19<strong>em</strong>presas e corporações que passam a adquirir relevância no cenário mundial,restringindo o papel e a força das economias nacionais, contudo s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser,ao mesmo t<strong>em</strong>po, um próprio produto <strong>de</strong>ssa dada circunstância. Assim, o processogerencial da ativida<strong>de</strong> econômica atual rompe com as tradições produzidas ao longodos t<strong>em</strong>pos, particularmente aquelas impostas pelo padrão produtivo pós RevoluçãoIndustrial, no século XVIII.Intensificou-se e generalizou-se o processo <strong>de</strong> dispersão geográfica da produção, ou dasforças produtivas, compreen<strong>de</strong>ndo o capital, a tecnologia, a força <strong>de</strong> trabalho, a divisão dotrabalho social, o planejamento e o mercado. A nova divisão internacional do trabalho e daprodução, envolvendo o fordismo, o neofordismo, o toyotismo, a flexibilização e aterceirização, tudo isso amplamente agilizado e generalizado com base nas técnicaseletrônicas, essa nova divisão internacional do trabalho concretiza a globalização docapitalismo, <strong>em</strong> termos geográficos e históricos. (IANNI, 2006, p. 57).Com isso, <strong>de</strong> forma subjetivada e contínua, novos acordos sãoestabelecidos, tanto na esfera pública como na privada, <strong>de</strong>terminando uma novadimensão na/da política. S<strong>em</strong> consultas prévias, s<strong>em</strong> convocações e discussõescom os governos, s<strong>em</strong> envolvimento direto da socieda<strong>de</strong> civil nos <strong>de</strong>bates eorientações dos processos, <strong>de</strong> forma tácita, a “política” da globalização se impõe enaturaliza-se como padrão <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. As forças produtivas como o capital, atecnologia e a própria força <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>ntre outras, imerg<strong>em</strong> num fluxo <strong>de</strong>atualização que implica <strong>em</strong> (re)organização <strong>de</strong> sua estrutura e <strong>de</strong> seufuncionamento para respon<strong>de</strong>r aos anseios do mercado, agora global. A estruturaestatal, ainda que <strong>de</strong> forma mais lenta e gradativa, também é levada a sereorganizar, ou melhor, “mo<strong>de</strong>rnizar-se” tal qual as exigências mundiais <strong>de</strong>terminamatravés dos pactos estratégicos das gran<strong>de</strong>s corporações. Assim, é perfeitamentepossível compreen<strong>de</strong>r que o processo <strong>de</strong> internacionalização do capital também é oprocesso <strong>de</strong> naturalização da “globalização” <strong>de</strong> normas, diretrizes e orientações dosorganismos multilaterais no sentido da “<strong>de</strong>sestatização, <strong>de</strong>sregulamentação,privatização, abertura <strong>de</strong> fronteiras, criação <strong>de</strong> zonas francas” (CAMILLERI &FALK 16 e KLIKSBERG 17 apud IANNI, 2006, p. 59).16CAMILLERI, Joseph A.; FALK, Jim. The end of sovereignty? (The politics of a shrinkink andfragmenting world). Hants/Inglaterra: Edward Elgar Publishing, 1992.17KLIKSBERG, Bernardo. Cómo transformar al Estado? (Más alla <strong>de</strong> mitos y dogmas). México:Fondo <strong>de</strong> Cultura Económica, 1993.
20Em princípio, a internacionalização do capital é a internacionalização dopróprio processo produtivo. Em conseqüência, implanta-se uma nova forma <strong>de</strong>divisão <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> produção que vai para além das linhas <strong>de</strong> montag<strong>em</strong> domo<strong>de</strong>lo fordista. Incorporam-se os princípios tayloristas da administração científica,eleva-se a produtivida<strong>de</strong> por força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> do operariado, tomando por base asidéias propagadas pelo stakhanovismo, implanta-se o novo método <strong>de</strong> gestão daprodução baseado no mo<strong>de</strong>lo toyotista, tudo isso com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reorganizaçãodo processo <strong>de</strong> trabalho. Com isso, a fragmentação passa a ser o el<strong>em</strong>entofundamental do processo produtivo mo<strong>de</strong>rno/globalizado, que leva a precarização daclasse trabalhadora nas formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sproletarização do setor fabril/industrial,subproletarização do trabalho sob as formas <strong>de</strong> trabalho terceirizado, parcial,t<strong>em</strong>porário, subcontratado, vinculados à economia “informal” e ainda na dinâmica <strong>de</strong>heterogeneização das condições <strong>de</strong> trabalho, com uma maior participação dotrabalho f<strong>em</strong>inino e exclusão dos mais jovens e dos mais velhos. Desta maneira,todas as formas cont<strong>em</strong>porâneas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego da classe trabalhadora apontam parasua maior complexificação, exigindo um trabalhador mais ágil e flexível, contudos<strong>em</strong> se po<strong>de</strong>r imaginar outra forma <strong>de</strong> dinâmica social que não conte com a classeque-vive-do-trabalho.18 Assim, as novas formas <strong>de</strong> gestão das <strong>em</strong>presas e suaspráticas rotineiras <strong>de</strong> (<strong>de</strong>s)qualificação da mão-<strong>de</strong>-obra criam uma orientação <strong>de</strong>solidarieda<strong>de</strong> <strong>em</strong>pregado-patrão que, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, oculta um significado real <strong>de</strong>dominação e expropriação do trabalhador, com o rebaixamento <strong>de</strong> sua situaçãosocial. Isso se revela nas gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas através <strong>de</strong> múltiplas linguagens, querna <strong>de</strong>nominação dos <strong>em</strong>pregados como “colaboradores” ou “associados”, quer naaplicação <strong>de</strong> mecanismos sutis <strong>de</strong> “valorização do mérito” com fotografias e imagensdo “melhor do mês”, quer na forma <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> aperfeiçoamento nas/das<strong>em</strong>presas, on<strong>de</strong> o trabalho intelectual dos trabalhadores mais qualificados éexpropriado <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> uma melhor r<strong>em</strong>uneração ou convertido <strong>em</strong> benefícios parasi e para seus <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (auxílio-escola para os filhos, auxílio-faculda<strong>de</strong> paraaqueles que “quiser<strong>em</strong>” se <strong>de</strong>dicar a carreira acadêmica, auxílio-aca<strong>de</strong>mia paratodos atingir<strong>em</strong> um padrão a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e trabalhar<strong>em</strong> b<strong>em</strong>). Taismecanismos mimetizam a condição subjugada da maioria dos trabalhadores que,18Para maiores <strong>de</strong>talhes e ex<strong>em</strong>plos verificar a obra <strong>de</strong> Ricardo Antunes, A<strong>de</strong>us ao trabalho?Ensaios sobre as metamorfoses do mundo do trabalho. Campinas, São Paulo: Cortez, 1999.
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