15h | 12 participantes por grupo | Dos 9 aos 12 anos | Monitor: Raul Constante Pereira,Fernando Silva | Observações: 5 sessões de 3h cadaVamos fazer um mergulho no universo marinho da história de Xerazade e, emconjunto, reinventar um novo mundo. Utilizaremos a escrita, o desenho e a pintura.Tudo o que tivermos à mão mais uma boa dose de imaginação. Construir e animarobjectos e bonecos que vão interpretar a nossa história de encantar. Faremos umafilmagem da aventura desenhada por cada participante de Alcobaça e Almada. Nofim, teremos um filme feito com a soma dos momentos realizados em cada local.Vamos fazer uma apresentação para todos poderem ver.Um Gesto é Tudo[Oficina associada ao espectáculo Direitos Humanos,de Carlos Martínez]Quinta, 12 novembro | 10h00Fórum Municipal Romeu Correia, Almada2h | Máx. 12 participantes ou 1 turma | Dos 9 aos 12 anosMonitor: Anabela Almeida, Natália VieiraNesta oficina, vamos fazer uma abordagem aos conceitos considerados na DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos recorrendo a um excerto da apresentaçãode Carlos Martinez e a imagens que contextualizam o assunto.Experimentar outras formas de «dizer» os nossos Direitos e Deveres e como essesdireitos se traduzem na nossa vida quotidiana. Realizar breves exercícios demímica e aproximação à imagem do mimo. Gestos, expressões e sentimentosassociados aos direitos humanos. Falar sem voz. Dizer que queremos tudo a que temosdireito. Tudo com gestos. Porque o gesto é tudo.Módulo de Teatro de Sombras[Oficina associada ao espectáculo As Sombras de Bradshaw,de Richard Bradshaw]Sexta, 21 e 28 novembro | 20h00 às 23h30Sábado, 22 novembro | 09h30 às 12h30 | 13h30 às 19h30Sábado, 29 novembro | 09h30 às 12h30 | 13h30 às 20h30Centro Cultural e Congressos das <strong>Caldas</strong> da Rainha, <strong>Caldas</strong> da Rainha25h | Máx. 20 participantes | Público Alvo: Professores | Monitor: Walter Ramos Almeida,Irene Cortesão Costa | Observações: 6 sessõesConteúdos trabalhados: Expressão motora; Expressão musical; Expressão plástica;Conteúdos pedagógicos trabalhados transversalmente.Diário de Bordo[Oficina associada ao espectáculo Xerazade]Quarta e Quinta, 19 e 20 novembro | 10h00Fórum Municipal Romeu Correia, AlmadaSegunda, 01 dezembro | 17h00Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço, Sobral de Monte Agraço1h30 | 25 participantes | Dos 8 aos 9 anos | Monitor Miguel Horta [+ 1 monitor para apoio]Após o espectáculo, uma pequena oficina de ilustração a partir de trechos da obracom leitura de algumas passagens. Uma forma de cimentar e reflectir os conteúdos dapeça registando-os em desenho num pequeno caderno preparado para a ocasião.Uma espécie de diário de bordo onde os nossos espectadores, feitos marinheiros,registarão as maravilhas e o assustador que viveram a bordo do barco de Sinbad.Uma actividade baseada no texto «original» da peça. Em cada página, no topo,o trecho das «Mil e uma noites» referente a cada passagem da peça, com um grandeespaço em branco para ilustração do momento referido. Por fim, um desafio de escrita:a carta do Rei das Índias ao Califa. Como conseguirias convencer o Califa a tornar-sealiado e amigo do Rei das Índias. O que tens para lhe oferecer? O que podem trocardois países tão distantes? O que existe na Arábia que não existe na Índia?...No final, cada participante levará consigo o diário de bordo da peça.Mimos para Pais e Filhos[Oficina associada ao espectáculo Direitos Humanos,de Carlos Martínez]Sábado, 13 dezembro | 10h30Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida, MontijoDomingo, 14 dezembro | 11h00Centro Cultural Município do Cartaxo, CartaxoDomingo, 14 dezembro | 16h00Cine-Teatro São Pedro, Alcanena2h | Máx. 14 participantes [acompanhados por 1 ou 2 adultos] | Dos 3 aos 5 anosMonitor: Margarida MestreOficina de movimento e voz, onde pais e filhos experimentam e partilham alinguagem do corpo e do gesto e a sua condição no espaço. A partir de uma pequenaapresentação em vídeo do trabalho do artista Carlos Martínez, os participantesserão convidados a experimentar exercícios de movimento e mímica num jogocriativo de comunicação. Inventar sítios mágicos e representá-los tendo comoinstrumento o próprio corpo e como partitura os conceitos presentes na DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Homem. No fim, em conjunto, vamos construir umapequena coreografia de movimentos de pais para filhos, de filhos para pais e compais e filhos.62 |


Theatrum Puparum © SAMFESTA DA MARIONETATheatrum PuparumMarionetas de varãoDomingo, 02 novembro | 16h00Auditório Municipal Augusto Cabrita, BarreiroTerça, 04 novembro | 10h30Teatro Sá da Bandeira, SantarémDomingo, 09 novembro | 17h00Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaDuração: 60min. s/ intervalo | Faixa etária: m/5 anos | Lotação máxima: 80 espectadores«Por ordem do senhor destas terras que as funções sejam feitas de acordo coma verdade dos acontecimentos e que os bonecos representem fielmente as damase os senhores dessas historias. Os animadores dos bonecos durante as funções estãoproibidos de fazer graças sobre a pessoa do rei e da rainha, das damas, dos cavaleirose dos senhores dessas historias, ou mesmo ao senhor nosso pai, sobe pena de lhesser retirada a licença para animar bonecos ou receber um castigo maior citado pelo reiou pelo senhor destas terras.»Pedro e o loboTeatro e marionetasQuinta, 13 novembro | 10h30Centro Cultural Município do Cartaxo, CartaxoSábado, 15 novembro | 16h00Centro Cultural do Poceirão, PalmelaSexta, 21 novembro | 10h30Cine-Teatro S. Pedro, AbrantesSábado, 22 novembro | 11h00Teatro-Cine de Torres Vedras, Torres VedrasDomingo, 23 novembro | 16h00Cine-Teatro, Sobral de Monte AgraçoDuração: 30min. s/ intervalo | Faixa etária: m/4 anosUma extravagante família de saltimbancos conta e vive a história de Pedro e o Lobopor meio de música, dança, teatro e números de circo.| 63


Xerazade não está Só!Teatro e marionetasSábado, 01 novembroCine-Teatro São Pedro, AlcanenaDomingo, 09 novembro | 16h00Teatro Sá da Bandeira, SantarémDomingo, 16 novembro | 16h00Centro Cultural Município do Cartaxo, CartaxoSexta, 21 novembro | 21h30 | Domingo, 23 Novembro | 11h00Auditório Fernando Lopes Graça, AlmadaSábado, 29 novembro | 21h30Cine-Teatro São João, PalmelaDuração: 60min. s/ intervalo | Faixa etária: m/6 anosDuas jovens refugiam-se num improvisado abrigo anti-aéreo, algures, numa <strong>cidade</strong>não identificada do Médio-Oriente. São irmãs e sabem que têm a vida em perigopela vontade caprichosa dos que lutam pela posse da <strong>cidade</strong>. Para vencer o medoe o tempo, Xerazade, a mais velha, conta à irmã histórias maravilhosas, quando todasas aventuras da fantasia eram possíveis. Concentradas nas viagens de Sindbad,o Marinheiro, esquecem onde estão. O abrigo transfigura-se. Os marionetas ganhamhumanidade, tanto como os que se guerreiam, lá fora, são marionetas.Livremente inspirado em episódios das «Mil e uma Noites», que teve por cenáriouma Bagdad deslumbrante, António Torrado escreveu esta peça para actorese marionetas que terá como fundo musical trechos da «Xerazade» de Rimsky- Korsakov[1844-1908], no centenário da morte do grande compositor russo.As Sombras de BradshawTeatro de SombrasSexta, 07 novembro | 21h30Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaSábado, 08 novembro | 21h30Cine-Teatro São João, PalmelaDomingo, 09 novembro | 16h00Auditório Municipal Augusto Cabrita, BarreiroTerça, 11 novembro | 14h00Teatro Sá da Bandeira, SantarémQuinta, 13 novembro | 15h00Centro Cultural Gonçalves Sapinho, Externato Cooperativo da BeneditaSexta, 14 novembro | 21h30Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida, MontijoSábado, 15 novembro | 16h00Auditório Fernando Lopes Graça, AlmadaDomingo, 16 novembro | 16h00Centro Cultural e Congressos de <strong>Caldas</strong> de Rainha, <strong>Caldas</strong> da RainhaDuração: 60min. s/ intervalo | Faixa etária: m/6 anos | Lotação máxima: 300 espectadoresO australiano Richard Bradshaw utiliza o seu grande génio para cativar o público comas suas imagens elaboradas. As suas marionetas são criaturas simples e delicadascapazes de múltiplas transformações que ajudam este genial narrador a criar ummundo repleto de ilusões num pequeno quebra-luz. Estas maravilhosas personagensacompanham histórias tradicionais, canções e brincadeiras com movimentossurrealistas para agradar ao público. O espectáculo é composto por várias curtashistórias sobre animais e personagens curiosas.P’tit Jojo, Sac au Dos[Pequeno Jojo de Mochila às Costas]Teatro de MarionetasSábado, 08 novembro | 10h30 e 11h30Auditório Municipal do Pinhal Novo, PalmelaDomingo, 09 novembro | 15h00 e 16h00Sobral de Monte Agraço | Cine-TeatroTerça, 11 novembro | 10h30 e 11h30Cine-Teatro S. Pedro, AbrantesQuinta, 13 novembroCine-Teatro São Pedro, AlcanenaSábado, 15 novembro | 10h30 e 11h30Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, MoitaDomingo, 16 novembro | 16h00 e 17h30Auditório Mun. Augusto Cabrita, BarreiroTerça, 18 novembro | 13h45 e 15h00Cine-Teatro de Alcobaça, AlcobaçaDuração: 40min. s/ intervalo| Faixa etária: dos 2 aos 6 anosLotação máxima: 120 espectadoresO pequeno Jojo sonha com monstros terríveis com grandes dentes pontiagudos.Para enfrentar os seus medos, ele parte em viagem pelo mundo, à procura de outraspessoas e dos seus medos. Para contar esta história são precisas poucas palavras.De realçar a qualidade visual e a riqueza musical [Mahler, Fauré, Satie, Prokofiev,64 |


Cabaret Molotov © Paulo BarataCabaret MolotovTeatro e marionetasSábado, 08 novembro | 21h30Centro Cultural Município do Cartaxo, CartaxoSábado, 15 novembro | 21h30Cine-Teatro, Sobral de Monte AgraçoSábado, 22 novembro | 21h30Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida, MontijoSábado, 29 novembro | 21h30Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaDuração: 75min. s/ intervalo |Faixa etária: m/12 anosEm Cabaret Molotov, deambulam coristas apaixonadas,trapezistas, clowns absurdos, músicos de sete instrumentos,homens-coelho, homens-bala, ursos ciclistas, canichescantores, dançarinos e bailarinas que dançam ao som devalsas, tangos, polkas, tarantelas e velhas canções de Kurt Weil.Terá o Cabaret Molotov existido, ou tudo não passará de umlugar inventado por Vladimir, o Russo, para cenáriodo seu amor à trapezista Matrioska?


Ministério do Ambiente,Ordenamento do Territórioe Desenvolvimento Regional

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