29criando um novo campo <strong>de</strong> conflito entre as diferentes personas 25 que se constitu<strong>em</strong>enquanto “novas” institucionalida<strong>de</strong>s do processo social. Além disso, a terminologiapo<strong>de</strong> ser encarada por mais <strong>de</strong> uma das suas dimensões, o que torna a suainterpretação ainda mais complexa.Do ponto <strong>de</strong> vista dos sist<strong>em</strong>as produtivos, particularmente sob a ótica daindústria, a organização da produção – reengenharia, qualida<strong>de</strong> total, automaçãoprogramável, sist<strong>em</strong>a kanban <strong>de</strong> manufaturas – v<strong>em</strong> como uma resposta maisa<strong>de</strong>quada às instabilida<strong>de</strong>s e exigências do mercado mundial. A gestão <strong>de</strong>variabilida<strong>de</strong>s segundo a “filosofia” just-in-time é outra possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação,justificada pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>sses sist<strong>em</strong>as produtivos à dinâmicacont<strong>em</strong>porânea. Além <strong>de</strong>ssas, po<strong>de</strong>r-se-ia levantar outros <strong>em</strong>pregos da flexibilida<strong>de</strong>no que diz respeito à dinâmica estratégica e social, quer intra ou extra-<strong>em</strong>presa 26 .Freqüent<strong>em</strong>ente, no entanto, a positivida<strong>de</strong> relacionada à flexibilida<strong>de</strong> dossist<strong>em</strong>as produtivos esbarra no aspecto da “<strong>de</strong>sregulamentação”, da “reestruturaçãoprodutiva”, do “mo<strong>de</strong>lo toyotista” <strong>de</strong> organização e gestão da produção.Correlacionada a uma nova base <strong>de</strong> produção que incorpora a informática, amicroeletrônica e a robótica aos processos produtivos, a flexibilização é <strong>de</strong>nunciadacomo forma refinada <strong>de</strong> expropriação do trabalhador. Associada a este novomo<strong>de</strong>lo, a terceirização aparece como “diretriz” das <strong>em</strong>presas no sentido da redução<strong>de</strong> custos, materiais e <strong>de</strong> pessoal, trazendo <strong>de</strong> maneira subjetivada, a diminuição dopo<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos trabalhadores, através <strong>de</strong> seus sindicatos 27 .Assim, a flexibilida<strong>de</strong> vai r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lando o sist<strong>em</strong>a produtivo e, <strong>em</strong> conjunto edistintamente, seus integrantes. Busca-se uma nova abordag<strong>em</strong> para aqueles que(ainda) não sucumbiram a “reengenharia”, um novo comportamento profissional quese a<strong>de</strong>qüe a “missão” e as metas das <strong>em</strong>presas. Diante <strong>de</strong>sse “novo” quadro, o25Aqui nos baseamos na terminologia <strong>em</strong>pregada por Nadya Araújo Castro no que se refere àcompetição, à regulação e aos sindicatos como personas que, segundo a autora, constituiriam asnovas e renovadas bases sociais <strong>de</strong> efetivida<strong>de</strong> dos mo<strong>de</strong>los paradigmáticos atualmente vigentes.26Segundo SALERNO, 1993 apud BRESCIANI (1997, p. 89) a flexibilida<strong>de</strong> relativa às dimensõesestratégicas são aquelas vinculadas ao espaço <strong>de</strong> operações da <strong>em</strong>presa (arranjos produtivoslocais ou APL’s, re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação, clusters competitivos), enquanto as sociais po<strong>de</strong>m ser intraou extra-<strong>em</strong>presa, a primeira po<strong>de</strong>ndo ser i<strong>de</strong>ntificada através dos regulamentos internos, pelarepresentação sindical interna, pelo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração e recompensas, e a segunda,referindo-se a regulamentação trabalhista, legislação sindical, normas ambientais, etc.27Para uma abordag<strong>em</strong> mais <strong>de</strong>talhada verificar o estudo <strong>de</strong> COSTA, Márcia da S. Reestruturaçãoprodutiva, sindicatos e a flexibilização das relações <strong>de</strong> trabalho no Brasil, RAE eletrônica. v.2, n. 2,São Paulo: FGV, jul-<strong>de</strong>z/2003.
30i<strong>de</strong>ário produtivista flexibilizante exige uma atuação mais “colaborativa”, maisversátil, mais a<strong>de</strong>quada às novas exigências do mercado e impõe aos próprios“fracassados”, a culpa pelo seu não sucesso, dada a sua falta <strong>de</strong> interesse,<strong>em</strong>penho ou disposição. Isto implica a “formação” <strong>de</strong> um “novo hom<strong>em</strong>”, polivalente,qualificado, que saiba trabalhar <strong>em</strong> equipe e perfeitamente pautado pelo perfil da<strong>em</strong>presa. Contudo, a face oculta da flexibilização escancara um mundo com reduçãosignificativa do <strong>em</strong>prego formal, com conseqüente expansão da informalida<strong>de</strong>,diminuição gradativa da ação sindical, dada sua organização cada vez mais frágil, eperda <strong>de</strong> proteções sociais levando a um quadro <strong>de</strong> ampliação consi<strong>de</strong>rável daexclusão social.A<strong>de</strong>ntra-se aos anos 90 com a certeza <strong>de</strong> inúmeras e imensas mutações nomundo do trabalho. É possível se reconhecer um quadro sombrio, com altas taxas<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, expansão consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> formas atípicas eprecárias <strong>de</strong> trabalho. Mas ao contrário do que se po<strong>de</strong> imaginar, a diminuição <strong>de</strong>postos <strong>de</strong> trabalho, ou melhor, <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos assalariados, marca típica dassocieda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas, não implica na extinção do trabalho <strong>em</strong> si, enquantocategoria central organizadora das relações sociais mo<strong>de</strong>rnas, mas certamenteexige sua reinterpretação.Enten<strong>de</strong>ndo que nossas socieda<strong>de</strong>s se estruturam <strong>em</strong> torno do trabalho assalariado – formatípica assumida pelo trabalho no capitalismo – argumentam que o trabalho ainda se constitui<strong>em</strong> um dos vetores essenciais na estruturação das socieda<strong>de</strong>s, o que os leva a refletir sobreaspectos e processos relacionados à precarização do trabalho, individualização dasrelações <strong>de</strong> trabalho, insegurança e vulnerabilida<strong>de</strong>s, fragmentação da socieda<strong>de</strong> eintegração social. (TONI, 2003, p. 262-263).Neste encaminhamento, a reestruturação das relações <strong>de</strong> trabalho nãopermite supor o fim da centralida<strong>de</strong> da categoria trabalho, mas sim evi<strong>de</strong>nciar umanova forma <strong>de</strong> subordinação do trabalho ao capital. Nesse mo<strong>de</strong>lo atual, aorientação da produção passa a ser pensada no contexto da “globalização” e daflexibilização como meta para a ampliação <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s das <strong>em</strong>presas e <strong>de</strong>seus integrantes. Guiados pelo princípio da competição mundial, os agentes doprocesso produtivo encarnam a individualização no processo <strong>de</strong> trabalho e o<strong>de</strong>smantelamento da estrutura social, cada vez mais polarizada. Como tendênciados t<strong>em</strong>pos cont<strong>em</strong>porâneos, revert<strong>em</strong>-se as condições históricas do trabalho
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