Ronaldo Gazal Rocha - Programa de Pós-Graduação em Educação ...
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39marginalização de parcela cada vez maior da população, onde a lógica da exclusãoatinge enormes quantitativos de trabalhadores explorados que se sujeitam aoperverso modo de produção capitalista, incrementando um quadro brutal de mão-deobradesqualificada. Desta maneira, mesmo sob condições diferentes – precarizado,informal, flexível, terceirizado, parcial, temporário, etc. – a categoria trabalhopermanece e se sobressai como elemento central da sociedade contemporânea e,portanto, fundamental para a compreensão das relações sociais de dominação epoder que permeiam a lógica do capital.O trabalho, mesmo que reestruturado, mantém-se, portanto, como um dos vetoresimportantes na organização das sociedades, nas relações sociais entre indivíduos e grupos,reconfigurando relações de poder e multiplicando desigualdades sociais. Sendo assim, aapreensão e a análise dessas novas formas de trabalho abrem caminhos para a reflexão arespeito da própria transformação social. (TONI, 2003, p.280-281).2.3 – O TRABALHO COMO CATEGORIA CENTRAL PARA A INTEGRAÇÃOSOCIALÉ fato que a partir das duas últimas décadas do século XX, uma grandequantidade de alterações impostas na forma e maneira de organizar a produçãocapitalista, acabou por determinar profundas modificações no/do campo do trabalho.A primeira vista, as mutações do processo produtivo e no mundo do trabalholevaram inúmeros autores a afirmar que a sociedade moderna estruturada a partir doparadigma do trabalho, estaria iniciando um processo de crise em função da perdade orientação centrada no trabalho, haja vista o esgotamento de seu significado.Assim, já no final da década de 1950, essa perspectiva é apresentada porHannah Arendt (1983), em seu estudo da “condição humana”. Posteriormente,Jürgen Habermas (1987) resgata a questão do esgotamento da utopia do trabalho,no início dos anos de 1980, e propõe a sua substituição pela “esferacomunicacional” (Habermas, 1991 e 1992). No mesmo encaminhamento, Claus Offe(1989) enfatiza a limitação do paradigma social “centrado no trabalho” e questionasua importância categorial como elemento determinante e organizador da sociedademoderna, diante de tantas modificações conceituais e fenomênicas. Desta forma,acreditando-se verdadeiramente no “fim do trabalho”, nas palavras de Jeremy Rifkin
40(1995), ou na “desaparição do trabalho”, nos termos de Dominique Méda (1997), nãoapenas se propagava a noção de esgotamento, mas indiretamente se reforçava apossibilidade da extinção da própria classe trabalhadora.A fim de aprofundar a questão da centralidade ou não do trabalho, a análiseda perspectiva histórica de evolução do desenvolvimento ocorrido em nosso país éparticularmente interessante como abordagem de estudo. No Brasil, ao final dosanos de 1970, o modelo de desenvolvimento econômico pautado na substituição dasimportações entra em crise e coloca o país diante de novas exigênciasinternacionais 33 . A modernização tecnológica do processo produtivo é impulsionadapelos novos padrões competitivos do mercado mundial e, como conseqüência, sãotomadas medidas para o ajuste econômico do país. Associado a isto, inicia-se operíodo de redemocratização política que viabiliza o ressurgimento do movimentooperário e sindical, inclusive com o questionamento dos padrões empregados, atéentão, para o disciplinamento da força de trabalho industrial. Impregnado peloprincípio taylorista-fordista de “rotinização” 34 da produção, o período é assimapresentado por LEITE (2003, p. 68):Com efeito, baseando-se em um forte autoritarismo, o gerenciamento do trabalhocaracterizou-se pela extrema parcelização de tarefas, pelo uso extensivo de força detrabalho não-qualificada, por altas taxas de rotatividade, pela adoção de complexasestruturas de cargos e salários, voltadas para estabelecer a divisão do coletivo operário e ocontrole sobre os trabalhadores. Tais características da forma de utilização da mão-de-obraapoiavam-se, por sua vez, na legislação trabalhista, baseada no contrato individual detrabalho e no contexto político de autoritarismo que predominava no país.Com a argumentação contrária a essa tendência predatória de uso da forçade trabalho, e diante de padrões mais elevados de competitividade e de qualidade,33Vale lembrar que, de acordo com POCHMAN (2005, p.29), na década de 1970, com a elevaçãodos preços do petróleo e das matérias-primas, houve uma expansão considerável das empresasmultinacionais pelas economias periféricas e, especialmente, nas semiperiféricas. Com isso, foramintensificados os investimentos na construção das filiais configurando um reforço adicional naestratégia pró-sistêmica de industrialização, particularmente nos países de renda per capitaintermediária. Assim, a estratégia das empresas multinacionais “coincide” justamente com operíodo de ouro da industrialização nacional, que entre 1950 e 1980, cresceu com taxa médiaanual de expansão da produção de quase 7%. (POCHMANN, op.cit., p.36).34A idéia é apresentada por FLEURY (1983) como “um sistema cujo objetivo não é utilizar a mão-deobrade maneira produtiva, mas de forma a desqualificá-la e desorganizá-la, minimizando apossibilidade de surgimento de conflitos dentro da fábrica. A rotinização operacionaliza essesobjetivos, ao não permitir o agrupamento de pessoas, a qualificação e o aperfeiçoamento, o que,por sua vez, induz a uma alta taxa de rotatividade, que dificulta o vínculo sindical”. (FLEURY apudLEITE, 2003, p.68).
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40(1995), ou na “<strong>de</strong>saparição do trabalho”, nos termos <strong>de</strong> Dominique Méda (1997), nãoapenas se propagava a noção <strong>de</strong> esgotamento, mas indiretamente se reforçava apossibilida<strong>de</strong> da extinção da própria classe trabalhadora.A fim <strong>de</strong> aprofundar a questão da centralida<strong>de</strong> ou não do trabalho, a análiseda perspectiva histórica <strong>de</strong> evolução do <strong>de</strong>senvolvimento ocorrido <strong>em</strong> nosso país éparticularmente interessante como abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> estudo. No Brasil, ao final dosanos <strong>de</strong> 1970, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico pautado na substituição dasimportações entra <strong>em</strong> crise e coloca o país diante <strong>de</strong> novas exigênciasinternacionais 33 . A mo<strong>de</strong>rnização tecnológica do processo produtivo é impulsionadapelos novos padrões competitivos do mercado mundial e, como conseqüência, sãotomadas medidas para o ajuste econômico do país. Associado a isto, inicia-se operíodo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização política que viabiliza o ressurgimento do movimentooperário e sindical, inclusive com o questionamento dos padrões <strong>em</strong>pregados, atéentão, para o disciplinamento da força <strong>de</strong> trabalho industrial. Impregnado peloprincípio taylorista-fordista <strong>de</strong> “rotinização” 34 da produção, o período é assimapresentado por LEITE (2003, p. 68):Com efeito, baseando-se <strong>em</strong> um forte autoritarismo, o gerenciamento do trabalhocaracterizou-se pela extr<strong>em</strong>a parcelização <strong>de</strong> tarefas, pelo uso extensivo <strong>de</strong> força <strong>de</strong>trabalho não-qualificada, por altas taxas <strong>de</strong> rotativida<strong>de</strong>, pela adoção <strong>de</strong> complexasestruturas <strong>de</strong> cargos e salários, voltadas para estabelecer a divisão do coletivo operário e ocontrole sobre os trabalhadores. Tais características da forma <strong>de</strong> utilização da mão-<strong>de</strong>-obraapoiavam-se, por sua vez, na legislação trabalhista, baseada no contrato individual <strong>de</strong>trabalho e no contexto político <strong>de</strong> autoritarismo que predominava no país.Com a argumentação contrária a essa tendência predatória <strong>de</strong> uso da força<strong>de</strong> trabalho, e diante <strong>de</strong> padrões mais elevados <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,33Vale l<strong>em</strong>brar que, <strong>de</strong> acordo com POCHMAN (2005, p.29), na década <strong>de</strong> 1970, com a elevaçãodos preços do petróleo e das matérias-primas, houve uma expansão consi<strong>de</strong>rável das <strong>em</strong>presasmultinacionais pelas economias periféricas e, especialmente, nas s<strong>em</strong>iperiféricas. Com isso, foramintensificados os investimentos na construção das filiais configurando um reforço adicional naestratégia pró-sistêmica <strong>de</strong> industrialização, particularmente nos países <strong>de</strong> renda per capitaintermediária. Assim, a estratégia das <strong>em</strong>presas multinacionais “coinci<strong>de</strong>” justamente com operíodo <strong>de</strong> ouro da industrialização nacional, que entre 1950 e 1980, cresceu com taxa médiaanual <strong>de</strong> expansão da produção <strong>de</strong> quase 7%. (POCHMANN, op.cit., p.36).34A idéia é apresentada por FLEURY (1983) como “um sist<strong>em</strong>a cujo objetivo não é utilizar a mão-<strong>de</strong>obra<strong>de</strong> maneira produtiva, mas <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>squalificá-la e <strong>de</strong>sorganizá-la, minimizando apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surgimento <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong>ntro da fábrica. A rotinização operacionaliza essesobjetivos, ao não permitir o agrupamento <strong>de</strong> pessoas, a qualificação e o aperfeiçoamento, o que,por sua vez, induz a uma alta taxa <strong>de</strong> rotativida<strong>de</strong>, que dificulta o vínculo sindical”. (FLEURY apudLEITE, 2003, p.68).