139(E11) (...) se você não estuda, você não t<strong>em</strong> conhecimento <strong>de</strong> nada, você não consegue um<strong>em</strong>prego bom. S<strong>em</strong> estudo você não consegue. Até pra reciclag<strong>em</strong> aqui, você t<strong>em</strong> queestudar, sabe por quê? Porque, por ex<strong>em</strong>plo, se péga seu material lá, não sabe n<strong>em</strong> somá,você não sabe n<strong>em</strong> quanto você vai ganhá. Até pra trabalhar na reciclag<strong>em</strong> você t<strong>em</strong> queestudar. Daí v<strong>em</strong> lá o documento, t<strong>em</strong> que ficá perguntando. T<strong>em</strong> uma amiga minhatadinha, <strong>de</strong>ram pra ela o estatuto e a mulher mal sabe ler o “a-e-i-o-u”, então alguém t<strong>em</strong>que ler todinho o estatuto pra ela e explicar as coisa pra ela. Então é importante sim.Entrevistador – O que é um bom <strong>em</strong>prego? Bom <strong>em</strong>prego pra mim é ter uma carteiraregistrada. Porque eu acho que o meu serviço é um bom <strong>em</strong>prego, só que eu não tenhocarteira registrada, eu não tenho 13° salário, talvez eu não vá ter direito <strong>de</strong> me aposentádaqui a alguns anos. Bom <strong>em</strong>prego é isso pra mim, uma estabilida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>u?(E17) São... e como são. Se não... Nossa! Se não tiver estudo, não faz serviço melhor, né.Estudo é muito importante pra gente e pros filhos da gente também, né.(E26) “Uhum”. Um bom <strong>em</strong>prego, coisa assim. Um <strong>em</strong>prego que você tivesse beneficio, né,por ex<strong>em</strong>plo, aposentadoria, essas coisa assim. Se eu tivesse <strong>em</strong>pregada agora, não davamais t<strong>em</strong>po também. Até eu chegar na minha ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aposentar, já chegou. Agora se eutivesse tido <strong>em</strong>prego quando eu era mais nova, hoje <strong>em</strong> dia eu po<strong>de</strong>ria estar pensando naminha aposentadoria.Entretanto, a baixa escolarida<strong>de</strong> típica do grupo não é por si só capaz <strong>de</strong>explicar sua condição intrínseca <strong>de</strong> catador. Para muitos <strong>de</strong>les, o envelhecimento ouperda do vigor físico para o trabalho foi prepon<strong>de</strong>rante na <strong>de</strong>terminação da “escolha”da ativida<strong>de</strong> ocupacional. Assim, cerca <strong>de</strong> 63% dos catadores possu<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 30anos (GRÁFICO 12), ainda que muitos tenham iniciado na ativida<strong>de</strong> muito cedo,acompanhando pais ou outros familiares.GRÁFICO 12 – VARIAÇÃO DA IDADE DOS CATADORES DO ECOCIDADÃOPorcentag<strong>em</strong>30,025,020,015,010,05,00,0<strong>de</strong> 31 a 35<strong>de</strong> 26 a 30<strong>de</strong> 21 a 25até 20 anos<strong>de</strong> 51 a 55<strong>de</strong> 46 a 50<strong>de</strong> 41 a 45<strong>de</strong> 36 a 40<strong>de</strong> 56 a 60FONTE: O autorAdicione-se a esse quadro a realida<strong>de</strong> da trajetória <strong>de</strong> trabalho multivariada<strong>de</strong> muitos dos entrevistados que já exerceram outras ativida<strong>de</strong>s laborativas antes <strong>de</strong>
140seu ingresso no mercado da reciclag<strong>em</strong> como catadores e é possível perceber que a“opção” pela cata <strong>de</strong> recicláveis está relacionada à perda da capacida<strong>de</strong> física parao <strong>em</strong>prego <strong>em</strong> questão ou com a trajetória ocupacional tipificada como <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregost<strong>em</strong>porários, informais ou s<strong>em</strong> exigência <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. (BOSI, 2007, p.4).Mesmo consi<strong>de</strong>rando a importância do campo educativo para os catadores<strong>de</strong> materiais recicláveis, o projeto enfrenta, até o presente momento, bastantedificulda<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong> alcançar o objetivo central <strong>de</strong>ssa componente, qual seja, a<strong>de</strong> promover a capacitação dos catadores visando à melhoria das suas condições <strong>de</strong>trabalho e renda, b<strong>em</strong> como sua inserção <strong>em</strong> outras ativida<strong>de</strong>s do mercado <strong>de</strong>trabalho. Ainda que cerca <strong>de</strong> 70% dos catadores conheça alguém que já fez parteda organização, mas não faz mais parte <strong>de</strong>la, poucos são aqueles que conseguiram<strong>de</strong>ixar o mercado “informal” da reciclag<strong>em</strong> e ingressar <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s com registro<strong>em</strong> carteira e jornada <strong>de</strong> trabalho específica 97 .Alguns tópicos voltados à capacitação <strong>de</strong>sses trabalhadores também sãorelevantes no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que o processo educativo para o grupo <strong>em</strong>questão <strong>de</strong>ve enfatizar uma abordag<strong>em</strong> relacionada aos princípios da educaçãopopular. T<strong>em</strong>as trabalhados junto aos catadores como o “Uso <strong>de</strong> EPIs e EPCs”,“Limpeza, higiene e organização <strong>de</strong> EPIs”, “Qualificação profissional” e “Gestãocompartilhada” não são suficientes para inculcar ou alterar hábitos já arraigados.Assim sendo, apesar da maioria dos catadores afirmar que utiliza equipamentos <strong>de</strong>segurança (EPIs), especialmente luvas e botas (93,3%), além <strong>de</strong> uniforme (80%), aobservação no interior dos galpões constatou que tal afirmação está longe <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rser tomada como um hábito que concretamente foi incorporado ao modo <strong>de</strong> trabalhodos catadores. Durante as entrevistas também foi possível verificar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>incorporação <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong> limpeza e higiene por parte <strong>de</strong>sses trabalhadores, nãosendo rara a constatação <strong>de</strong> mãos e roupas sujas <strong>de</strong>vido ao trabalho com o lixo. Otrabalho coletivo, ainda que apareça como el<strong>em</strong>ento estruturante das associações ecooperativas, enfrenta uma dificulda<strong>de</strong> particular, uma vez que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>catação da maioria <strong>de</strong>sses catadores s<strong>em</strong>pre se fez <strong>de</strong> forma isolada e solitária.97Quando indagados acerca dos motivos que fizeram com que seus conhecidos <strong>de</strong>ixass<strong>em</strong> <strong>de</strong>trabalhar na associação/cooperativa, as respostas mais freqüentes são: o fechamento dacooperativa, alcoolismo, atraso no pagamento, crise financeira mundial, conflitos pessoais, intriga,não cumprimento <strong>de</strong> regras, diminuição da renda, falta <strong>de</strong> benefícios, não gostava do serviço.
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