Ronaldo Gazal Rocha - Programa de Pós-Graduação em Educação ...

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93coleta seletiva que almejem um maior envolvimento por parte do catador. Tamanhaquantidade de material produzido e, conseqüentemente, descartado, que a coletaseletiva de resíduos acaba por colocar-se como uma “alternativa técnicasustentável” para a diminuição do material seco encontrado no lixo, na medida emque a coleta regular desconsidera a possibilidade dada de uso de grande quantidadedesses recursos que são destinados diariamente para os aterros ou lixões.A coleta seletiva e a reciclagem com certeza trazem consigo um númeroenorme de vantagens no campo ambiental. Entretanto, as instituições e empresasque desenvolvem essas atividades acabam por gerar impactos positivos em suaimagem na medida em que evocam seu “compromisso ambiental” com um“desenvolvimento sustentável”. Isto permite desenvolver uma percepção coletiva de“responsabilidade ecológica” que lhes favorece com ganhos financeiros diretos –com a economia na compra de insumos e de matéria-prima reciclável, bem como navenda de produtos especializados desse mercado – e indiretos – com o marketingfavorável advindo de uma atividade “ecologicamente correta” que direciona para aaquisição de “mais e novas mercadorias”.Ainda que possa se colocar como atividade interessante do ponto de vistaambiental e econômico, a coleta seletiva atrelada ao mercado da reciclagem ocultauma realidade estranhamente complexa em relação ao seu elo mais basilar, ou seja,o catador de material reciclável. BURSZTYN (2000, p.21) esclarece:Esse imbricamento entre os rejeitos físicos (lixo) e humanos (excluídos) da sociedade revelauma dimensão perversa da modernidade: o aumento da produção de bens comcomponentes cada vez mais descartáveis, paralelamente ao aumento da produção dedesempregados, dois elementos dialeticamente conexos.(...)A vida no e do lixo é o corolário, nesse sentido, de um processo econômico que valoriza areciclagem de materiais para um florescente negócio industrial, ao mesmo tempo em quedesvaloriza o trabalho das populações que são jogadas no meio da rua.Movimentando cerca de R$ 8 bilhões por ano, o setor de reciclagem,apoiado nas iniciativas crescentes de coleta seletiva não é ainda uma atividadeconhecida ou mesmo empregada na maioria dos 5.564 municípios do país(GRÁFICO 7).

94GRÁFICO 7 – EVOLUÇÃO DA COLETA SELETIVA NO BRASIL450Nº. municípios40035030025020015010050081135192237327405199419992002200420062008AnosFONTE: CEMPRE - Pesquisa Ciclosoft, 2008Segundo o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE, 2008),sendo uma atividade pouco incentivada inclusive através de legislações específicas,até 2008, apenas 7% dos municípios brasileiros contavam com programasespecíficos para esse tipo particular de coleta, concentrados em mais de 80% nasregiões Sul e Sudeste do país (GRÁFICO 8).GRÁFICO 8 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS MUNICÍPIOSBRASILEIROS COM COLETA SELETIVA48%35%11%2%4%Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-oesteFONTE: CEMPRE - Pesquisa Ciclosoft 2008

93coleta seletiva que almej<strong>em</strong> um maior envolvimento por parte do catador. Tamanhaquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material produzido e, conseqüent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>scartado, que a coletaseletiva <strong>de</strong> resíduos acaba por colocar-se como uma “alternativa técnicasustentável” para a diminuição do material seco encontrado no lixo, na medida <strong>em</strong>que a coleta regular <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra a possibilida<strong>de</strong> dada <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><strong>de</strong>sses recursos que são <strong>de</strong>stinados diariamente para os aterros ou lixões.A coleta seletiva e a reciclag<strong>em</strong> com certeza traz<strong>em</strong> consigo um númeroenorme <strong>de</strong> vantagens no campo ambiental. Entretanto, as instituições e <strong>em</strong>presasque <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> essas ativida<strong>de</strong>s acabam por gerar impactos positivos <strong>em</strong> suaimag<strong>em</strong> na medida <strong>em</strong> que evocam seu “compromisso ambiental” com um“<strong>de</strong>senvolvimento sustentável”. Isto permite <strong>de</strong>senvolver uma percepção coletiva <strong>de</strong>“responsabilida<strong>de</strong> ecológica” que lhes favorece com ganhos financeiros diretos –com a economia na compra <strong>de</strong> insumos e <strong>de</strong> matéria-prima reciclável, b<strong>em</strong> como navenda <strong>de</strong> produtos especializados <strong>de</strong>sse mercado – e indiretos – com o marketingfavorável advindo <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> “ecologicamente correta” que direciona para aaquisição <strong>de</strong> “mais e novas mercadorias”.Ainda que possa se colocar como ativida<strong>de</strong> interessante do ponto <strong>de</strong> vistaambiental e econômico, a coleta seletiva atrelada ao mercado da reciclag<strong>em</strong> ocultauma realida<strong>de</strong> estranhamente complexa <strong>em</strong> relação ao seu elo mais basilar, ou seja,o catador <strong>de</strong> material reciclável. BURSZTYN (2000, p.21) esclarece:Esse imbricamento entre os rejeitos físicos (lixo) e humanos (excluídos) da socieda<strong>de</strong> revelauma dimensão perversa da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: o aumento da produção <strong>de</strong> bens comcomponentes cada vez mais <strong>de</strong>scartáveis, paralelamente ao aumento da produção <strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados, dois el<strong>em</strong>entos dialeticamente conexos.(...)A vida no e do lixo é o corolário, nesse sentido, <strong>de</strong> um processo econômico que valoriza areciclag<strong>em</strong> <strong>de</strong> materiais para um florescente negócio industrial, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<strong>de</strong>svaloriza o trabalho das populações que são jogadas no meio da rua.Movimentando cerca <strong>de</strong> R$ 8 bilhões por ano, o setor <strong>de</strong> reciclag<strong>em</strong>,apoiado nas iniciativas crescentes <strong>de</strong> coleta seletiva não é ainda uma ativida<strong>de</strong>conhecida ou mesmo <strong>em</strong>pregada na maioria dos 5.564 municípios do país(GRÁFICO 7).

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