Ronaldo Gazal Rocha - Programa de Pós-Graduação em Educação ...
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41as empresas são levadas a rever seus procedimentos de gestão do pessoal,substituindo as antigas formas autoritárias (e objetivas) de controle, por modelosmais sutis (e subjetivos) capazes de envolver seus funcionários, aumentar aprodutividade e, assim, deles extrair mais mais-valia. ANTUNES (2006, p. 17)contextualiza bem a questão quando adverte que, nesta década: “Deu-se, (...), oinício, ainda de modo preliminar, da implantação dos métodos denominados‘participativos’, mecanismos que procuram o ‘envolvimento’ (na verdade, a adesão ea sujeição) dos trabalhadores com os planos das empresas”.É nesse contexto que adentra a década de 1980, com ampla difusão deequipamentos e maquinarias capazes de elevar a produtividade e de garantir umamaior qualidade, ao mesmo tempo em que se iniciam os primeiros ensaios em novasformas organizacionais, tomando por referência o modelo japonês. Apesar daintenção, diversas pesquisas 35 relacionadas a essa época registram uma baixaincorporação de equipamentos de ponta, o que levou a uma alta defasagembrasileira diante de outros países. No mesmo descompasso, a resistênciaempresarial em implementar novos modelos organizacionais relacionados aoprocesso de toyotização, também acarretou “adaptações” ou “brasilianizações”.Assim, as pesquisas de POSTHUMA (1990), CARVALHO e SCHMITZ (1990),SALERNO (1991), FERRO (1992), HIRATA et al. (1992) 36 , dentre inúmeras outras,contribuem de forma definitiva para estabelecer o quadro nacional sob o qual seincorporava o processo de reestruturação produtiva, mas em um contextoextremamente “defensivo”, ou seja, de “resistência do patronato em modificar aspolíticas de gestão da mão-de-obra e a dificuldade para a adoção de formas deorganização do trabalho baseadas numa participação mais efetiva dos trabalhadoresnas decisões relativas ao processo produtivo”. (LEITE e SILVA, 1991 apud LEITE,op.cit., p. 76). Desta forma a autora resume a questão expondo que as “mudanças35 As pesquisas como as de CARVALHO (1992) e CASTRO (1993) que comparam o quadro brasileiroao de outros países são bastante relevantes para a demonstração do contexto em questão.Contudo, é FERRO (1992) quem apresenta dados realmente impactantes quando expõe queapenas uma seção de solda da planta da Ford em Hermosillo, no México, possuía um número derobôs maior que todo o parque automotivo brasileiro. CARVALHO, R. Q. Projeto de primeiro mundocom conhecimento e trabalho de terceiro? Textos para discussão, n. 12. Campinas, IG/Unicamp,(1992). CASTRO, N. Modernização e trabalho no complexo automotivo brasileiro: reestruturaçãoindustrial ou japonização de ocasião? Novos Estudos Cebrap, n. 37, nov., p. 155-173. São Paulo,Cebrap, 1993. FERRO, J. A produção enxuta no Brasil. In: WOMACK, J. e ROOS, D. A máquinaque mudou o mundo. Rio de Janeiro, Campus, 1992.36 A descrição do papel de cada uma dessas pesquisas pode ser encontrada em LEITE (2003).
42mais importantes ocorridas nas relações de trabalho nessa fase parecem dever-semenos ao emprego das novas tecnologias do que às lutas operárias e às mudançaspolítico-institucionais decorrentes da democratização do país”. (LEITE, op.cit., p. 79).Mas foi com o desenrolar da década de 1990 que o desenvolvimento dareestruturação produtiva (e do capital) se fez pleno em nosso país. Este períodoficou especialmente marcado pelas “orientações” advindas do Consenso deWashington, que tomadas como verdadeiro receituário de desregulamentações,provocou modificações bastante significativas nos diferentes campos do mundo dotrabalho. De maneira associada, houve alterações consideráveis na forma deprodução, que tomou por base o toyotismo e as formas flexíveis de acumulação, oque, por sua vez, implicou mudanças na própria organização social. Desta forma, ocapitalismo brasileiro dessa época foi assim descrito por ANTUNES (op.cit., p.19):enormes enxugamentos da força de trabalho combinam-se com mutações sociotécnicas noprocesso produtivo e na organização do controle social do trabalho. A flexibilização e adesregulamentação dos direitos sociais, bem como a terceirização e as novas formas degestão da força de trabalho implantadas no espaço produtivo, estão em curso acentuado epresentes em grande intensidade, coexistindo com o fordismo, que parece ainda preservadoem vários ramos produtivos e de serviços (...).É diante desta dinâmica multivariada do processo produtivo que se constataa implementação dos modelos aplicados nos países de capitalismo central, aomesmo tempo em que se agravam e intensificam princípios fordistas de organizaçãoe dominação da força trabalhadora. É assim que, no Brasil, a adoção de um padrãotecnológico mais desenvolvido vai aparecer associado aos chamados programas de“qualificação” (de uma força de trabalho mal remunerada) como “receita” capitalistanacional de expropriação do trabalhador. Como resultado, ANTUNES (op.cit., p.25)explica que:Essas mutações, portanto, inseridas na lógica da racionalidade instrumental do mundoempresarial, estão intimamente relacionadas ao processo de reestruturação produtiva docapital, no qual as grandes empresas, por meio da flexibilização dos regimes de trabalho, desubcontratação e da terceirização, procuram aumentar sua competitividade fraturando efragmentando ainda mais a classe que vive do trabalho.Diante de tais condições dadas, concorda-se com ANTUNES e ALVES(2004, p.336) quando estes afirmam que, “se a classe trabalhadora não é idênticaàquela existente em meados do século passado, ela também não está em vias de
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41as <strong>em</strong>presas são levadas a rever seus procedimentos <strong>de</strong> gestão do pessoal,substituindo as antigas formas autoritárias (e objetivas) <strong>de</strong> controle, por mo<strong>de</strong>losmais sutis (e subjetivos) capazes <strong>de</strong> envolver seus funcionários, aumentar aprodutivida<strong>de</strong> e, assim, <strong>de</strong>les extrair mais mais-valia. ANTUNES (2006, p. 17)contextualiza b<strong>em</strong> a questão quando adverte que, nesta década: “Deu-se, (...), oinício, ainda <strong>de</strong> modo preliminar, da implantação dos métodos <strong>de</strong>nominados‘participativos’, mecanismos que procuram o ‘envolvimento’ (na verda<strong>de</strong>, a a<strong>de</strong>são ea sujeição) dos trabalhadores com os planos das <strong>em</strong>presas”.É nesse contexto que a<strong>de</strong>ntra a década <strong>de</strong> 1980, com ampla difusão <strong>de</strong>equipamentos e maquinarias capazes <strong>de</strong> elevar a produtivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> garantir umamaior qualida<strong>de</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se iniciam os primeiros ensaios <strong>em</strong> novasformas organizacionais, tomando por referência o mo<strong>de</strong>lo japonês. Apesar daintenção, diversas pesquisas 35 relacionadas a essa época registram uma baixaincorporação <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> ponta, o que levou a uma alta <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong>brasileira diante <strong>de</strong> outros países. No mesmo <strong>de</strong>scompasso, a resistência<strong>em</strong>presarial <strong>em</strong> impl<strong>em</strong>entar novos mo<strong>de</strong>los organizacionais relacionados aoprocesso <strong>de</strong> toyotização, também acarretou “adaptações” ou “brasilianizações”.Assim, as pesquisas <strong>de</strong> POSTHUMA (1990), CARVALHO e SCHMITZ (1990),SALERNO (1991), FERRO (1992), HIRATA et al. (1992) 36 , <strong>de</strong>ntre inúmeras outras,contribu<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva para estabelecer o quadro nacional sob o qual seincorporava o processo <strong>de</strong> reestruturação produtiva, mas <strong>em</strong> um contextoextr<strong>em</strong>amente “<strong>de</strong>fensivo”, ou seja, <strong>de</strong> “resistência do patronato <strong>em</strong> modificar aspolíticas <strong>de</strong> gestão da mão-<strong>de</strong>-obra e a dificulda<strong>de</strong> para a adoção <strong>de</strong> formas <strong>de</strong>organização do trabalho baseadas numa participação mais efetiva dos trabalhadoresnas <strong>de</strong>cisões relativas ao processo produtivo”. (LEITE e SILVA, 1991 apud LEITE,op.cit., p. 76). Desta forma a autora resume a questão expondo que as “mudanças35 As pesquisas como as <strong>de</strong> CARVALHO (1992) e CASTRO (1993) que comparam o quadro brasileiroao <strong>de</strong> outros países são bastante relevantes para a <strong>de</strong>monstração do contexto <strong>em</strong> questão.Contudo, é FERRO (1992) qu<strong>em</strong> apresenta dados realmente impactantes quando expõe queapenas uma seção <strong>de</strong> solda da planta da Ford <strong>em</strong> Hermosillo, no México, possuía um número <strong>de</strong>robôs maior que todo o parque automotivo brasileiro. CARVALHO, R. Q. Projeto <strong>de</strong> primeiro mundocom conhecimento e trabalho <strong>de</strong> terceiro? Textos para discussão, n. 12. Campinas, IG/Unicamp,(1992). CASTRO, N. Mo<strong>de</strong>rnização e trabalho no complexo automotivo brasileiro: reestruturaçãoindustrial ou japonização <strong>de</strong> ocasião? Novos Estudos Cebrap, n. 37, nov., p. 155-173. São Paulo,Cebrap, 1993. FERRO, J. A produção enxuta no Brasil. In: WOMACK, J. e ROOS, D. A máquinaque mudou o mundo. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Campus, 1992.36 A <strong>de</strong>scrição do papel <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas pesquisas po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>em</strong> LEITE (2003).