Ronaldo Gazal Rocha - Programa de Pós-Graduação em Educação ...

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13.07.2015 Views

49associadas a idéia de doença e trazendo consigo a noção de problemas de saúde,de sofrimento, de medo. Na Idade Média, com surtos e epidemias que devastarampopulações inteiras na Europa, os restos (lixo) passaram a ficar atrelados a noçãode degradação, de perda, de descarte. Com ele, também foram estigmatizadostodos aqueles que vivam no e do lixo – os trapeiros – que durante essa época e portoda a Idade Moderna eram considerados marginais à sociedade.Assim como o resto ou a sobra, esses seres humanos também eram escolhidos de acordocom a ocupação ou com o papel social que desempenhavam. Neste período, os serviços delimpeza estiveram freqüentemente subordinados ao carrasco da cidade e eram executadospelos seus auxiliares. As tarefas ligadas aos restos, inclusive o destino de cadáveres, eramdelegadas a prostitutas, prisioneiros de guerra, condenados, escravos, ajudantes decarrascos e mendigos. Tal fato é importante para a compreensão de como o trabalho comresíduos foi sendo socialmente desqualificado. (VELLOSO, 2008, p.1958)Desta forma, é fácil perceber que ainda hoje as pessoas que trabalham, quedependem e que vivem do lixo, quer sejam catadores, coletores, artesãos ouengenheiros sanitaristas, são tratados de forma discriminada e considerados à parteda sociedade. Correlacionados a esta idéia, os locais usados para despejo etratamento dos resíduos também denotam um aspecto de degradação e, destaforma, reforçam o processo de marginalização e de exclusão social.Assim, é possível perceber que até a Revolução Industrial, as atividades dereuso e reciclagem estavam integradas às ações humanas, ao modo de vida daépoca. Contudo, após a disponibilização de uma maior quantidade de materiaisviabilizados pela nova forma de produção que se instalava, tais atividades diminuemde expressão na medida em que o consumo começa a ser incentivado, aspopulações elevam sua concentração em núcleos urbanos e as sociedades, comoum todo, passam a enfrentar problemas cada vez mais sérios em relação àdisposição final dos resíduos.Se é fato que o problema do lixo sempre foi uma conseqüência do modoespecífico de vida das diferentes civilizações humanas, em contrapartida, oproblema da gestão de resíduos só tem se agravado ao longo da história, na medidaem que as populações se concentram mais em núcleos urbanos e se constata oaumento exacerbado do consumismo de mercadorias. Ainda que a prosperidadenão tenha acompanhado por igual as distintas populações, os materiais queproduzem e descartam ou desperdiçam refletem uma mudança comportamental que

50determina profundas alterações no modo de vida da sociedade contemporânea. Seem uma primeira análise o problema pode ser considerado como administrável, namedida em que as populações crescem e os estilos de vida mudam (agravando oconsumo e, conseqüentemente, determinando uma maior quantidade de resíduosgerados), novas medidas devem ser tomadas a fim de que se combata o problemacrescente.De forma geral, até o século XVIII, a situação da gestão de resíduos não foiconsiderada adequadamente e incorporada aos processos de administração pelopoder público. Com o início da Revolução Industrial, a produção maciça demercadorias a um preço baixo, elevou de forma desenfreada o consumo. Associadoa isso, uma maior quantidade de pessoas deixavam o meio rural a procura demelhores condições de vida nos núcleos urbanos. Contudo, os métodos tradicionaisde disposição de resíduos adotados nas regiões rurais não eram viáveis nosconglomerados urbanos que começavam a se formar ao redor das fábricas que seinstalavam. Com ruas repletas de lixo amontoado e sujeira por todos os lados, avisão de “catadores” e de um sem número de pessoas que viviam do lixo era umaconstante. Muitos viviam do que se podia encontrar no lixo para vender: madeira,carvão, ossos e até excremento de cães, que eram usados como forma valiosa deauxiliar o processo de curtimento do couro. O trabalho nos esgotos também era umaforma perigosa e malcheirosa de se ganhar a vida, mas recompensada pelos lucrosadvindos de moedas, pedaços de metal e jóias que eram eventualmenteencontradas. Neste período inicial da Revolução Industrial, uma quantidade enormede carvão era queimada como forma de produção de energia. Somente em Londres,mais de 3,5 milhões de toneladas de carvão eram consumidas anualmente gerando,assim, uma forma peculiar de vida da época, a do catador de cinzas. De fraque ecartola, caminhavam pelas ruas anunciando seus serviços e enchiam suas carroçascom baldes repletos de sobras e cinzas. Em áreas específicas afastadasdespejavam os restos, onde porcos e galinhas escavavam por sobras de comida, aomesmo tempo em que homens, mulheres e crianças trabalhavam na peneiração dosresíduos lançados no solo do aterro, que podiam ser vendidos como forma deadubo. Nesta época, peças antigas e outros itens de valor podiam ser vendidospelos “catadores de cinzas”, tornando-os prósperos intermediários de um processo

50<strong>de</strong>termina profundas alterações no modo <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea. Se<strong>em</strong> uma primeira análise o probl<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como administrável, namedida <strong>em</strong> que as populações cresc<strong>em</strong> e os estilos <strong>de</strong> vida mudam (agravando oconsumo e, conseqüent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>terminando uma maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resíduosgerados), novas medidas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tomadas a fim <strong>de</strong> que se combata o probl<strong>em</strong>acrescente.De forma geral, até o século XVIII, a situação da gestão <strong>de</strong> resíduos não foiconsi<strong>de</strong>rada a<strong>de</strong>quadamente e incorporada aos processos <strong>de</strong> administração pelopo<strong>de</strong>r público. Com o início da Revolução Industrial, a produção maciça <strong>de</strong>mercadorias a um preço baixo, elevou <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>senfreada o consumo. Associadoa isso, uma maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>ixavam o meio rural a procura <strong>de</strong>melhores condições <strong>de</strong> vida nos núcleos urbanos. Contudo, os métodos tradicionais<strong>de</strong> disposição <strong>de</strong> resíduos adotados nas regiões rurais não eram viáveis nosconglomerados urbanos que começavam a se formar ao redor das fábricas que seinstalavam. Com ruas repletas <strong>de</strong> lixo amontoado e sujeira por todos os lados, avisão <strong>de</strong> “catadores” e <strong>de</strong> um s<strong>em</strong> número <strong>de</strong> pessoas que viviam do lixo era umaconstante. Muitos viviam do que se podia encontrar no lixo para ven<strong>de</strong>r: ma<strong>de</strong>ira,carvão, ossos e até excr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> cães, que eram usados como forma valiosa <strong>de</strong>auxiliar o processo <strong>de</strong> curtimento do couro. O trabalho nos esgotos também era umaforma perigosa e malcheirosa <strong>de</strong> se ganhar a vida, mas recompensada pelos lucrosadvindos <strong>de</strong> moedas, pedaços <strong>de</strong> metal e jóias que eram eventualmenteencontradas. Neste período inicial da Revolução Industrial, uma quantida<strong>de</strong> enorme<strong>de</strong> carvão era queimada como forma <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> energia. Somente <strong>em</strong> Londres,mais <strong>de</strong> 3,5 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> carvão eram consumidas anualmente gerando,assim, uma forma peculiar <strong>de</strong> vida da época, a do catador <strong>de</strong> cinzas. De fraque ecartola, caminhavam pelas ruas anunciando seus serviços e enchiam suas carroçascom bal<strong>de</strong>s repletos <strong>de</strong> sobras e cinzas. Em áreas específicas afastadas<strong>de</strong>spejavam os restos, on<strong>de</strong> porcos e galinhas escavavam por sobras <strong>de</strong> comida, aomesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que homens, mulheres e crianças trabalhavam na peneiração dosresíduos lançados no solo do aterro, que podiam ser vendidos como forma <strong>de</strong>adubo. Nesta época, peças antigas e outros itens <strong>de</strong> valor podiam ser vendidospelos “catadores <strong>de</strong> cinzas”, tornando-os prósperos intermediários <strong>de</strong> um processo

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