Ronaldo Gazal Rocha - Programa de Pós-Graduação em Educação ...

Ronaldo Gazal Rocha - Programa de Pós-Graduação em Educação ... Ronaldo Gazal Rocha - Programa de Pós-Graduação em Educação ...

13.07.2015 Views

152 – O MUNDO DO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE2.1 – GLOBALIZAÇÃO COMO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTOCAPITALISTA NO MUNDO ATUALSe é fato que após a Segunda Grande Guerra o mundo “mergulhou” em umambiente dicotomizado politicamente entre esquerda e direita, também se deveconsiderar que essa linha divisória gradativamente foi se tornando menos nítidadiante de fatos cada vez mais marcantes na história dos últimos anos. Na transiçãoda década de 80 para de 90, a queda do muro de Berlim (1989) e o desfacelamentoda União Soviética (1991) podem ser considerados marcos na história desseprocesso, considerado, por alguns, como a derrocada final do socialismo e o iníciode uma nova era identificada pela consolidação e hegemonia do capitalismo.Do ponto de vista macroeconômico, os anos 90 também se caracterizarampor aspectos bem marcantes, tais como ressalta CHESNAIS (1995, p.1):taxas de crescimento do PIB muito baixas, inclusive em países (como o Japão) quedesempenharam tradicionalmente o papel de ‘locomotiva’ junto ao resto da economiamundial; deflação rastejante; conjuntura mundial extremamente instável, marcada porsobressaltos monetários e financeiros cada vez mais freqüentes; alto nível de desempregoestrutural; marginalização de regiões inteiras em relação ao sistema de trocas e umaconcorrência internacional cada vez mais intensa, geradora de sérios conflitos comerciaisentre as grandes potências da Tríade.Diante de traços políticos e econômicos tão próprios, muitos passaram aconsiderar o início de uma nova fase do capitalismo, de um novo regime mundial deacumulação, cuja essência estaria pautada na concentração excessiva do capital,quer na forma aplicada na produção de bens e serviços, quer na forma deespeculação por meio do capital financeiro.Para muitos afoitos a crença de estarmos iniciando uma nova época paraalém de dicotomias políticas e, ao mesmo tempo, de maiores possibilidades deganhos econômicos devido a globalização dos mercados, mascara um quadro deinternacionalização com mudanças profundas nas relações de força entre o Capitale o Estado, bem como entre o Capital e o Trabalho.Assim, se por um lado se evidencia uma multiplicidade de possibilidadespara o emprego do termo globalização, por outro, também se deixa claro a

16vulgarização em seu uso. Envolvendo aspectos dos diferentes campos dacomunicabilidade, da política, da economia, da ambientalização, das relaçõessociais, da cultura, dentre muitas outras possibilidades, o uso do termo de formaabusiva acaba por revelar uma construção conceitual nebulosa.Desta forma, BECK (1999, p. 13) alerta que: “a palavra ‘globalização’, (...),não aponta agora para o fim da política, mas sim para a exclusão da política 13 doquadro categorial do Estado nacional, e até mesmo do papel esquemático daquiloque se entende por ação ‘política’ ou ‘não-política’”. Em seu livro “A mundializaçãodo capital”, François Chesnais (1996) destaca o caráter ideológico do termoglobalização 14 , de origem anglo-saxônica, amplamente empregado peloseconomistas da modernidade, ao processo de internacionalização econômica “livre”entre os habitantes do planeta e que, portanto, seria melhor apropriado pelo radicalglobo, de conotação geográfica. Assim, o termo globalização, amplamenteempregado pela mídia, passa a naturalizar-se em substituição a terminologiafrancesa mundialização. Essa simples substituição de palavras (e aparenteneutralidade no uso do termo) trás consigo um significado oculto bastanteimportante. A apropriação do termo moderno globalização busca romper com asamarras do passado, com mecanismos econômicos “guiados” por uma maiorinfluência estatal e, desta forma, permitir a atuação mais “livre” dos indivíduosatravés dos mercados. Contudo, tal ideologia omite a realidade mais dura de que oplaneta é formado por países diferentes, de culturas diversificadas, de forçasdesiguais, onde os mais economicamente favorecidos determinam formas sutis desubmissão cada vez mais pesadas.13 Grifo no original.14“Convém lembrar onde e como o termo ‘global’ nasceu. Surgiu no começo dos anos oitenta nasgrandes escolas americanas de ‘Business management’ em Harvard, Columbia, Stanford etc.,antes de ser popularizado através das obras e artigos dos mais hábeis consultores em estratégia emarketing oriundos destas escolas – em particular Ohmae (1985; 1990) e Porter (1986). Numaperspectiva de administração de empresas, o termo foi então utilizado para mandar aos grandesgrupos o seguinte recado: ‘os obstáculos ao desenvolvimento de suas atividades em qualquerlugar onde exista a possibilidade de realizar lucros estão sendo derrubados graças à liberalizaçãoe à desregulamentação; a teleinformática (ou telematics) e os satélites de comunicações colocam asua disposição ferramentas fantásticas de comunicação e de controle; vocês devem reorganizar-see reformular suas estratégias conseqüentemente’. Essa gênese confirma a idéia segundo a qual setrata, de fato, do movimento do capital, porém a ótica das ‘Business schools’ dá uma visão maisrestrita. Torna a globalização um fenômeno apenas de tipo microeconômico, de modo que aglobalização financeira, por exemplo, surge como um fenômeno totalmente distinto dosinvestimentos diretos estrangeiros e das novas formas de organização e administração dasoperações internacionais dos grupos, conquanto se trata de processos estreitamente ligados”.(CHESNAIS, 1995, p. 5)

16vulgarização <strong>em</strong> seu uso. Envolvendo aspectos dos diferentes campos dacomunicabilida<strong>de</strong>, da política, da economia, da ambientalização, das relaçõessociais, da cultura, <strong>de</strong>ntre muitas outras possibilida<strong>de</strong>s, o uso do termo <strong>de</strong> formaabusiva acaba por revelar uma construção conceitual nebulosa.Desta forma, BECK (1999, p. 13) alerta que: “a palavra ‘globalização’, (...),não aponta agora para o fim da política, mas sim para a exclusão da política 13 doquadro categorial do Estado nacional, e até mesmo do papel esqu<strong>em</strong>ático daquiloque se enten<strong>de</strong> por ação ‘política’ ou ‘não-política’”. Em seu livro “A mundializaçãodo capital”, François Chesnais (1996) <strong>de</strong>staca o caráter i<strong>de</strong>ológico do termoglobalização 14 , <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> anglo-saxônica, amplamente <strong>em</strong>pregado peloseconomistas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, ao processo <strong>de</strong> internacionalização econômica “livre”entre os habitantes do planeta e que, portanto, seria melhor apropriado pelo radicalglobo, <strong>de</strong> conotação geográfica. Assim, o termo globalização, amplamente<strong>em</strong>pregado pela mídia, passa a naturalizar-se <strong>em</strong> substituição a terminologiafrancesa mundialização. Essa simples substituição <strong>de</strong> palavras (e aparenteneutralida<strong>de</strong> no uso do termo) trás consigo um significado oculto bastanteimportante. A apropriação do termo mo<strong>de</strong>rno globalização busca romper com asamarras do passado, com mecanismos econômicos “guiados” por uma maiorinfluência estatal e, <strong>de</strong>sta forma, permitir a atuação mais “livre” dos indivíduosatravés dos mercados. Contudo, tal i<strong>de</strong>ologia omite a realida<strong>de</strong> mais dura <strong>de</strong> que oplaneta é formado por países diferentes, <strong>de</strong> culturas diversificadas, <strong>de</strong> forças<strong>de</strong>siguais, on<strong>de</strong> os mais economicamente favorecidos <strong>de</strong>terminam formas sutis <strong>de</strong>submissão cada vez mais pesadas.13 Grifo no original.14“Convém l<strong>em</strong>brar on<strong>de</strong> e como o termo ‘global’ nasceu. Surgiu no começo dos anos oitenta nasgran<strong>de</strong>s escolas americanas <strong>de</strong> ‘Business manag<strong>em</strong>ent’ <strong>em</strong> Harvard, Columbia, Stanford etc.,antes <strong>de</strong> ser popularizado através das obras e artigos dos mais hábeis consultores <strong>em</strong> estratégia <strong>em</strong>arketing oriundos <strong>de</strong>stas escolas – <strong>em</strong> particular Ohmae (1985; 1990) e Porter (1986). Numaperspectiva <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas, o termo foi então utilizado para mandar aos gran<strong>de</strong>sgrupos o seguinte recado: ‘os obstáculos ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> qualquerlugar on<strong>de</strong> exista a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar lucros estão sendo <strong>de</strong>rrubados graças à liberalizaçãoe à <strong>de</strong>sregulamentação; a teleinformática (ou tel<strong>em</strong>atics) e os satélites <strong>de</strong> comunicações colocam asua disposição ferramentas fantásticas <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> controle; vocês <strong>de</strong>v<strong>em</strong> reorganizar-see reformular suas estratégias conseqüent<strong>em</strong>ente’. Essa gênese confirma a idéia segundo a qual setrata, <strong>de</strong> fato, do movimento do capital, porém a ótica das ‘Business schools’ dá uma visão maisrestrita. Torna a globalização um fenômeno apenas <strong>de</strong> tipo microeconômico, <strong>de</strong> modo que aglobalização financeira, por ex<strong>em</strong>plo, surge como um fenômeno totalmente distinto dosinvestimentos diretos estrangeiros e das novas formas <strong>de</strong> organização e administração dasoperações internacionais dos grupos, conquanto se trata <strong>de</strong> processos estreitamente ligados”.(CHESNAIS, 1995, p. 5)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!