149O aumento crescente da produção <strong>de</strong> mercadorias, o <strong>de</strong>sperdício e aobsolescência programada dos produtos são aspectos prepon<strong>de</strong>rantes na gestãoatual dos resíduos sólidos que estão conectados entre si e vinculados <strong>de</strong> formaindissolúvel ao circuito econômico da reciclag<strong>em</strong> e, consequent<strong>em</strong>ente, ao trabalhona catação <strong>de</strong>sses materiais. Nesse sentido, é essencial que se reconheçam as<strong>de</strong>terminações e contradições implícitas a essa ca<strong>de</strong>ia produtiva, cuja lógicaaparent<strong>em</strong>ente é antagônica a tendência reprodutiva <strong>de</strong> mercadorias imposta pelocapital.Do ponto <strong>de</strong> vista técnico, a gestão <strong>de</strong> resíduos cont<strong>em</strong>pla um númerogran<strong>de</strong> <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> beneficiamento e recuperação <strong>de</strong> materiais que, por suavez, implica <strong>em</strong> diferentes formas <strong>de</strong> uso – exploração – da força <strong>de</strong> trabalho nacomplexa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção, circulação e comércio <strong>de</strong> mercadorias. A questãoimplícita da lucrativida<strong>de</strong> da/na reciclag<strong>em</strong> resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que tal forma <strong>de</strong>organização produtiva se estabelece a partir <strong>de</strong> distintas relações econômicas, comreflexo direto <strong>em</strong> aspectos sociais e ambientais.Os catadores <strong>de</strong> materiais recicláveis estão na base da explicação doinvestimento <strong>em</strong> um setor “contrário” a lógica <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> mais e maismercadorias. Como dito anteriormente, no Brasil (como <strong>em</strong> outras partes do mundo),as ca<strong>de</strong>ias produtivas <strong>de</strong> reciclag<strong>em</strong> fundamentam-se na exploração do trabalhorealizado por aqueles que são os principais responsáveis por este circuitoeconômico, trabalhadores estes que se submet<strong>em</strong> a uma carga extenuante <strong>de</strong>trabalho, para auferir uma renda mínima para sua sobrevivência (e <strong>de</strong> seusfamiliares), s<strong>em</strong> contar com benefícios sociais ou vínculo regular <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego. Essaé, <strong>em</strong> essência, a explicação para que se mantenham as condições precarizadasdaqueles que (sobre)viv<strong>em</strong> da cata <strong>de</strong> materiais, viabilizando um ganho concreto,com lucrativida<strong>de</strong> crescente, para os níveis superiores daqueles que participam<strong>de</strong>sse circuito produtivo. GONÇALVES (2001, p. 116-117) esclarece que:(...) o que os trabalhadores catadores recolh<strong>em</strong> nos lixões e nas ruas não é um lixoqualquer, um objeto qualquer, mas produtos que t<strong>em</strong> trabalho humano incorporado e quepossu<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado valor <strong>de</strong> uso para indústria da reciclag<strong>em</strong>, o que possibilita a suacomercialização.Assim, aquele objeto que era ou compunha <strong>de</strong>terminada mercadoria, e <strong>em</strong> um outrocontexto social e econômico foi consi<strong>de</strong>rado lixo, a partir da apropriação feita pelo catadorque irá trocá-lo por dinheiro, recolocando-o novamente <strong>em</strong> um circuito econômico, passará
150por um processo <strong>de</strong> valorização e assumirá novamente variadas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso,ampliando o seu papel no mundo das mercadorias.Sendo assim, a prefeitura <strong>de</strong> Curitiba, buscando “soluções” para enfrentar aquestão do aumento do número <strong>de</strong> catadores <strong>de</strong> materiais recicláveis na cida<strong>de</strong>,procurou <strong>de</strong>senvolver formas alternativas que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>plar uma maiorparticipação sócio-econômica daqueles que viv<strong>em</strong> do lixo, concomitante com uma“conscientização” mais eficiente da população no que diz respeito à questão doconsumo e <strong>de</strong>stino final dos materiais recicláveis.Contudo, posto que toda mercadoria seja produto do trabalho humano,quando convertida <strong>em</strong> material reciclável, readquire valor <strong>de</strong> uso e, uma vezinternalizada na ca<strong>de</strong>ia da reciclag<strong>em</strong>, potencializa-se como valor <strong>de</strong> troca.Entretanto, a recuperação do valor <strong>de</strong> uso, não t<strong>em</strong> por finalida<strong>de</strong> precípua,satisfazer a uma <strong>de</strong>manda social, mas sim garantir a efetivação <strong>de</strong> seu valor <strong>de</strong>troca, mesmo que a um preço vil diante da realida<strong>de</strong> dos catadores, masestritamente <strong>de</strong> acordo com as <strong>de</strong>terminações do sist<strong>em</strong>a capitalista. Se asmercadorias recicláveis passass<strong>em</strong> por um processo <strong>de</strong> valorização na base <strong>de</strong> suaca<strong>de</strong>ia produtiva, se foss<strong>em</strong> encaradas como mercadoria <strong>de</strong> valor consi<strong>de</strong>rável já nomomento <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>scarte pela maioria da população, as condições dadas <strong>de</strong>comercialização não aten<strong>de</strong>riam aos estratos superiores quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>retorno econômico e lucrativida<strong>de</strong> para as indústrias. Tal situação parece ter sidoenunciada por MARX (1988, p.148) quando expôs a questão da seguinte forma:(...) para nosso capitalista trata-se <strong>de</strong> duas coisas. Primeiro, ele quer produzir um valor <strong>de</strong>uso que tenha um valor <strong>de</strong> troca, um artigo <strong>de</strong>stinado à venda, uma mercadoria. Segundo,ele quer produzir uma mercadoria cujo valor seja mais alto que a soma dos valores dasmercadorias exigidas para produzi-las, os meios <strong>de</strong> produção e a forca <strong>de</strong> trabalho, para asquais adiantou seu bom dinheiro no mercado. Quer produzir não só um valor <strong>de</strong> uso, masuma mercadoria, não só valor <strong>de</strong> uso, mas valor e não só valor, mas também mais-valia.Neste caso, evi<strong>de</strong>ncia-se a produção <strong>de</strong> mais-valia, quando se faz aapropriação do trabalho não pago ao catador pelo industrial ou pelo intermediário daca<strong>de</strong>ia da reciclag<strong>em</strong>.Para <strong>de</strong>terminados produtos, o aumento na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação dosmateriais está intimamente relacionado a logística estabelecida entre produção econsumo, <strong>de</strong> forma que a aceleração do circuito não implica <strong>em</strong> um uso mais
- Page 1 and 2:
RONALDO GAZAL ROCHADINÂMICAS ECON
- Page 3 and 4:
AGRADECIMENTOSDefinitivamente o té
- Page 5 and 6:
Aos meus “pais curitibanos”, Fe
- Page 7 and 8:
SUMÁRIOLISTA DE TABELAS ..........
- Page 9 and 10:
LISTA DE QUADROSQUADRO 1 QUANTIDADE
- Page 11 and 12:
RMCRSUSENAISERPROSGRSUSIGRSUSIPARSM
- Page 13 and 14:
ABSTRACTDuring this study an emphas
- Page 15 and 16:
21- INTRODUÇÃOAtualmente, vivemos
- Page 17 and 18:
4desenvolvimento da sociedade capit
- Page 19 and 20:
6produção de bens acaba por gerar
- Page 21 and 22:
8produção e de consumo que almeje
- Page 23 and 24:
10política que, antes de permitir
- Page 25 and 26:
12INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE
- Page 27 and 28:
14Como começou no trabalho com o l
- Page 29 and 30:
16vulgarização em seu uso. Envolv
- Page 31 and 32:
18de postos de trabalho ou cancelam
- Page 33 and 34:
20Em princípio, a internacionaliza
- Page 35 and 36:
22Com isso, a dinâmica da globaliz
- Page 37 and 38:
24a toda parte um nexo contábil, q
- Page 39 and 40:
26maior flexibilidade de gerenciame
- Page 41 and 42:
28complexas, o antigo modelo acaba
- Page 43 and 44:
30ideário produtivista flexibiliza
- Page 45 and 46:
32social: uma crônica do salário
- Page 47 and 48:
34Esse é um quadro de crise das/na
- Page 49 and 50:
36A reestruturação dos processos
- Page 51 and 52:
38trabalho, se reconfigura sua “n
- Page 53 and 54:
40(1995), ou na “desaparição do
- Page 55 and 56:
42mais importantes ocorridas nas re
- Page 57 and 58:
44significante lembrar que emprego
- Page 59 and 60:
46Sendo assim, concorda-se com MÉS
- Page 61 and 62:
483 OS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (
- Page 63 and 64:
50determina profundas alterações
- Page 65 and 66:
52Na Europa, a queima de resíduos
- Page 67 and 68:
54materiais. PENNA (1999, p.28-29)
- Page 69 and 70:
56possuir muitas vezes está na ess
- Page 71 and 72:
58aquilo que se varre da casa, do j
- Page 73 and 74:
60O tema da limpeza urbana está as
- Page 75 and 76:
62capaz de comprometer recursos amb
- Page 77 and 78:
64A PNSB (ibidem, p.49-50) revela q
- Page 79 and 80:
66TABELA 3 - TAXA (EM %) DE LIXO CO
- Page 81 and 82:
68Já em seu art. 24 (ibidem, p.53)
- Page 83 and 84:
70serviços de limpeza, com cobran
- Page 85 and 86:
723.2.2 A gestão de resíduos sól
- Page 87 and 88:
74Inicialmente o projeto de constru
- Page 89 and 90:
76QUADRO 1 - QUANTIDADE DE RESÍDUO
- Page 91 and 92:
78GRÁFICO 3 - QUANTIDADE ANUAL DE
- Page 93 and 94:
80Atualmente o CONRESOL enfrenta um
- Page 95 and 96:
82aterro - como por exemplo os prog
- Page 97 and 98:
843.2.3 Sistemas Integrados de Gere
- Page 99 and 100:
86Como bens ambientais são de dif
- Page 101 and 102:
88duráveis e reparáveis, o que im
- Page 103 and 104:
904 ATORES E INSTITUIÇÕES DA GRSU
- Page 105 and 106:
92número de habitantes. Desta mane
- Page 107 and 108:
94GRÁFICO 7 - EVOLUÇÃO DA COLETA
- Page 109 and 110:
96O exame de determinadas relaçõe
- Page 111 and 112: 98pessoas 67(TABELA 8), com capacid
- Page 113 and 114: 100básicos garantidos por lei e ca
- Page 115 and 116: 102FIGURA 4 - AGENTES QUE INTERAGEM
- Page 117 and 118: 104cidades da Ásia e da América L
- Page 119 and 120: 106O que gostaria de fazer no futur
- Page 121 and 122: 108No denominado Plano Agache, já
- Page 123 and 124: 110importância junto aos programas
- Page 125 and 126: 112buscavam melhores condições de
- Page 127 and 128: 114O importante de se registrar é
- Page 129 and 130: 116dependentes deles - sem uma poss
- Page 131 and 132: 1185.2 A ESTRUTURA IDEALIZADA DO PR
- Page 133 and 134: 120FIGURA 6 - LAYOUT DOS PRRP A R Q
- Page 135 and 136: 122Responsabilizar-se pelo pagament
- Page 137 and 138: 124METAAuto-sustentabilidade dos Pa
- Page 139 and 140: 126Uso de EPIs e EPCs;Direcionament
- Page 141 and 142: 128não seguiu a disposição por n
- Page 143 and 144: 130Esta etapa funcionou muito mais
- Page 145 and 146: 132(E10) Uma das melhor vantagem n
- Page 147 and 148: 134Ao mesmo tempo, quando indagados
- Page 149 and 150: 136estabelecimento de parcerias (GR
- Page 151 and 152: 138para os indivíduos despossuído
- Page 153 and 154: 140seu ingresso no mercado da recic
- Page 155 and 156: 142a estruturação formal dos PRR,
- Page 157 and 158: 144No projeto ainda observa-se um
- Page 159 and 160: 146modalidade de trabalho obedece a
- Page 161: 1486 - CONCLUSÕESAo longo deste tr
- Page 165 and 166: 152ainda esbarra em questões polí
- Page 167 and 168: 154no qual tais práticas de educa
- Page 169 and 170: 156que não é suficiente para gara
- Page 171 and 172: 158BOSI, A. de P. Catadores de reci
- Page 173 and 174: 160KUENZER, A. Z. Desafios teórico
- Page 175 and 176: 162ROMANI, A. P. de. O poder públi
- Page 177 and 178: 16410. Quais os benefícios que a p
- Page 179 and 180: 16626- Qual é a cobertura de atend
- Page 181 and 182: 168APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO ÀS
- Page 183 and 184: 17016- A parceria com a associaçã
- Page 185 and 186: 172APÊNDICE 3 - QUESTIONÁRIO DAS
- Page 187 and 188: 17417- Os associados/cooperados est
- Page 189 and 190: 17635- Qual o nível de participaç
- Page 191 and 192: 178APÊNDICE 4 - QUESTIONÁRIO AOS
- Page 193 and 194: 18034- Antes de ser um associado/co
- Page 195 and 196: 18269- Como ocorre a escolha do pre
- Page 197 and 198: 184Neste caso, responda: 97- Sobre
- Page 199 and 200: 186PARTICIPAÇÃO SÓCIO-CULTURALSo