69Assim, no Brasil, se estabeleceu um encaminhamento formal que acaboupor colocar as administrações públicas municipais como as principais responsáveispelas questões correlatas a gestão e ao gerenciamento <strong>de</strong> resíduos. São asprefeituras, portanto, que têm a competência para estabelecer o uso do solo <strong>em</strong>seus espaços territoriais, conce<strong>de</strong>ndo licenças e alvarás, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outrasque sejam exigíveis por outras esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.Nesse contexto, o sist<strong>em</strong>a 47 <strong>de</strong> limpeza urbana apresenta característicasinteressantes que merec<strong>em</strong> <strong>de</strong>staque. A coleta <strong>de</strong> lixo s<strong>em</strong> dúvida foi a ativida<strong>de</strong>que mais cresceu no sist<strong>em</strong>a, <strong>em</strong> parte, <strong>de</strong>vido à proximida<strong>de</strong> e exigências junto àpopulação e ao comércio que <strong>de</strong>mandam por uma ação regular. Em contrapartida,<strong>de</strong>monstrou ser o campo que exige o maior gasto <strong>de</strong> recursos por parte dosmunicípios. É fundamental relatar que a exigência por uma ativida<strong>de</strong> regular <strong>de</strong>coleta ten<strong>de</strong> a ter um efeito diferenciado pelos diferentes extratos sócio-econômicosda socieda<strong>de</strong>.(...) essa pressão [por uma coleta regular] t<strong>em</strong> geralmente um efeito seletivo, ou seja, aadministração municipal, quando não t<strong>em</strong> meios <strong>de</strong> oferecer o serviço a toda a população,prioriza os setores comerciais, as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e o atendimento à população <strong>de</strong> rendamais alta. A expansão da cobertura dos serviços raramente alcança as áreas realmentecarentes, até porque a ausência <strong>de</strong> infraestrutura viária exige a adoção <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>asalternativos, que apresentam baixa eficiência e, portanto, custo mais elevado. (MONTEIRO,2001, p.14).Tal dinâmica <strong>de</strong> funcionamento é comum <strong>em</strong> regiões urbanizadas epopulosas, b<strong>em</strong> como é reforçada negativamente nas áreas rurais e nos municípiosmenores on<strong>de</strong> freqüent<strong>em</strong>ente a varrição acontece somente nas ruas pavimentadasou áreas próximas ao comércio e <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> interesses e “priorida<strong>de</strong>s”imediatas.Assim, como já foi salientado, a tendência a flexibilização do trabalho po<strong>de</strong>ser exposta pelos dados da PNSB (2000) que permite observar a terceirização dos47O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> limpeza urbana aqui é compreendido como o conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que integram asetapas <strong>de</strong> acondicionamento, coleta, transporte, transferência, tratamento e <strong>de</strong>stinação final dosresíduos sólidos.
70serviços <strong>de</strong> limpeza, com cobrança <strong>de</strong> taxa específica pelos municípios, comoprocedimento cada vez mais comum 48 .Em termos econômicos, a GRSU pelas prefeituras implica <strong>em</strong> gastosrelativamente baixos 49 e, na maioria das vezes, os municípios não cobram nenhumataxa específica pelo recolhimento do lixo. Essa é uma situação que compromete opróprio processo <strong>de</strong> gestão, gerando dificulda<strong>de</strong>s para as populações que nãoverificam um serviço regular <strong>de</strong> coleta e transporte dos resíduos.Em contrapartida, a PNSB (2000, p.56) informa que o setor é responsávelpela disponibilização <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos nas áreas urbanas doBrasil – 317.744 pessoas <strong>em</strong> todo o território nacional – quer <strong>em</strong> quadros <strong>de</strong> pessoalefetivo ou contratado das prefeituras. Somando-se a esse número os cerca <strong>de</strong>24.340 catadores e carrinheiros que trabalham pelas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s a procura <strong>de</strong>material reciclável, e t<strong>em</strong>-se um setor forte na geração <strong>de</strong> serviços, além <strong>de</strong>importante pólo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> inovações tecnológicas associadas ao processo <strong>de</strong>GRSU.Entretanto, no que diz respeito ao gerenciamento das formas <strong>de</strong> execuçãodos serviços <strong>de</strong> limpeza urbana, é possível notar que, nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> médio egran<strong>de</strong> porte, a privatização das tarefas relacionadas aos serviços <strong>de</strong> lixo (Gráfico2), é uma tendência que reforça a idéia <strong>de</strong> flexibilização das formas <strong>de</strong> trabalhoatualmente vigentes, conforme esclarece MONTEIRO (2001, p.16): “Essa forma <strong>de</strong>prestação <strong>de</strong> serviços se dá através da contratação, pela municipalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><strong>em</strong>presas privadas, que passam a executar, com seus próprios meios(equipamentos e pessoal), a coleta, a limpeza <strong>de</strong> logradouros, o tratamento e a<strong>de</strong>stinação final dos resíduos”.Em prefeituras menores, a contratação também t<strong>em</strong> ocorrido como forma <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s e geração <strong>de</strong> renda para indivíduos com reduzidaqualificação técnica e baixa formação educacional.48Observa-se que nas regiões mais <strong>de</strong>senvolvidas do país (Su<strong>de</strong>ste e Sul), a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>municípios que optou pela terceirização e que instituiu alguma taxa <strong>de</strong> limpeza é muito maior doque nas outras, mas é cada vez maior o número <strong>de</strong> prefeituras que passam a cobrar pelos serviços<strong>de</strong> coleta, tratamento e disposição final dos resíduos.49Segundo a PNSB (2000, p.56), na gran<strong>de</strong> maioria dos municípios com população abaixo <strong>de</strong> 50.000habitantes, no máximo 5% do orçamento municipal é <strong>de</strong>stinado à GRSU.
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