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Ariela Cristiane Kawakami - Programa de Pós-Graduação em ...

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colônias na África para utilizar como mão-<strong>de</strong>-obra escrava nos engenhos <strong>de</strong>açúcar do Nor<strong>de</strong>ste. Os comerciantes <strong>de</strong> escravos portugueses vendiam osafricanos como se foss<strong>em</strong> mercadorias aqui no Brasil. Os mais saudáveischegavam a valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos. O transporte era feitoda África para o Brasil nos porões dos navios. Amontoados, <strong>em</strong> condições<strong>de</strong>sumanas, muitos morriam antes <strong>de</strong> chegar ao Brasil, sendo que os corpos eramlançados ao mar.Nas fazendas <strong>de</strong> açúcar ou nas minas <strong>de</strong> ouro (a partir do século XVIII), osescravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam recebendo apenastrapos <strong>de</strong> roupa e uma alimentação <strong>de</strong> péssima qualida<strong>de</strong>. Passavam as noitesnas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentados paraevitar fugas.As mulheres negras também sofreram muito com a escravidão, <strong>em</strong>bora ossenhores <strong>de</strong> engenho utilizass<strong>em</strong> esta mão-<strong>de</strong>-obra, principalmente, paratrabalhos domésticos. Cozinheiras, arruma<strong>de</strong>iras e até mesmo amas <strong>de</strong> leiteforam comuns naqueles t<strong>em</strong>pos da colônia (sua historia. com – Escravidão noBrasil).Os escravos eram “as mãos e os pés uma senhor do engenho, mineirosque respiram materiais nocivos à saú<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver silicose,” e cujaadministração <strong>de</strong>veria, portanto, ser feita sob castigos e recompensas <strong>em</strong>dosagens certas, justas, eficazes (FERREIRA, 2006).Depois da fuga da família real e seu estabelecimento <strong>em</strong> sua principalcolônia americana, no Brasil, iniciou-se um processo <strong>de</strong> ruptura <strong>de</strong> algunstratados, como a proposta <strong>de</strong> abolição dos trabalhadores escravizados, apesar <strong>de</strong>rei D. João VI não concordar com essas mudanças, consi<strong>de</strong>rando que os negóciosdo tráfico <strong>de</strong> cativos africanos, aliados à produção do açúcar, eram os maisprósperos do Oceano Atlântico (FERREIRA, 2006).


"José Bonifácio afirmou, <strong>em</strong> representação enviada à Ass<strong>em</strong>bléiaConstituinte <strong>de</strong> 1823, que a escravidão era um câncer que corroía nossa vidacívica e impedia a construção da nação. A escravidão foi abolida 65 anos após aadvertência <strong>de</strong> José Bonifácio” (SACHS, 2001).A tomada <strong>de</strong> consciência do processo institucional do escravismo brasileiroocorreu apenas no início do século XIX, mais especificamente no contexto dain<strong>de</strong>pendência, tanto pelos viajantes estrangeiros que então percorriam o territóriobrasileiro como, sobretudo, pelos construtores do Império do Brasil. A históricacolonial, que combinava tráfico negreiro e alforrias, teve papel importante para<strong>de</strong>finir o porvir da escravidão nos quadros do Estado nacional brasileiro(MARQUESE, 2006).Des<strong>de</strong> o final da abolição até a década <strong>de</strong> 1930, a omissão foi à questãodo trabalho negro, os informativos médicos, no Brasil, não indicaram um só artigono qual fosse atribuída a morbida<strong>de</strong> ou mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus pacientes negros ouqualquer referência sobre esse gênero, <strong>em</strong>bora foss<strong>em</strong> eles, a principal força <strong>de</strong>trabalho no país (SHEPPARD, 2001). Diferente <strong>de</strong> alguns médicos brasileiroseugenistas 3 que tentaram enten<strong>de</strong>r e explicar a crise <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que afetou apopulação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scendência africana no seu país.________________________________________________________________________3 Durante os anos 1920, o movimento eugenista se <strong>de</strong>slocaria para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> ganharianovo fôlego <strong>em</strong> meio ao crescente nacionalismo que estimulava gran<strong>de</strong> parte da intelectualida<strong>de</strong>local. Convencidas do po<strong>de</strong>r da ciência <strong>em</strong> estabelecer uma nova or<strong>de</strong>m ao mundo, a elitebrasileira entendia que a eugenia po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar um papel importante no sentido <strong>de</strong> auxiliara regeneração nacional, orientando o Brasil a seguir o trilho do progresso e do tão almejado“concerto das nações civilizadas”. Neste sentido, como explica Nancy Stepan, a “eugenia no Brasil<strong>de</strong>ve ser vista como parte <strong>de</strong> um entusiasmo generalizado pela ciência como ‘sinal’ <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> cultural”. Para o eugenista Renato Kehl, a eugenia representava muito mais que sinal<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> cultural, “ela é mais que ciência, é religião, religião da saú<strong>de</strong>, do corpo e doespírito – a verda<strong>de</strong>ira religião da humanida<strong>de</strong>” (Souza, p.2).


1Já o Catálogo Médico Paulista, entre 1860 -1936, <strong>de</strong> José Andra<strong>de</strong> Maia,apresenta somente quatro trabalhos sobre raça, e cinco sobre negros. Além disso,<strong>em</strong> nenhum dos 73 trabalhos sobre tuberculose, 217 sobre lepra e 128 sobre sífilis,incluiu-se qualquer referência a "negros" nos títulos (SHEPPARD, 2001).Em 1850, no Brasil, começaram a surgir estudos saú<strong>de</strong> do trabalhador a partirda influência francesa, <strong>de</strong>stacando-se “Das fábricas <strong>de</strong> Charuto e Rapé, da Capital eseus Arrabal<strong>de</strong>s”, um trabalho escrito por Mendonça (MENDES, 1995, p. 9). Esseapresentou uma lista <strong>de</strong> doenças que acometiam os trabalhadores <strong>de</strong>ssas fábricas einformava que os proprietários estavam convencidos da inocuida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>anaçõese não tomaram nenhuma precaução para preservar a saú<strong>de</strong> dos trabalhadores.Esse e outros estudos e pesquisas iniciaram, no Brasil, com Louis Pasteur(1822- 1895) e seu aliado Robert Koch (1843-1910), difundindo a idéia <strong>de</strong> que “paracada doença existe um agente etiológico”. Esse período preconizou a higiene, quei<strong>de</strong>ntificava as causas e previnia à ocorrência <strong>de</strong> doenças, passando a ser chamada<strong>de</strong> Higiene Industrial 4 .A idéia <strong>de</strong> Koch era a prevenção ou a erradicação da doença por meio <strong>de</strong>medidas higiênicas ou pela imunização. Assim, as doenças dos trabalhadores játinham sido nomeadas e associadas aos agentes etiológicos, agentes esses quepo<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>nominados: químicos, físicos e biológicos 5 .Os agentes químicos são substâncias, compostos ou produtos que possampenetrar no organismo pela via respiratória, pele ou ingestão. Po<strong>de</strong>m se apresentarnas formas <strong>de</strong> poeira, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores.Os agentes físicos se apresentam nas formas <strong>de</strong> energia como: ruído, vibrações,pressões, t<strong>em</strong>peraturas extr<strong>em</strong>as, radiações ionizastes, radiações não ionizantes,etc. (MANUAIS ATLAS, 2001, p.103).Os agentes biológicos são os fungos, bactérias e vírus que po<strong>de</strong>mcomprometer a saú<strong>de</strong> do trabalhador conforme a exposição, contato ou serabsorvidos pelo organismo através da pele ou ingestão._____________________________________________________________________________________________________________________________4 Higiene Industrial, que colaborou na investigação e no agir no local <strong>de</strong> trabalho.5 Agentes biológicos- Manuais <strong>de</strong> Legislação Atlas - Norma Regulamentadora nº. 9 (NR 9) <strong>Programa</strong><strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Riscos Ambientais, 2001, p.103.1


4Assim foi promulgada <strong>em</strong> 1919, a 1ª “Lei <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho”. Estareforçou a teoria do risco profissional, a intervenção da autorida<strong>de</strong> policial nasocorrências <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho.Com a Reforma Carlos Chagas, “... no início dos anos 20, a Higiene doTrabalho é ainda consi<strong>de</strong>rada uma atribuição da Saú<strong>de</strong> Pública, sendoinstitucionalmente alocada no Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Em 1923,foi aprovado o ”Regulamento Sanitário” <strong>em</strong> 1930 a estruturação da Inspetoria <strong>de</strong>Higiene Industrial, órgão integrante do Ministério da Justiça e Negócios Interiores.’’(LACAZ, 1996, p. 14).Este Regulamento Sanitário foi elaborado baseando-se nas ações <strong>de</strong> controlesanitário. Não tinha caráter público e sim individual, on<strong>de</strong> o indivíduo era controladocomo estratégia <strong>de</strong> evitar doenças e as causas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.No mesmo ano (1930), foi criado o Ministério do Trabalho, que “... com apreocupação cada vez maior pela saú<strong>de</strong> do trabalhador não fez, entretanto,nenhuma exigência quanto à presença, nas fábricas, <strong>de</strong> médicos e/ou outrosprofissionais ligados à área da Saú<strong>de</strong> Ocupacional.” (FERREIRA, 1992, p.7)Em 1934, foram nomeados os primeiros inspetores-médicos do trabalho, pararealizar<strong>em</strong> a inspeção higiênica nos ambientes <strong>de</strong> trabalho. Esses inspetores foramdirecionados, posteriormente, ao Serviço <strong>de</strong> Higiene do Trabalho, sobresponsabilida<strong>de</strong> do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, retirando assim asatribuições do setor <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública.Nesse período, foram promulgadas diversas leis específicas como: “Lei <strong>de</strong>Férias” e “Código <strong>de</strong> Menores”, <strong>em</strong> 1926; além da “Proteção do Trabalho <strong>de</strong>Mulheres”, <strong>em</strong> 1932.A aprovação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), <strong>em</strong> 1943,incorporou diversas Leis <strong>de</strong> proteção aos trabalhadores, como as anteriormente<strong>de</strong>scritas e também estabeleceu a Higiene e Segurança do trabalhador.Em 1959, novamente aparece a proposta <strong>de</strong> instituir os ServiçosEspecializados <strong>em</strong> Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), através da OIT queaprovou a Recomendação nº. 112.A equipe <strong>de</strong>veria então ser composta por profissionais Médicos, Enfermeiros,Engenheiros, Auxiliares e Supervisores especificamente formados e qualificados <strong>em</strong>Segurança e Medicina do Trabalho. A contratação <strong>de</strong>sses funcionários seria4


6“...Pouco ou nada se t<strong>em</strong> feito, entretanto, <strong>em</strong> termos da prevenção da integrida<strong>de</strong>física e mental e da promoção da Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, como consta na Portarianº.3214/1978, NR 4 – Serviços Especializados <strong>em</strong> Segurança e Medicina doTrabalho, a dimensão está <strong>em</strong> que a prevenção primária e a Educação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>assumam papéis prepon<strong>de</strong>rantes no âmbito da Saú<strong>de</strong> Pública .”(FERREIRA,1992, p. 7)O número <strong>de</strong> profissionais formados foi insuficiente para fazer cumprir aLegislação. Sendo assim, a OPAS consi<strong>de</strong>rou a ineficiência e reafirmou que aSaú<strong>de</strong> Ocupacional <strong>de</strong>veria ter uma estratégia <strong>de</strong> vinculação ou integração <strong>de</strong>programas nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial.Outra questão importante é que essa teoria não atingindo ainterdisciplinarieda<strong>de</strong> e as medidas para propiciar a saú<strong>de</strong> no trabalho, <strong>de</strong> formamais ampla, se restringiram à ações pontuais sobre os riscos mais evi<strong>de</strong>ntes.Em 1987, no Estado <strong>de</strong> São Paulo, mais <strong>de</strong> 800 mulheres operárias <strong>de</strong> umaindústria têxtil (Valisere) fizeram uma das mais importantes greves do país, incluindotrabalhadoras <strong>de</strong> outras <strong>em</strong>presas como: PHILCO e Indústrias metalúrgicas, quetambém participaram das manifestações. Esses movimentos tinham o objetivo <strong>de</strong>reivindicar melhores condições <strong>de</strong> trabalho, redução da carga horária, que era <strong>de</strong> 11horas diárias, respeito pelas trabalhadoras que sofriam estupros, abortosprovocados pelos médicos da <strong>em</strong>presa e pressões <strong>de</strong>ntro das <strong>em</strong>presas para nãotivess<strong>em</strong> filhos.Na história socioeconômica do Brasil, o trabalho infantil s<strong>em</strong>pre estevepresente. Trabalhos infantis insalubres, perigosos ou penosos <strong>em</strong> carvoarias,plantações <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, <strong>de</strong> laranja ou pedreiras ocupavam os pequenos. Asfamílias <strong>de</strong> imigrantes italianos, al<strong>em</strong>ães e poloneses do sul do país inseriram acriança no trabalho como uma maneira <strong>de</strong> ensinar um ofício e ajudar na renda dafamília.A industrialização no Brasil foi <strong>de</strong>senvolvida, através das <strong>em</strong>presas têxteis, eestas comprometendo os trabalhadores no horário <strong>de</strong> 5 horas da manhã até 22horas. As mulheres e crianças eram os mais procurados para realizar<strong>em</strong> as funçõesnesse tipo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presa. BORIS FAUSTO <strong>de</strong>clarou que o pior é que as criançastinham ida<strong>de</strong> <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 7 anos e eram as que mais sofriam mutilações porqueadormeciam nas máquinas ligadas (MENDES, 1995, p.13).6


7Este trabalho t<strong>em</strong> enfoque no conceito <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, porém, paraque esse se estabelecesse foi preciso percorrer diversas etapas, como já foiapontado anteriormente. No início do século XX vigorava a Higiene Industrial,consequent<strong>em</strong>ente, prevalecia o conceito <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Ocupacional, que seapresentava <strong>de</strong> forma multidisciplinar, envolvendo profissionais <strong>de</strong> diversas áreas. Ahigiene do trabalho atuava sobre o ambiente, a engenharia <strong>de</strong> segurança dotrabalho relacionava os dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte e buscava os agentes patogênicosexistentes no local <strong>de</strong> trabalho. Esses dividiam-se <strong>em</strong> agentes físicos, químicos,biológicos e mecânicos, indicando as medidas <strong>de</strong> segurança para cada caso(PORTO, 1994).Des<strong>de</strong> o final da década <strong>de</strong> 60, <strong>em</strong> conseqüência <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong>mudanças que v<strong>em</strong> se conformando, os trabalhadores começam a explicitar sua<strong>de</strong>sconfiança <strong>em</strong> relação aos profissionais da Saú<strong>de</strong> Ocupacional, principalmente noque diz respeito aos exames médicos admissionais e periódicos. As investigações<strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador buscam superar o foco no trabalhador e no seu ambiente<strong>de</strong> trabalho, tal como a Medicina do Trabalho.A Medicina do Trabalho, por sua vez, <strong>de</strong> forma restrita sofreu críticas <strong>de</strong>vidoà concepção <strong>de</strong> unicausalida<strong>de</strong>, ou seja, é restrita sendo que cada doença <strong>de</strong>via terum agente etiológico. Portanto, a medicina do trabalho atuava sobre asconseqüências, e no tratamento médico agia <strong>em</strong> função <strong>de</strong> sintomas e sinais. Dessaforma, não é capaz <strong>de</strong> superar o enfoque biológico, ignorando outros fatores queenvolvam as relações psicossociais que traz<strong>em</strong> conseqüências para a saú<strong>de</strong> dotrabalhador. (GOMEZ-MINAYO & THEDIN-COSTA, 1997)A Medicina do Trabalho nos anos <strong>de</strong> 1970, época do governo militar tive umimportante papel, o <strong>de</strong> aliar-se aos <strong>em</strong>presários/patrões contra o absenteísmo,seleção <strong>de</strong> pessoal, ou seja, a favor da produção e do lucro.Este conceito não permite uma análise <strong>de</strong> essência da relação trabalho-saú<strong>de</strong>(GARCIA 1983, por LACAZ, 1996, p. 39). Isto significa que não é possível i<strong>de</strong>ntificare <strong>de</strong>terminar o aparecimento, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> diagnósticos médicos com otrabalho.Já no Processo Saú<strong>de</strong> – Doença a analise basea-se <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> sua<strong>de</strong>terminação causal, o que significa que representa o conjunto <strong>de</strong> relações evariáveis que produz<strong>em</strong> e condicionam o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e doença <strong>de</strong> uma7


8população, que varia nos diversos momentos históricos e do <strong>de</strong>senvolvimentocientífico da humanida<strong>de</strong>. Também são consi<strong>de</strong>rados nesse processo os fatoresbiológicos, econômicos, culturais e sociais.Atualmente, as discussões sobre a saú<strong>de</strong> do trabalhador estão centradas no"Processo <strong>de</strong> Trabalho". Nesse cenário <strong>de</strong> produção capitalista, prevalece asubmissão dos trabalhadores às condições impostas pelo capital; assume, portanto,um caráter <strong>de</strong> exploração (FREIRE, 1998).Já Medicina Social propõe um conceito <strong>de</strong> trabalho que incorpora a idéia <strong>de</strong>processo <strong>de</strong> trabalho, na qual o foco não fica restrito a meio, mas constituída dosvários fatores/agentes <strong>de</strong> risco e externo ao trabalhador, mas como uma "categoria"explicativa que se inscreveria nas relações sociais <strong>de</strong> produção existentes entre ocapital e o trabalho" (LACAZ, 1996, p.23).A Saú<strong>de</strong> do Trabalhador t<strong>em</strong> suas origens na medicina social e na saú<strong>de</strong>coletiva. Apresenta como pr<strong>em</strong>issa básica, o enfoque na relação saú<strong>de</strong>/trabalho,compreen<strong>de</strong>ndo o processo <strong>de</strong> adoecimento dos trabalhadores, através do estudodos processos <strong>de</strong> trabalho (LAURAURELL & NORIEGA, 1989).Portanto, o objeto <strong>de</strong>ssa dissertação é a capacitação, a formação <strong>de</strong>profissionais <strong>em</strong> vigilância sanitária, especificamente, na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dosTrabalhadores á luz dos aportes trazidos pelas Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Saú<strong>de</strong> doTrabalhador, e pela Legislação vigente. O trabalho está dividido <strong>em</strong> três capítulos:No Capítulo 1, processo histórico será apresentado o processo histórico,Descrevendo o que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou as atribuições da Vigilância Sanitária naárea <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, as conquistas sociais como as Conferências <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> Nacionais, Estaduais, as Conferências específicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.Também serão apresentados os órgãos responsáveis pelas ações na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>do Trabalhador.No final dos anos 1970, a classe operária começa a atuar fort<strong>em</strong>ente, o queproporcionou a criação da Comissão Intersetorial da Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CISAT),formado por 9 ( nove) representantes <strong>de</strong> sindicatos, sendo 3 <strong>de</strong>les dos metalúrgicos.A partir daí um movimento <strong>de</strong> esquerda que lutava pela <strong>de</strong>mocracia e <strong>de</strong> incentivoaos sindicatos proporcionou um processo mais criativo e envolvido dos sindicatosorganizando s<strong>em</strong>inários <strong>de</strong>bates e produzindo textos e disponibilizando para apopulação.8


9Assim, o Movimento Sindical passou a protagonizar, <strong>de</strong> maneira explícita, ocenário das lutas pela melhoria das condições <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong>fesa da saú<strong>de</strong>.No Brasil, mesmo prevalecendo o atendimento reducionista, por meio <strong>de</strong> umaestratégia <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> risco, houve a introdução <strong>de</strong> ummovimento na contra-mão da privatização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que viria a serconhecido como Reforma Sanitária. Inicia-se com o movimento <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização dasaú<strong>de</strong> pública, a partir da implantação do mo<strong>de</strong>lo preventivista.No fim dos anos sessenta, nos currículos das faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medicina e dasduas escolas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> públicas então existentes no Brasil, a Escola Nacional <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> Pública - Ministério da Saú<strong>de</strong>/ Rio <strong>de</strong> Janeiro, e da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Pública da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Enfim, procurava-se reorientar aformação médica nos parâmetros da Medicina Social e <strong>de</strong> umaEpi<strong>de</strong>miologia renovada e não mais continuar neste mo<strong>de</strong>lo.Já década <strong>de</strong> 70 até a meta<strong>de</strong> da <strong>de</strong> 80 é o t<strong>em</strong>po da gestação e<strong>de</strong>senvolvimento do Movimento da Reforma Sanitária, com aprofundamento dacrítica teórica e conceitual da Saú<strong>de</strong> Pública e da Medicina Preventiva e dosmo<strong>de</strong>los teóricos e práticos dali <strong>de</strong>rivados: a Medicina Comunitária e a IntegraçãoDocente Assistencial. Esse processo baseou-se <strong>em</strong> três aspectos (VILAÇA, 1995,p.42):Esse movimento <strong>de</strong> Reforma Sanitária interferiu na elaboração <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> nos anos <strong>de</strong> 1980-1990, acompanhando o processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratizaçãopelo qual passava o Brasil.1º) A Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser abrangente, resultante das condições <strong>de</strong> alimentação,habitação, educação, trabalho, transporte, etc, ressaltando as formas <strong>de</strong>organização social e <strong>de</strong> produção que po<strong>de</strong>m gerar gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.2º) A base da cidadania é o <strong>de</strong>ver do Estado. As políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong>reconhecer o direito igual <strong>de</strong> todos às ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.3º) O caráter estratégico <strong>de</strong>ve propor a participação popular, a integralida<strong>de</strong>das ações, a universalida<strong>de</strong> da cobertura e a <strong>de</strong>scentralização das ações.Em 1980, o envolvimento cada vez maior <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s sindicais, participando<strong>de</strong> forma articulada e suprapartidária, resultou na criação do DepartamentoIntersindical <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e do Ambientes <strong>de</strong> Trabalho(DIESAT).9


10LACAZ fala que o DIESAT é um organismo <strong>em</strong> que atuam intelectuais quepassam a fazer diretamente intermediação entre ciência e classe operária,produzindo conhecimento técnico da prática sindical e aspectos <strong>de</strong> ReformaSanitária e Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (LACAZ, 1996, p. 21).O Movimento <strong>de</strong> Reforma Sanitária 9 v<strong>em</strong> culminar seus projetos na 8ªConferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (VIII CNS) e na I Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>dos Trabalhadores (I CNST), tendo suas propostas formuladas, preconizadas elegitimadas nessas Conferências.A Conferência reafirma enfaticamente que a Saú<strong>de</strong> – estado <strong>de</strong> completob<strong>em</strong>-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência <strong>de</strong> doença ouenfermida<strong>de</strong> – é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais altonível possível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é a mais importante meta.A 8ª CNS teve como <strong>de</strong>sdobramento imediato um conjunto <strong>de</strong> trabalhostécnicos <strong>de</strong>senvolvidos pela Comissão Nacional <strong>de</strong> Reforma Sanitária, os quaisforam utilizados concomitant<strong>em</strong>ente no processo <strong>de</strong> implantação do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, respaldados na Constituição (MENDES, 1995, p.43).Segundo Lacaz, a Constituição <strong>de</strong> 1988 significou consagração da luta dasocieda<strong>de</strong> civil. A Constituição incorpora um conjunto <strong>de</strong> conceitos, princípios ediretivas extraídas da prática corrente, proposta na lógica organizacional da ReformaSanitária, ou seja, o Conceito <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é uma expectativa <strong>de</strong> articulações políticas;<strong>de</strong> políticas sociais e econômicas; no entendimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> relevânciapública nas ações e serviços e são direito universais (1996, p.4).Na Lei Orgânica da Saú<strong>de</strong>, Lei nº. 8080 <strong>de</strong> 1990, que <strong>de</strong>fine as atribuições doSUS, é perceptível a influência da Constituição <strong>de</strong> 88, especificamente nos título VII– Capítulo II, Seção II, Artigo 196-200 10._____________________________________________________________________________________________________________________________9 STOTZ, 2003, p. 28-29. Movimento Sanitário começou por volta <strong>de</strong> 1976, como um dos<strong>de</strong>sdobramentos da vitória eleitoral do MDB, do qual participou gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> profissionais etécnicos da área da saú<strong>de</strong> vinculados ao partido comunista. A perspectiva e aglutinação dastendências renovadoras do setor saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> nível profissional, era uma manifestação política <strong>de</strong> umafrente <strong>de</strong>mocrática ampla li<strong>de</strong>rada por militantes ligados ao Partido Comunista do Brasil.10Ver a transcrição do artigo <strong>em</strong>: Central Única dos Trabalhadores (CUT) - Saú<strong>de</strong>, Meio Ambiente eCondições <strong>de</strong> Trabalho - Conteúdos Básicos Para Uma Ação Sindical ” Lei Orgânica da Saú<strong>de</strong><strong>de</strong>termina que o SUS nas três esferas <strong>de</strong> governo <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>senvolver ações relativas às condições eaos ambientes <strong>de</strong> trabalho, implantando programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador” p.17-25. Gestão1994/97.10


11Fazendo uma comparação SUS e a Declaração <strong>de</strong> Alma-Ata, percebece queexist<strong>em</strong> alguns pontos <strong>em</strong> comum: primeiro: a “saú<strong>de</strong> para todos” – um dos“princípios norteadores” <strong>de</strong>ste Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>; segundo: a universalida<strong>de</strong> noatendimento e saú<strong>de</strong> pública; terceiro: os municípios e estados, e também a União,têm <strong>de</strong> compor um Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, para fiscalizar e avaliar as políticas públicasda área.A participação da comunida<strong>de</strong> na gestão do SUS também foi garantida na lein°. 8142 <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1990 – que dispõe sobre o direito e o <strong>de</strong>ver dapopulação participar individual ou coletivamente no planejamento e naimpl<strong>em</strong>entação da atenção à saú<strong>de</strong>; isso po<strong>de</strong> ser encarado como uma menção àprática do Controle Social.Essa participação <strong>de</strong>ve ser feita por meio dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> formados<strong>em</strong> todos os Municípios e Estados, e União, que têm a função <strong>de</strong> fiscalizar e avaliaras políticas públicas <strong>de</strong>ssa área. Um Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é formado por usuários doSUS, trabalhadores da saú<strong>de</strong>, gestores governamentais e prestadores <strong>de</strong> serviçosprivados, como instrumento <strong>de</strong> participação da socieda<strong>de</strong> no acompanhamento eavaliação das ações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública, b<strong>em</strong> como na execução das políticaspúblicas. Além disso, os conselheiros po<strong>de</strong>m participar das Conferências Nacionais<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong> quatro <strong>em</strong> quatro anos e serv<strong>em</strong> para fazer uma gran<strong>de</strong>discussão com <strong>de</strong>legados eleitos <strong>em</strong> todo o Brasil para propor novas ações aogoverno.A construção do Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> no Brasil é um processoque acompanha o projeto da Reforma Sanitária e da construção social do SUS.O Capítulo 2 <strong>de</strong>monstra as atribuições da Vigilância Sanitária na área <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador e também indica as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aí existentes; combase nos conceitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r soberano, po<strong>de</strong>r disciplinar e <strong>de</strong> Biopo<strong>de</strong>r, busca-seanalisar as práticas <strong>de</strong>senvolvidas na Vigilância Sanitária rotineiramente;conseqüent<strong>em</strong>ente, serão apresentados dados sobre aci<strong>de</strong>ntes e doençasprofissionais no Brasil e no Estado do Paraná.A influência das Conferências proporcionou também várias conquistas, <strong>de</strong>ntreelas: a aprovação <strong>de</strong> propostas, as quais foram incorporadas na ConstituiçãoFe<strong>de</strong>ral, que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a Lei Orgânica da Saú<strong>de</strong>.11


12Um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> conquista atribuída às Conferências foi instituição <strong>em</strong> lei dafunção fiscalizadora Vigilância Sanitária na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, a qualt<strong>em</strong> reforçado as ações <strong>de</strong> vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, ou seja, <strong>em</strong> ações integradas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e meio ambiente.Antes da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vigilância, já haviam sido regulamentadas eimpl<strong>em</strong>entadas ações <strong>de</strong> fiscalização sanitária, com o objetivo <strong>de</strong> reor<strong>de</strong>nar osespaços <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> moradia, reduzindo a exposição das pessoas a lugaresinsalubres, segundo as concepções da higiene e da teoria dos miasmas então <strong>em</strong>vigência.Essa proposta <strong>de</strong> controle público dos espaços urbanos, na época justificadapela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir a mortalida<strong>de</strong> e assegurar a reprodução da força <strong>de</strong>trabalho, foi um importante componente do movimento sanitário que <strong>de</strong>u início aoprocesso <strong>de</strong> vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador.Para Foucault (1975), a vigilância se apóia num sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> registropermanente, contendo nome, ida<strong>de</strong>, sexo e todas as informações necessárias e que,posteriormente, serão dados escritos <strong>em</strong> relatórios e entregues para os diversosníveis (1975, p.163), nesse caso, Fe<strong>de</strong>ral, Estadual e Municipal, ou seja, um po<strong>de</strong>rhierarquizado, <strong>em</strong> que a vigilância torna um operador econômico <strong>de</strong>cisivo, que é, aomesmo t<strong>em</strong>po, uma peça interna no aparelho e é uma engrenag<strong>em</strong> específica dopo<strong>de</strong>r disciplinar (1975, p.147).Assim, os inspetores (profissionais da Vigilância Sanitária), ao invés <strong>de</strong>atuar<strong>em</strong> como instrumentos modificadores da consciência e dos procedimentos <strong>de</strong>segurança; <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte e melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e trabalho;<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> lado os operários, objetivos e responsabilida<strong>de</strong>s, e se tornamimpulsionadores da produção, conseqüent<strong>em</strong>ente, do lucro.Em consonância com as ações <strong>de</strong> Vigilância, está a interpretação <strong>de</strong>Foucault, <strong>em</strong> que a vigilância repousa sobre os indivíduos seu funcionamento,montada como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> alto para baixo, e <strong>de</strong> cima e lateralmente,<strong>de</strong> forma que este po<strong>de</strong>r sustente um sobre os outros; portanto, fiscais sendofiscalizados (1975, p.148).O Capítulo 3 é o principal, porque trata do objeto <strong>de</strong>ssa dissertação. Aquibuscou-se verificar a formação dos profissionais para atuar <strong>em</strong> vigilância sanitária12


13<strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador. Logo foi imprescindível analisar os treinamentosoferecidos institucionalmente, sua qualida<strong>de</strong>, efetivida<strong>de</strong> e a didática <strong>em</strong>pregada.Consi<strong>de</strong>rando que as informações obtidas na pesquisa documental nãoproporcionaram informações suficientes para esclarecimento sobre as questões dostreinamentos realizados pela Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, optou-se por realizar entrevistascom os técnicos.Foram aplicadas 15 perguntas (anexos 2 e 3) abordando diversos assuntospertinentes à área <strong>de</strong> S.T. Porém, serão apresentadas <strong>em</strong> quatro blocos quecont<strong>em</strong>plam os t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> maior interesse: saber se os objetivos do treinamentosforam alcançados; se esses treinamentos foram <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e ministradosdidaticamente; se foram relevantes para atuação dos técnicos da área <strong>de</strong> S.T. ; oque po<strong>de</strong> ser melhorado nesses treinamentos.A análise dos treinamentos incluiu todos aqueles que foram i<strong>de</strong>ntificadosatravés <strong>de</strong> documentos/informações, baseando-se no período <strong>de</strong> início das ações <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no Estado do Paraná, até os dias <strong>de</strong> hoje (2006). Tambémnão foram organizados por t<strong>em</strong>a, mas por data. (Os treinamentos serão avaliadosindividualmente, no it<strong>em</strong> 3.2.1.)Também tratou-se da Organização dos Serviços na Secretaria <strong>de</strong> Estado doParaná, a qual conta com ações na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do trabalhador como o CentroEstadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CEST); Hospital do Trabalhador (HT); Sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho (SISCAT); Comitê <strong>de</strong> Investigações <strong>de</strong>Óbitos e Amputações.Em 1991, iniciou-se o primeiro serviço no Paraná especializado <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> dotrabalhador <strong>de</strong>nominado Grupo <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.A Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador e o Centro Metropolitano <strong>de</strong> Apoioà Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CEMAST) realizaram treinamentos, cursos e oficinas paraos técnicos da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador. Os cursos, treinamentos e oficinasserão apresentados e avaliados mediante os documentos encontrados referentes acada treinamento, correlacionando com a opinião dos técnicos da VigilânciaSanitária que elaboraram treinamentos e aqueles que participaram <strong>de</strong>stes. Oobjetivo <strong>de</strong>ssa avaliação foi revelar se os treinamentos atingiram seus objetivos, seforam elaborados <strong>de</strong> forma didática, se aten<strong>de</strong>ram as necessida<strong>de</strong>s dos técnicos <strong>em</strong>treinamento.13


14Passou a fazer parte das ações <strong>de</strong>senvolvidas pelo Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>– SUS - a partir da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, que, <strong>em</strong> seu artigo 200, inciso II,<strong>de</strong>fine que compete ao SUS executar ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.Antes <strong>de</strong> 1990, o Departamento <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia, através do Centro <strong>de</strong>Doenças não Transmissíveis, começou a atuar na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador,analisando as informações das CAT’s e i<strong>de</strong>ntificando os aci<strong>de</strong>ntes e doenças doTrabalho. Depois <strong>de</strong>ssa iniciativa, a Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Paranácomeçou a estruturar o Serviço <strong>de</strong>nominado Coor<strong>de</strong>nação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador.No início da década <strong>de</strong> 1990, esse serviço foi criado com um grupo <strong>de</strong>composto por técnicos da Vigilância Sanitária, da Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica e daAssistência. Assim, aten<strong>de</strong>ndo à necessida<strong>de</strong>, começaram a promover treinamentospara técnicos <strong>de</strong> Vigilância Sanitária das Regionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e <strong>em</strong> algunsmunicípios, os quais serão abordados na seqüência.Em 1991, foi formada a primeira equipe <strong>de</strong> S.T. <strong>de</strong>nominada Grupo <strong>de</strong>Coor<strong>de</strong>nação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, a primeira equipe <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador do Estado do Paraná. Tinha o objetivo <strong>de</strong> organizar os serviços, comuma visão <strong>de</strong> vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Visão <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> significacompl<strong>em</strong>entar ações; por ex<strong>em</strong>plo, a vigilância epi<strong>de</strong>miológica faz a análise dosagravos à investigação epi<strong>de</strong>miológica e a Vigilância Sanitária faz a inspeção local enos ambientes <strong>de</strong> trabalho.A análise feita por um dos entrevistados mostra que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, a área <strong>de</strong>S.T. sofre com a falta <strong>de</strong> R.H., formada por apenas 6 pessoas, a equipe coor<strong>de</strong>navaações <strong>de</strong> S.T. <strong>em</strong> todo o Estado do Paraná. Isto <strong>de</strong>monstra que essa área não épriorida<strong>de</strong>.Os técnicos envolvidos nesta equipe se <strong>de</strong>cepcionaram porque não ocorreu oque eles pretendiam, ou seja, prevaleceram as ações básicas <strong>de</strong> treinamento, daVigilância Sanitária, e foi fortalecido o mo<strong>de</strong>lo seguido pelo Estado e pelosMunicípios do Paraná, sendo priorida<strong>de</strong>s as áreas <strong>de</strong> Produtos e Serviços,Alimentos e Saú<strong>de</strong> Ambiental. Apesar <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> preconizadas na lei 8080/90, asações <strong>de</strong> S.T. são realizadas somente para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda.Em 1996 foi formalizada a Comissão Intersetorial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador(CIST), que elaborou um relatório o qual foi enviado para a Coor<strong>de</strong>nação Estadual.14


15Esse relatório tinha o objetivo <strong>de</strong> diminuir os riscos à saú<strong>de</strong> no ambiente <strong>de</strong> trabalho,além <strong>de</strong> garantir acesso à assistência, à saú<strong>de</strong>, conforme a necessida<strong>de</strong> e oconhecimento da situação epi<strong>de</strong>miológica <strong>de</strong> cada município. A CIST propunha,juntamente com a CES, incorporar as ações <strong>de</strong> S.T. à rotina dos técnicos. Dentre aspropostas, <strong>de</strong>stacam-se as seguintes: <strong>de</strong>finir diretrizes das macro-regionais eestratégias <strong>de</strong> ação entre as instituições, planejar investimentos e <strong>de</strong>finir o mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> Assistência à saú<strong>de</strong> como base <strong>de</strong> municipalização.No que se refere à capacitação dos técnicos é importante <strong>de</strong>stacar que osprofissionais que trabalhavam nesta área t<strong>em</strong> a formação <strong>de</strong> farmacêutico,enfermeira, médico, assistente social, engenheiro civil dos quais não tinhamformação específica na área <strong>de</strong> S.T e n<strong>em</strong> <strong>em</strong> Segurança do Trabalho.Entre os anos <strong>de</strong> 1996 e 1998, os Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador noEstado sofreram muitas modificações, os técnicos relatam nas entrevistas que estaárea não é priorida<strong>de</strong> na gestão publica e não <strong>de</strong>sperta interesses dos gestores.Para justificar a implantação do CEMAST, foram utilizados os seguintesdados: aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, com um total <strong>de</strong> 32.142; 380 óbitos, e 328 casos <strong>de</strong>doenças profissionais <strong>em</strong> Curitiba e na Região Metropolitana.Outro ponto argumentado foi a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> que os dados das CAT’S nãoeram suficientes nas priorida<strong>de</strong>s das ações <strong>de</strong> Vigilância nos ambientes <strong>de</strong> trabalho,sendo assim argumentada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um setor que fizesse a compilação<strong>de</strong>ssas informações (CAT) e que a integração dos serviços entre SESA/ISEPr eINSS era imprescindível para que isso acontecesse.“Em 1996, foi criado o CEMAST que atuava <strong>em</strong> 45 municípios do Estado. Issofoi possível <strong>de</strong>vido a uma proposta <strong>de</strong> co-gestão do Estado do Paraná, através daSecretaria da Saú<strong>de</strong>/ Instituto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Paraná e da Prefeitura Municipal <strong>de</strong>Curitiba. Sua atuação se <strong>de</strong>u no atendimento às <strong>de</strong>mandas das entida<strong>de</strong>s parceiras,como o Ministério Público Estadual e os Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores.O CEMAST tinha como atribuições a capacitação, informação epi<strong>de</strong>miológica,diagnóstico <strong>de</strong> tratamento e reabilitação profissional e tinha ainda a funçãofundamental <strong>de</strong> articulador e integrador das instituições que trabalham na área <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador. A concepção <strong>de</strong> treinamento está muito solta, porém r<strong>em</strong>etea pensar o que quer e o que significa treinar, e se exist<strong>em</strong> objetivos para essasreuniões ou conferências. Entre as ativida<strong>de</strong>s estão: elaboração <strong>de</strong> vários artigos15


16sobre Saú<strong>de</strong> do Trabalhador utilizando como base legal <strong>de</strong> atuação da VigilânciaSanitária a legislação Código <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Estado ,elaborou um projeto <strong>de</strong> pesquisasobre LER e Saú<strong>de</strong> Mental a ser <strong>de</strong>senvolvido com os pacientes atendidos noCentro, realizou ativida<strong>de</strong>s como: Assessoria técnica à VISA referente à avaliaçãodas questões relativas à Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores e treinamento <strong>em</strong> serviço através<strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> ambiente <strong>de</strong> trabalho nas <strong>em</strong>presas dos seguintes municípios:Piraquara, Morretes, Antonina, Colombo, Araucária, Ponta Grossa, Fazenda RioGran<strong>de</strong> e São João do Triunfo, cadastramento <strong>de</strong> profissionais e equipes atuando<strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no Estado do Paraná entre outros.A estrutura do CEMAST não era oficializada foi uma parceria e <strong>em</strong> 2006 foiextinta passando a se chamar CEST. Em 2005, foi realizado outro levantamento,mas foram incluídos somente profissionais da Região Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba e <strong>de</strong>abrangência do CEMAST.Em pesquisa realizada com aos técnicos que atuam <strong>em</strong> Vigilância Sanitária<strong>de</strong>monstram que somente uma pequena percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sses técnicos nosmunicípios atuam <strong>em</strong> S.T. Sabe-se que exist<strong>em</strong> vários motivos para que nãoocorram as ações nessa área, mas está disponível instrumentos para a implantaçãodas Políticas <strong>de</strong> S.T., como a Legislação, a RENAST, entre outros. Porém, o queprevalece é o discurso e, como diz FOUCAULT, a verda<strong>de</strong>ira história existe quandoela é inventada e é produto das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.Para a SESA, exist<strong>em</strong> ações <strong>de</strong> S.T. no Estado, que estão cada vez melhoresatravés da RENAST, mas <strong>em</strong> levantamento realizado pelo CEMAST/2005 os dados<strong>de</strong>monstram que apenas 20% dos profissionais da VISA, atuam na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>do trabalhador e 3,3% não participou <strong>de</strong> treinamentos. Deve ser feita uma reflexão:Se poucos técnicos trabalham s<strong>em</strong> treinamentos, por que não exist<strong>em</strong> açõesefetivas na área? Os treinamentos foram <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>?Ao comparar os dados sobre o numero <strong>de</strong> profissionais atuando na área <strong>de</strong>S.T. chegou-se a conclusão que só aumentou 1 (um) <strong>em</strong> 6 anos. Fica patente anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incentivo, investimento na área.Em 2006, o CEMAST foi extinto e os técnicos foram incorporados aochamado Centro Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CEST). Durante os 10 anos <strong>de</strong>atuação, foram realizados diversos treinamentos e <strong>de</strong>senvolvidos métodos <strong>de</strong>trabalho os quais serão apresentados na seqüência <strong>de</strong>sse capítulo.16


17Para melhor esclarecimento sobre os treinamentos foi realizada umaentrevista com profissionais da área e t<strong>em</strong>a abordados foram organizados <strong>em</strong> 4grupos:1. Foram atingidos os objetivos <strong>de</strong>sse treinamento?2. Quando as questões abordadas trataram da didática?3. Foram ministradas aulas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>?4. O que po<strong>de</strong> ser melhorado nesses treinamentos?Essas perguntas ajudaram a esclarecer que os objetivos foram atingidos eque os treinamentos foram básicos para sensibilizar os técnicos sobre suasresponsabilida<strong>de</strong>s.A questão da didática foi difícil esclarecer, pois os documentos raramentetinham informações sobre esse t<strong>em</strong>a e os entrevistados diz<strong>em</strong> que não tiveramformação pedagógica e que organizaram e fizeram os treinamentos somente com aboa vonta<strong>de</strong>.Foram utilizados equipamentos áudio visuais e materiais <strong>de</strong> apoio, mas nãoera dada continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses.Po<strong>de</strong>m ser melhorados os treinamentos, incluindo um planejamento,avaliação <strong>de</strong> impacto, Incluindo o registro dos dados que não são <strong>de</strong> rotinaarmazenar documentos e dados.Os documentos encontrados foram referentes aos seguintes treinamentosforam avaliados e feito um resumo: Treinamento <strong>de</strong> Municipalização das ações <strong>de</strong>Vigilância Sanitária, Oficinas <strong>de</strong> Treinamento <strong>de</strong> Municipalização das ações <strong>de</strong>Vigilância Sanitária, Oficinas <strong>de</strong> Territorialização nas Macro-Regiões, Jornadas Sulbrasileiras<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, Protegendo a Vida, Curso <strong>de</strong> Especialização<strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do trabalho, Teleconferência sobre Silicose, Oficinas <strong>de</strong> Construção Civil,Treinamento sobre Processo Administrativo Sanitário e Investigação <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>Trabalho, Oficina para a Definição do Perfil do CEMAST/Pr, Treinamento sobreProcesso Administrativo Sanitário e Investigação <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes, Curso interno <strong>de</strong>Biossegurança, Inspeção para Análise <strong>de</strong> Posto <strong>de</strong> Trabalho,S<strong>em</strong>inário sobre “17


18Lesões por Esforços Repetitivos,Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho com Exposição a MaterialBiológico nas Regionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (ATEMB), Oficina para Profissionais da Área daSaú<strong>de</strong> <strong>em</strong> Ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, Projeto <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador,Nova Metodologia – CEMAST, outras ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador,Também foram encontrados material <strong>de</strong> apoio para informação e treinamento como:Apostilas, Manuais, Boletins, Fôl<strong>de</strong>res.18


191. POLÍTICAS DE SAÙDE E TRABALHO NO PERÍODO PÓS 1986A Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, enquanto parte da política parao setor saú<strong>de</strong>, passa por momentos <strong>de</strong> transição ora está no Ministério da Saú<strong>de</strong>ora no Ministério do Trabalho, porém ambos os Ministérios t<strong>em</strong> um papel importantesomando com outros órgãos que também realizam ações nesta área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador.Já na primeira parte <strong>de</strong>sse capítulo será abordada a questão das políticas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, os momentos que mais marcaram a trajetória no período <strong>de</strong> pós-1986 até osdias <strong>de</strong> hoje (2006). O primeiro que vai <strong>de</strong> 1978 até 1986, consi<strong>de</strong>rado o marco <strong>de</strong>surgimento <strong>de</strong> idéias sobre a área <strong>de</strong> S.T., a instituição das ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Públicamarcarão o período <strong>de</strong> 1987 a 1990; terceiro marcado pela implantação <strong>de</strong>stasações; quarto e ultimo teve <strong>de</strong>staque as consolidação das legislações.Como o t<strong>em</strong>a é políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não é isolado e é muito dinâmico seráabordado também t<strong>em</strong>as como: caixas <strong>de</strong> aposentadoria, o movimento social,através dos sindicatos, as associações envolvidas com o setor saú<strong>de</strong>, asconferências <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Será apresentado um breve histórico sobre as Conferências Nacionais <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, b<strong>em</strong> como os entraves e as conquistas como alei orgânica da Saú<strong>de</strong> e a inclusão das diretrizes na Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Tambémserão indicadas as formas <strong>de</strong> financiamento das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Na terceira parte <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>-se as responsabilida<strong>de</strong>s dos órgãos incumbidos<strong>de</strong> atuar na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador. Os probl<strong>em</strong>as são graves <strong>em</strong> diversasáreas: assistência médica; fiscalização; notificação e tratamento dos dadoscoletados; reconhecimento do nexo entre trabalho e doença; prevenção ecumprimento da legislação, entre outras.Quarto momento a partir <strong>de</strong> DIAS; que parece estar ainda <strong>em</strong> <strong>de</strong>curso. Essefoi marcado pela expectativa das leis a ser<strong>em</strong> cumpridas.Sabe-se que ocorreram diversas conquistas na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador, as quais precisam ser analisadas por outro viés; o das relações <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r, portanto, preten<strong>de</strong>-se correlacionar Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Trabalho com aanálise do po<strong>de</strong>r e do saber <strong>de</strong> Michel Foucault.19


202.1-Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Na década <strong>de</strong> 1920 foram criadas nas <strong>em</strong>presas as Caixas <strong>de</strong> aposentadoriae pensões (CAPS) que os trabalhadores eram assegurados por lei, sist<strong>em</strong>a esseadministrado pelas gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas privadas e públicas e restrito a elas. Além dasaposentadorias, os fundos proviam serviços funerários, médicos e seguros<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.Os trabalhadores eram beneficiados proporcionalmente àscontribuições mensais.Na década <strong>de</strong> 1930, as caixas <strong>de</strong> aposentadoria revelaram-se insuficientespelo número reduzido <strong>de</strong> segurados, conseqüent<strong>em</strong>ente, o governo optou pelareestruturação do sist<strong>em</strong>a. Portanto, os Institutos <strong>de</strong> Aposentadoria e Pensões dosComerciários (IAPC) foram constituídos como autarquias, subordinadas ao Estado,<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas, e dava cobertura aos <strong>em</strong>pregados <strong>de</strong> todas as<strong>em</strong>presas no mesmo ramo, como IAPC´s, por ex<strong>em</strong>plo.Em 1974, o Instituto Nacional <strong>de</strong> Previdência Social (INPS) permitiu às<strong>em</strong>presas o pagamento dos benefícios aos aci<strong>de</strong>ntados, o chamado Plano <strong>de</strong> ProntaAção (PPA), o qual significava um <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 20% nas seguintes ativida<strong>de</strong>srealizadas pelas <strong>em</strong>presas: perícia, exames, atendimento imediato, pagamento <strong>de</strong>benefícios, auxílio doenças (POSSAS, 1981, p.135).Em 1975, o Instituto Nacional <strong>de</strong> Previdência Social (INPS) permitiu às<strong>em</strong>presas o pagamento dos beneficio aos aci<strong>de</strong>ntados, o chamado Plano <strong>de</strong> ProntaAção (PPA), o qual significava um <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 20% nas seguintes ativida<strong>de</strong>srealizadas pelas <strong>em</strong>presas: perícia, exames, atendimento imediato, pagamento <strong>de</strong>benefícios, auxílio doenças (POSSAS, 1981, p.135).A princípio, a área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Trabalho no Brasil resumia-se <strong>em</strong> benefíciosprevi<strong>de</strong>nciários, <strong>de</strong>pois alcançou conquistas, tais como a aprovação <strong>de</strong> novas leis, arepresentação dos trabalhadores, o controle social estabelecido através dasconferências, o envolvimento <strong>de</strong> diversos órgãos e ações voltadas à saú<strong>de</strong> dotrabalhador.A política <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> no Brasil era financiada, basicamente, porrecursos da Previdência Social. A situação paradoxal no Brasil por que se observamos indicadores econômicos <strong>em</strong> níveis incompatíveis com os indicadores sociais, b<strong>em</strong>como os <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (LACAZ, 1996, p. 73).20


21Tradicionalmente, no Brasil, as políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento têm serestringido aos aspectos econômicos e são traçadas <strong>de</strong> maneira que não inclu<strong>em</strong>políticas sociais, cabendo a estas últimas arcar<strong>em</strong> com os ônus dos possíveis danosgerados sobre a saú<strong>de</strong> da população. Para esclarecer melhor este ponto <strong>de</strong> vistacabe salientar que a População Economicamente Ativa no país é <strong>de</strong> 82.902.480pessoas e apenas 22.903.311 são formalmente registrados pela Previdência Social(trabalhadores com carteira assinada). Não exist<strong>em</strong> dados reflitam a realida<strong>de</strong>nacional que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> a situação <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças do trabalho, incluindoaqueles que estão na informalida<strong>de</strong>, trabalhadores domésticos, servidores públicos,entre outros (3ª CNST, 2005).Observa-se então uma situação mais séria, a Previdência Social eraincumbida do pagamento do “seguro social” (pensões, aposentadorias e <strong>de</strong>maisbenefícios) e o fato é que as três opções básicas (privatização dos serviços,<strong>de</strong>scentralização e focalização) <strong>de</strong> políticas sociais marcaram as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>na década <strong>de</strong> 80, justificando assim o “Projeto Neoliberal,” proposta conservadorada saú<strong>de</strong> que prepon<strong>de</strong>rou nesse período. E não justa por que a menorpercentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> trabalhadores t<strong>em</strong> direito a esses benefícios.O projeto neoliberal oriundo da estratégia internacional do capital estabeleceuma política econômica monetarista com ampla privatização <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas estatais,<strong>em</strong> que o "Estado mínimo" e o "máximo <strong>de</strong> mercado" são el<strong>em</strong>entos constitutivos dogran<strong>de</strong> capital dos oligopólios (Abrami<strong>de</strong>s, 2003).Isto significa que o projeto neoliberal é regido pelo crescimento do mercado,<strong>de</strong>stacando-se a estabilida<strong>de</strong> monetária, redução <strong>de</strong> gastos públicos, reformatributária, liberalização financeira e comercial, alteração das taxas <strong>de</strong> câmbio,investimento direto estrangeiro, privatizações e <strong>de</strong>sregulamentação. No Brasil iniciaseno final do governo Sarney. Caracterizado pelo corte nos gastos sociais, até com<strong>de</strong>missão <strong>de</strong> trabalhadores <strong>em</strong> serviço público, na transferência <strong>de</strong> renda e <strong>de</strong>patrimônio público para o setor do capital privado, a refilantropização na área daassistência, nas políticas sociais compensatórias, <strong>em</strong> substituição a políticas sociais<strong>de</strong> caráter universal; na privação <strong>de</strong> direitos sociais (educação, saú<strong>de</strong>, previdência,assistência) e na <strong>de</strong>sregulamentação <strong>de</strong> direitos sociais e trabalhistas).21


22O neoliberalismo consubstancia o Estado mínimo para os trabalhadores e oEstado ampliado para o capital, <strong>em</strong> que os interesses privados sobrepõ<strong>em</strong>-se aosinteresses públicos, <strong>de</strong> caráter universal.Nas chamadas áreas sociais o Estado concorre com o mercado, comrepercussões na política <strong>de</strong> segurida<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong> e previdência, e nas áreas <strong>de</strong>educação e cultura. Um quarto setor compreen<strong>de</strong> as ativida<strong>de</strong>s exclusivamente <strong>de</strong>mercado, com amplo programa <strong>de</strong> privatização. A política <strong>de</strong> segurida<strong>de</strong> – saú<strong>de</strong>,previdência e assistência –, com a Constituição <strong>de</strong> 1988, são <strong>de</strong>finidas como <strong>de</strong>direito universal e eqüitativo, mas, nesta óptica são re<strong>de</strong>finidas e orientadas por umapolítica <strong>de</strong> privatização, ou seja, prevalece o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos planos privadose das seguradoras.A análise do discurso e das práticas <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada política implica umacompreensão abrangente dos contextos sociais on<strong>de</strong> esta se realiza, consi<strong>de</strong>randoseos níveis político, i<strong>de</strong>ológico e econômico, que não po<strong>de</strong>m ser tratados <strong>de</strong> formaestanque e separados. Esta Política <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá ser capaz <strong>de</strong> incorporar asmudanças ocorridas na socieda<strong>de</strong> no como resultado do processo <strong>de</strong><strong>de</strong>mocratização, que culminou na Carta Constitucional. É nesta perspectiva que<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser analisadas as políticas públicas no Brasil na atualida<strong>de</strong> (OLIVEIRA, 1992,P.152).A dinâmica que se imprime na relação Estado- Socieda<strong>de</strong> Civil, que no casoda Saú<strong>de</strong> do Trabalhador envolve a relação capital-trabalho, não incorporou ainda atransformação necessária, capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às rápidas mudanças que vêm seimpondo à socieda<strong>de</strong> brasileira a situações <strong>de</strong> risco.Em 1981 a proposta <strong>de</strong> organização para o setor privado autônomo pretendiaatingir 78 milhões <strong>de</strong> pessoas, das quais 70 milhões estariam vinculados àmodalida<strong>de</strong> do tipo "convênio-<strong>em</strong>presa". Os 40% restantes seriam cobertos pelosetor público (STOTZ, 2003).O período da Nova República, <strong>em</strong> 1985, representou a <strong>de</strong>rrota da solução <strong>de</strong>privatização da Previdência. O comando do INAMPS foi assumido pelo grupoprogressista, que diss<strong>em</strong>inou os convênios das Ações Integradas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (AIS)pelo Brasil com o objetivo <strong>de</strong> instaurar um novo mo<strong>de</strong>lo assistencial que incorporavao setor público, nas ações curativas-preventivas e educativas e <strong>de</strong>scentralizar açõespara estados e municípios.22


23Trata-se, na realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os princípios <strong>de</strong>mocráticos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>orientar as modificações estruturais do setor <strong>de</strong> Previdência. Entretanto as idas evindas <strong>de</strong>sse setor, não assumiram as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas sim o pagamento <strong>de</strong>benefícios e aposentadoria.Portanto, na próxima parte do texto será consi<strong>de</strong>rado a análise feita por DIAS(CUT, 1991, p.31) <strong>de</strong> forma histórica e cronológica sobre a construção da Saú<strong>de</strong> doTrabalhador no Brasil, que se iniciou <strong>em</strong> 1978 e vai até 1994. Decidiu-se tomar porbase essa análise <strong>de</strong>vido à cont<strong>em</strong>plação do recorte <strong>de</strong>sse trabalho que é o períodopós-1986.O processo inicia-se <strong>em</strong> 1978 e termina <strong>em</strong> 1986 ocorrendo a difusão <strong>de</strong>idéias na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, <strong>em</strong> 1987 começa o segundo momento<strong>de</strong>stacando a institucionalização das ações na Saú<strong>de</strong> Pública, terminando <strong>em</strong> 1990e na seqüência a implantação das ações pelo SUS, consi<strong>de</strong>rado assim o terceiromomento; no quarto e último momento é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> consolidação da legislaçãoe pela regulamentação das ações nos setores <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Ministério do Trabalho ePrevidência Social.No período <strong>de</strong> 1978 a 1986, foi um dos mais importantes nas discussõesentre profissionais Italianos e brasileiros e o intercâmbio <strong>de</strong> experiências b<strong>em</strong>sucedidas na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do Trabalhador. Isto fez florescer, um gran<strong>de</strong>movimento <strong>de</strong> idéias que repercutiram <strong>em</strong> propostas votadas na 8ª CNS quenortearam, a implantação dos primeiros serviços <strong>de</strong> Atenção à Saú<strong>de</strong> doTrabalhador no Estado <strong>de</strong> São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais.A institucionalização <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> reforma da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>começou <strong>em</strong> 1981, com a participação <strong>de</strong> sanitaristas no corpo técnico do ConselhoConsultivo <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Previ<strong>de</strong>nciária. Nesse momento, surgiu uma proposta <strong>de</strong>reorganização do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> cunho privatizante (STOTZ, 2003).Na América Latina o movimento pela Saú<strong>de</strong> do Trabalhador surge <strong>em</strong><strong>de</strong>corrência das lutas travadas pelo operariado industrial urbano. O Brasil éimpulsionado pela re-<strong>de</strong>mocratização social, via (re) organização da Socieda<strong>de</strong> Civilna <strong>de</strong>fesa da Saú<strong>de</strong> Pública, no final dos anos 1970 e início dos 1980 (NAVARRO inLACAZ). Com discussões renovadoras do setor saú<strong>de</strong>, com a participação <strong>de</strong>profissionais <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s civis, m<strong>em</strong>bros do Centro Brasileiro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>(CEBES) 11 e a Associação Científica (ABRASCO) 12 .23


24O CEBES e a ABRASCO, congregando profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> coletiva, vêm,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o regime militar, exercendo um papel <strong>de</strong>stacado no movimento pela<strong>de</strong>mocratização do País. Tiveram importância significativa nas transformações naárea da saú<strong>de</strong> e na elaboração <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e trabalho, avançando quandoo movimento social dos trabalhadores retorna às lutas políticas e consegueestabelecer outra relação entre Estado e Socieda<strong>de</strong> (LACAZ, 1996, p.238).Ao longo <strong>de</strong> seu primeiro ano <strong>de</strong> existência, o CEBES já contava com cerca<strong>de</strong> vinte núcleos espalhados por todo o Brasil e havia iniciado a publicação daRevista Saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> Debate, principal veículo <strong>de</strong> difusão das idéias e <strong>de</strong> organizaçãodo movimento social, tendo como eixo t<strong>em</strong>ático a questão da saú<strong>de</strong>. Tambémorganizou eventos, <strong>de</strong>bates e publicando livros, e acentuou sua participação políticana luta pela <strong>de</strong>mocracia,É <strong>de</strong> importância <strong>de</strong>stacar o papel <strong>de</strong> Conselho Nacional dos SecretáriosMunicipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CONASEMS) 13 foi um órgão importante para as discussões ena apresentação <strong>de</strong> Propostas para as Conferências Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> nasdécadas <strong>de</strong> 70 e 80, pois vários m<strong>em</strong>bros se i<strong>de</strong>ntificavam com o movimento daReforma Sanitária.O sanitarismo urbano do início do período republicano, e os fatoreseconômicos, políticos e i<strong>de</strong>ológicos que <strong>de</strong>saguaram no movimento pela reformasanitária nas cida<strong>de</strong>s. (Santos, 1995, p. 2). Artur Neiva médico e pesquisadoranalisou as relações entre Estado e socieda<strong>de</strong> no Brasil que presidiram à formaçãodo movimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública no início do Século (1910).Por volta <strong>de</strong> 1915, as políticas públicas na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ainda se limitavamàs capitais e <strong>de</strong>mais centros urbanos <strong>de</strong> importância. O interior do país,particularmente o “sertão”, permanecia esquecido. (Santos, 1985, p.1)Mas tratava-se, ainda, do movimento <strong>em</strong> sua primeira fase – a fase <strong>de</strong>Oswaldo Cruz – à medida que lutava pela vinda <strong>de</strong> imigrantes europeus para o11 CEBES é sigla da Associação que t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> apoiar indivíduos e instituições preocupadascom ensino <strong>de</strong> pós-graduação, pesquisa, cooperação e prestação <strong>de</strong> serviços <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>.12 ABRASCO é sigla da Associação Brasileira <strong>de</strong> Pós - Graduação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Coletiva, entida<strong>de</strong> nãogovernamental que atua no Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1979.13 CONASEMS, Fundado <strong>em</strong> 1978. É uma organização não governamental que representapotencialmente todos os secretários municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do país e serve <strong>de</strong> interlocutor oficial doMinistério da Saú<strong>de</strong> com relação a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, acompanhando o processo <strong>de</strong>re<strong>de</strong>mocratização do país.24


25Brasil e via nas más condições sanitárias das cida<strong>de</strong>s brasileiras um obstáculo paraa mo<strong>de</strong>rnização, acabou contribuindo para o progresso do movimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>pública.Os anos <strong>de</strong> 1920 constituíram a fase <strong>de</strong> maior politização do movimentosanitário no Brasil. As políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> reflet<strong>em</strong> uma fase <strong>de</strong> agitação política <strong>em</strong>torno da questão do saneamento, nenhum momento concretizaram os seusobjetivos <strong>de</strong> um Belisário Pena e <strong>de</strong> Monteiro Lobato, que representaram osprimeiros passos na direção <strong>de</strong>sse movimento.Ainda na década <strong>de</strong> 1920, o movimento sanitarista é <strong>de</strong>struído isto po<strong>de</strong> estarligado à relevância política do movimento, não nas políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Primeiramente, a burocratização teve um efeito paralisante sobre o movimento: acriação do Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong> Pública.A Revolução <strong>de</strong> 30 e o Estado Novo traziam <strong>em</strong> seu bojo as melhorescondições para o avanço do movimento sanitarista. É verda<strong>de</strong> que ocorrera umaperda para o movimento com a supressão do <strong>de</strong>bate político nacional a partir <strong>de</strong>1937. (Costa, 1985, p.4). Ainda <strong>em</strong> 1930, a idéia-força <strong>de</strong> que falava MonteiroLobato torna-se conhecida e os envolvidos com o saneamento do interior do paísabandonam a ativida<strong>de</strong> quase “missionária” dos primeiros passos do movimento.Volta a <strong>em</strong>polgar o movimento sanitário no período da Primeira República, ele se<strong>de</strong>spolitiza, e permanecerá o seu potencial <strong>de</strong> transformação social.Em 1942, Vargas <strong>de</strong>termina então que um Serviço Especial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Públicarealize o saneamento da região, neste período adotou um critério econômico <strong>de</strong>combate às en<strong>de</strong>mias. Por ex<strong>em</strong>plo: o <strong>de</strong>senvolvimento da mineração no vale doRio doce exigia o saneamento da área a ser explorada.No período <strong>de</strong> 1970-1980 a reforma sanitária <strong>de</strong>ixa patente que osprofissionais e técnicos da saú<strong>de</strong>, os professores universitários, enfim, um segmentodas classes médias urbanas, posicionaram-se como porta-vozes dos anseios dascamadas mais pobres da população trabalhadora perante o aparelho <strong>de</strong> Estadoencarregado da provisão dos serviços públicos (STOTZ, 2003).Diferent<strong>em</strong>ente do movimento sindical cresceu politicamente, saindo nas ruase atuando nas instituições do Estado. Iniciou-se no ABC paulista, a partir dasgran<strong>de</strong>s greves <strong>de</strong> 1978 nas indústrias automobilísticas, e que se espalharam porboa parte do território nacional. Incentivou a reorganização do movimento sindical,25


26introduziu-se a questão saú<strong>de</strong> nas pautas <strong>de</strong> discussão e reivindicação, seguindopelo menos aí, o mo<strong>de</strong>lo operário italiano das décadas <strong>de</strong> 60 e 70.Vários sindicatos estruturaram diretorias específicas, para o tratamento dasquestões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos trabalhadores com agregação <strong>de</strong> técnicos que almejavammudanças no setor saú<strong>de</strong> como: da aca<strong>de</strong>mia, principalmente <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong>medicina preventiva das universida<strong>de</strong>s, Central Única dos Trabalhadores (CUT) aocriar o INST, teve um papel importante no assim chamado controle social da questãosaú<strong>de</strong> no trabalho.Por isso STOTZ, coloca que o maior <strong>de</strong>safio do movimento organizado dostrabalhadores consiste <strong>em</strong> transformar movimentos e lutas locais <strong>em</strong> movimentospolíticos, sob os termos mais amplos da segurida<strong>de</strong> (ou proteção) social. (2003). Istosignifica que nunca fizeram concessões realmente importantes para as classesdominadas. Porque as lutas sociais nunca redundaram <strong>em</strong> vitórias significativas,pois via <strong>de</strong> regra foram perdidas com os golpes <strong>de</strong> Estado e implantação <strong>de</strong> regimesautoritários.Ainda na década <strong>de</strong> 80, também se tornaram ativos os movimentos sociaisurbanos, movimentos ecológicos, <strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> negros, <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong><strong>de</strong>ficiências, <strong>de</strong> parentes e amigos das vítimas <strong>de</strong> trânsito, <strong>de</strong> familiares <strong>de</strong> doentesmentais e <strong>de</strong> aposentados.A outra perspectiva, mais i<strong>de</strong>ntificada com o Partido dos Trabalhadores e asComunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base, estaria localizada <strong>em</strong> experiências <strong>de</strong> participaçãopopular que, aliás, tiveram um peso muito gran<strong>de</strong> nos anos 70 e 80. Po<strong>de</strong>-sel<strong>em</strong>brar aqui, entre outros, dos movimentos populares da Zona Leste, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo, do Movimento Popular <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (MOPS), organizado principalmente nointerior do Brasil, e do Movimento <strong>de</strong> Reintegração dos Hansenianos (MORHAN).(STOTZ, 2003).A participação política dos segmentos mais organizados dos trabalhadoresurbanos reforçou as reivindicações e necessida<strong>de</strong>s da maioria das classestrabalhadoras pelo direito à saú<strong>de</strong>, expresso por políticas públicas <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong>26


27melhorias das condições <strong>de</strong> vida e oferta a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> serviços públicos <strong>de</strong>qualida<strong>de</strong>. A posição do movimento sindical passou a ser a <strong>de</strong> negociar a saú<strong>de</strong> nosacordos coletivos <strong>de</strong> trabalho, como alternativa <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a público marcado por<strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> acesso e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços.O Movimento Sindical foi um gran<strong>de</strong> impulsionador, com a participação <strong>de</strong>diversas categorias <strong>de</strong> operários e médicos militantes, que, juntos, criaram oDepartamento Interinstitucional <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e dos Ambientes<strong>de</strong> Trabalho (DIESAT) 14 . É uma entida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> fins lucrativos, criada para assessoraros trabalhadores e o movimento sindical nas questões relativas à saú<strong>de</strong> coletiva,saú<strong>de</strong> do trabalhador, condições e ambientes <strong>de</strong> trabalho, legislação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> esegurança do trabalhador e meio ambiente.Esse <strong>de</strong>partamento também organizou eventos como a S<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador (SEMSAT’S) - processo <strong>de</strong> discussão com vistas à elaboração <strong>de</strong> novosconceitos, que visam conformar os processos pedagógicos e a posterior elaboração<strong>de</strong> textos e documentos particularmente utilizados <strong>em</strong> seus cursos <strong>de</strong> capacitação.O DIESAT organizou-se como um gran<strong>de</strong> articulador, gerador <strong>de</strong> política eformador <strong>de</strong> consciência crítica na reformulação <strong>de</strong> conceitos, atinentes à área na<strong>de</strong>fesa pela manutenção dos direitos dos trabalhadores, por condições dignas <strong>de</strong>trabalho, pela redução da jornada e por uma Previdência Social digna e justa.A atual direção (2005) reformulou as estratégias da entida<strong>de</strong>, queproporcionou uma relação melhor com os sindicatos, instituições <strong>de</strong> pesquisa,órgãos públicos e organismos internacionais. Um dos passos foi a criação doConselho Científico, formado por professores universitários e especialistas <strong>em</strong>saú<strong>de</strong> do trabalhador, promovendo pesquisas, estudos, cursos <strong>de</strong> formação eprestação <strong>de</strong> informações, o que t<strong>em</strong> dado importante contribuição para aimpl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> inúmeras ações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador._____________________________________________________________________________________________________________________________14 DIESAT foi fundado <strong>em</strong> 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1980, estimulando a criação <strong>de</strong> comissões e núcleos <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Atua ainda no questionamento <strong>de</strong> dados oficiais fornecidos pelos SESMTS das <strong>em</strong>presas et<strong>em</strong> contribuído para a modificação dos currículos <strong>de</strong> graduação e pós-graduação, além dareorganização dos serviços públicos <strong>de</strong> atendimento à saú<strong>de</strong> do trabalhador.27


28Passo a passo, o trabalhador vai <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser agente <strong>de</strong> sofrimento(PINTO, , p. 65), passando a ser agente <strong>de</strong> mudanças,seja participando <strong>de</strong> órgãosdo Estado seja através Comissão Interna <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes (CIPA) 15 .O objetivo é estabelecer comissões pró-ativas, que tenham na negociaçãocotidiana sua melhor estratégia. Além da negociação na própria comissão, foiestabelecida a possibilida<strong>de</strong> dos atores sociais, sindicatos representativos <strong>de</strong>trabalhadores e <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregadores a<strong>de</strong>quar<strong>em</strong> seus princípios às característicasdiferenciadas dos diversos setores econômicos. É justamente na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cadalocal <strong>de</strong> trabalho que são criadas outras formas <strong>de</strong> negociação qualificadas <strong>de</strong>cotidianas (Sato por Sato 2002).Esta negociação é realmente muito pequena, praticamente imperceptíveis aosprofissionais que visitam esporadicamente os ambientes <strong>de</strong> trabalho, ou seja, sãopráticas que visam os acordos - apesar da questão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e controle que estavamsujeitos os trabalhadores– po<strong>de</strong>m existir a nível <strong>de</strong> acordos. Para melhor esclarecer,são ações dos trabalhadores, conduzidas por pessoas comuns in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sindicatos e movimentos <strong>de</strong> representação.No que se refere a estratégia <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar proposta comcerteza é valiosa consi<strong>de</strong>rando a aproximação entre patrão e <strong>em</strong>pregado entre orepresentante dos trabalhadores na <strong>em</strong>presa (cipeiro). De acordo com a Legislaçãosomente as <strong>em</strong>presas gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> compor a CIPA ficando a maioria das<strong>em</strong>presas, as pequenas e médias, s<strong>em</strong> um a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compor estacomissão, consequent<strong>em</strong>ente s<strong>em</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções necessárias.As relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estendidas á prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes permitiriamequacionar muitos probl<strong>em</strong>as na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, através <strong>de</strong> açõespreventivas e <strong>de</strong> controle, incorporando o conhecimento e a realida<strong>de</strong> dos_________________________________________________________________________________15 CIPA - Comissão Interna <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes - NR 5. Brasil. Lei n°6514 <strong>de</strong> 12/12/1977; NR5 não se restringiu a consi<strong>de</strong>rar importante o processo <strong>de</strong> negociação entre trabalhador e <strong>em</strong>presário,mas <strong>de</strong>fine instrumentos para esse acesso como a formação <strong>de</strong> uma comissão eleita por funcionários, on<strong>de</strong> o presi<strong>de</strong>nte é indicado pelo patrão. Almeja que a socieda<strong>de</strong>, através das representações <strong>de</strong>trabalhadores e <strong>em</strong>pregadores e as próprias CIPA, possam, efetivamente, <strong>de</strong>senvolver açõesnecessárias à prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças <strong>de</strong>correntes do trabalho.28


29trabalhadores (LACAZ, 1996, p.7).Se realmente foss<strong>em</strong> efetivados os objetivos propostos <strong>de</strong> prevenção,intervenção, controle e eliminação dos riscos, b<strong>em</strong> como a informação dostrabalhadores e relação entre patrão e <strong>em</strong>pregado, certamente os probl<strong>em</strong>as seriamminimizados. Ao lado disso proporcionando formas <strong>de</strong> controle social nas <strong>em</strong>presas.Porém isso não acontece, a maioria das <strong>em</strong>presas organiza a documentação,registra a CIPA no MT e as suas ações não são efetivas. Fica a pergunta: Se essasComissões existiss<strong>em</strong> <strong>de</strong> fato e realizass<strong>em</strong> suas funções será que milhares <strong>de</strong>trabalhadores estariam morrendo e sendo mutilados?As <strong>em</strong>presas que <strong>de</strong>verão constituir a CIPA são aquelas cuja classificaçãoestá no quadro I do MT da NR-5, que relaciona o grau <strong>de</strong> risco com o número <strong>de</strong>funcionários.Atualmente (2005) essa classificação não é condizente com a realida<strong>de</strong>, naqual se percebe o aumento significativo <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as relacionados à saú<strong>de</strong> <strong>em</strong>setores anteriormente consi<strong>de</strong>rados como <strong>de</strong> baixo grau <strong>de</strong> risco. Por ex<strong>em</strong>plo, é a<strong>em</strong>presa prestadora <strong>de</strong> serviços, que <strong>de</strong>ve constituir a CIPA quando houver 141trabalhadores. Por ex<strong>em</strong>plo, uma prestadora <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> turismo que marcaviagens elabora roteiros, faz traslado <strong>de</strong> passageiros, ou seja, não é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> risco,porém prestadora na área <strong>de</strong> construção civil convive com risco alto como:<strong>de</strong>sabamentos, <strong>de</strong>molições, construção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s obras.Esse critério <strong>de</strong>veria ser estabelecido baseando-se <strong>em</strong> serviços prestados, enão somente pela <strong>de</strong>nominação da <strong>em</strong>presa.Para salientar existe uma incoerência na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sta norma, na<strong>de</strong>finição da CIPA. Outra situação são as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> minerais, comopedreiras, estas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> constituir a CIPA a partir <strong>de</strong> 40 funcionários, ou seja,<strong>em</strong>presa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> risco, mas com poucos funcionários que não contarão com asatribuições <strong>de</strong>ssa comissão.29


31cobre <strong>de</strong>sse colega mais ação, porém torna-se sujeito da falta <strong>de</strong> equipamentos efalta <strong>de</strong> comprometimento dos <strong>em</strong>presários que visam o lucro. Isto fica evi<strong>de</strong>ntequando o gerente diz use a máscara mais três dias.O trabalhador fica sujeito às estratégias políticas e econômicas do sist<strong>em</strong>a eas suas lutas são abafadas e rotuladas como se foss<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ais inatingíveis 16 .Para FOUCAULT “o momento histórico das disciplinas é o momento <strong>em</strong> quenasce uma arte do corpo humano que visa não unicamente o aumento das suashabilida<strong>de</strong>s, n<strong>em</strong> tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação <strong>de</strong> umarelação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é maisútil, e inversamente.” (1991, p.127).Os trabalhadores são submissos e são sujeitos das condições impostas pelas<strong>em</strong>presas neste caso a CIPA’s mantém-se <strong>de</strong>ntro das regras do MTE, mas napratica não realizam as mínimas atribuições.Os vencidos estão à disposição dos vencedores; estes po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>struir osvencidos, acabando o po<strong>de</strong>r do Estado e já não existiriam os probl<strong>em</strong>as – são duasformas – ir à luta ou obe<strong>de</strong>cer (FOUCAULT, 2002, p.109); o corpo só se torna útilquando, ao mesmo t<strong>em</strong>po, é corpo produtivo e corpo submisso (FOUCAULT, 1987,p.26).Mesmo existindo um número razoável <strong>de</strong> leis trabalhistas, leis que dãoabertura ao <strong>de</strong>bate entre patrões e <strong>em</strong>pregados, sab<strong>em</strong>-se que existe a lógicapatronal, ou seja, a <strong>em</strong>presa dita as regras e o trabalhador <strong>de</strong>ve se sujeitar a elas.Nesse caso, a Comissão ainda é <strong>de</strong>cidida pelo <strong>em</strong>pregador, o qual <strong>de</strong>signará entreseus funcionários <strong>de</strong> confiança o Presi<strong>de</strong>nte; já o Vice-Presi<strong>de</strong>nte e os outros cargosserão eleitos pelos funcionários os quais representarão.Se a CIPA apresenta os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>scritos a Metodologia <strong>de</strong>nominada___________________________________________________________________________ 16 LACAZ (1996, p.369) faz uma consi<strong>de</strong>ração acerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações assim, dizendoser<strong>em</strong>: “uma vinculação com conceitos i<strong>de</strong>ologizados e criticáveis à perspectiva da prevenção àsaú<strong>de</strong> relacionada ao trabalho”.31


32Mapa <strong>de</strong> Risco 17 contribuiu como instrumento que v<strong>em</strong> permitir o apropriar-se dosaber e, conseqüent<strong>em</strong>ente, a tomada <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes OMapa <strong>de</strong> risco utiliza uma abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> pesquisa com um grupo <strong>de</strong> operários paraesclarecimento das condições <strong>de</strong> trabalho. T<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> fortalecer o movimentosindical na <strong>de</strong>fesa da melhoria das condições <strong>de</strong> trabalho, eliminar e reduzir riscos,reforçar as lutas coletivas e implantar ativida<strong>de</strong>s permanentes.Essa metodologia procura valorizar o saber acumulado dos trabalhadoresincorporando aos subsídios técnicos dos profissionais do SESMT’S e rompe oisolamento entre patrão e <strong>em</strong>pregado; possibilita, posteriormente, a análise dosaci<strong>de</strong>ntes e probl<strong>em</strong>as das <strong>em</strong>presas e, principalmente, é um instrumento para asolução <strong>de</strong>sses.O mapa <strong>de</strong> Risco é representado <strong>de</strong> forma gráfica/croqui (FIGURA -1) <strong>de</strong> cadaárea do processo <strong>de</strong> trabalho com o registro dos riscos: Deve ser elaborada daforma mais simples possível para que todos os trabalhadores entendam o mapa.São comumente, utilizadas cores para os tipos <strong>de</strong> riscos físicos, químicos,biológicos, aci<strong>de</strong>ntes ergonômicos, e o tamanho dos círculos pequeno, médio egran<strong>de</strong> sugere a gravida<strong>de</strong> do risco (FIGURA 2)._____________________________________________________________________________________________________________________________17Mapa <strong>de</strong> Risco - Metodologias que foram trazidas para o Brasil <strong>em</strong> 1990; é resultado da troca <strong>de</strong>experiências entre sindicalista-técnicos brasileiros e italianos. No final dos anos 60, início <strong>de</strong> 1970, omovimento sindical italiano <strong>de</strong>finiu priorida<strong>de</strong>s na <strong>de</strong>fesa da saú<strong>de</strong> do trabalhador que vitimava <strong>em</strong>média 7 pessoas por dia. A ação do sindicato baseou-se no po<strong>de</strong>r real dos trabalhadores e na suarepresentação nos locais <strong>de</strong> trabalho, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> soluções. Reuniram-se os conselhos das fábricascom outros sindicatos, técnicos aliados e <strong>de</strong>senvolveram a metodologia <strong>de</strong> mapa <strong>de</strong> risco. No Brasilteve seu gran<strong>de</strong> momento <strong>de</strong> aplicação <strong>em</strong> 1990.32


33FIGURA 1- Mapa <strong>de</strong> RiscosFonte: www.areaseg.com/sinais/mapa<strong>de</strong>risco.html (07/07/06)FIGURA 2- Mapa <strong>de</strong> RiscosFonte: www.areaseg.com/sinais/mapa<strong>de</strong>risco.html (07/07/06)TIPODE RISCOQuímico Físico Biológico Ergonômico MecânicoCOR Vermelho Ver<strong>de</strong> Marrom Amarelo Azul33


34Através da Metodologia, as classes trabalhadoras vão tendo a oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> participar nas <strong>de</strong>cisões da <strong>em</strong>presa o que supera isolamento patrão/<strong>em</strong>pregadovaloriza saber acumulado dos trabalhadores. Assim o trabalhador vai <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong>ser ator e passa a ser sujeito, isto significa que <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r e a influir no processo<strong>de</strong> produção, adquirir maior qualificação <strong>em</strong> todos os momentos da vida, <strong>de</strong>ve viver,pensar, fazer parte da <strong>em</strong>presa e tomar parte das soluções dos riscos nosambientes <strong>de</strong> trabalho. E como Foucault salienta a lei não nasce da natureza juntodas fontes, a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, dasconquistas que têm sua data e seu herói (2002, p.58).Apesar do período <strong>de</strong>nominado “Milagre Brasileiro” (1964), as estatísticasmostraram que o Brasil não passava por uma fase <strong>de</strong> triunfo, <strong>de</strong> transformação e <strong>de</strong>riquezas para a classe trabalhadora.Em sua posse o presi<strong>de</strong>nte Geisel <strong>de</strong>staca as estatísticas referentes aaci<strong>de</strong>ntes do trabalho que são conforme suas próprias palavras vexatórias: <strong>em</strong> 1973foram mais <strong>de</strong> um bilhão <strong>de</strong> cruzeiros <strong>em</strong> perdas da economia <strong>de</strong>vido aos aci<strong>de</strong>ntes,70% do gasto do INPS foram para a assistência media e benefícios também para osaci<strong>de</strong>ntados e morreram mais que 3000 pessoas. E impõe encarar o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong>termos humanos e não somente econômicos.É importante frisar que nesse período houve uma repressão brutal aomovimento sindical; conseqüent<strong>em</strong>ente, fez-se sentir um aumento da jornada <strong>de</strong>trabalho, do ritmo, das horas extras e do número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes (LACAZ, 1996, p.77).A política <strong>de</strong>ste governo tinha o objetivo aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>manda dos trabalhadorese criou o ministério do trabalho (1974). E separação do Instituto <strong>de</strong> Previdência queestava englobado neste Ministério permitiu as primeiras estatísticas relacionadas aaci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho. A organização dos sindicatos permitiu no período <strong>de</strong> 1978 a1980 a criação do DIESAT, cada vez mais representativo passa a participar dasamplas discussões sobre re<strong>de</strong> básica e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> uma proposta jáapresentada na conferência <strong>de</strong> Alma-Ata <strong>em</strong> 1978.34


35No Brasil foi enfatizada nos anos 70 à formação dos SESMETS, nas<strong>em</strong>presas, o qual era alvo <strong>de</strong> críticas pelos e era que era questionada suaefetivida<strong>de</strong>, pelos sindicatos. Imposição legal às <strong>em</strong>presas, <strong>de</strong> contratar<strong>em</strong>profissionais especializados (médicos do trabalho, auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> ouenfermeiros do trabalho, engenheiros e técnicos <strong>de</strong> segurança), criando assim osServiços Especializados <strong>em</strong> Engenharia <strong>de</strong> Segurança e <strong>em</strong> Medicina do TrabalhoEra um mo<strong>de</strong>lo técnico subordinado ao setor <strong>em</strong>presarial. O governo do Brasilpreocupava-se exclusivamente com os aci<strong>de</strong>ntes do trabalho, quer pela repercussãoeconômica (graves prejuízos aos cofres públicos).Esta na mídia a frase "Brasil, campeão mundial <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho".Para tanto, volt<strong>em</strong>os nossa atenção para 1974, quando o total <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes dotrabalho atingiu a cifra <strong>de</strong> 1.796.761, com uma média <strong>de</strong> 5.891 aci<strong>de</strong>ntes por dia útil<strong>de</strong> trabalho, sendo que daquele total resultaram 3.764 mortes e 65.373incapacitados permanent<strong>em</strong>ente (...) acarretando perdas <strong>de</strong> oito (8) bilhões <strong>de</strong>cruzeiros. "O Governo buscava respon<strong>de</strong>r às críticas, particularmente vindas do exterior,<strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> ação contra o aumento do número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e mortes notrabalho.Para compl<strong>em</strong>entar essa imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sfeita, a OIT, <strong>em</strong> 1980, sabendo queapesar do incentivo financeiro e da proposta <strong>de</strong> implantação dos serviços médicosnas <strong>em</strong>presas o resultado não foi positivo pelo contrario <strong>em</strong> comparação com osdados <strong>de</strong> outros países e o número <strong>de</strong> óbitos na População Economicamente Ativa(PEA), continuava gran<strong>de</strong> nas <strong>em</strong>presas brasileiras <strong>em</strong> conseqüência da altapericulosida<strong>de</strong> dos ambientes <strong>de</strong> trabalho.Na década <strong>de</strong> 1980, esse processo po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como prática social epropõe contribuir para a transformação da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos trabalhadores, apartir da i<strong>de</strong>ntificação e do conhecimento do processo <strong>de</strong> trabalho, o objetivo dasaú<strong>de</strong> do trabalhador (DIAS, 1996).35


36Estava iniciando um gran<strong>de</strong> momento, tanto da saú<strong>de</strong> pública como da saú<strong>de</strong>do trabalhador, com o objetivo <strong>de</strong> transformar os mo<strong>de</strong>los anteriores da Medicina doTrabalho Clássica e da Saú<strong>de</strong> Ocupacional, que se mostraram insuficientes, comob<strong>em</strong> expõ<strong>em</strong> MENDES & DIAS (1991), <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>:a. Estar<strong>em</strong> firmados no mecanicismo;b. Não realizar<strong>em</strong> uma verda<strong>de</strong>ira interdisciplinarida<strong>de</strong>, no sentido daintegração dos saberes <strong>em</strong> prol do trabalhador;c. A capacitação <strong>de</strong> recursos humanos, a produção <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong>tecnologia <strong>de</strong> intervenção não acompanhar<strong>em</strong> o ritmo <strong>de</strong> transformação dosprocessos <strong>de</strong> trabalho.A então área t<strong>em</strong>ática, Saú<strong>de</strong> do Trabalhador 18 , assumiu os seguintesi<strong>de</strong>ários: direito <strong>de</strong> saber, recusa ao trabalho <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> risco, saú<strong>de</strong> não setroca por dinheiro, ou seja, benefícios, auxílios. As negociações e/ou acordoscoletivos <strong>de</strong> trabalho incluíram cláusulas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a integralida<strong>de</strong> nas ações <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> do trabalhador, reconhecendo o saber operário, sua participação na gestãodos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, validação consensual, grupos homogêneos <strong>de</strong> risco,incorporação da epi<strong>de</strong>miologia como instrumento <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> riscos edanos à saú<strong>de</strong> e ao meio ambiente (ODDONE, 1986).Para a ABRASCO, Saú<strong>de</strong> do Trabalhador <strong>de</strong>stina-se a pensar e promoverações referentes à t<strong>em</strong>ática saú<strong>de</strong>-trabalho, difundindo as diversas formas <strong>de</strong>inserção no mundo do trabalho formal, informal, consi<strong>de</strong>rando o trabalho como umorganizador da vida social. (ABRASCO, p. 930). A Saú<strong>de</strong> do trabalhador estábaseada na pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que os trabalhadores apresentam um viver, adoecer <strong>em</strong>orrer compartilhado com o conjunto da população <strong>em</strong> um dado t<strong>em</strong>po, lugar einserção social, resultante do processo <strong>de</strong> trabalho. (DIAS, 1991, p. 28)Po<strong>de</strong>-se conceituar Saú<strong>de</strong> do Trabalhador como uma área <strong>de</strong> conhecimento e_________________________________________________________________________________18 O termo “Saú<strong>de</strong> do Trabalhador” t<strong>em</strong> sido usado com maior freqüência, nos últimos anos, pordiversos órgãos e pessoas envolvidas na construção <strong>de</strong> uma política nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,voltada para o trabalho, a qual t<strong>em</strong> na participação dos trabalhadores, uma prática cada vez maisconsolidada.36


37aplicação técnica que dá conta do entendimento dos múltiplos fatores que afetam asaú<strong>de</strong> dos trabalhadores e seus familiares, das conseqüências das ações <strong>de</strong>ssesfatores sobre a população, no sentido <strong>de</strong> prevenir e i<strong>de</strong>ntificar sua ocorrência ereparar os danos causados (ABRASCO, 1986).Nesses termos, Laurell & Noriega (1989) salientam que a medicina social t<strong>em</strong>uma apreensão do caráter histórico do processo saú<strong>de</strong>-doença que ocorrecoletivamente, uma vez que o caráter social da doença não se expressaindividualmente, mas no modo <strong>de</strong> adoecer e morrer <strong>de</strong> grupos humanos, numa dadasocieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com as classes sociais que a compõe. Este caráter social é<strong>de</strong>terminado pela inserção dos grupos humanos no processo <strong>de</strong> produção e, assim,o processo <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong>erge no do processo saú<strong>de</strong>-doença (OLIVEIRA, 2001).A medicina social ao discutir a relação entre saú<strong>de</strong>-trabalho contribuiuefetivamente para a compreensão da <strong>de</strong>terminação do caráter histórico e social doprocesso saú<strong>de</strong>-doença,Consequent<strong>em</strong>ente o processo saú<strong>de</strong>-doença relaciona-se com o processo<strong>de</strong> trabalho, o qual permite uma relação entre o hom<strong>em</strong> e o meio ambiente: ohom<strong>em</strong> utiliza sua matéria prima, energia e força, para transformar, manter ouproduzir bens necessários à sua sobrevivência. Este processo é verificado eanalisado na sua totalida<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>ndo ser reduzido ao estritamente biológico eindividual, pois a essência do processo é o reconhecimento <strong>de</strong> seu caráter social esua <strong>de</strong>terminação histórica. Sendo t<strong>em</strong>as que se entrelaçam, por ex<strong>em</strong>plo, umprobl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> poluição (poeira) no ambiente <strong>de</strong> trabalho, po<strong>de</strong> ser característica dapoluição <strong>de</strong> um local ou região afetando, assim a população moradora.No processo <strong>de</strong> industrialização o Brasil t<strong>em</strong> se realizado sob forte controle docapital. A classe trabalhadora produtora <strong>de</strong> riquezas esteve excluída <strong>de</strong> qualquerparticipação mais efetiva a respeito dos rumos da indústria no mundo capitalista.O modo <strong>de</strong> produção capitalista t<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrado, ao longo da história, seruma forma organizada que restringe e quase anula o trabalhador, podando sualiberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa, <strong>de</strong>terminando a única condição <strong>de</strong> execução da tarefa, tendo37


38como momento mais drástico a pré-<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> ritmos, a mecanização dasativida<strong>de</strong>s.Quanto mais se acentua a relação <strong>de</strong> força, maior o confronto, mais fácil <strong>de</strong> averda<strong>de</strong> aparecer, conseqüent<strong>em</strong>ente, a força é contrariamente à verda<strong>de</strong>.(FOUCAULT, 2002, p.61).A relação saú<strong>de</strong>/trabalho implica compreen<strong>de</strong>r saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma individual ecoletiva, com os direitos <strong>de</strong> cidadão e o <strong>de</strong>ver do Estado; também compreen<strong>de</strong>conhecer o processo <strong>de</strong> produção, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> riscos, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticasprioritárias, as questões da saú<strong>de</strong>, força <strong>de</strong> trabalho, não esquecendo a participação<strong>de</strong> todos os envolvidos.Portanto uma alternativa iniciada <strong>em</strong> 1965, o Ministério do Trabalho ePrevidência Social começou a regulamentar, normatizar e avaliar condições <strong>de</strong>trabalho, medidas <strong>de</strong> segurança, ambiente <strong>de</strong> trabalho, b<strong>em</strong> como a inspeção nosambientes <strong>de</strong> trabalho. Tudo isso foi <strong>de</strong>finido através do Decreto n° 558.411.503.As políticas para essa área cont<strong>em</strong>plavam a atuação das <strong>em</strong>presas com osServiços Especializados <strong>em</strong> Engenharia <strong>de</strong> Segurança e Medicina do Trabalho(SESMT´S), através das Portarias nº. 33 <strong>de</strong> 27/10/1983, e pela Portaria nº. 34 <strong>de</strong>11/12/1987. As <strong>em</strong>presas privadas e públicas b<strong>em</strong> como os órgãos públicos quepossuíss<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)manteriam obrigatoriamente os serviços especializados mencionados acima(SESMT´S), com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a saú<strong>de</strong> e proteger a integrida<strong>de</strong> dotrabalhador <strong>em</strong> seu local <strong>de</strong> trabalho.Nessa nova fase das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e trabalho situa-se na meta<strong>de</strong> dosanos 1980, cria-se mercado <strong>de</strong> trabalho para novos especialistas na área <strong>de</strong>segurança do trabalho. A equipe <strong>de</strong> Serviço Especializado <strong>de</strong>veria ser formada pelosseguintes técnicos especialistas na área: engenheiros do trabalho, médicos dotrabalho, enfermeiro do trabalho e técnicos <strong>de</strong> segurança do trabalho.O Ministério do Trabalho, <strong>em</strong> 1989, <strong>de</strong>cretou a função dos agentes <strong>de</strong> Higienee Segurança e <strong>de</strong>finiu as condições <strong>de</strong> trabalho e as medida <strong>de</strong> segurança. No38


39entanto, sua ativida<strong>de</strong> principal era cre<strong>de</strong>nciar <strong>em</strong>presas e profissionais da área daMedicina do Trabalho e Engenharia <strong>de</strong> Segurança, os quais atuavam na elaboraçãodo chamado <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Riscos Ambientais – PPRA 19 (que é umdocumento que i<strong>de</strong>ntifica os riscos dos ambientes <strong>de</strong> trabalho e indica asprovi<strong>de</strong>ncias a ser<strong>em</strong> tomadas) e do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Controle Médico <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Ocupacional – PCMSO 20 (que <strong>de</strong>fine, a partir dos riscos, quais os exames a ser<strong>em</strong>realizados e <strong>em</strong> que freqüência).As medidas da reforma se concentraram na transferência <strong>de</strong> pessoal para aprestação <strong>de</strong> serviços nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scentralizadas para estados e municípios,persistindo, contudo, vinculação ao regime fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> recursos humanos, o quegerou conflitos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m administrativa no Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no período pós 1990até 1994, o qual se dividiu entre as propostas da Reforma Sanitária, o Projetoneoliberal, e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento para as ações do SUS. É o período daimplantação dos Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no SUS.O neoliberalismo surge após a Segunda Guerra Mundial, na Europa e naAmérica do Norte, como uma reação contra o Estado <strong>de</strong> Regulação <strong>de</strong> B<strong>em</strong>-EstarSocial, sustentado pela social-<strong>de</strong>mocracia. De acordo o projeto neoliberal eranecessário combater as raízes da crise que se originava no po<strong>de</strong>r dos sindicatos edo movimento operário, que pressionavam por melhores salários, condições <strong>de</strong> vidae trabalho e ampliavam os gastos sociais, assumidos pelo Estado. Um plano daação programática é acionado <strong>em</strong> 1973, quando o mundo capitalista enfrenta umacrise estrutural, com longa e profunda recessão, combinando, pela primeira vez,baixas taxas <strong>de</strong> crescimento com altas taxas <strong>de</strong> inflação (ANDERSON inABRAMIDES, 2003)O período compreendido entre 1987 e 1990, foi marcado pelainstitucionalização das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,_____________________________________________________________________________________________________________________________19 PPRA - <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Riscos Ambientais NR 9. Brasil.Lei n°6514 <strong>de</strong> 12/12/1977; NR 920 PCMSO - <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Controle Médico <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Ocupacional NR 7. Brasil. Lei n°6514 <strong>de</strong>12/12/1977; NR 7.39


40com amparo legal. É o período da promulgação da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988,das Constituições Estaduais e da elaboração da Lei Orgânica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> 1990.Ao final dos anos 1980, a política <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> era marcada pelaineficiência da gestão pública e pela baixa efetivida<strong>de</strong> das ações no atendimento dasNa América Latina, sua execução mais severa que correspon<strong>de</strong> aos ditamesdo FMI e do Banco Mundial e concretiza-se na abertura <strong>de</strong> novos espaços <strong>de</strong>exploração do capital privado e na diss<strong>em</strong>inação da presença do Estado naeconomia. O projeto neoliberal oriundo da estratégia internacional do capitalestabelece uma política econômica monetarista com ampla privatização <strong>de</strong><strong>em</strong>presas estatais, <strong>em</strong> que o t<strong>em</strong>a é "Estado mínimo" e "máximo <strong>de</strong> mercado".No Brasil inicia-se no final do governo Sarney e continua nos governos Collore Itamar e é firmado no período <strong>de</strong> FHC (1994/2002). Sua implantação v<strong>em</strong>imprimindo filantropização na área da assistência, nas políticas sociaiscompensatórias, <strong>em</strong> substituição a políticas sociais <strong>de</strong> caráter universal; na privação<strong>de</strong> direitos sociais (educação, saú<strong>de</strong>, previdência, assistência) e na<strong>de</strong>sregulamentação <strong>de</strong> direitos sociais e trabalhistas.Faltava o financiamento para as ações do SUS, apesar da garantia <strong>em</strong> lei.Mas fica evi<strong>de</strong>nte que a assistência à saú<strong>de</strong> é priorizada pela privatização do setortanto da previdência como dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimentonos serviços públicos r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a população para essas alternativas.Esse período é marcado pela incerteza dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,disponibilizados por novas e inovadoras propostas. As disputas são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adaspelo M.T. e Previdência, órgão do Governo que por tradição comandam as políticas<strong>de</strong> S.T.A Constituição <strong>de</strong> 1988, com são <strong>de</strong>finidas como <strong>de</strong> caráter universal eeqüitativo sobre a política <strong>de</strong> segurida<strong>de</strong> – saú<strong>de</strong>, previdência e assistência –,(ABRAMIDES, 2003) t<strong>em</strong> características do neoliberalismo que consubstanciam oEstado mínimo e o Estado ampliado para o capital, <strong>em</strong> que os interesses privadossobrepõ<strong>em</strong>-se aos interesses públicos.40


41Após 1994 iniciou-se o quarto momento a partir <strong>de</strong> DIAS; que parece estarainda <strong>em</strong> <strong>de</strong>curso. Esse foi marcado pela expectativa das leis a ser<strong>em</strong> cumpridas,sobre a <strong>de</strong>finição das responsabilida<strong>de</strong>s dos órgãos envolvidos, também sobre aperspectiva <strong>de</strong> ver uma ação curativa, baseada <strong>em</strong> atendimento nos serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> para uma ação que proporcione Saú<strong>de</strong> aos Trabalhadores.Nessa fase <strong>de</strong> expectativa o setor saú<strong>de</strong> foi conquistando novos caminhos. Éo caso da pesquisa <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong> integrar e articular com asnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população. Um ex<strong>em</strong>plo disso foi a I ConferênciaNacional <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> (I CNCT/S), realizada <strong>em</strong> 1994, queproporcionou o direcionamento das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para a tecnologia e a ciência.É implantado no Brasil, <strong>em</strong> 1994, o <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (PSF),com a proposta <strong>de</strong> modificar e expandir o acesso da população aos serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong>, trata-se <strong>de</strong> “uma estratégia que possibilita aintegração e promove a organização das ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> um território <strong>de</strong>finido, com opropósito <strong>de</strong> propiciar o enfrentamento e a resolução dos probl<strong>em</strong>as i<strong>de</strong>ntificados”(MS, 1998).Ainda no ano <strong>de</strong> 1994, o Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> fomentar asações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador <strong>em</strong> Estados e Municípios e encaminhar as<strong>de</strong>liberações da II Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (ver it<strong>em</strong> 1.2.1),elabora a Norma Operacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no SUS (NOST). Um dospontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque foi colocar <strong>em</strong> prática a atenção integral à saú<strong>de</strong> dostrabalhadores que se realizasse com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejada.No que tange as políticas <strong>de</strong> S.T. conquistadas a partir <strong>de</strong>sse época cita-se aestrutura física b<strong>em</strong> a<strong>de</strong>quada às necessida<strong>de</strong>s do Serviço, parceria com outrasinstituições e avanços legais como a Portaria nº 2320 <strong>de</strong> 25/07/95 que <strong>de</strong>fineatribuições do SUS quanto à vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador.Consi<strong>de</strong>rando que um dos marcos da Saú<strong>de</strong> Pública e especificamente daS.T. no Brasil foram as Conferências, <strong>de</strong>las se fará um breve histórico no próximoit<strong>em</strong>.41


421.2 - Conferências Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS)Conforme pontua a historia será apresentado um breve relato cronológico dasConferências Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Brasil.Em 1937 através da Lei nº. 378 foram instituídas as ConferênciasNacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong> reorganização do Ministério da Educação eSaú<strong>de</strong> Pública. (PINHEIRO, 2005) 21 .Mas somente <strong>em</strong> 1941 foi realizada a 1ªConferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Realizada tendo como principais t<strong>em</strong>as: aorganização sanitária estadual e municipal, a ampliação das campanhasnacionais contra a lepra e a tuberculose, o <strong>de</strong>senvolvimento dos serviços básicos<strong>de</strong> saneamento e o plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da obra nacional <strong>de</strong> proteção àmaternida<strong>de</strong>, à infância e à juventu<strong>de</strong>.Depois <strong>de</strong> 9 anos (1950) realizou-se a 2ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,que como a primeira, firmaram um campo institucional próprio ao sanitarismo. Nesteperíodo, a saú<strong>de</strong> está vinculada ao Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong>.A efervescência das Reformas <strong>de</strong> Base ocorreu <strong>em</strong> 1963 na 3ª ConferênciaNacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, on<strong>de</strong>, pela primeira vez, <strong>em</strong> nível nacional foi discutidoefetivamente a situação Sanitária no Brasil e a Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Os t<strong>em</strong>asdiscutidos foram: A situação Sanitária no Brasil, e a Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Estafoi a primeira conferência que tratou <strong>de</strong> fato <strong>de</strong> discutir uma política setorial.No ano <strong>de</strong> 1966 a 4ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> foi marcada peloesvaziamento do t<strong>em</strong>ário, tratando setorialmente dos Recursos Humanos. Estaconferência foi marcada pela participação <strong>de</strong> seus integrantes comprometidos comum sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privativista e voltados aos interesses do capital.A 5ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> realizada no ano <strong>de</strong> 1975, tratou dos<strong>Programa</strong>s como o Materno Infantil, Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica, Controle dasEn<strong>de</strong>mias e Extensão das Ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> às Populações Rurais.____________________________________________________________________________________________________________________21 O enfoque <strong>de</strong>sse trabalho é o período pós-1986, portanto serão discorridas sobre asconferências realizadas nesse período até os dias <strong>de</strong> hoje (2006).42


43Em 1977 a 6ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que foi consi<strong>de</strong>rada umretrocesso <strong>em</strong> relação às conferências anteriores.Realizou-se <strong>em</strong> 1980 a 7ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, no Auditório doItamaraty, ainda somente com pessoal técnico da saú<strong>de</strong>.Em 1986, o momento político era marcado pelo <strong>de</strong>scaso dos governos pelaárea <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador. Isso fica claro quando se observam as dificulda<strong>de</strong>sreais <strong>de</strong> acesso dos trabalhadores aos serviços públicos, a visão “curativa” tanto dosprofissionais como dos serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>finiam funções específicas àreabilitação e fisioterapia.No Brasil ocorreram gran<strong>de</strong>s conquistas na área da Saú<strong>de</strong> e na Saú<strong>de</strong> doTrabalhador com <strong>de</strong>staque para a 8ª CNS 22 e a 1ªCNST 23 , e as que proce<strong>de</strong>ram 9ª,10ª, 11ª e 12ª.A 8ªCNS foi precedida pelas Pré-Conferências Municipais e, na seqüência, osrepresentantes <strong>de</strong>stas participaram das Conferências Estaduais. Po<strong>de</strong>-se dizer quefoi um exercício <strong>de</strong> cidadania para os participantes que, pela primeira vez, estavamnesse processo <strong>de</strong>mocrático, representados <strong>de</strong> forma paritária, o que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ouum momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s discussões e conquistas.Esse processo <strong>de</strong>mocrático foi vivenciado por discussões <strong>em</strong> mesasredondas,trabalhos <strong>em</strong> grupo, <strong>de</strong>bates e os conseqüentes relatórios culminaramnum documento aprovado na plenária final. Tais documentos ficaram registrados nahistória da Saú<strong>de</strong> Pública e na Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no Brasil.____________________________________________________________________________________________________________________22 8ª CNS foi realizada entre os dias 17 e 23 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1986. A Participaram mais <strong>de</strong> 4000pessoas, das quais 1000 representantes <strong>de</strong> partidos políticos, sindicatos, fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, secretários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, professores universitários e a socieda<strong>de</strong> civil.Os t<strong>em</strong>as discutidos foram: Saú<strong>de</strong> como Direito, Reformulação do Sist<strong>em</strong>a Nacional <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong>, Financiamento do Setor. Entre esses, um dos mais discutidos foi o Sist<strong>em</strong>a Nacional<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que se situou na questão Saú<strong>de</strong> e Trabalho.231ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores. Participaram: 399 <strong>de</strong>legados,<strong>de</strong>sses 183 eram representantes dos trabalhadores, 162 do Estado, 36 <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s, 12<strong>de</strong> outras categorias, políticos e <strong>em</strong>presas, 127 observadores, 55 convidados e 75 m<strong>em</strong>brosda comissão organizadora.43


44Essa Conferência foi consi<strong>de</strong>rada um avanço na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticas para aárea e um exercício <strong>de</strong> cidadania, como disse o então presi<strong>de</strong>nte José Sarney, <strong>em</strong>seu discurso na abertura da 8ª CNS. Teve como principal marca a formulação <strong>de</strong>conteúdos para a Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e para a Saú<strong>de</strong> do Trabalhador noPaís, os quais: as <strong>de</strong>finições da Unificação das Ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador noSUS, e a discussão das dimensões políticas, sociais, econômica, técnicas egerenciais <strong>de</strong>sse caso particular <strong>de</strong> política pública incorporados na ConstituiçãoFe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 e na Lei Orgânica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> - Lei 8080/90.O aprofundamento das análises e o <strong>de</strong>talhamento das propostas, paraalcançar os objetivos e metas almejadas, foi o resultado das seguintes MesasRedondas realizadas: I. Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador; II. Assistência à Saú<strong>de</strong>do Trabalhador; III. Financiamento das Ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador; IV. ContratoColetivo <strong>de</strong> Trabalho, Probl<strong>em</strong>as e Perspectivas.A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se exija o óbvio, o cumprimento da lei ou <strong>de</strong> que sejamreapresentadas as mesmas propostas, <strong>de</strong>corridos quase dois anos, somenteconfirma a forma com que a saú<strong>de</strong> v<strong>em</strong> sendo tratada pelos responsáveis porpolíticas públicas no país. Porém, <strong>de</strong>monstra também que a classe trabalhadora nãoabre mão <strong>de</strong> seus direitos adquiridos, tampouco <strong>de</strong> seus anseios por melhorescondições <strong>de</strong> vida e trabalho. (8ª CNS, 1986).O cenário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, <strong>de</strong> 1986 a 1993, teve as estratégias <strong>de</strong>avanço na construção da Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, com osregistros <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças no trabalho e o reconhecimento das doençasrelacionadas ao trabalho, pelo SUS. Mas na prática foram poucas as mudanças.Isto mostrou que eram necessárias discussões que facilitass<strong>em</strong> oentendimento acerca dos condicionantes do processo saú<strong>de</strong>-doença. São muitas asvariáveis que faz<strong>em</strong> parte da saú<strong>de</strong> ou da doença do cidadão: condições <strong>de</strong> vida,moradia, trabalho, meio ambiente da fábrica, <strong>de</strong>ntre outros.Por isso ao analisar a ST, chega-se a uma conclusão que é uma área muitoampla e pouco explorada. Isto significa que cada ambiente <strong>de</strong> trabalho t<strong>em</strong> sua44


45característica e este precisa <strong>de</strong> diversos olhares com a participação <strong>de</strong> uma equip<strong>em</strong>ultiprofissional que entrelace ações <strong>de</strong> outros setores que não prevaleça do SetorSaú<strong>de</strong>, do Trabalho, Assistência Social, entre outros. Porém não <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> formaisolada como é realizada, mas <strong>de</strong> forma organizada e unida estes Ministérios e/ouSecretarias po<strong>de</strong>rão realizar ações mais eficazes.Por ex<strong>em</strong>plo, a ST precisa ser analisada como um todo, incluindo ascondições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sse trabalhador, como alimentação, (a falta ou alimentaçãoina<strong>de</strong>quada) para o tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> realizada e que irá influenciar diretamente nasua saú<strong>de</strong> e segurança. O trabalhador mal alimentado não produz como po<strong>de</strong>ria e oque é mais grave: po<strong>de</strong> <strong>de</strong>smaiar, cair e até chegar ao óbito. A pressão no ambiente<strong>de</strong> trabalho, a falta <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> segurança e treinamentos, os direitos nãogarantidos, a falta <strong>de</strong> registro <strong>em</strong> carteira, entre outros - um olhar <strong>de</strong> cadaprofissional po<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar qual é o risco ou a <strong>de</strong>ficiência no ambiente <strong>de</strong> trabalho ena vida <strong>de</strong>ste trabalhador que consequent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> equipe po<strong>de</strong> chegar aoconsenso dos agravos à saú<strong>de</strong> dos trabalhadores.Outros assuntos também discutidos foram: as Políticas <strong>de</strong> RecursosHumanos, a capacitação e reciclag<strong>em</strong> permanente, composição multiprofissionaldas equipes; compromissos dos servidores com os usuários; formação dosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> integrada ao Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>; tributo das <strong>em</strong>presasproporcionalmente ao número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho como mecanismo financeirocoercitivo <strong>de</strong> estímulo à sua prevenção (CNS, 1986).A conclusão da Comissão Organizadora foi que o relatório final expressoufielmente o momento político com a materialização das discussões através daspropostas e os resultados foram coerentes, possíveis <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> implantados.Apresenta-se o resumo do relatório final no qual preconizou-se:• A lei <strong>de</strong>verá ser modificada conforme os objetivos da Reforma Sanitária;• Novo sist<strong>em</strong>a nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>: <strong>de</strong>scentralização dos serviços;integralização das ações; regionalização e hierarquização das unida<strong>de</strong>s prestadoras<strong>de</strong> serviços, participação da população no planejamento, gestão, avaliação das45


46ações, municipalização das ações, através dos Conselhos locais, Municipais,Estaduais;• A separação da Saú<strong>de</strong> do Ministério da Previdência, para que o InstitutoNacional <strong>de</strong> Previdência Social (INAMPS) ficasse com as ações <strong>de</strong> seguro social(pensões, aposentadorias e <strong>de</strong>mais benefícios) e a saú<strong>de</strong> sob responsabilida<strong>de</strong> dogoverno Fe<strong>de</strong>ral com características e financiamentos próprios;• Financiamento: indicada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma discussão maior.Fica patente, a resistência <strong>de</strong> órgãos ligados ao Ministério do Trabalho e queo SUS é a instância do Estado que <strong>de</strong>ve coor<strong>de</strong>nar e nuclear as ações voltadas àpromoção, proteção e recuperação da saú<strong>de</strong> dos trabalhadores (Brasil, MS, 1994).A luta <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res na questão Saú<strong>de</strong> do Trabalhador é histórico como jávimos, um período ficava sob responsabilida<strong>de</strong> da Saú<strong>de</strong> outro do Ministério e nuncase <strong>de</strong>finia e somava forças tanto que até hoje são raras as ações <strong>em</strong> conjunto entreos dois Ministérios.Afirmou-se que o direito à saú<strong>de</strong> no trabalho implica a <strong>de</strong>mocratização dasrelações nos ambientes e processos <strong>de</strong> trabalho, com pleno respeito às garantias edireitos individuais e coletivos. Essa <strong>de</strong>mocratização supõe reconhecer osambientes <strong>de</strong> trabalho, mesmo nas <strong>em</strong>presas privadas, como espaços públicos, osquais o cidadão exerce seu direito ao trabalho, ficando abertos, portanto, àintervenção regulamentadora do po<strong>de</strong>r público.Outra conquista foi o <strong>de</strong>staque na elaboração <strong>de</strong> uma política governamentalque orientasse e pu<strong>de</strong>sse garantir as condições <strong>de</strong> trabalho, não prejudicando aotrabalhador, l<strong>em</strong>brando que é responsabilida<strong>de</strong> civil e criminal do <strong>em</strong>pregador, qu<strong>em</strong>antém as condições insalubres e periculosas <strong>de</strong> trabalho. 24__________________________________________________________________________24 Os <strong>em</strong>pregadores tentam fazer os trabalhadores pensar<strong>em</strong> que estão nas melhores condições <strong>de</strong>trabalho e que essas não po<strong>de</strong>m ser melhoradas, sujeitando-os a essas condições. Porém aqui estáa importância dos sindicatos e movimentos organizados que não estão diretamente envolvidos nasituação <strong>de</strong> risco esses po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>nunciar as irregularida<strong>de</strong>s que sofr<strong>em</strong> os trabalhadores. Otrabalhador (sujeito) busca a verda<strong>de</strong> e essa só po<strong>de</strong> se manifestar a partir da posição <strong>de</strong> combate eda vitória do sujeito que está falando. A realida<strong>de</strong> do ambiente <strong>de</strong> trabalho só vai aparecer quando otrabalhador tiver meios para expressar suas opiniões e as situações vividas. O fato <strong>de</strong> estar numa46


47As Conferências <strong>de</strong>spertaram o interesse dos cidadãos, como se fosse umaalternativa <strong>de</strong> mudanças e uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar as situações sofridas pelosusuários. Os relatórios <strong>de</strong>monstraram a presença significativa <strong>de</strong> público,especialmente na 8ª CNS (PINHEIRO, 2005).Em síntese, o primeiro grupo formado por sanitaristas e trabalhadores nogoverno e na Constituinte propuseram a universalização da saú<strong>de</strong> e tentarama<strong>de</strong>quar as estruturas estatais às novas <strong>de</strong>mandas impostas pelos trabalhadoresorganizados.O outro grupo que compreendia os reformistas, por sua vez, tentou avançar eimpor novas responsabilida<strong>de</strong>s ao Estado, incapaz <strong>de</strong> reverter o quadro social <strong>de</strong>uma crise fiscal e política (VILAÇA, 1995, p.51).No <strong>de</strong>correr dos trabalhos da 8ª CNS, o Centro <strong>de</strong> Estudos da Saú<strong>de</strong> doTrabalhador e Ecologia Humana (CESTEH), da Escola Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública -Fundação Oswaldo Cruz - foi <strong>de</strong>signado pela Comissão Organizadora o responsávelpelos <strong>de</strong>sdobramentos das propostas na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.Dois instrumentos fundamentais para a Saú<strong>de</strong> Pública no Brasil foram<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados a partir <strong>de</strong>sse momento: A Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>em</strong> 1988 e a LeiOrgânica da Saú<strong>de</strong> (LOS) <strong>em</strong> 1990 (Lei 8080/90)A Constituição Fe<strong>de</strong>ral 25 , promulgada <strong>em</strong> 1988, <strong>de</strong>fine as ações e serviçospúblicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que integram uma re<strong>de</strong> regionalizada e hierarquizada econstitu<strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a único, organizado, <strong>de</strong> acordo com as seguintes diretrizes:<strong>de</strong>scentralização, atendimento integral com priorida<strong>de</strong> para as ativida<strong>de</strong>sposição <strong>de</strong>scentralizada permite-lhe <strong>de</strong>cifrar as verda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>nunciar as ilusões e os erros que seacreditam existir. E como referência FOUCAULT: sujeito que está falando do direito está procurandoa verda<strong>de</strong>. É como se no interior <strong>de</strong> cada discurso, ou num t<strong>em</strong>po anterior a ele, se pu<strong>de</strong>sseencontrar, intocada, a verda<strong>de</strong> (2002, p. 62).25 A Constituição Fe<strong>de</strong>ral, a chamada “Carta Magna”, foi promulgada <strong>em</strong> 1988. A área da Saú<strong>de</strong> está<strong>de</strong>finida na Seção II, a partir do artigo 196 até o 200. O Conceito <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é o direito <strong>de</strong> todos e<strong>de</strong>ver do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que vis<strong>em</strong> à redução do risco <strong>de</strong>doença e <strong>de</strong> outros agravos, além do acesso universal e igualitário às ações e serviços para suapromoção, proteção e recuperação.47


48preventivas, s<strong>em</strong> prejuízo dos serviços assistenciais, direção única <strong>em</strong> cada esfera<strong>de</strong> governo, participação da comunida<strong>de</strong>.A Constituição buscou, explicitamente, assegurar o acesso universal eigualitário - s<strong>em</strong> restrições e discriminações <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> posições sociais.Destacam-se os seguintes trechos <strong>de</strong>ssa lei: Competência do SUS (Artigo200), as atribuições: executar as ações <strong>de</strong> vigilância sanitária, b<strong>em</strong> como as <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> do trabalhador; formação <strong>de</strong> recursos humanos na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido, e do trabalho.No início dos anos 90, coincidindo com a instalação <strong>de</strong> um novo governo -governo Collor <strong>de</strong> Mello –, estava sendo r<strong>em</strong>ovido o “entulho autoritário” que foisubstituído por um novo arcabouço jurídico: a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 e asLeis Orgânicas (VILAÇA, 1995, p.49).No Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, mesmo antes do SUS, o objetivo era aten<strong>de</strong>r ostrabalhadores do mercado informal e formal, com a estratégia <strong>de</strong> incorporá-los àre<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, intervindo nos locais <strong>de</strong> trabalho “e não comomeros consumidores <strong>de</strong> receitas e prescrições médicas”.A LOS <strong>de</strong>finiu as atribuições da Saú<strong>de</strong> nos âmbitos Fe<strong>de</strong>ral, Estadual eMunicipal, b<strong>em</strong> como foram concretizadas diversas conquistas, as quais segu<strong>em</strong>:• Define saú<strong>de</strong> do trabalhador e <strong>de</strong>stina as ações <strong>de</strong> vigilância sanitária, àpromoção e proteção da saú<strong>de</strong> dos trabalhadores, assim como visa à recuperação ea reabilitação da saú<strong>de</strong> dos trabalhadores;• Está incluída ainda, no campo <strong>de</strong> atuação do SUS, a execução <strong>de</strong> ações <strong>de</strong>vigilância sanitária e saú<strong>de</strong> do trabalhador; a colaboração na proteção do meioambiente, nele compreendido o do trabalho;• Avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saú<strong>de</strong>, a informaçãoao trabalhador e à sua respectiva entida<strong>de</strong> sindical e a <strong>em</strong>presas sobre os riscos <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho, doença profissional e do trabalho, participação nanormatização, fiscalização e controle dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador nasinstituições e <strong>em</strong>presas públicas e privadas;Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> discussão, b<strong>em</strong> como da promulgação daLei <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, ocorreu a unificação das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador no SUS e a<strong>de</strong>finição das atribuições dos órgãos envolvidos, politicamente falando (LACAZ,1997).48


49Apesar <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>finições as dificulda<strong>de</strong>s, os conflitos (Ver It<strong>em</strong> 1.4.1)interinstitucionais são muito gran<strong>de</strong>s. Nesta perspectiva é preciso a <strong>de</strong>finições <strong>de</strong>atribuições e políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador voltadas ao trabalhador e controlesocial para que se efetiv<strong>em</strong> essas ações.Até 1992, foram registrados 161 programas ou ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador <strong>em</strong> todos os 26 estados do Brasil, oferecidos pelo SUS. Umnúmero significativo consi<strong>de</strong>rando o início das ações na área <strong>de</strong> ST e a recenteaprovação da lei. Mas se for analisado por outro viés o número <strong>de</strong> municípios naépoca (1992) era <strong>de</strong> 4974 (SUS/IBGE-1981-2006), sendo assim apenas 3,2% dosmunicípios, ou seja, foram poucos que contavam com programas <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> dotrabalhador no período.Segundo Lacaz (1996), a luta da socieda<strong>de</strong> civil é consagrada e perceptível àinfluência na lei do SUS, especificamente no Capítulo II, Seção II, it<strong>em</strong> VIII -participação da comunida<strong>de</strong>.Nos Princípios e Diretrizes do SUS, as ações e serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> eos serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> – SUS - são <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong> acordo com as diretrizes previstas no artigo198 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, obe<strong>de</strong>cendo ainda aos seguintes princípios:I - universalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> todos os níveis <strong>de</strong>assistência;II - integralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência, entendida como um conjunto articulado econtínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,exigidos para cada caso <strong>em</strong> todos os níveis <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a;III - preservação da autonomia das pessoas na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> sua integrida<strong>de</strong>física e moral;IV - igualda<strong>de</strong> da assistência à saú<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> preconceitos ou privilégios <strong>de</strong>qualquer espécie;V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saú<strong>de</strong>;VI - divulgação <strong>de</strong> informações quanto ao potencial dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> esua utilização pelo usuário;VII - utilização da epi<strong>de</strong>miologia para o estabelecimento <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s, aalocação <strong>de</strong> recursos e a orientação programática.49


50Concluí-se que o SUS t<strong>em</strong> a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>na assistência à saú<strong>de</strong> da população, tornando obrigatório o atendimento público aqualquer trabalhador/cidadão, sendo proibida cobrança <strong>de</strong> dinheiro sob qualquerpretexto. E ainda têm direito a consultas, exames, internações e tratamentos nasunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> vinculadas, sejam públicas (da esfera municipal, estadual efe<strong>de</strong>ral), contratadas pelo gestor público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>Depois <strong>de</strong> 12 anos (2002) da sancionada essa lei o Conselho Nacional <strong>de</strong>Secretários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CONASS) realizou uma pesquisa, cujos dados mostraramque apenas 35% dos brasileiros sab<strong>em</strong> o que significa a sigla "SUS", isto mostra qu<strong>em</strong>ais da meta<strong>de</strong> (65%) <strong>de</strong>sconhec<strong>em</strong> o quer dizer Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, portantoa população precisa <strong>de</strong> mais informações sobre o SUS e sobre os seus direitos.Outro ponto a ser <strong>de</strong>stacado <strong>de</strong>pois da criação do SUS é a promulgação daLei nº. 8142/1990 que consolidada a participação <strong>de</strong>mocrática e dispõe sobre aparticipação da comunida<strong>de</strong> na gestão do SUS, <strong>de</strong>liberando sobre a realização <strong>de</strong>Conferências e instituição dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. 26A composição <strong>de</strong>sses conselhos se dá através <strong>de</strong> representação dasocieda<strong>de</strong> civil, dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, dos gestores e <strong>de</strong> prestadores <strong>de</strong>serviços. Estabelece a composição paritária dos usuários, <strong>em</strong> relação aos outrossegmentos representados. Desta forma, um Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá sercomposto por representantes do Governo, <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> prestadores<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e usuários, sendo o seu presi<strong>de</strong>nte eleito entre os m<strong>em</strong>bros doConselho, <strong>em</strong> reunião plenária.O Conselho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> torna-se permanente e <strong>de</strong>liberativo, composto por:representantes do governo, prestadores <strong>de</strong> serviço, profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> eusuários. T<strong>em</strong> como função a formulação <strong>de</strong> estratégias e o controle da execuçãoda política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas<strong>de</strong>cisões serão homologadas pelo chefe do po<strong>de</strong>r legalmente constituído <strong>em</strong> cadaesfera do governo._____________________________________________________________________________________________________________________________26O Golpe <strong>de</strong> Estado no pós-1964 retirou a representativida<strong>de</strong> da Socieda<strong>de</strong> Civil, a qual foirecuperada com essa lei <strong>de</strong>fine que a Conferência será organizada a cada 4 (quatro) anos, com arepresentação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e propor as diretrizespara a formulação da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nos níveis correspon<strong>de</strong>ntes.50


51De acordo com o exposto o SUS propõe uma gestão <strong>de</strong>mocrática, cabendoaos conselhos a formulação e execução das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que <strong>de</strong>verão serimplantadas nas secretarias <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> nível municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral. Logoo Controle Social nas três esferas <strong>de</strong> governo (fe<strong>de</strong>ração, estados e municípios).Para isso é necessário que os conselheiros tenham acesso a informaçõessobre a realida<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miológica do município, estrutura assistenciais, além disso,atu<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma consciente e responsável porque essa representação t<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>intervir na realida<strong>de</strong>, através da <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> políticas que efetivamente promovama saú<strong>de</strong> da população. Então os Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> e precisam serconstituídos nos Municípios, Estados e a nível Fe<strong>de</strong>ral. Começando pelo municípiosão eleitos os <strong>de</strong>legados/conselheiros que representam o município discut<strong>em</strong>propostas e <strong>de</strong>liberam sobre ações, consequent<strong>em</strong>ente, serão convocados para aConferência Estadual e também po<strong>de</strong>rão ser eleitos para compor o ConselhoEstadual e assim sucessivamente.As Conferências por sua vez têm o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> legitimar posições contraditóriasdo governo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que aprovadas e elaboradas nesse Fórum <strong>de</strong> representação eprecisariam se manter a partir <strong>de</strong> seus objetivos e uma forma <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>resultados. Portanto as discussões das Conferências precisam ser <strong>de</strong> caráter geral ecoletivo da socieda<strong>de</strong> como a discussão <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as enfrentados pela população,soluções como discussão e proposição <strong>de</strong> idéias.Porém a 9ª CNS 27 cujo t<strong>em</strong>a principal foi Descentralizando e D<strong>em</strong>ocratizandoo conhecimento realizou-se <strong>em</strong> 1992, somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 6 anos <strong>de</strong>ssa lei. Nesseperíodo sob a presidência <strong>de</strong> Fernando Collor <strong>de</strong> Mello, foram vetados vários itensda Lei 8.080, a maioria <strong>de</strong>les relacionados à "participação da comunida<strong>de</strong>", com apretensão à revisão da Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Mas o objetivo principal era a retiradadas responsabilida<strong>de</strong>s dos serviços públicos <strong>em</strong> relação à saú<strong>de</strong>.Também foram discutidos os t<strong>em</strong>as “Construindo uma Política <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador", Desenvolvimento, Meio-Ambiente e Saú<strong>de</strong>. No evento, foram <strong>de</strong>finidas_____________________________________________________________________________________________________________________________27 Na 9ª CNS participaram cerca <strong>de</strong> 3 mil <strong>de</strong>legados e participantes cre<strong>de</strong>nciados e mais <strong>de</strong> 1.500observadores, nacionais e internacionais"; Nos t<strong>em</strong>as básicos <strong>de</strong>ssa Conferência e as propostasforam direcionados para os probl<strong>em</strong>as dos trabalhadores da saú<strong>de</strong>: como manter os benefícios dotrabalhador aposentado tal qual foss<strong>em</strong> trabalhadores da ativa e foi <strong>de</strong>fendida a aposentadoria port<strong>em</strong>po <strong>de</strong> serviço.51


52as linhas e estratégias <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entação da Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador retomadas na 2ª CNST. (ver it<strong>em</strong> 1.2.1)O resultado <strong>de</strong>ssas 9ª CNS foi o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização que permitiuque 5.049 municípios brasileiros, o que correspon<strong>de</strong> a 91,7% do total (Brasil, 1998)estejam envolvidos no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégias para a sua avaliação dasações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Já a 10ª CNS 28 realizada <strong>em</strong> 1996 foi novamente uma reprodução e umadiscussão dos direitos adquiridos pela 8ªCNS. Ao invés dos participantes dasConferências apresentar<strong>em</strong> diretrizes, para que os Conselhos tenham efetivo papel<strong>de</strong>liberativo sobre o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, transfere-se o <strong>de</strong>bate e a responsabilida<strong>de</strong>ao Ministério, Secretarias Estaduais e Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. (Pinheiro, 2005). Essefórum voltou com mais força, associado à idéia <strong>de</strong> satisfazer às necessida<strong>de</strong>s dapopulação.No relatório final salientou os t<strong>em</strong>as e as propostas os quais segu<strong>em</strong>: Saú<strong>de</strong>,Cidadania e Políticas Públicas; Gestão e Organização dos Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;Controle Social na Saú<strong>de</strong>; Financiamento da Saú<strong>de</strong>; Recursos Humanos para aSaú<strong>de</strong>; Atenção Integral à Saú<strong>de</strong>.Entre as propostas apresentadas a referência <strong>de</strong> conquista já <strong>de</strong>finidas e ainterpretação, <strong>de</strong>stacam-se na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador:• O MS, Secretarias Estaduais e Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong><strong>de</strong>senvolver uma Política <strong>de</strong> Atenção Integral à Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, através <strong>de</strong>ações nas Unida<strong>de</strong>s e Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e com uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência técnica;• A assistência e vigilância à Saú<strong>de</strong> do Trabalhador nos Municípios eregiões dos Estados <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser organizadas a partir <strong>de</strong> indicadores populacionais,perfil sócio-econômico, padrões <strong>de</strong> morbi-mortalida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong>s econômicaspredominantes e distribuição dos trabalhadores.___________________________________________________________________________28 10ª CNS Foi precedida por 27 Conferências Estaduais e mais <strong>de</strong> 3 mil Conferências Municipais,sendo 1.260 <strong>de</strong>legados provenientes das Conferências Estaduais. Participaram cerca "1.260<strong>de</strong>legados provenientes das Conferências Estaduais <strong>de</strong> todos os Estados da União e do DistritoFe<strong>de</strong>ral, antecedidas por quase 3.000 Conferências Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>", além <strong>de</strong> participar<strong>em</strong>"também <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s nacionais, 351 convidados e 1.341 observadores".52


53• As Comissões Interinstituicionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador,impl<strong>em</strong>entadas nos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,conforme o artigo 12 da Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 8080/90, para <strong>de</strong>liberar<strong>em</strong> osencaminhamentos e as <strong>de</strong>mandas específicas, b<strong>em</strong> como para <strong>de</strong>finir a Política <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador e as ações intersetoriais;• Os Gestores do SUS <strong>de</strong>v<strong>em</strong> impl<strong>em</strong>entar as resoluções da I e da IIConferências Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador e o Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>veoficializar a Norma Operacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no SUS (NOST-SUS) que<strong>de</strong>fine as competências e a operacionalização das ações <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhadornos diferentes níveis do SUS. Dev<strong>em</strong> também realizar a III Conferência Nacional <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador;• O Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve encaminhar ao Congresso Nacional um Projeto<strong>de</strong> Lei que disponha sobre as Comunicações <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes do Trabalho (CAT) 29 ;• O Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve regulamentar, na forma <strong>de</strong> Portaria, ocre<strong>de</strong>nciamento dos serviços do SUS para efetivar os exames obrigatórios paraadmissão, <strong>de</strong>missão e avaliação periódica dos trabalhadores, medianteressarcimento por parte das <strong>em</strong>presas aos Fundos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos valoresrespectivos, permitindo o cre<strong>de</strong>nciamento <strong>de</strong> médicos e clínicas privadas apenasnos Municípios on<strong>de</strong> o SUS não possa respon<strong>de</strong>r por esses serviços;• O Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve regulamentar o funcionamento e o controledas ações dos serviços especializados <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Segurança e Medicina doTrabalho, consi<strong>de</strong>rando que são serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e que as ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador são <strong>de</strong> competência do SUS;• O Ministério da Saú<strong>de</strong> e as Secretarias Estaduais e Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><strong>de</strong>v<strong>em</strong> incluir, na Política <strong>de</strong> Atenção Integral à Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, ações queconsi<strong>de</strong>r<strong>em</strong> a forma diferenciada com que o trabalho interfere na saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> homense mulheres, assim como das especificida<strong>de</strong>s raciais na relação Saú<strong>de</strong> e Trabalho 30 ._____________________________________________________________________________________________________________________________29 Sabe-se que a <strong>em</strong>issão da CAT é <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> lei (ver it<strong>em</strong> 1.4.1), mas a discrepância <strong>de</strong>ssaproposta é envolver o SUS para que intensifica a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong>sse documento, consi<strong>de</strong>rando que não é<strong>de</strong> competência da saú<strong>de</strong>.30 No próximo capítulo <strong>de</strong>sse trabalho será melhor discutido sobre os dados <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>,morbida<strong>de</strong>, entre outros.Mas <strong>de</strong>staca-se que esses dados não reflet<strong>em</strong> a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido a subnotificação.Portanto não <strong>de</strong>veria ser tomado como parâmetro para a realização das ações.53


54• Estas propostas evi<strong>de</strong>nciam que os participantes <strong>de</strong>sta conferência não t<strong>em</strong>claro as atribuições dos órgão e envolvidos na área <strong>de</strong> S.T. com: o INSS, MT,MPAS. Por ex<strong>em</strong>plo nas propostas <strong>de</strong> controle dos SESMT, este Serviço é <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong> do Ministério do Trabalho, por que <strong>de</strong>fine o número <strong>de</strong>profissionais que irão trabalhar na <strong>em</strong>presa. L<strong>em</strong>brando que o SUS, t<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong>exigir ações das <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> evitar os riscos no ambiente <strong>de</strong> trabalho.Outra proposta <strong>de</strong>finiu a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> CAT, mas na legislação já esta claro quea <strong>em</strong>issão da CAT é do médico que aten<strong>de</strong>u o trabalhador, sendo ele da <strong>em</strong>presaque particular, ou do SUS, não po<strong>de</strong>ndo ficar nas mãos somente <strong>de</strong> um órgão. Aindaa proposta do SUS cobrar das <strong>em</strong>presas os exames ocupacionais, sendo que é<strong>de</strong>finido também por lei (NR) que a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong>ve provi<strong>de</strong>nciar este serviço, não ocontrário e o órgão que faz esta verificação é o MT. O envolvimento e o interessedos participantes são evi<strong>de</strong>ntes, mas é preciso mais esclarecimentos para que aspropostas sejam realmente consistentes e viáveis.É preocupante pensar que milhares <strong>de</strong> pessoas representantes da socieda<strong>de</strong>chegam a um fórum <strong>de</strong> representação nacional e não consegu<strong>em</strong> discernir sobre oseu papel e a importância <strong>de</strong>les.Na 11ª CNS 31 foi realizada <strong>em</strong> 2000, os relatórios registraram a crítica sobre apersistência <strong>em</strong> manter um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>, como a assistência e acura, assistencialista, incapazes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r os probl<strong>em</strong>as da população (11ª CNS,2000).Conforme Pinheiro (2005) esta Conferência teve uma abordag<strong>em</strong> importantepor que incluiu a questão dos recursos humanos no SUS, "o maior probl<strong>em</strong>a para agestão do SUS nos municípios". Sabe-se que os Municípios pa<strong>de</strong>c<strong>em</strong> com a falta <strong>de</strong>funcionários nos diversos setores da saú<strong>de</strong>, assim as ações <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>realizadas e a saú<strong>de</strong> da população também é negligenciada.No t<strong>em</strong>a Saú<strong>de</strong> do Trabalhador <strong>de</strong>stacam-se as propostas: As ações <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> do trabalhador <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser incorporadas pelo SUS, segundo as diretrizes daNorma Operacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador – NOST/98. Para tanto, osparticipantes da 11ª CNS propõ<strong>em</strong>:_________________________________________________________________________________31 11ª CNS. Participaram cerca <strong>de</strong> 2500 pessoas entre elas <strong>de</strong>legados e <strong>de</strong>legadas.54


55• a integração do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador com os<strong>Programa</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família/PACS, integrando ainda os <strong>Programa</strong>s <strong>de</strong> ControleMédico <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Ocupacional e Comissões Internas <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes(CIPAs);• Priorizar as medidas <strong>de</strong> proteção coletiva, como base na vigilância dosambientes e processos <strong>de</strong> trabalho;• Criar políticas <strong>de</strong> Atenção à Saú<strong>de</strong> dos trabalhadores precarizados,trabalhadores informais, trabalhadores a domicílio, <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> quintal, terceirizados,t<strong>em</strong>porários etc.; 32Implantar a Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador integrada à Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (RENAST), concebida como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção constituída<strong>de</strong> vigilância, assistência e capacitação na área da saú<strong>de</strong> do trabalhador no SUS,conforme papéis e hierarquia <strong>de</strong>finida pela NOST/98;Outro ganho para a Saú<strong>de</strong> no Brasil foi a aprovação da EmendaConstitucional 29, que <strong>de</strong>finiu um patamar para aplicação <strong>de</strong> recursos públicos nofinanciamento das ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nos orçamentos da União, Estados eMunicípios. Isto <strong>de</strong>pois da 11ª CNS.Já a 12ª CNS teve como t<strong>em</strong>a "Saú<strong>de</strong>: Um direito <strong>de</strong> todos e <strong>de</strong>ver do Estado- A Saú<strong>de</strong> que t<strong>em</strong>os, O SUS que quer<strong>em</strong>os” e o Controle Social como eixo central.Essa Conferência <strong>de</strong>finiu <strong>de</strong>z eixos t<strong>em</strong>áticos que apontaram as diretrizes, aslacunas e os <strong>de</strong>safios a ser<strong>em</strong> enfrentados na consolidação do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> (SUS) e da reforma sanitária no país. Reuniu representantes do setor <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o país que participaram daquele que é consi<strong>de</strong>rado o foro político <strong>de</strong>maior relevância para as <strong>de</strong>finições que conduzirão o SUS nos próximos quatroanos (PINHEIRO, 2005).Novamente, o objetivo do encontro foi propor diretrizes para efetivar estaproposta e consolidar o SUS, entre outras propostas já consolidadas e <strong>de</strong>terminadas_____________________________________________________________________________________________________________________________32 Essa proposta <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> S.T. por que não procura ver a carteira assinada, se a<strong>em</strong>presa é legal, mas o foco principal é promover a saú<strong>de</strong> do trabalhador33 A 1ª CNST foi realizada <strong>em</strong> Brasília, do dia 1 a 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1986. Participaram cerca <strong>de</strong> 526pessoas, <strong>de</strong>legados representantes da socieda<strong>de</strong> civil organizada foram eleitos na fase preparatóriarealizada nas regiões <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vieram os representantes, as pré-conferências discutiram t<strong>em</strong>asdiversos conforme a sua realida<strong>de</strong>. A principal conquista foi a forma <strong>de</strong> participação consciente dosrepresentantes trabalhadores.55


56<strong>em</strong> lei como: garantir a comunicação dos aci<strong>de</strong>ntes ocorridos b<strong>em</strong> como ocumprimento dos direitos à saú<strong>de</strong> do trabalhador que implicam na expedição correta<strong>de</strong> laudos e atestados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Realizar campanhas educativas <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong>doenças, uso <strong>de</strong> agrotóxicos, uso <strong>de</strong> EPI’S.Na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador também foram aprovadas propostasdirecionadas a grupos específicos como trabalhadores rurais, além disso o maisimportante foi a aprovação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador.A próxima Conferência a 13ª CNS está prevista para <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007.1.2.1 Conferências Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores (CNST)A proposta <strong>de</strong> realizar a 1ª CNST 33 veio permitir maior impacto e repercussãoao <strong>de</strong>bate nas questões <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Trabalho.Os participantes discutiram t<strong>em</strong>as, os quais ficaram registrados na história daSaú<strong>de</strong> do trabalhador no Brasil: Diagnóstico da Situação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dosTrabalhadores; Novas Alternativas <strong>de</strong> Atenção à Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores; PolíticaNacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores.CAR fala que “faz 24 anos que trabalho na saú<strong>de</strong>, é um processo lento, lento<strong>de</strong>mais, mudanças pequenas”. (entrevista realizada <strong>em</strong> 23/03/06).Na opinião da entrevistada as mudanças na organização dos serviços e naspolíticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador são lentas e o processo também, estas políticas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são <strong>de</strong> difícil efetivação, perceb<strong>em</strong>-se que inúmeras conquistas na área <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> e S.T., mas a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação dos técnicos é ainda muito gran<strong>de</strong>fazendo com que eles <strong>de</strong>sistam <strong>de</strong> trabalhar e lutar por essa área mesmo aquelesenvolvidos.O t<strong>em</strong>a da 2ª CNST 34 foi “Construindo uma Política <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador”.As perguntas que nortearam as discussões foram: Como garantir a integralida<strong>de</strong> e a____________________________________________________________________________________________________________________________34 2ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores (2ª CNST), realizada <strong>de</strong> 13 a 16 <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1994. Participaram 560 <strong>de</strong>legados, dos quais 65,7% representavam os trabalhadores, 31,1 % oEstado e 3,2% os <strong>em</strong>pregadores, além <strong>de</strong> 359 outros participantes cre<strong>de</strong>nciados.56


57transversalida<strong>de</strong> da ação do Estado <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> dos (as) trabalhadores (as)? ; Comoincorporar a saú<strong>de</strong> dos (as) trabalhadores (as) nas políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosustentável no País? ; Como efetivar e ampliar o controle social <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> dos (as)trabalhadores (as)?As quais <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram a proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar sob responsabilida<strong>de</strong> dosServiços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, especificamente da Vigilância Sanitária, a realização dasinspeções nos ambientes <strong>de</strong> Trabalho, enten<strong>de</strong>-se que estas ações ficarão sobresponsabilida<strong>de</strong>s da autorida<strong>de</strong> sanitária local, o que reforça o principio <strong>de</strong>Municipalização dos Serviços. A argumentação para aprovação <strong>de</strong>ssa proposta foia falta <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> R.H. no M.T. <strong>em</strong> ter somente profissionais nas DelegaciasRegionais do Trabalho, ou seja, o serviço é disponibilizado somente <strong>em</strong> regiões oque é uma limitação do Ministério <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1930.As <strong>de</strong>legacias regionais do Trabalho advogam, <strong>em</strong> vários estados,exclusivamente <strong>de</strong> sua competência para inspecionar os centros produtivos. Essaposição, <strong>de</strong> um modo geral, encontra-se eco nos seguimentos mais conservadoresdo patronato, na medida <strong>em</strong> que as inspeções, orientadas por um mo<strong>de</strong>lotradicional , pontuais e técnico-burocratas, incapazes <strong>de</strong> alimentar um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, serv<strong>em</strong> aos seus propósitos ao nãopromover<strong>em</strong> mudanças significativas ( MINAYO, 1997)É bom l<strong>em</strong>brar que na área <strong>de</strong> S.T é preciso um trabalho <strong>em</strong> conjuntoincluindo os diversos ministérios a “... construção e consolidação do SUS[cont<strong>em</strong>plando] a totalida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, ações estas queenvolv<strong>em</strong> a (...), a pesquisa, a vigilância, a assistência e a reabilitação, que ainda seencontram distribuídas <strong>em</strong> diversos Ministérios (Previdência, Saú<strong>de</strong> e Trabalho)”(MS/DST 1994, p. 15).Sabe-se que há conflitos, como a disputa entre M.T. e M.S, apesar dasinovações do texto constitucional, manteve-se a superposição ou concorrência dasatribuições, fomentando entre os setores, particularmente quanto às ações <strong>de</strong>fiscalização dos ambientes e condições <strong>de</strong> trabalho.57


58As resoluções da II CNST não saíram do papel, seja pela resistênciaexpressa dos órgãos do Trabalho e da Previdência Social: seja pela inexistência <strong>de</strong>vonta<strong>de</strong> do setor (LACAZ, 1994, 3ª CNST).Além disso, a Plenária aprovou que o Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>via assumirtotalmente as ações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> dos trabalhadores, mediante a constituição <strong>de</strong>comissão composta por representantes dos Ministérios da Saú<strong>de</strong>)Constituiu o primeiro momento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a inserção da saú<strong>de</strong> do trabalhador noSUS <strong>em</strong> 1988, <strong>em</strong> que os trabalhadores e suas entida<strong>de</strong>s representativas discutirame participaram efetivamente da elaboração <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong>sta política. A fasepós a 2ª CNST ficou marcada pela ampliação dos programas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador, implantação <strong>de</strong> centros regionais, núcleos e coor<strong>de</strong>nações.Foi também palco <strong>de</strong> disputa entre Ministério do Trabalho e Ministério daSaú<strong>de</strong>. Apesar das inovações do texto constitucional, manteve-se a superposição ouconcorrência das atribuições, fomentando conflitos entre os setores, particularmentequanto às ações <strong>de</strong> fiscalização dos ambientes e condições <strong>de</strong> trabalho.A 3ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores (3ª CNST) 35 realizouse<strong>em</strong> Brasília, <strong>de</strong> 24 a 27 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005, sob o t<strong>em</strong>a “Trabalhar Sim,Adoecer não”.Os princípios Constitucionais nortearão a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública atrelada às_________________________________________________________________________________35 Essa Conferência foi convocada por três diferentes ministérios: Saú<strong>de</strong>, Previdência e Trabalho,dando a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se aprimorar a política <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> do trabalhador. Em todo Brasilforam realizados cerca <strong>de</strong> 700 encontros municipais, que mobilizaram cerca <strong>de</strong> 100 mil pessoas,além <strong>de</strong> encontros estaduais e, agora, a etapa nacional. Entre os participantes, estão usuários doSist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS), associações, sindicatos, movimentos populares, trabalhadoresinformais e profissionais da saú<strong>de</strong>, fiscais do trabalho e peritos da previdência.Os três eixos t<strong>em</strong>áticos<strong>de</strong>sse encontro foram: Garantir a integralida<strong>de</strong> da ação do Estado pressupõe que o trabalhador tenhaa proteção da sua vida e da sua saú<strong>de</strong> asseguradas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as ações <strong>de</strong> promoção até as ações <strong>de</strong>reabilitação. Hoje, a responsabilida<strong>de</strong> por essas ações está diluída <strong>em</strong> três setores do governo:Trabalho, Saú<strong>de</strong> e Previdência Social. Faz-se necessária uma atuação transversal que integre essastrês áreas. O trabalhador exige que haja uma articulação no Governo para a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> umapolítica <strong>de</strong> Estado que assuma todas as questões relacionadas ao exercício do trabalho e quegaranta o direito constitucional à saú<strong>de</strong>.Como incorporar a saú<strong>de</strong> dos (as) trabalhadores (as) nasPolíticas <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável no País?Como efetivar e ampliar o controle Social <strong>em</strong>Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores?58


59políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social e econômica, tendo como paradigma apreservação ambiental, respeito às comunida<strong>de</strong>s e seus valores sociais, culturais eeconômicos <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> soluções que valoriz<strong>em</strong> o trabalho e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidadas pessoas e propici<strong>em</strong> a geração <strong>de</strong> riquezas <strong>de</strong> interesse nacional.Atrelar o <strong>de</strong>senvolvimento social e econômico às condições que melhorpreserv<strong>em</strong> a saú<strong>de</strong> dos trabalhadores, utilizando metodologia e tecnologiaapropriada <strong>de</strong> modo a reduzir<strong>em</strong> danos às pessoas e ao ambiente.• Estruturar re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviços públicos com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantirprogramas, projetos, ações, ativida<strong>de</strong>s e procedimentos <strong>de</strong>stinados a garantir apreservação, assistência e reabilitação física e psíquica, proteção previ<strong>de</strong>nciária eassistência social, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo organizativo ético, regulamentado peloPo<strong>de</strong>r Público e sob o Controle da Socieda<strong>de</strong>.• Agir sob proteção legal, com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia, sobre condições ouagentes que atu<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma irregular ou que cause danos às pessoas, população,ambientes, flora e fauna entre outros.Pressupostos para a efetivação da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviços da RENAST, são:• Qualificar os processos <strong>de</strong> Gestão e Gerenciamento dos Centros <strong>de</strong>Referência <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador é abrir espaço e criar condições para aimplantação e impl<strong>em</strong>entação das Políticas Públicas na área da Segurida<strong>de</strong> Social epela sua complexida<strong>de</strong> e importância, na área da Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.• Contribuir para a melhoria da qualida<strong>de</strong> dos serviços públicos ofertadosaos trabalhadores é contribuir para a consolidação da nossa <strong>de</strong>mocraciarepublicana.A Conferência constituiu uma iniciativa <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> integração intra eintersetorial, ou seja, organizar uma política nacional que envolva não só os diversossetores governamentais, anteriormente citados, mas outros, cujo objeto é constituirfatores <strong>de</strong> influência no trabalho e nas condições ambientais, como é o caso daEducação, do Meio Ambiente, da Justiça.Os sindicatos <strong>de</strong>nunciaram as políticas públicas e o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,incapazes <strong>de</strong> dar respostas às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população e,principalmente, dos trabalhadores (MENDES& DIAS, 1991).Exist<strong>em</strong> diversas leis que asseguram os direitos, a proteção do trabalhador,entre outras, a qual <strong>de</strong>verá ser cumprida por parte das <strong>em</strong>presas, com o objetivo <strong>de</strong>59


60combater a informalida<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho e garantir a saú<strong>de</strong> e a segurançado trabalhador, mas os interesses são divergentes. Os interesses dos <strong>em</strong>presários,dos serviços públicos e do trabalhador dificilmente se encontram. Como <strong>de</strong>stacaFOUCAULT há relações <strong>de</strong> oposição entre os conjuntos do corpo social (2002, p.100).O discurso t<strong>em</strong> dois caminhos: um é se efetivar, outro é continuar na formadiscursiva. Ou seja, <strong>de</strong>terminado discurso não é a mesma coisa <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dito; ascoisas têm uma existência precária, escorregadia, uma dispersivida<strong>de</strong> antes <strong>de</strong> seefetivar<strong>em</strong>. O Discurso se efetiva quando dispuser a <strong>de</strong>screver o conjunto dasrelações entre teoria e prática. Há uma diferença entre o que é dito e o que épraticado.Como já foi visto anteriormente nas conferências: os t<strong>em</strong>as são discutidos, aspropostas apresentadas e aprovadas; as leis promulgadas, mas na prática não étudo isso que se torna realida<strong>de</strong>, por que não financiamento para mudar a realida<strong>de</strong><strong>de</strong> falta <strong>de</strong> recursos humanos, equipamentos, os projetos e convênios sãoassinados, mas não sa<strong>em</strong> do papel. A situação <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong>ortes/doenças do trabalho continua cada vez maior.Essa <strong>de</strong>sintegração, expressa <strong>em</strong> ações fragmentadas, <strong>de</strong>sarticuladas esuperpostas <strong>de</strong> instituições com responsabilida<strong>de</strong> direta ou indireta na áreaagravada por conflitos <strong>de</strong> concepções e praticas, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> interpretação sobrecompetências jurídicos-institucionais, revela a trajetória caótica do Estado <strong>em</strong> suafunção <strong>de</strong> promover a saú<strong>de</strong> do cidadão que trabalha. Apenas o esforço isolado <strong>de</strong>profissionais que articulam <strong>em</strong> programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, centros <strong>de</strong>referencia e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vigilância realmente efetivas abre um rastro <strong>de</strong> luz nesseuniverso sóbrio, mas sua atuação e marcada, repetidamente, pela <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>,quer por pressões externas dos que se sent<strong>em</strong> ameaçados <strong>em</strong> seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> tratarvidas humanas <strong>de</strong>sgastadas pelo trabalho como rejeitos do processo produtivos,quer pela sucessão <strong>de</strong> novas administrações que não priorizam esses investimentos(MINAYO, 1997).Exist<strong>em</strong> dois caminhos para as propostas aprovadas <strong>em</strong> uma conferência: oprimeiro é efetivá-las o outro é permanec<strong>em</strong> no papel, mas a concretização <strong>de</strong>ssasv<strong>em</strong> através da legislação e da das ações respaldas <strong>em</strong> lei.60


611.2.2.Conferências Estaduais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Paraná (CEST)No Estado do Paraná a participação da população permitiu gran<strong>de</strong>sconquistas na esfera da Saú<strong>de</strong> tanto a nível Fe<strong>de</strong>ral como Estadual.Para S.C. “a 1ª Conferência não foi muito divulgada, portanto foi Pré-Conferência, tanto que não há maiores informações” sobre este fórum.( S.C. )A tensão entre os órgãos do setor Saú<strong>de</strong>; Trabalho e Previdência Socialcaracterizaram a trajetória da Saú<strong>de</strong> do Trabalhador da I CNST à II CNST,<strong>de</strong>monstrando uma incompreensão e <strong>de</strong>sencontro por parte do Ministério doTrabalho e da Previdência Social, que critica a proposta do SUS, seus princípios ediretrizes enquanto política <strong>de</strong> Estado. Tal conflito ficou ainda mais evi<strong>de</strong>nciadopelas resistências <strong>de</strong>sses setores a uma das principais resoluções <strong>de</strong>ssa a CNST(LACAZ, 1994).As ações <strong>em</strong> S.T. nas <strong>em</strong>presas, mesmo realizada <strong>em</strong> conjunto com osrepresentantes dos trabalhadores, <strong>de</strong> outras instituições, e sob a responsabilida<strong>de</strong>administrativa da equipe da Secretaria Estadual e/ou Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veráconsi<strong>de</strong>rar, na inspeção sanitária <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador os conflitos e os po<strong>de</strong>res<strong>em</strong> ação. 36Em 1993 foi realizada a 2ª CES do Paraná 37 . Os t<strong>em</strong>as abordados: aconstrução da política nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, o cenário <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dotrabalhador no Paraná, estratégias <strong>de</strong> avanço nesse campo da saú<strong>de</strong> publica econtrato coletivo.As resoluções foram divididas <strong>em</strong> 4 blocos os quais segu<strong>em</strong>:• Saú<strong>de</strong> do trabalhador rural: investimento financeiro direcionado aopequeno produtor com técnicas <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> policultivo, redução <strong>de</strong>impostos nos insumos, s<strong>em</strong>ente e máquinas, garantir a lei <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> bóiasfrias, garantir ao trabalhador rural o acesso a benefícios sociais, proibição <strong>de</strong>_________________________________________________________________________________36 A história e o discurso do po<strong>de</strong>r, as obrigações pelas qual o po<strong>de</strong>r se submete, o discurso <strong>de</strong>oposições <strong>de</strong> diferentes grupos eram circulados <strong>de</strong>pressa através do outro, um instrumento <strong>de</strong> críticae <strong>de</strong> luta, contra uma forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r - dividido aos diferentes inimigos ou diferentes formas <strong>de</strong>oposição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (FOUCAULT, 2002, p.89).37 2ª CES Participação <strong>de</strong> 300 pessoas <strong>de</strong> todo estado dos quais foram eleitos 20 <strong>de</strong>legados para aconferência nacional61


62produtos agrotóxicos que não possuam antídoto, formação profissional dotrabalhador;• Organização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador: criar equipes <strong>de</strong>inspeção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças profissionais, <strong>de</strong>mocratização das CIPAS, garantiro fornecimento <strong>de</strong> medicamentos, terapias alternativas <strong>de</strong> tratamento;• Contrato coletivo <strong>de</strong> trabalho: formar imediata da ComissãoInterinstitucional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CIST);• Garantia <strong>de</strong> organização por local <strong>de</strong> trabalho, garantia <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong>prego para representante dos trabalhadores, inserir no currículo a disciplinasegurança, saú<strong>de</strong> e direito no trabalho;• Financiamento: garantir melhor direcionamento dos recursosfinanceiros da união, 0,2% do recolhimento do FINSOCIAL das <strong>em</strong>presas, sejaaplicado para o atendimento <strong>de</strong> doenças e aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, entre outras.As propostas foram discutidas e correspon<strong>de</strong>ram aos anseios dosparticipantes. D<strong>em</strong>onstrou <strong>de</strong>sintegração, expressa <strong>em</strong> ações fragmentadas,<strong>de</strong>sarticuladas e superpostas <strong>de</strong> instituições com responsabilida<strong>de</strong> direta ou indiretana área - agravada por conflitos <strong>de</strong> concepções e práticas, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong>interpretação sobre competências jurídico-institucionais -, revela a trajetória caóticado Estado <strong>em</strong> sua função <strong>de</strong> promover a saú<strong>de</strong> do cidadão que trabalha.Po<strong>de</strong> parecer um retrocesso propor ações <strong>de</strong> cultivo para os trabalhadoresrurais, b<strong>em</strong> com financiamento, mas isso mostra que eles estão <strong>de</strong>sassistidos e queessa é uma ou a única forma <strong>de</strong> expor a sua experiência <strong>de</strong> vida e propostas <strong>de</strong>mudanças na área rural.Apenas o esforço isolado <strong>de</strong> profissionais que se articulam <strong>em</strong> programas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> do trabalhador, centros <strong>de</strong> referência e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vigilância realmenteefetivas abre um rastro <strong>de</strong> luz nesse universo sombrio. Mas sua atuação é marcada,repetidamente, pela <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, quer por pressões externas dos que sesent<strong>em</strong> ameaçados <strong>em</strong> seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> tratar vidas humanas <strong>de</strong>sgastadas pelotrabalho como rejeitos do processo produtivo, quer pela sucessão <strong>de</strong> novasadministrações que não priorizam esses investimentos (MINAYO, 1997).62


63S<strong>em</strong>pre vai ocorrer <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> aprovadas propostas que já estão incluídas <strong>em</strong>lei ou que não cabe a responsabilida<strong>de</strong> do setor saú<strong>de</strong> como garantir ao trabalhadorrural o acesso a benefícios sociais, proibição <strong>de</strong> produtos agrotóxicos que nãopossuam antídoto, formação profissional do trabalhador; garantia <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>em</strong>prego para representante dos trabalhadores.Em 1992 como forma <strong>de</strong> organização interna <strong>de</strong> profissionais foi formado oFórum Institucional <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do Trabalhador (FIST) uma iniciativa tímida <strong>de</strong> umgrupo técnicos comprometidos com a área <strong>de</strong> S.T. que sentiam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>discutir ações práticas. Representavam as instituições: INSS, DRT, SESA, Séc.Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Curitiba, a Promotoria <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho, CUT. Reunias<strong>em</strong>ensalmente, encaminhando diversas questões na área <strong>de</strong> ST e aproximoudiversas pessoas e as instituições.Em 1996 foi formalizada a FIST que abriu caminho para a ComissãoIntersetorial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CIST) ligada ao Conselho Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>e hoje se constitui na Comissão do Conselho Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Dentre os resultados obtidos pelo FIST/CIST <strong>de</strong>stacamos: a publicação <strong>de</strong> uma cartilha sobre o preenchimento da CAT; o projeto <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong> Estudos/referência <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> dotrabalhador que foi o ponto <strong>de</strong> partida para a criação doCEMAST - Centro Metropolitano <strong>de</strong> Apoio à Saú<strong>de</strong> dotrabalhador (parceria do SUS municipal e Estadual).A CIST Estadual conquistou um espaço importante para as ações <strong>de</strong> S.T. quefoi a sua organização e sua articulação que se reúne mensalmente e têmrepresentação da SESA, CEMAST, S.M.S. <strong>de</strong> Curitiba, Hospital do trabalhador,CRM, CRMV, CREFITO, Ministério Público Estadual e Fe<strong>de</strong>ral, CUT, Sindicato <strong>de</strong>Bancários, ADVT, Força Sindical e outros.Além da CIST Estadual, já foram criadas CISTs Municipais <strong>em</strong> Ponta Grossa,Curitiba e Londrina, sendo as duas últimas bastante atuantes. (Plano <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador /2002- p.35)Em nov<strong>em</strong>bro e <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2002 a CIST promoveu a realização <strong>de</strong>S<strong>em</strong>inários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador nas se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Macro-Região visando discutir aimplantação <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Referência nesses municípios. (Ponta Grossa, Londrina,Maringá e Cascavel).63


64Já <strong>em</strong> 1999 foram realizadas Pré-Conferências Macro-Regionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador <strong>em</strong> Curitiba, Ponta Grossa, Guarapuava, Cascavel e Londrina.No ano seguinte (2000) realizou-se a 3ª CEST, <strong>em</strong> Curitiba, sendo discutidaspropostas para a política Estadual <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador. Entre outras, foiaprovada a proposta <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Referência nas Macro-Regiões doEstado.Estimulada a SESA firmou a proposta <strong>de</strong> convênio com o M.S. paraimplantação <strong>em</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço para Tratamento dos Agravosrelativos à saú<strong>de</strong> do trabalhador. Esta proposta englobaria a realização <strong>de</strong>treinamentos e a aquisição <strong>de</strong> equipamentos para a implantação <strong>de</strong> 5 (cinco)Centros <strong>de</strong> Referência <strong>em</strong> S.T. <strong>em</strong> pólos macro-regionais.Os técnicos que participaram das discussões das Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>trabalharam com seus discursos e com os discursos das instituições representadas.Transformaram discurso <strong>em</strong> ações.Constatou-se (2000) que mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos após o início do processo <strong>de</strong>impl<strong>em</strong>entação do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Brasil, a atenção à saú<strong>de</strong> continuasendo operacionalizada, por meio <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a segmentado e <strong>de</strong>sarticulado. Paraesclarecer essa situação, po<strong>de</strong>-se dizer que os órgãos envolvidos na S. T. ( M.T.,INSS, SUS,SESMTS) não trabalham com a mesma ótica. Portanto, nada realmenteé feito para mudar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mortes, aci<strong>de</strong>ntes e doenças do trabalho, apesar<strong>de</strong> a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do SUS ser impecável, na teoria, porém mantendo-sesomente no papel.1. 3 - FINANCIAMENTOA questão do financiamento t<strong>em</strong> sido um dos t<strong>em</strong>as mais difíceis <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>discutidos, durante a implantação do SUS. Durante a década dos noventa, ofinanciamento se mostrou insuficiente, irregularida<strong>de</strong> dos fluxos financeiros,necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar formas e critérios <strong>de</strong> repasse que não cont<strong>em</strong>plavam aequida<strong>de</strong> como princípio orientador. (SUS)Em geral, o Ministério da Saú<strong>de</strong> apresentou dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> respeitar e seguiresses critérios, pois só <strong>em</strong> 1998 se começa a repassar recursos pelo critério percapita, ou seja, pelo número <strong>de</strong> habitantes, sendo assim, manteve-se o carátercentralizador <strong>de</strong> repasse dos recursos.64


65Com o SUS e a Lei <strong>de</strong> Diretrizes Orçamentárias, Capitulo I, artigo1, oorçamento da Segurida<strong>de</strong> Social <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>stinar ao Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> -SUS, <strong>de</strong> acordo com a receita estimada, os recursos necessários à realização <strong>de</strong>suas finalida<strong>de</strong>s, previstos <strong>em</strong> propostas elaboradas e pela sua direção nacional,com a participação dos órgãos <strong>de</strong> previdência social e da assistência social, tendo<strong>em</strong> vista as metas e priorida<strong>de</strong>s estabelecidas.No art. 35 da lei 8.080 estabelece um conjunto <strong>de</strong> critérios sobre a forma <strong>de</strong>distribuição e repasse dos recursos, o parágrafo primeiro <strong>de</strong>sse artigo <strong>de</strong>fine que a“meta<strong>de</strong> dos recursos <strong>de</strong>stinados a Estados e Municípios será distribuída segundo oquociente <strong>de</strong> sua divisão pelo número <strong>de</strong> habitantes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>qualquer procedimento prévio.”A Lei nº. 8142 <strong>de</strong> 1990 também dispõe sobre as transferênciasintergovernamentais <strong>de</strong> recursos financeiros na área da saú<strong>de</strong>, porém o que seobserva é o que Lacaz apresenta <strong>de</strong> forma interessante a situação do financiamentona área da Saú<strong>de</strong>. (1996, p.77)A aplicação <strong>de</strong> Estados e Municípios consegue atingir no máximo 15% <strong>de</strong>receita disponível, mas, <strong>em</strong> termos per capita, existe uma profunda <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>entre regiões do país, ou seja, as menos populosas receb<strong>em</strong> menos e as maioresreceb<strong>em</strong> mais; <strong>de</strong>vido ao número <strong>de</strong> habitantes, as maiores se tornam ricas e asmenores mais pobres.Em 1995, contabilizando-se os gastos da União, Estados e Municípioschegaram a um total <strong>de</strong> quase 25 bilhões <strong>de</strong> dólares, um aumento significativoquando comparado aos cerca <strong>de</strong> 14 bilhões <strong>de</strong> dólares utilizados <strong>em</strong> 1989. (SILVA,2003, p.73)É indiscutível o avanço <strong>de</strong> Municipalização; entretanto, esse processo v<strong>em</strong>ocorrendo <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sigual nos Municípios, pois esses <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>transferências do SUS, que são baseadas na população. Assim, possui maiornúmero <strong>de</strong> habitantes, ganha mais e o município pequeno continua pequeno erecebendo pouco.A correlação <strong>de</strong>sse gasto com indicadores <strong>de</strong> resultado <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> mostra quenossa situação sanitária e assistencial não é compatível com o esforço realizado naalocação <strong>de</strong> recursos. Um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> SILVA mostra que o gasto por habitante é <strong>de</strong>65


66R$ 106,00 no Sul/Su<strong>de</strong>ste contra apenas R$ 60,00 no Norte/Nor<strong>de</strong>ste (SILVA, 2003,p.73 e 79).A or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> recursos po<strong>de</strong> ser feita com planejamento da oferta <strong>de</strong>serviços, induzindo a direção das ações para as necessida<strong>de</strong>s prioritárias dapopulação, simultaneamente ao or<strong>de</strong>namento do acesso e da utilização dos serviçosatravés <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> corretamente regionalizada, hierarquizada e resolutiva (LACAZ,1996, p. 74).Há duas condições <strong>de</strong> gestão previstas, nas quais os municípios po<strong>de</strong>m sehabilitar: Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (GPABA) e Gestão Plena doSist<strong>em</strong>a Municipal (GPSM). Para cada condição <strong>de</strong> gestão há um conjunto <strong>de</strong>prerrogativas, responsabilida<strong>de</strong>s, requisitos e instrumentos <strong>de</strong> comprovação, que<strong>de</strong>verão ser cumpridos pelos municípios que <strong>de</strong>sejar<strong>em</strong> se a<strong>de</strong>quar à Norma.Com relação à Vigilância Sanitária, para que o município possa se habilitar àcondição <strong>de</strong> GPABA e GPSM, <strong>de</strong>ntre outros requisitos, <strong>de</strong>verá, respectivamente,comprovar condições para o <strong>de</strong>senvolvimento das ações básicas <strong>de</strong> VISA e para aexecução <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong> nas áreas <strong>de</strong> Vigilância Sanitária. (vercapítulo 2)1.4-Responsabilida<strong>de</strong>s dos órgãos PúblicosFazer com que seja efetivada a Lei do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> pressupõeum esforço contínuo na reafirmação <strong>de</strong> seus princípios e na ampliação das re<strong>de</strong>sinstitucionais com a socieda<strong>de</strong> organizada. Dentro do SUS, a área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dotrabalhador <strong>em</strong>erge como um <strong>de</strong>safio a mais, no sentido <strong>de</strong> se prover<strong>em</strong> os meiosnecessários para aten<strong>de</strong>r as responsabilida<strong>de</strong>s do governo Fe<strong>de</strong>ral, dos Estados edo Município.É preciso consi<strong>de</strong>rar, contudo, as dificulda<strong>de</strong>s inerentes ao Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong>, cujas práticas tradicionais, há muito enraizadas, não dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong>mecanismos ágeis <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação às novas necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>terminadas pela lei e,mesmo, ansiadas pela socieda<strong>de</strong>.1.4.1 - Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE)Em nosso país, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) é o órgão <strong>de</strong>âmbito nacional competente para coor<strong>de</strong>nar, orientar, controlar e supervisionar as66


67ativida<strong>de</strong>s relacionadas com a segurança e saú<strong>de</strong> no trabalho, inclusive afiscalização do cumprimento dos preceitos legais e regulamentares, <strong>em</strong> todo oTerritório Nacional (MIRANDA, 2004).A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) atribui exclusivamente ao MT aresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fiscalização dos ambientes <strong>de</strong> trabalho (art. 155 e 156). Estecódigo ainda não se adaptou a Constituição (MONTEIRO, 1994, P. 139).Alguns Artigos (162 e 165) da CLT regulamentam o uso das NormasTécnicas 38 nas ações <strong>de</strong>sse Ministério, os quais se <strong>de</strong>stacam NR 4-SESMTS’s,NR5-CIPA, NR6-EPI’S, NR5 e NR7-ASO, NR7 e outras-CAT, NR 7-PCMSO, NR 9-PPRA.Com <strong>de</strong>staque a NR4-SESMTS, como já foi apresentado anteriormente foicriada como estratégia <strong>de</strong> Governo para conter as críticas internacionais. Mas essanorma transfere a responsabilida<strong>de</strong> da S.T. para as <strong>em</strong>presas, através dos técnicosresponsáveis por esses serviços que são também <strong>em</strong>pregados <strong>de</strong>ssas <strong>em</strong>presas. 39 .Outro ponto é que somente as <strong>em</strong>presas com mais <strong>de</strong> 100 <strong>em</strong>pregados constitu<strong>em</strong>a equipe básica.A terceirização das ações dos SESMTS’s, na perspectiva <strong>de</strong> flexibilização dasrelações <strong>de</strong> trabalho dos profissionais <strong>de</strong>ssa área, aten<strong>de</strong> aos interesses daspróprias <strong>em</strong>presas, indústrias, dando a falsa impressão <strong>de</strong> que a presença dosprofissionais <strong>de</strong> Segurança e Saú<strong>de</strong> do Trabalho a<strong>de</strong>quaria melhor e <strong>de</strong> forma maisabrangente a Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores.Cabe ressaltar que o SESMTS, nas <strong>em</strong>presas, t<strong>em</strong> objetivos diferentes doque se busca nos Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador. As ações nas <strong>em</strong>presas têmabordag<strong>em</strong> especificamente do médico (medicocêntrica), e somente com aparticipação <strong>de</strong>sse profissional (monodisciplinar) e s<strong>em</strong> a divulgação da realsituação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos trabalhadores. O <strong>em</strong>pregador autoriza ou não asmodificações necessárias e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> acerca da compra <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> proteção._____________________________________________________________________________________________________________________________38 NR-Norma Regulamentadora.As NRs são elaboradas por comissão tripartite incluindo governo,<strong>em</strong>pregados e <strong>em</strong>pregadores e publicadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego. São <strong>em</strong> número<strong>de</strong> 32 e as compl<strong>em</strong>entações.39 Instituída essa soberania, os trabalhadores faz<strong>em</strong> <strong>de</strong> seus vencedores, os <strong>em</strong>presários/donos das<strong>em</strong>presas, os representantes legítimos, também na forma jurídica. A monarquia absoluta aproveita ofato da conquista para concretizar o seu “legítimo do direito” como afirma FOUCAULT. (2002, p.127).67


68É uma prática comum centrada no médico e no patrão. Como diz LACAZ éuma forma <strong>de</strong> tutelar a saú<strong>de</strong> dos trabalhadores às <strong>em</strong>presas (1997).Consi<strong>de</strong>rando que a Lei dos o SESMTS’s já existe, cabe reavaliar a questãoda Prestação <strong>de</strong> Serviços para garantir que os SESMTS’s sejam fiscalizados pelosindicato da categoria e integrados ao Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e para r<strong>em</strong>unerardignamente os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ligados ao setor público.Da mesma forma, os SESMTS, instituídos <strong>em</strong> 1978, com algumas exceções,<strong>de</strong>viam-se da função <strong>de</strong> reconhecer, avaliar e controlar as causas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes edoenças. Seus profissionais-assalariados pela <strong>em</strong>presa e s<strong>em</strong> respaldo legal paracontrariar<strong>em</strong>-lhes os interesses restring<strong>em</strong>-se a adoção <strong>de</strong> medidas paliativas diantedos riscos mais patentes (MINAYO,1997).Essas <strong>em</strong>presas cre<strong>de</strong>nciadas tentam dar a impressão <strong>de</strong> tratar-se do melhore competente atendimento à saú<strong>de</strong> do trabalhador. Segundo FERREIRA (1992), astentativas foram muitas para colocar <strong>em</strong> prática tal recomendação e numerososprojetos foram encaminhados ao Po<strong>de</strong>r Legislativo e Executivo para criar uma leique assegurasse avaliação <strong>de</strong> riscos e uma equipe no local valendo-se do direitoque é um instrumento <strong>de</strong> dominação, como forma <strong>de</strong> lei, instituição, regulamentos,veícula-se e aplica-se relações <strong>de</strong> dominação, uma dominação global <strong>de</strong> múltiplasformas <strong>de</strong> um sobre o outro, um grupo sobre o outro (FOUCAULT, 2002, p.31).Mesmo havendo leis que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a contratação legal, com carteira assinadae as mínimas condições <strong>de</strong> trabalho, a fiscalização não ocorre a contento, issocolabora para que haja uma gran<strong>de</strong> percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> trabalhadores exercendofunções s<strong>em</strong> carteira assinada e <strong>em</strong> péssimas condições <strong>de</strong> trabalho, levando-os,geralmente, a <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong> doenças, sofrendo aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho e/oumorrendo. E os <strong>em</strong>presários ainda diz<strong>em</strong>: “Estamos fazendo tudo, estamosinvestindo, a culpa é do trabalhador que não cumpre as regras da <strong>em</strong>presa”.No plano estadual, essa fiscalização é executada pelas Delegacias Regionaisdo Trabalho. Sabe-se que o número <strong>de</strong> profissionais para realizar<strong>em</strong> essasativida<strong>de</strong>s são insuficientes diante do número total <strong>de</strong> estabelecimentos existentesnesse país. Quanto ao número <strong>de</strong> profissionais o MTE conta na carreira <strong>de</strong> AuditorFiscal do Trabalho, aproximadamente 2.943. (MTE, 2005).É importante frisar que somente os trabalhadores com vínculo <strong>em</strong>pregatício,portanto aqueles que possu<strong>em</strong> carteira assinada são “beneficiados” por esse serviço68


69do MTE, os quais são minorias da População Economicamente Ativa. (LACAZ, 1996p. 83)O M.T., antes <strong>de</strong>nominado Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, tinhaa atribuição <strong>de</strong> inspecionar ambientes <strong>de</strong> trabalho (LACAZ, 1996, p. 205). Nuncarealizou ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, mas inspeções, das quais não abria mão,apesar <strong>de</strong> suas limitações <strong>de</strong> funcionários “inspetores”, b<strong>em</strong> como da visão simplista<strong>de</strong> “avaliar documentos”.Na prática, o MTE trabalha no sentido <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>nciar <strong>em</strong>presas e profissionaisda área da Medicina do Trabalho e Engenharia <strong>de</strong> Segurança, os quais vão atuar naelaboração dos chamados PCMSO’s e PPRA’s. Realiza inspeções através dosagentes <strong>de</strong> inspeção.OLIVEIRA (1994) que calculou que os agentes <strong>de</strong> inspeção da DRT-RJ-M.T.fiscalizass<strong>em</strong> todas as <strong>em</strong>presas sob sua responsabilida<strong>de</strong> a segunda visitaaconteceria <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 6 anos (SCOPINHO, 2003, p.135).Em 2005, o Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) tinha uma meta <strong>de</strong>realizar 120 mil visitas e realizou, aproximadamente, 166 mil ações <strong>de</strong> fiscalizaçãona área <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> trabalho, ou seja, além <strong>de</strong> alçar<strong>em</strong> a meta foi superada <strong>em</strong>30,33%. A meta é superada para garantir a segurança e saú<strong>de</strong> no trabalho, ei<strong>de</strong>ntifica <strong>em</strong> suas ações, cerca <strong>de</strong> mil aci<strong>de</strong>ntes graves ou fatais (Boletim dasRe<strong>de</strong>s Sindicais, 2006).Como já foi indicado anteriormente não importa a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inspeções(SCOPINHO, 2003, p. 243), n<strong>em</strong> são as penalida<strong>de</strong>s aplicadas, mas a qualida<strong>de</strong><strong>de</strong>las, assegurando a garantia da melhores condições <strong>de</strong> trabalho.É <strong>de</strong> se admirar que um informativo <strong>de</strong> um Sindicato indique que um órgãosuperou as expectativas e o que é pior localiza <strong>em</strong> suas ações um numero <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>ntados e mortos no trabalho. Propõe–se que este órgão i<strong>de</strong>ntifique as<strong>em</strong>presas <strong>em</strong> melhores condições <strong>de</strong> trabalho e segurança e divulgue aostrabalhadores. O corpo político po<strong>de</strong> ser formado por um conjunto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entosmateriais e das técnicas que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> armas, <strong>de</strong> reforços, vias <strong>de</strong> comunicação epontos <strong>de</strong> apoio para as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> saber; invest<strong>em</strong> nos corposhumanos e os submet<strong>em</strong> a fazer objetos <strong>de</strong> saber (FOUCAULT, 2002, p.27).Para reforçar esta interpretação <strong>de</strong>staca-se que o MTE consi<strong>de</strong>rou os dados<strong>de</strong> 1998 quando houve redução <strong>de</strong> 23,01% na taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, ou seja, uma69


70variação 15% acima do esperado para o período. A morbida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho apresenta redução <strong>de</strong> 21,67% e a <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> doenças dotrabalho atinge redução <strong>de</strong> 40,79%.Portanto, os trabalhadores são usados como objetos <strong>de</strong> saber pelos órgãosoficiais como o MT, por que lançam os dados, informações como uma analisepositiva da situação, esquecendo que positivo e correto são ações que evit<strong>em</strong> mortee doenças no trabalho.Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> um período <strong>de</strong> 25 anos, foram registrados mais <strong>de</strong> 29milhões <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e mais <strong>de</strong> 100 mil mortes relacionadas ao trabalho no Brasil,esclarecendo que os trabalhadores informais não estão aí incluídos, pois não háesse registro. (OLIVEIRA, 2001).A meta estabelecida é a redução <strong>em</strong> 40 % dos indicadores aqui consignados,tomando como referência inicial o ano <strong>de</strong> 1998 e final o ano <strong>de</strong> 2003. Os indicadoressão apurados com um ano <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> forma que, por ex<strong>em</strong>plo, o exercício <strong>de</strong>2001 é balizado pelos índices relativos ao ano 2000. Tal fato é plenamentejustificado pelo t<strong>em</strong>po necessário para contabilizar os números <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes dotrabalho ocorridos <strong>em</strong> todo o país. (MTE, 2006)Primeiros objetos <strong>de</strong> saber e <strong>de</strong> controle foram na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dotrabalhador as taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, absenteísmo, potencial <strong>de</strong> dias perdidos,morbi-mortalida<strong>de</strong> e mapeamento das doenças as taxas, índices e a elaboração <strong>de</strong>programas específicos.Como anteriormente foi i<strong>de</strong>ntificado os dados não reflet<strong>em</strong> como espelho arealida<strong>de</strong>, são formas <strong>de</strong> dizer para a socieda<strong>de</strong> que algo está sendo realizado, ouseja, está sendo atingido as metas <strong>de</strong> inspeção. 40As divergências i<strong>de</strong>ológicas entre os setores responsáveis pela S.T. talvezseja mais um fato a aumentar os conflitos entre os setores. Para CAR “é “ranço”” –“per<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>r, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> unir esforços,... os técnicos do M.T. são mais capacitadose estão trabalhando a vida inteira nessa área e po<strong>de</strong>riam repassar as experiências e_____________________________________________________________________________________________________________________________40 Será melhor i<strong>de</strong>ntificado no próximo capítulo (cap.2) que os dados não serv<strong>em</strong> como parâmetrospara esse tipo <strong>de</strong> redução. O fato é que as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> especificamente na Saú<strong>de</strong> doTrabalhador precisam ser vistas por outro ângulo, o da prevenção e segurança do trabalho para evitarque os trabalhadores adoeçam, sejam mutilados e morram.70


71atuar junto. Esse papel <strong>de</strong> intermediar é da gerência, on<strong>de</strong> estão os secretários <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, eles sab<strong>em</strong> o que é S.T., isso não vai acontecer nunca. É uma área marginal.Todos estão preocupados com UTI, leitos, etc... É preciso, mas não e só isso epreciso ser visto a S.T.” (entrevista realizada <strong>em</strong> 23/03/06).OLIVEIRA (1996, P.25) fala da intervenção <strong>em</strong> S.T. ter um caráter <strong>de</strong>marginalida<strong>de</strong> por estar sob responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> várias instituições e não ocorre aintegração <strong>de</strong> nenhuma <strong>de</strong>las (por SCOPINHO, 2003, 240).As políticas <strong>de</strong> S.T. estão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> diferentes setores do Estado, <strong>de</strong>diferentes instituições e interesses privados uma política ineficiente historicamentecomo roupa nova com retalhos velhos. É ineficiente e estão submetidos as<strong>de</strong>terminações dos <strong>em</strong>presários ou políticos , principalmente no municípios.Assim, auditores fiscais do Ministério <strong>de</strong> Trabalho e sanitaristas do SUS,voltados para as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> conflito na maioria dosEstados brasileiros. Percebe-se ainda uma série <strong>de</strong> conflitos, mais relacionados adisputas no campo das práticas institucionais que apesar pós-Constituição <strong>de</strong> 1988não foi solucionada. (MACHADO, 2005) 41O Interessante é que o próprio Ministério da Saú<strong>de</strong> não compreen<strong>de</strong> comoatribuição da Saú<strong>de</strong> atuar <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, especificamente no que tangea Vigilância Sanitária, ou seja, o responsável pelas ações <strong>de</strong> S.T., esta in<strong>de</strong>finido,consi<strong>de</strong>rando que n<strong>em</strong> o MS assume. No ca<strong>de</strong>rno 5 do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília <strong>de</strong> 2002, a qual foi distribuída <strong>em</strong> todo o Brasil esta <strong>de</strong>scrito que o Ministériodo Trabalho e do Emprego (MTE) t<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong> realizar inspeções e a fiscalizaçãodas condições e dos ambientes <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> todo território nacional.1.4.2 - Previdência SocialApós a Constituição <strong>de</strong> 1988, surgiram vários <strong>de</strong>bates sobre a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> alterações sobre o acesso a Previdência Social, como as propostas <strong>de</strong> ampliaçãodos serviços para melhor aten<strong>de</strong>r os trabalhadores com a concessão do piso salarialmínimo a todos, incluindo os trabalhadores rurais, aumento dos direitos <strong>de</strong> proteçãoe a diminuição do prazo <strong>de</strong> carência._____________________________________________________________________________________________________________________________41 FOUCAULT fala do conceito <strong>de</strong> intencionalida<strong>de</strong>, como o <strong>de</strong> formações discursivas ligado aformações i<strong>de</strong>ológicas, à medida que as condições psicológicas do hom<strong>em</strong> são reflexos das suascondições materiais e que, <strong>em</strong> contrapartida, reflet<strong>em</strong>-se no comportamento, ou seja, o discurso dohom<strong>em</strong> perpassado o t<strong>em</strong>po todo pela i<strong>de</strong>ologia ou pela cópia da fala <strong>de</strong> outra pessoa.71


72A partir <strong>de</strong> 1990 a crise do Estado, <strong>de</strong>stacando o fraco <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho naeconomia e o crescimento da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e do trabalho informal forammotivos utilizados para a reforma da Previdência neste período.Surgiram várias propostas, as quais se <strong>de</strong>veriam <strong>em</strong> duas vertentes: aprimeira é que o Estado <strong>de</strong>veria manter a previdência e a outra é que o cidadão/trabalhador teria a incumbência <strong>de</strong> se manter no sist<strong>em</strong>a Previ<strong>de</strong>nciário. Prevaleceua Primeira proposta, apesar das <strong>de</strong>ficiências nas contribuições sob folha <strong>de</strong>pagamento e com estratégia <strong>de</strong> incentivar a redução do número <strong>de</strong> trabalhadoress<strong>em</strong> carteira assinada.O Financiamento, outra questão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevo na área é tratada porLACAZ (1996, p.77) que argumenta que houve modificações nas fontes <strong>de</strong>financiamento, pois os recursos da Saú<strong>de</strong> vinham <strong>de</strong> Fundos <strong>de</strong> Previdência eAssistência Social (FPAS). Os gastos com a atenção à saú<strong>de</strong> nas três esferas <strong>de</strong>governo entre 1980 e 1990 mostram que os da União nunca foram inferiores a 71%(1986), tendo alcançado o patamar <strong>de</strong> 87% <strong>em</strong> 1988.O Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) 42 sofreu inúmerasmudanças com relação ao seu papel, porém continua através do INSS (InstitutoNacional <strong>de</strong> Segurida<strong>de</strong> Social), realizando e sendo responsável pelas períciasmédicas, reabilitação profissional e pelo pagamento <strong>de</strong> benefícios. (MS, 2002 p.12).O INSS t<strong>em</strong> a responsabilida<strong>de</strong> pelo pagamento <strong>de</strong> benefícios, enquanto otrabalhador esteja doente ou continue com a incapacida<strong>de</strong> pelo aci<strong>de</strong>nte b<strong>em</strong> comoé responsável pela reabilitação profissional para o preparo e a capacitação dosaci<strong>de</strong>ntados a fim <strong>de</strong> que os mesmos volt<strong>em</strong> ao mercado <strong>de</strong> trabalho. Consolidardados e divulgá-los também faz parte <strong>de</strong> suas ações.O INSS t<strong>em</strong> um instrumento <strong>de</strong> notificação <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes do Trabalho (CAT)que também po<strong>de</strong> ser utilizado para as doenças adquiridas e/ou <strong>de</strong>senvolvidas notrabalho, essa comunicação é um importante instrumento <strong>de</strong> notificação <strong>de</strong>doenças/aci<strong>de</strong>ntes para o MPAS, MS e MTE.Ao sofrer um aci<strong>de</strong>nte ou doenças do trabalho, o trabalhador t<strong>em</strong> o direito <strong>de</strong>ficar afastado e receber pelos dias ausentes ao trabalho. Caso sua licença passe <strong>de</strong>_________________________________________________________________________________42 Em 1967 foi implantado o Instituto Nacional <strong>de</strong> Previdência Social (INPS), cujo objetivo era aten<strong>de</strong>rao sist<strong>em</strong>a produtivo, atenuando as tensões. A previdência social era um amortecedor <strong>de</strong>stinado aabsorver e neutralizar o impacto das diferenças sociais sobre os trabalhadores (POSSAS 1981, p.226).72


7315 dias, o “benefício” será pago pelo INSS, e se o período for menor que 15 dias, a<strong>em</strong>presa/<strong>em</strong>pregador <strong>de</strong>ve pagar. Isso ocorre somente aos trabalhadoresassalariados, ou seja, aqueles que possu<strong>em</strong> suas carteiras assinadas.A CAT <strong>de</strong>ve ser <strong>em</strong>itida até o primeiro dia útil seguinte ao aci<strong>de</strong>nte, porémsabe-se que isso não acontece e que é preenchida mesmo não ocorrendo oafastamento do trabalhador. O preenchimento <strong>de</strong>ve ser feito peloaci<strong>de</strong>ntado/trabalhador, seus familiares, sindicato, médico, autorida<strong>de</strong> pública,<strong>em</strong>presa, <strong>de</strong> acordo como o que <strong>de</strong>termina o Decreto nº. 611 <strong>de</strong> 1992, o qualapresenta a lista <strong>de</strong> doenças profissionais ou do trabalho.São notificados os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, restringindo-se, portanto, ànotificação <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhadores com carteira assinada, que representam,atualmente, menos da meta<strong>de</strong> da força <strong>de</strong> trabalho ocupada. Logo registros <strong>de</strong>serviços <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência po<strong>de</strong>m ser importante fonte <strong>de</strong> informação dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trabalho e das ações <strong>de</strong> vigilância.Sabe-se que as <strong>em</strong>presas são responsáveis pela notificação <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes,mas é o mesmo que dar ao lobo a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidar das ovelhas. A morteé <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> lado, b<strong>em</strong> como os aci<strong>de</strong>ntes, os quais passam <strong>de</strong>spercebidos. E <strong>de</strong>se consi<strong>de</strong>rar como ag<strong>em</strong> as <strong>em</strong>presas que contratam funcionários s<strong>em</strong> carteiraassinada e/ou não notificam o aci<strong>de</strong>nte, doença ocupacional.A proposta <strong>de</strong> reforma previ<strong>de</strong>nciária <strong>de</strong> 1995 impôs perdas significativas nãoapenas às categorias profissionais do setor público, mas também aos <strong>em</strong>pregadosdo setor privado, retirando os benefícios e privilégios que os constituintes haviamconsagrado na Constituição <strong>de</strong> 1988.As mudanças propostas foram às seguintes: o critério <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> serviçopara ida<strong>de</strong> mínima e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> contribuição, o fim das aposentadorias especiais eimposição <strong>de</strong> um teto para pensões <strong>de</strong> funcionários públicos, com um redutor <strong>de</strong>30% acima do teto, <strong>de</strong>stacando-se apenas alguns dos aspectos mais polêmicos da<strong>em</strong>enda.Essa política atingiu a população negativamente. Observ<strong>em</strong>os, por ex<strong>em</strong>plo,os seguintes dados: <strong>em</strong> 1996, no Regime Geral <strong>de</strong> Previdência Social, mantido peloInstituto Nacional do Seguro Social (INSS), foram pagos R$ 42,6 bilhões a 16,5milhões <strong>de</strong> beneficiários, enquanto no setor público R$ 46,1 bilhões foram gastoscom pagamento <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2,9 milhões <strong>de</strong> inativos. Ou seja, 14,9% dos73


74beneficiários receberam 52% do total <strong>de</strong> recursos. No regime geral, conforme dados<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1997, 15,1% dos beneficiários receberam <strong>de</strong> 45,8% do total da <strong>de</strong>spesamensal com benefícios. Conforme o Jornal Folha <strong>de</strong> São Paulo os indícios quepopulação segurada, 90% façam parte do regime geral e os 10% restantes estejamnos regimes <strong>de</strong>nominados especiais (União, Estados e Municípios) (Edição <strong>de</strong>27/09/97).A escolha da tramitação da Reforma da Previdência <strong>de</strong>veu-se, além docontexto conjuntural mais amplo aqui exposto, ao fato <strong>de</strong> que essa <strong>em</strong>endaconstitucional proposta pelo Po<strong>de</strong>r Executivo trouxe à tona aspectos importantes darelação entre Executivo e Legislativo, tais como o papel dos partidos políticos, aquestão da coesão e disciplina partidária, o papel dos lí<strong>de</strong>res partidários nacondução da votação das matérias <strong>em</strong> plenário e na formação e funcionamento dascomissões legislativas, além das dificulda<strong>de</strong>s mais gerais do processo <strong>de</strong> reformaconstitucional.“Em ambas são facilmente percebidas as tentativas <strong>de</strong> suprimir direitos adquiridos, <strong>de</strong>quebrar o princípio da universalida<strong>de</strong> da cobertura, <strong>de</strong> romper o conceito <strong>de</strong> segurida<strong>de</strong> social e <strong>de</strong>transformar os contribuintes, os aposentados e os pensionistas <strong>em</strong> investidores no incerto mercado<strong>de</strong> capitais do Brasil, via fundos <strong>de</strong> pensão milhões <strong>de</strong> trabalhadores a curto, médio e longo prazos,caracterizando-se como autêntica ‘política <strong>de</strong> imposição <strong>de</strong> perdas’” (AROUCA, 1995, p 22.).A recorrente questão do déficit, na verda<strong>de</strong> o maior motivo <strong>de</strong>clarado para areforma, também é objeto <strong>de</strong> dissenso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção até a base <strong>de</strong> dados.Segundo o IPEA (2002, p.15), o déficit foi <strong>de</strong> R$ 13,3 bilhões <strong>em</strong> 2001, ou seja,1,08% do PIB e um superávit <strong>de</strong> R$ 16,6 bilhões <strong>em</strong> 1988 registraram-se um déficit<strong>de</strong> R$ 9,1 bilhões <strong>em</strong> 1998 (CECHIN, 2002, p. 14).Segundo Pinheiro (2001, p. 34), <strong>de</strong> janeiro a outubro <strong>de</strong> 2001, o déficit foi6,6% menor que o <strong>de</strong> 2000, essa redução é resultado da reforma, combinado comoutros fatores, como a recuperação da economia no período, o que resulta <strong>em</strong> maiormassa salarial, conseqüent<strong>em</strong>ente, maior arrecadação para os cofres públicos.Mas fica a pergunta <strong>de</strong>ixada por SILVA (2004): Afinal, a reforma <strong>de</strong> 1998reverteu a tendência <strong>de</strong> déficit? Exist<strong>em</strong> muitas dúvidas sobre esse t<strong>em</strong>a, mas existea certeza que o déficit foi nos direitos adquiridos pelos trabalhadores já poucoassistidos pelos direitos, mas agora estão sujeitos as normas <strong>de</strong> redução do t<strong>em</strong>podo benefício, aumento no período <strong>de</strong> trabalho para aposentadoria, entre outros.74


75O equilíbrio das contas da Previdência sofreu com as mudanças na<strong>de</strong>mografia do Brasil, ou seja, o aumento da expectativa <strong>de</strong> vida , assim otrabalhador continua <strong>de</strong>sfrutando mais t<strong>em</strong>po do beneficio e a redução nocrescimento populacional faz com que o numero <strong>de</strong> trabalhadores na ativa diminuam, consequent<strong>em</strong>ente, diminui o numero <strong>de</strong> contribuintes que garant<strong>em</strong> o pagamentodos benefícios aos aposentados.Portanto fez-se necessário as mudanças aprovadas na EmendaConstitucional nº 20, por ex<strong>em</strong>plo:Aumento da ida<strong>de</strong> para fins <strong>de</strong> beneficio <strong>de</strong> aposentadoria; eliminação do teto<strong>de</strong> 10 salários mínimos; regras <strong>de</strong> cálculo, passa a ser a média aritmética dosúltimos meses não mais o último salário; o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> contribuição aumenta passandopara 35 para homens e 30 anos para mulheres; a aposentadoria por ida<strong>de</strong> passapara 65 para homens e 60 para mulheres.Segundo o Governo no período <strong>de</strong> 200 e 2001as alterações permitiram umequilíbrio nos últimos anos, mas não <strong>de</strong>scarta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas modificaçõescaso seja necessário (MARQUES, 2003, p. )É bom l<strong>em</strong>brar que a Previdência é fonte não apenas <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong>aposentadorias, mas conce<strong>de</strong> benefícios <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> laboral,compl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> renda, auxílio doença e presta serviços preventivos e curativos.A Previdência Social (PS) nunca atuou como uma efetiva seguradora namedida <strong>em</strong> que pouco se interessa pela prevenção e controle dos aci<strong>de</strong>ntes edoenças do trabalho, mas apenas age na “reparação” dos danos e não se integrouao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Segurida<strong>de</strong> Social previsto na CF <strong>de</strong> 1988.No período <strong>de</strong> 1998 a 2003, a Previdência registrou, aproximadamente,22.903.311 carteiras existentes no Brasil. Isso significa 27,63 % da populaçãoeconomicamente ativa, que atinge o total <strong>de</strong> 82.902.408 pessoas.Existe uma tendência <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong>sse setor, uma estratégia <strong>de</strong> conteras responsabilida<strong>de</strong>s da Previdência Social/União, diante do déficit orçamentário. Alógica adotada pela PS é dar priorida<strong>de</strong> ao corte <strong>de</strong> benefícios e, agora, acena coma perspectiva <strong>de</strong> privatização do Seguro <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes do Trabalho (SAT), comoparte da Reforma da Previdência Social. Fica a pergunta: Qu<strong>em</strong> vai regular opagamento <strong>de</strong>sse “ beneficio”? A previdência pouco realiza na prevenção <strong>de</strong>75


76incapacida<strong>de</strong>s, apesar <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>scrito na Constituição, atua somente na reparaçãodo dano.Portanto a proposta é criar parcerias entre <strong>em</strong>presários e trabalhadores,retirando-se, assim, do Estado essa atribuição, o que abre espaço para que potentesgrupos seguradores privados, prevalecendo as previdências privadas, as quaispo<strong>de</strong>m chegar a assumir o controle <strong>de</strong> um mercado (SCHUBERT, 1996), atingindo,segundo algumas estimativas, cerca <strong>de</strong> US$ 3 bilhões! (LACAZ, 1997).O que aqui fica explícito é que não há integração intersetorial e isto <strong>de</strong>ve-sedar a partir dos princípios e diretrizes do SUS, particularmente a universalida<strong>de</strong>, aintegralida<strong>de</strong> e o controle social, algo muito longe <strong>de</strong> ser incorporado pela práticados órgãos do setor Trabalho e Previdência Social, daí a proposta <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>naçãosistêmica do mo<strong>de</strong>lo a partir do SUS (LACAZ , 1994, 3ª CNST).Para esclarecer o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização das ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador aprovado <strong>de</strong>ve conter pesquisa, a vigilância, a assistência e areabilitação, que ainda se encontram distribuídas <strong>em</strong> diversos Ministérios(Previdência, Saú<strong>de</strong> e Trabalho)”. (MS/DST 1994, p. 15).Aqui fica patente que é a integração intersetorial que <strong>de</strong>ve se dar a partir dosprincípios e diretrizes do Sus, algo não incorporado pela prática dos órgãos do setorTrabalho e Previdência Social, daí a proposta <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação sistêmica da propostapelo Sus.Mediante a constituição <strong>de</strong> comissão composta por representantes dosMinistérios da Saú<strong>de</strong>, Trabalho e Previdência, das Centrais Sindicais e movimentopopular; do Conselho Nacional <strong>de</strong> Secretários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CONASS) e ConselhoNacional <strong>de</strong> Secretários Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CONASEMS), (MS/DST, 1994). E, no“processo <strong>de</strong> unificação, as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<strong>de</strong>senvolvidas sob a coor<strong>de</strong>nação do SUS, com a integração dos diversos órgãosnas esferas municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral, estabelecendo-se mudança na prática <strong>de</strong>vigilância (...) e incorporando-se o controle social” (MS/DST, 1994, p. 15).1.4.3 - Ministério Público do TrabalhoO Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicionaldo Estado, sendo responsável pela <strong>de</strong>fesa da or<strong>de</strong>m jurídica, do regime <strong>de</strong>mocráticoe dos interesses sociais e individuais indisponíveis.76


77O Ministério Público do Trabalho (MPT) 43 é um dos ramos do MinistérioPúblico da União, que também compreen<strong>de</strong> o Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral, oMinistério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e Territórios.Esta disposto na Constituição Fe<strong>de</strong>ral no capítulo das funções essenciais àJustiça, s<strong>em</strong> vinculação funcional com quaisquer dos Po<strong>de</strong>res do Estado. T<strong>em</strong> comoprincípios institucionais a unida<strong>de</strong>, a indivisibilida<strong>de</strong> e a in<strong>de</strong>pendência funcional.Possui in<strong>de</strong>pendência e autonomia, com orçamento, carreira e administraçãopróprios.O Ministério Público t<strong>em</strong> uma característica própria e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte o quefacilita a sua atuação, po<strong>de</strong>ndo responsabilizar civil e penalmente opatrão/responsável/ <strong>em</strong>presário/ visando repor o dano ocorrido atuando com a ação<strong>de</strong> reparação <strong>de</strong> dano, contra o <strong>em</strong>pregador ou prepostos ou terceiros. Isto ocorreatravés da função do Procurador.A função do procurador não <strong>de</strong>ve ser apenas <strong>de</strong> perseguir os indivíduos quecomet<strong>em</strong> infrações, mas sua função principal é vigiar os indivíduos antes da infraçãocometida. Não é somente um agente da lei; é, antes <strong>de</strong> tudo, um olhar que leva parao procurador geral e este para o ministro (FOUCAULT, 1996, p. 168).Faz-se uma interpretação que esta função <strong>de</strong> procurador fica <strong>em</strong> posiçãoestratégica não somente agindo conforme a lei, mas intervindo nas açõestrabalhistas ajuizadas no âmbito da Justiça do Trabalho, proce<strong>de</strong>ndo à fiscalização;regularização das situações ilegais quando envolvidos interesses coletivos e difusos;orientação dos interessados através <strong>de</strong> audiências públicas, palestras, workshops,reuniões setoriais, etc; realização <strong>de</strong> ações preventivas através <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong><strong>de</strong>núncias, com a instauração <strong>de</strong> inquérito; na forma repressiva, com ajuizamento <strong>de</strong>ações cabíveis junto à Justiça do Trabalho. Atuando <strong>em</strong> vários estados naprevenção e na reparação dos danos causados ao trabalhador rural ou urbano.O Ministério Público do Trabalho mediante aos resultados das audiênciasexpe<strong>de</strong> recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e <strong>de</strong> relevânciapública, b<strong>em</strong> como ao respeito dos interesses, direitos e bens cuja <strong>de</strong>fesa lhe caiba_____________________________________________________________________________________________________________________________43 Ministério Público do Trabalho/MPT é um dos ramos do Ministério Público da União. T<strong>em</strong> comochefe o Procurador-Geral do Trabalho, eleito <strong>em</strong> lista tríplice e nomeado pelo Procurador-Geral daRepública.77


78promover, fixando prazo razoável para a adoção das providências cabíveis (incisoXX, art. 6º da Lei Compl<strong>em</strong>entar nº 75/93).Para Foucault, “... teve efeitos muito mais rápidos e <strong>de</strong>cisivos na medida <strong>em</strong>que estava mais diretamente ligada a reorganização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> punir, codificação,<strong>de</strong>finição dos papéis, tarifação das penas, regras <strong>de</strong> procedimento, <strong>de</strong>finição dopapel dos magistrados” (1987, p. 85).A Saú<strong>de</strong> Pública, através do SUS realiza também ações conjuntas com oM.T.E., INSS e outros órgãos governamentais, vêm buscando o cumprimento da leisobre a reserva <strong>de</strong> vagas para trabalhadores portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, visual,auditiva e mental. Existe realmente o envolvimento <strong>em</strong> prol da saú<strong>de</strong> do trabalhador,também foram várias iniciativas <strong>de</strong> trabalho intersetorial, com a execução <strong>de</strong>inspeções <strong>em</strong> conjunto com a CEMAST/SESA.O M. P. t<strong>em</strong> colaborado com na interpretação e elaboração <strong>de</strong> relatóriostécnicos que respaldam as ações <strong>de</strong> S. T. no SUS, encaminhando os conflitos pelasuperposição das atribuições <strong>de</strong> inspeções e fiscalização do MT. (MP do Estado <strong>de</strong>São Paulo, 1992)O MPT, MT e o INSS estão buscando incluir funcionários e ainda beneficiáriosreabilitados, <strong>em</strong> <strong>em</strong>presas com 100 (c<strong>em</strong>) ou mais <strong>em</strong>pregados, <strong>de</strong> maneira a inseriro trabalhador diretamente no mercado <strong>de</strong> trabalho. (Ministério Público da União05/07/06)Elaboração <strong>de</strong> pareceres técnicos, realmente, realizando suas atribuições.Tanto que <strong>em</strong> mais uma iniciativa o Fórum <strong>de</strong> Proteção ao Meio Ambiente doTrabalho do Estado do Paraná lança a Cartilha 44 <strong>de</strong> Prevenção, Saú<strong>de</strong>. Higiene eSegurança no Trabalho com o objetivo da cartilha é promover a prevenção <strong>em</strong>saú<strong>de</strong>, higiene e segurança do trabalhador.É <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância consi<strong>de</strong>rando o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> trabalhadoresvitimados por aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho e doenças ocupacionais, além dos altos custossociais e econômicos (MPT. 9ªRegião – Curitiba)._________________________________________________________________________________44 Cartilha será distribuída: Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Paraná (FIEP) fará a distribuição aossindicatos conveniados. Secretaria <strong>de</strong> Indústria, Comércio e Turismo da Prefeitura <strong>de</strong> São José dosPinhais; Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador da Prefeitura <strong>de</strong> Curitiba;78


79Consi<strong>de</strong>rações:A construção da Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no Brasil, segundo DIAS (CUT, 1991,p.31) iniciou-se <strong>em</strong> 1978.Na década <strong>de</strong> 60 e 70 ocorreu um intercâmbio <strong>de</strong> experiências b<strong>em</strong>sucedidas na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do Trabalhador entre profissionais Italianos ebrasileiros. Desenca<strong>de</strong>ando no primeiro momento (1978-1986) que caracterizouimportantes discussões na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, as quais foramapresentadas nas mais importantes Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> a 8ªCNS e a 1ªCNST.Até este momento a política <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> era marcada pelo <strong>de</strong>scaso dosgovernos pela área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador. Isso fica claro quando se observam asdificulda<strong>de</strong>s reais <strong>de</strong> acesso dos trabalhadores aos serviços públicos, a visão“curativa” tanto dos profissionais como dos serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.O segundo momento (1987-1990) <strong>de</strong>stacando a institucionalização dasações na Saú<strong>de</strong> Pública, na 8ª CNS que nortearam, na implantação dos primeirosserviços <strong>de</strong> Atenção á Saú<strong>de</strong> do Trabalhador no Estado <strong>de</strong> São Paulo, Rio <strong>de</strong>Janeiro, Minas Gerais.O terceiro momento (1990 - 1994) a implantação das ações pelo SUS, b<strong>em</strong>como as ações <strong>de</strong> S.T. neste sist<strong>em</strong>a. Ocorreram conflitos no Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, oqual se dividiu entre as propostas da Reforma Sanitária, o Projeto neoliberal, e adificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento para as ações do SUS.Mas o conflito entre os profissionais do Ministério <strong>de</strong> Trabalho e do SUS,nesta área é uma questão histórica, uma hora é o Ministério que responsável pelasações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador <strong>em</strong> outro momento é a saú<strong>de</strong>. Destacando operíodo <strong>de</strong> 1934, quando foram nomeados os primeiros inspetores-médicos dotrabalho, para realizar<strong>em</strong> a inspeção higiênica nos ambientes <strong>de</strong> trabalho e foiretirada as atribuições do setor <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. Isto não foi solucionado e a falta<strong>de</strong> esclarecimento sobre as atribuições <strong>de</strong>stes órgãos continua principalmente<strong>de</strong>pois da Constituição <strong>de</strong> 1988.Foram i<strong>de</strong>ntificados os conflitos na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, mas isto éprevisto pela teoria <strong>de</strong> Michel Foucault , quando <strong>de</strong>screve a biopolítica que tratajustamente da “população como probl<strong>em</strong>a político, como probl<strong>em</strong>a a um só t<strong>em</strong>pocientífico e político, biológico e como <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r” (p.293), ou seja, a biopolítica entreoutras coisas vai prover mecanismos <strong>de</strong> previdência <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> eventos aleatórios,79


80que são inerentes a um grupo social, a uma população <strong>de</strong> seres vivos, e buscaráotimizar um estado <strong>de</strong> vida, buscando estados globais <strong>de</strong> equilíbrio.O projeto neoliberal era necessário combater as raízes da crise que seoriginava no po<strong>de</strong>r dos sindicatos e do movimento operário, que pressionavam pormelhores salários, condições <strong>de</strong> vida e trabalho e ampliavam os gastos sociais,assumidos pelo Estado. Este projeto foi uma estratégia internacional queestabeleceu uma política econômica monetarista com ampla privatização <strong>de</strong><strong>em</strong>presas estatais, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando menor responsabilida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong>ixandouma gran<strong>de</strong> fatia do mercado para as <strong>em</strong>presas privadas, tanto <strong>de</strong> previdênciaprivada como <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Já a questão do financiamento no SUS t<strong>em</strong> sido um dos t<strong>em</strong>as mais difíceis<strong>de</strong> ser<strong>em</strong> discutidos. Por ex<strong>em</strong>plo a Municipalização das ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> ocorre <strong>de</strong>forma <strong>de</strong>sigual nos Municípios, porque a forma <strong>de</strong> calculo é baseada na população,ou seja, o município pequeno recebe pouco e continua com dificulda<strong>de</strong>s e o maiorcontinua recebendo mais o que possibilita melhores serviços.O quarto momento o setor saú<strong>de</strong> foi conquistando novos caminhos. AConsolidação da legislação e pela regulamentação das ações nos setores <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,Ministério do trabalho e Previdência Social. Que permanece até os dias atuais.Não somente a Saú<strong>de</strong> Pública t<strong>em</strong> a responsabilida<strong>de</strong> sobre as ações <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, assim <strong>de</strong>stacam-se O MTE, a Previdência Social, e o M.P.Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) coor<strong>de</strong>nar, orientar, controlare supervisionar, fiscalização dos ambientes <strong>de</strong> trabalho e avaliação <strong>de</strong>documentações.A previdência atua na reparação do dano, ou seja, no pagamento <strong>de</strong>benefícios e na reabilitação profissional para o trabalhador aci<strong>de</strong>ntado voltar aomercado <strong>de</strong> trabalho. Apesar das propostas da Constituição pouco atua naprevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.Diante do exposto verifica-se que já se passaram 20 anos, após asconquistas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas na 8ª CNS, como disse CAR ”tudo é muito <strong>de</strong>vagar, mashouve pontos positivos”, a Constituição Fe<strong>de</strong>ral, a Lei Orgânica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, a Lei nº.8142, isso por atitu<strong>de</strong>s movimento sindical, através do movimento <strong>de</strong> reformasanitária, entretanto as políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador baseavam-se <strong>em</strong>pagamentos <strong>de</strong> benefícios. Este benefício referece ao auxílio doença ou80


81aposentadoria por invali<strong>de</strong>z para aqueles trabalhadores impossibilitados <strong>de</strong> trabalharpermanente, <strong>de</strong>vido à incapacida<strong>de</strong> permanente, amputações, seqüelas grave.Já o Ministério Público t<strong>em</strong> atuado, através <strong>de</strong> ações importantes,investigação <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias, prevenção e na reparação dos danos causados aotrabalhador, realmente se envolvendo nas ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.Ressaltando a convocação e a estratégia <strong>de</strong> envolver os diversos órgãos (INSS,SUS, MT) nestas ações.Algo que reforça a questão do discurso é o período da implantação dosserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador no SUS (OLIVEIRA, 2001), o qual foi marcado porconflitos no Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que se dividiram entre as propostas da ReformaSanitária e o Projeto Neoliberal, como também, pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamentopara as ações do SUS.Portanto no próximo capítulo será esclarecido as atribuições legais da área <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong>, especificamente da Vigilância Sanitária, que i<strong>de</strong>ntificam através daLegislação que a Saú<strong>de</strong> t<strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>s sobre a Saú<strong>de</strong> do trabalhador. Seráesclarecido as atribuições legais da área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, especificamente da VigilânciaSanitária, que i<strong>de</strong>ntificam através da Legislação que a Saú<strong>de</strong> t<strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>ssobre a Saú<strong>de</strong> do trabalhador.81


822- A HORA E A VEZ DA VIGILÂNCIA SANITÁRIANa primeira parte <strong>de</strong>ste capítulo será apresentado um breve histórico sobre asações <strong>de</strong> Vigilância Sanitária no mundo e, especificamente, no Brasil.A segunda parte dará ênfase às responsabilida<strong>de</strong>s penais na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador e aos dados <strong>de</strong> interesse na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, como aci<strong>de</strong>ntese óbitos no trabalho.2.1-A Vigilância SanitáriaNo século XVIII, as ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas da Vigilância Sanitária (VISA) nomundo eram, basicamente, o controle sanitário dos portos, com o objetivo <strong>de</strong> evitar apropagação <strong>de</strong> doenças advindas <strong>de</strong> outros países e Estados, comprometendo asaú<strong>de</strong> da população.As ações <strong>de</strong> fiscalização sanitária tinham o objetivo <strong>de</strong> reor<strong>de</strong>nar os espaços<strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> moradia, reduzindo a exposição das pessoas a lugares insalubres,segundo as concepções da higiene e da teoria dos miasmas. Essas ativida<strong>de</strong>sfaz<strong>em</strong> parte das responsabilida<strong>de</strong>s da VISA até hoje ou, <strong>de</strong> algum modo, asativida<strong>de</strong>s atuais são s<strong>em</strong>elhantes a essas.Em <strong>de</strong>corrência do <strong>de</strong>senvolvimento da ciência médica, os profissionais<strong>de</strong>ssa área, que se tornavam observadores do social e do meio urbano, elaboraramuma nova leitura da cida<strong>de</strong>, do ponto <strong>de</strong> vista da saú<strong>de</strong>. Com a <strong>de</strong>sculpa dosmiasmas, as cida<strong>de</strong>s passaram a sofrer intervenções, atraindo a atenção <strong>de</strong>diferentes profissionais, que criticavam a insalubrida<strong>de</strong> do espaço urbano, resultantedas condições <strong>de</strong> vida e trabalho, do amontoamento da população e da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m.Essas ações são analisadas por Foucault como <strong>de</strong>correntes docomportamento <strong>de</strong> medo e <strong>de</strong> angústia diante da cida<strong>de</strong>, que se <strong>de</strong>nominou "medourbano": medo das fábricas, dos c<strong>em</strong>itérios, dos hospitais, das ca<strong>de</strong>ias, doamontoamento da população, das epi<strong>de</strong>mias, dos esgotos, do lixo, da sujeira, daságuas paradas... Esses eram os produtores <strong>de</strong> miasmas e foram postos sobvigilância médica e normatizados pela legislação sanitária dos séculos XVIII e XIX.Nessa época (na segunda meta<strong>de</strong> do século XVIII), as ações <strong>de</strong> Vigilância naEuropa tornaram-se um controle intenso, contínuo do processo <strong>de</strong> produção e do82


83comportamento humano, cuidando da técnica e da maneira <strong>de</strong> se fazer a tarefa. Àmedida que se aumenta a produção, torna-se mais importante o número certo <strong>de</strong>trabalhadores.Em 1842, <strong>de</strong>u-se início o processo conhecido por Reforma Sanitária na Grã-Bretanha e nos EUA (STERN, 1980, p. 15). Aí a prevenção era feita por inspetores dacomissão da Lei dos Pobres; a participação dos movimentos populares <strong>em</strong> fórunsinstitucionais <strong>de</strong>u consistência aos projetos nessa área.O po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> servir à economia, é mo<strong>de</strong>lado por ela, ce<strong>de</strong> porcontrato ou por força, aliena-se ou se liberta, circula ou se paralisa, estáintrinsecamente relacionado à economia. Como o corpo transformou-seessencialmente na força produtiva, a partir do século XVII, quanto mais força <strong>de</strong>trabalho houver, mais pleno e correto funcionaria o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> produção capitalista.(FOUCAULT, 1974, p. ).FOUCAULT diz que, numa análise <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, nas relações e processo <strong>de</strong>trabalho no sist<strong>em</strong>a capitalista, <strong>de</strong>ve-se pensar <strong>em</strong> algumas perguntas. Como nasceesse po<strong>de</strong>r? De on<strong>de</strong> v<strong>em</strong>? O que é esse po<strong>de</strong>r? O que está <strong>em</strong> jogo? (FOUCAULT,2002, p.19).Está <strong>em</strong> jogo, na análise, a economia e as teorias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, a riqueza. Àmedida que essa economia funciona, o papel principal do po<strong>de</strong>r é manter asrelações <strong>de</strong> produção e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, reconduzir as dominações <strong>de</strong> classe paraque se <strong>de</strong>senvolvam modalida<strong>de</strong>s próprias do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> produção.Os primeiros esforços importantes para a industrialização brasileira vêm doImpério. Durante o Segundo Reinado, <strong>em</strong>presários brasileiros, como IrineuEvangelista <strong>de</strong> Souza, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá, e grupos estrangeiros, principalmenteingleses, invest<strong>em</strong> <strong>em</strong> estradas <strong>de</strong> ferro, estaleiros, <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> transporte urbanoe gás, bancos e seguradoras.Como <strong>de</strong>staca PIOVESAN, a Vigilância Sanitária teve início no Brasil, naépoca do império, entre 1808 e1889, começando com o controle sanitário nosportos, instaurando o regimento da Provedoria com o mo<strong>de</strong>lo da polícia médica. Foicriada a Inspetoria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública do Porto do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Os Serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> foram centralizados novamente, <strong>em</strong> 1849, <strong>de</strong>vido à ineficiente organização83


84sanitária municipal. Em 1885, ocorre a Reforma dos Serviços Sanitários, sendodivididos entre: serviço sanitário terrestre e serviço sanitário marítimo. (2002)Nessa época, a política econômica oficial priorizava a agricultura exportadora,<strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> utilização do transporte marítimo, que escoava a exportação.Conseqüent<strong>em</strong>ente, as ações <strong>de</strong> Vigilância começaram a privilegiar essa área, ouseja, os portos.A partir do final do século XIX, ocorreu, no Brasil, a reestruturação navigilância sanitária, a qual foi impulsionada pelas <strong>de</strong>scobertas nos campos dabacteriologia e da medicina, no período que inclui a I e a II Gran<strong>de</strong> Guerra, e pelocrescimento econômico ocorrido com aumento da produção no país, no pós IIGuerra Mundial, colaborando na ampliação das atribuições da Vigilância Sanitária.(EDUARDO, 1998, p. 3).Em 1937, ainda no Brasil, o Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>finiu o espaçoinstitucional dos campos <strong>de</strong> atuação da Vigilância Sanitária. O objetivo era realizar ações <strong>de</strong>controle sanitário <strong>em</strong> conjunto com os Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Portos, normativa essa nuncacumprida, mas que incorporava as recomendações internacionais. Observa-se ao longo doséculo XX, um crescimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e produtos, como a si<strong>de</strong>rurgia, conce<strong>de</strong>ram às<strong>em</strong>presas <strong>de</strong> ferro e aço diversos benefícios fiscais. Na ocasião, a produção brasileira era <strong>de</strong>apenas 36 mil toneladas anuais. No mesmo ano foi inaugurada a usina <strong>de</strong> Monleva<strong>de</strong>, comcapacida<strong>de</strong> inicial <strong>de</strong> 50 mil toneladas anuais <strong>de</strong> lingotes <strong>de</strong> aço, no mesmo ano foramconstituídas a companhia si<strong>de</strong>rúrgica <strong>de</strong> Barra Mansa e a Companhia Metalúrgica <strong>de</strong> Barbará.Esta entre outras <strong>em</strong>presas resultou na propagação <strong>de</strong> partículas pesadascomo dióxido sulfúrico, no aumento a concentração <strong>de</strong> gás carbônico e outraspartículas menores, b<strong>em</strong> como outros poluentes <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> diversos produtos <strong>de</strong>consumo. Nos centros urbanos a poluição estava aliada a má qualida<strong>de</strong> da água eesgoto.O processo <strong>de</strong> industrialização e a crescente urbanização modificaram opanorama da relação <strong>de</strong> trabalho. O movimento sindical <strong>em</strong>ergente começou aexpressar o controle social que a força <strong>de</strong> trabalho necessitava. Ao mesmo t<strong>em</strong>po,as novas tecnologias, ao incorporaram novos processos <strong>de</strong> trabalho, geravam riscosque culminavam <strong>em</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho e doenças profissionais. Por isso as<strong>em</strong>presas eram submetidas a fiscalização do Estado pó órgão específicos.84


85As dificulda<strong>de</strong>s causadas pela II Guerra Mundial ao comércio internacionalfavorec<strong>em</strong> essa estratégia <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong> importações. É o caso da FábricaNacional <strong>de</strong> Motores, fundada <strong>em</strong> 1943, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. O primeiro auto-forno daCompanhia Si<strong>de</strong>rúrgica Nacional (CSN) começa a operar, <strong>em</strong> Volta Redonda (RJ),<strong>em</strong> 1946. A Petrobrás foi criada <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 1953 <strong>de</strong>tendo o monopólio <strong>de</strong>pesquisa, extração e refino <strong>de</strong> petróleo. Todas eram então <strong>em</strong>presas estatais.Entre 1956 e 1961, época do governo Juscelino Kubitschek, o capital estrangeiro foiestimulando a produção. No início dos anos 60, o setor industrial supera a média <strong>de</strong>crescimento dos <strong>de</strong>mais setores da economia brasileira e diversas indústrias estrangeirasforam implantadas, como a indústria <strong>de</strong> eletrodomésticos e veículos, com o objetivo <strong>de</strong>multiplicar o número <strong>de</strong>ssas indústrias e das fábricas <strong>de</strong> peças e componentes. Com isso, osserviços <strong>de</strong> infra-estrutura precisavam ser melhorados, como transporte e fornecimento <strong>de</strong>energia elétrica.Esses investimentos externos e internos também estimularam a diversida<strong>de</strong>na economia do Brasil, aumentando a produção <strong>de</strong> insumos, máquinas eequipamentos pesados para mecanização agrícola, fabricação <strong>de</strong> fertilizantes,frigoríficos, transporte ferroviário e construção naval.Nos anos <strong>de</strong> 1968 a 1974, o crescimento econômico da época ficou sendochamado "milagre econômico", <strong>de</strong>vido à viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s investimentos <strong>em</strong>infra-estrutura (rodovias, ferrovias, telecomunicações, portos, usinas hidrelétricas,usinas nucleares), nas indústrias <strong>de</strong> base (mineração e si<strong>de</strong>rurgia), <strong>de</strong>transformação (papel, cimento, alumínio, produtos químicos, fertilizantes),equipamentos (geradores, sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> telefonia, máquinas, motores, turbinas), bensduráveis (veículos e eletrodomésticos) e na agroindústria <strong>de</strong> alimentos (grãos,carnes, laticínios).O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico da época <strong>de</strong>spertou, nos anos <strong>de</strong> 1976a 1977, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reestruturação do Ministério da Saú<strong>de</strong>, a qual<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a criação da Secretaria Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária (SNVS),organizada por divisões: Portos, Aeroportos e Fronteiras (DIPAF), Medicamentos(DIMED), Alimentos (DINAL), Saneantes e Domissanitários (DISAD), Cosméticos eProdutos <strong>de</strong> Higiene (DICOP).Criada a Secretaria <strong>de</strong> Vigilância Sanitária, esta recebeu a responsabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> atuar <strong>em</strong> novas ações como fiscalizar a área <strong>de</strong> alimentos, medicamentos,85


86produtos <strong>de</strong> higiene e limpeza, ou seja, agregou maiores responsabilida<strong>de</strong>s, além dotrabalho nos portos e aeroportos. A Vigilância Sanitária, através da polícia sanitária,realizava a fiscalização <strong>de</strong> <strong>em</strong>barcações, c<strong>em</strong>itérios e áreas <strong>de</strong> comércio <strong>de</strong>alimentos e o exercício profissional <strong>de</strong> profissões <strong>de</strong> risco à saú<strong>de</strong> da população.A partir da meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1980, a participação popular e <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>srepresentativas <strong>de</strong> diversos segmentos da socieda<strong>de</strong> no processo político <strong>de</strong>finiuque o Estado <strong>de</strong>ve cumprir o papel <strong>de</strong> guardião dos direitos do consumidor e serprovedor das condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população.Por sua vez, o Brasil apresentou uma dinâmica social dada pela participaçãodos trabalhadores e pela construção social do espaço, el<strong>em</strong>ento fundamental naconstrução <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resistência do mo<strong>de</strong>lo vigente, para que este avance nosseus propósitos <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> nos condicionantes da relação da saú<strong>de</strong>com o objeto da ação <strong>de</strong> vigilância. (MENDES, 1994).No Brasil, surge a assessoria sindical feita por profissionais comprometidoscom a luta dos trabalhadores, que trabalham individualmente ou através <strong>de</strong>organizações como o Departamento Intersindical <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>e dos Ambientes <strong>de</strong> Trabalho (DIESAT) e o Instituto Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Trabalho(INST). A assessoria sindical estudava os ambientes e condições <strong>de</strong> trabalho,levantando riscos e constatando danos para a saú<strong>de</strong>.Articulações políticas com os sindicatos obtiveram a conquistas, como arevisão periódica da listag<strong>em</strong> oficial <strong>de</strong> doenças originadas no processo <strong>de</strong> trabalho,a garantia ao sindicato dos trabalhadores <strong>de</strong> requerer ao órgão competente ainterdição <strong>de</strong> máquina e a participação <strong>de</strong> inspeções nas <strong>em</strong>presas.No período pós - 1986 ocorreram as Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que foramcompreendidas como marco na história da Saú<strong>de</strong> Pública no Brasil, <strong>em</strong>conseqüência da participação popular, já <strong>de</strong>stacadas no capítulo anterior: a 8ª CNSe a 1ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, que foram <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adoras<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s conquistas.Duas <strong>de</strong>ssas conquistas foram a promulgação da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>1988 e a elaboração da Lei Orgânica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> 1990, que sustentaram ainstitucionalização das ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, com amparo legal. São consi<strong>de</strong>radas iniciativas do governo, mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser86


87compreendidas como reflexo das lutas dos trabalhadores e do movimento <strong>de</strong>Reforma Sanitária.A 1ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador teve como principalmarca a formulação <strong>de</strong> conteúdos para a Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhadorpara o país.Passam a ser utilizadas normas e legislações que regulamentam a relaçãoentre o trabalho e a saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> qualquer orig<strong>em</strong>, especialmente na esfera dotrabalho, da previdência, do meio ambiente e das convenções internacionaisratificadas pelo Brasil.Na 1ª CNST, algumas propostas foram cruciais para <strong>de</strong>finição das atribuiçõesda Vigilância Sanitária <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, as quais segu<strong>em</strong>:• As ações fiscalizadoras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser da responsabilida<strong>de</strong> dos órgãospúblicos fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais, exercidas pelo SUS – <strong>de</strong> forma<strong>de</strong>scentralizada e integrada;• A <strong>em</strong>presa <strong>de</strong>verá ser fiscalizada pela autorida<strong>de</strong> sanitária local, <strong>de</strong>finidapelo Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.A Constituição Fe<strong>de</strong>ral do Brasil, no Artigo 200, <strong>de</strong>termina que compete aosist<strong>em</strong>a único <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> outras atribuições, nos termos da lei:I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias <strong>de</strong> interessepara a saú<strong>de</strong> e participar da produção <strong>de</strong> medicamentos, equipamentos,imunobiológicos, h<strong>em</strong>o<strong>de</strong>rivados e outros insumos;II - executar as ações <strong>de</strong> vigilância sanitária e epi<strong>de</strong>miológica, b<strong>em</strong> como as<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador;III - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda eutilização <strong>de</strong> substâncias e produtos psico-ativos, tóxicos e radioativos;IV - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido e dotrabalho.A Constituição coloca as atribuições do SUS e <strong>de</strong>termina a execução dasações, através dos serviços <strong>de</strong> Vigilância Sanitária e da Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.Em 1990, as atribuições são reforçadas na Lei Orgânica do SUS no Artigo 6º.Está incluída, no campo <strong>de</strong> atuação do SUS, a execução <strong>de</strong> ações:a) <strong>de</strong> vigilância sanitária;87


88b) <strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica;c) <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador;d) <strong>de</strong> assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica (Lei 8080/90).As Bases do Sist<strong>em</strong>a Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária são: as recomendações<strong>em</strong>anadas do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>verão expressar o marcoreferencial do sist<strong>em</strong>a; e a organização do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> modo a garantir os princípiosdo SUS. É fundamental a inclusão no quadro pessoal <strong>de</strong> servidores técnicos eadministrativos, que <strong>de</strong>vam integrar as equipes multidisciplinares para aten<strong>de</strong>r àdiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funções no campo da <strong>de</strong>fesa e proteção da saú<strong>de</strong> e a efetivaparticipação do conjunto das profissões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nas ações e serviços <strong>de</strong> vigilânciasanitária.O artigo 6º ainda cont<strong>em</strong>pla a questão Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, conceituada daseguinte forma:"... um conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que se <strong>de</strong>stina, através das ações <strong>de</strong> vigilânciaepi<strong>de</strong>miológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saú<strong>de</strong> dostrabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação dostrabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições <strong>de</strong>trabalho". (Lei 8080/90).Esta lei separa as ações <strong>de</strong> S.T.das ações da VISA, enten<strong>de</strong>-se que precisam<strong>de</strong> estruturas separadas, não são incumbência exclusivamente da VISA, mesmo porque estas necessitam <strong>de</strong> ações interinstitucionais.Isso fica muito claro quando se compara a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma legislaçãoque <strong>de</strong>fine as atribuições da VISA e entre elas está o controle e fiscalização dosprocedimentos <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas no âmbito fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, ou seja, dápo<strong>de</strong>res e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, não permite que sejam utilizados.Uma das atribuições da VISA é a fiscalização; essa t<strong>em</strong> o potencial <strong>de</strong> gerarconflitos, porque é um recurso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>sejado pelos que govername implica o fortalecimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha da população, individual ecoletiva. A população ainda não aceita a atuação, n<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua residência n<strong>em</strong> <strong>em</strong>seu ambiente <strong>de</strong> trabalho, por isso precisa ser reforçado esse trabalho para que apopulação aceite esse tipo <strong>de</strong> intervenção.Quando a equipe da VISA chega a um estabelecimento/<strong>em</strong>presa muitasvezes não é b<strong>em</strong> recebida pelo proprietário/responsável, mas também existe um88


89receio por parte dos trabalhadores, por que pensam que estamos atrapalhando oserviço <strong>de</strong>les e realizando inspeções s<strong>em</strong> efeitos concretos, ou seja, não muda nadae conseqüent<strong>em</strong>ente o serviço <strong>de</strong> inspeção caí <strong>em</strong> <strong>de</strong>scrédito parte dostrabalhadores.Na realida<strong>de</strong>, apesar dos instrumentos legais, a Política <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador ainda não está implantada. Os técnicos da área <strong>de</strong> S.T. não consegu<strong>em</strong>atuar efetivamente, pois, ao se confrontar<strong>em</strong> com o capital, são ameaçados com aexoneração ou são <strong>de</strong> fato exonerados dos seus cargos.A Lei (8080/90) <strong>de</strong>fine que a Vigilância Sanitária <strong>em</strong> seu conjunto <strong>de</strong> ações écapaz <strong>de</strong> eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> intervir nos probl<strong>em</strong>assanitários <strong>de</strong>correntes do meio ambiente, da produção e circulação <strong>de</strong> bens e daprestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> interesse da saú<strong>de</strong>, abrangendo: o controle <strong>de</strong> bens <strong>de</strong>consumo que, direta ou indiretamente, relacion<strong>em</strong>-se com a saú<strong>de</strong>, compreendidastodas as etapas e processos da produção ao consumo; o controle da prestação <strong>de</strong>serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saú<strong>de</strong>.O artigo 16º compreen<strong>de</strong> o controle das agressões ao meio ambiente, osaneamento básico e as condições relativas aos ambientes <strong>de</strong> trabalho (Lei8080/90).Embora a área <strong>de</strong> abrangência da vigilância sanitária tenha sido ampliada aresponsabilida<strong>de</strong> ao longo dos anos, a legislação sanitária brasileira, b<strong>em</strong> como aestrutura dos órgãos, não acompanhou esse avanço. (DUARTE, 1990, p. 64 porLUCCHESE, 2001).A VISA t<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> garantir a qualida<strong>de</strong> dos serviços e produtosoferecidos à população. É dividida, basicamente, <strong>em</strong> quatro áreas: Produtos eServiços, que atua <strong>em</strong> farmácias, hospitais, laboratórios, clínicas, fábricas <strong>de</strong>saneantes, cosméticos e produtos <strong>de</strong> interesse da saú<strong>de</strong>; Alimentos,supermercados, lanchonetes, indústria <strong>de</strong> alimentos, entre outros; Saú<strong>de</strong> Ambiental,que controla a poluição <strong>de</strong> água, ar, solo; a Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, que avalia ascondições <strong>de</strong> iluminação, t<strong>em</strong>peratura, umida<strong>de</strong>, ventilação, ergonomia, processo <strong>de</strong>trabalho <strong>em</strong> todos os estabelecimentos que envolv<strong>em</strong> os setores anteriores.Porém, as leis, as conquistas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre se reflet<strong>em</strong> na realida<strong>de</strong>. Aconceituação <strong>de</strong> discurso como prática social indica a idéia <strong>de</strong> que o discursos<strong>em</strong>pre se produziria <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Existe uma correlação entre89


90as práticas discursivas e as práticas não discursivas, <strong>em</strong>bora permaneça a idéia <strong>de</strong>que o discurso seria construído a partir da realida<strong>de</strong> e produziria po<strong>de</strong>r e saberes.Des<strong>de</strong> 1990, esse projeto neoliberal v<strong>em</strong> sendo implantado através da açãodos governos fe<strong>de</strong>rais. T<strong>em</strong> combinado medidas que transformam a estruturaeconômica interna (privatizações, abertura comercial, <strong>de</strong>sregulamentações).No mundo do trabalho, po<strong>de</strong>m-se i<strong>de</strong>ntificar quatro efeitos principais(BORGES e POCHMANN, 2002):• Primeiro: uma explosão do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. O governo FHC produziu ummilhão <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados a mais <strong>em</strong> cada um dos seus oito anos <strong>de</strong> mandato;• Segundo: uma corrosão do valor dos salários (segundo o InstitutoBrasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, a renda real do trabalhador está <strong>em</strong> quedacontinuada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998, tendo acumulado perda <strong>de</strong> 10,8%);• Terceiro: um crescimento assustador do mercado informal (isto é, dotrabalho precário) que abrange dois terços da população ocupada;• Quarto: o <strong>de</strong>smonte da legislação <strong>de</strong> proteção aos trabalhadores.Esse projeto <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, o crescimento do trabalho informal,a perda do po<strong>de</strong>r aquisitivo, a falta <strong>de</strong> interesse <strong>em</strong> cumprir os direitos dostrabalhadores, ou seja, prejudicou o trabalhador <strong>de</strong> diversas formas, portanto, eleestá nas mãos dos <strong>em</strong>presários.Nesse sentido, o que po<strong>de</strong>mos esperar é um agravamento da crise provocadapela diminuição dos recursos disponíveis para fazer políticas públicas <strong>de</strong> tipo social.Desenca<strong>de</strong>ou-se uma crise econômica e social, pelo não atendimento <strong>de</strong> direitosbásicos dos quais necessita a população, implicando o retrocesso das conquistasdos trabalhadores e o aumento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.Destaca-se nessa Lei (SUS) a probl<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> que meta<strong>de</strong> dos recursos doMinistério da Saú<strong>de</strong> são <strong>de</strong>stinados aos Estados e Municípios, conforme o cálculo<strong>de</strong>terminado pelo número <strong>de</strong> habitantes e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> qualquerprocedimento prévio ou <strong>Programa</strong> (Lei 8080/90 - Artigo 35).Esse it<strong>em</strong> da lei também é preocupante, pois se refere aos recursosfinanceiros e a seus critérios <strong>de</strong> distribuição, permitindo somente o recebimentoatravés do número <strong>de</strong> habitantes, não levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a realização <strong>de</strong>ações específicas, programas voltados para a implantação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>90


91do trabalhador. Portanto, não há um incentivo e é necessária a garantia <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong>financiamento que não recaiam mais uma vez sobre o próprio trabalhador.O processo <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> recursos e responsabilida<strong>de</strong>s na execução <strong>de</strong>ações <strong>de</strong> Vigilância Sanitária (VISA), no âmbito municipal, faz parte do termo<strong>de</strong>scentralização dos serviços, preconizado pela Lei SUS, a qual não garante amudança no padrão <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.As responsabilida<strong>de</strong>s entre os gestores do SUS <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser pactuadas eimpl<strong>em</strong>entadas <strong>de</strong> forma integrada entre Estado e o Governo Fe<strong>de</strong>ral, com a<strong>de</strong>scentralização das ações <strong>de</strong> VISA, as quais resultam <strong>em</strong> maior impacto para aproteção da saú<strong>de</strong> da população.Durante os anos <strong>de</strong> 1993 a 1996, 124 municípios assumiram a condição <strong>de</strong>gestão s<strong>em</strong>iplena, o que correspon<strong>de</strong> a 15,57% da população brasileira. Osmunicípios começam a ensaiar o seu papel mais abrangente <strong>de</strong> gestor,estabelecendo importantes avanços na reorganização do sist<strong>em</strong>a, com conseqüent<strong>em</strong>elhoria nos níveis <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população.Em 2000, os municípios pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>finir o grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seusserviços; quanto mais eles atuass<strong>em</strong> e tivess<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> prestar serviço àpopulação, maior o grau <strong>de</strong> sua gestão, classificando-se <strong>em</strong> gestão parcial,s<strong>em</strong>iplena e plena. Uma das condições para que os municípios assumiss<strong>em</strong> osist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> gestão s<strong>em</strong>iplena é passar a gerenciar 22,24% do teto financeiro dosist<strong>em</strong>a, que hoje gira <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 8,5 bilhões <strong>de</strong> reais por ano.No caso <strong>de</strong> Município que não tenha condições organizativas para executarações e Serviços <strong>de</strong> Vigilância Sanitária, na forma instituída na Lei Orgânica daSaú<strong>de</strong>, a cooperação técnica seria prestada pelo Estado. Será efetivada mediante aexecução dos serviços e ações correspon<strong>de</strong>ntes e o apoio para estabelecimento e<strong>de</strong>senvolvimento das condições técnico-científicas e administrativas necessáriaspara que o Município possa assumir, plenamente, os encargos que legalmente lhesão atribuídos.Na execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua competência, a União po<strong>de</strong>rá contar com acooperação <strong>de</strong> Estados ou Municípios. Ao Estado cabe coor<strong>de</strong>nar, executar ações eimpl<strong>em</strong>entar serviços <strong>de</strong> vigilância sanitária, <strong>em</strong> caráter compl<strong>em</strong>entar às ativida<strong>de</strong>smunicipais e prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e, na execução <strong>de</strong>91


92ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua competência, o Estado po<strong>de</strong>rá contar com a cooperação dosMunicípios.Em 1991, a Norma Operacional Básica (NOB 91), na primeira etapa,previa ações para a criação <strong>de</strong> instrumentos reguladores para a construção <strong>de</strong>diretrizes do financiamento a partir do pagamento por procedimentos etransformava, assim, os Sist<strong>em</strong>as Estaduais e Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> merosprestadores <strong>de</strong> serviços.Não existia a <strong>de</strong>finição das fontes <strong>de</strong> recursos para a realização das tarefasna legislação, mas os valores s<strong>em</strong>pre foram baixos e não suportavam o orçamentonecessário. Supunha-se que os orçamentos da União e dos estados cont<strong>em</strong>plass<strong>em</strong>esses recursos.A NOB 93, respaldada pela lei do SUS - "A Ousadia <strong>de</strong> Cumprir a Lei" - tentarecuperar o it<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rado como a questão principal, “a municipalização dosserviços”, e estabelece situações transitórias <strong>de</strong> gestão incipiente, parcial es<strong>em</strong>iplena, que indicam para uma situação mais <strong>de</strong>finitiva, que é a gestão plena dosist<strong>em</strong>a.Em 1994, a PORTARIA MS/GM Nº. 1.565 <strong>de</strong>fine o Sist<strong>em</strong>a Nacional <strong>de</strong>Vigilância Sanitária e sua abrangência, esclarece a competência das três esferas <strong>de</strong>governo e estabelece as bases para a <strong>de</strong>scentralização da execução <strong>de</strong> serviços eações <strong>de</strong> vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> no âmbito do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Essa Portaria <strong>de</strong>fine Vigilância Sanitária como “um conjunto <strong>de</strong> ações capaz<strong>de</strong> eliminar, diminuir ou prevenir riscos e agravos à saú<strong>de</strong> do indivíduo e dacoletivida<strong>de</strong>”. Deve intervir nos probl<strong>em</strong>as sanitários <strong>de</strong>correntes da produção,distribuição, comercialização e uso <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital e consumo, e na prestação <strong>de</strong>serviços <strong>de</strong> interesse da saú<strong>de</strong>; exerce a fiscalização e o controle sobre o meioambiente e os fatores que interfer<strong>em</strong> na sua qualida<strong>de</strong>, abrangendo os processos eambientes <strong>de</strong> trabalho, a habitação e o lazer (Lei nº. 1.565 - Artigo Art. 3º- itens <strong>de</strong> I– III).O controle anteriormente <strong>de</strong>scrito abrange todas as etapas do processo <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital, <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços que, direta ouindiretamente, se relacionam com a saú<strong>de</strong>, com vista à garantia da sua qualida<strong>de</strong> eas ações <strong>de</strong>stinadas à promoção e proteção da saú<strong>de</strong> do trabalhador submetido aos92


93riscos e agravos advindos dos processos e ambiente <strong>de</strong> trabalho (Lei nº. 1.565 –Artigo 4 - Parágrafo único).Nesse artigo, a Lei reforça que as ações realizadas garantam a qualida<strong>de</strong> eas ações <strong>de</strong>stinadas à promoção e proteção da saú<strong>de</strong> do trabalhador submetido aosriscos e agravos advindos dos processos e ambiente <strong>de</strong> trabalho.O Campo <strong>de</strong> Atuação da Vigilância Sanitária, nessa Lei, é <strong>de</strong>corrente daarticulação intersetorial com órgãos e entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros Ministérios, que darãoênfase à preservação do equilíbrio dos ecossist<strong>em</strong>as regionais, protegendo-os daação <strong>de</strong> fatores poluentes e da invasão <strong>de</strong> agentes biológicos. (Lei nº. 1.565 - Artigo6º - § 2º - incisos I, II, III e X).As ações <strong>de</strong> vigilância sanitária enunciadas nessa Lei inclu<strong>em</strong> açõesespecíficas da vigilância sanitária na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador e o controle doprocesso <strong>de</strong> trabalho e as medidas <strong>de</strong> interação da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com aspolíticas econômicas e sociais cujos resultados constitu<strong>em</strong> fatores <strong>de</strong>terminantes econdicionantes do nível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população.A União e os Estados promoverão a <strong>de</strong>scentralização político-administrativa<strong>de</strong> modo a que a articulação intersetorial prevista se concretize efetivamente noâmbito do Município e <strong>de</strong> instâncias regionais do SUS (Lei nº. 1.565 - artigo 4º,inciso II, alínea "a" e Lei nº. 1.565 - artigo 6º, § 2º).A competência está <strong>em</strong> consonância com o disposto a cada uma das esferas<strong>de</strong> governo do SUS: à União cabe coor<strong>de</strong>nar o Sist<strong>em</strong>a Nacional <strong>de</strong> VigilânciaSanitária, prestar cooperação técnica e financeira aos Estados e Municípios eexecutar ações <strong>de</strong> sua exclusiva competência (Lei nº. 1.565 - Artigo 6º incisos I a X).As três esferas <strong>de</strong> governo no SUS <strong>de</strong>v<strong>em</strong> atuar, consi<strong>de</strong>rando-se anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação do campo <strong>de</strong> vigilância sanitária, para evitar omissãoou superposição <strong>de</strong> ações referentes à formulação <strong>de</strong> políticas, ao planejamento, àexecução, ao controle e à fiscalização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção e <strong>de</strong>fesa dasaú<strong>de</strong>, individual e coletiva.A atuação da VISA requererá fundamentação <strong>de</strong> dados gerados e atualizadospela própria instância <strong>de</strong> governo on<strong>de</strong> se localiza, para que sejam realizadas açõeseficientes e voltadas à prevenção ou <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> qualquer mudança nos fatores<strong>de</strong>terminantes e condicionantes da saú<strong>de</strong> individual e coletiva.93


94Assim, o trabalho <strong>de</strong> vigilância sanitária, como expressão do trabalho <strong>em</strong>saú<strong>de</strong>, t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser entendido <strong>de</strong> modo a possuir abrangência intra e interinstitucional,b<strong>em</strong> como apresentar perspectiva <strong>de</strong> multidisciplinarida<strong>de</strong> e inter-setorialida<strong>de</strong> dasações. Em última análise, substitui-se a idéia <strong>de</strong> competição entre os setores pelaidéia <strong>de</strong> cooperação entre os mesmos. (Wan<strong>de</strong>rley, 2002, p. 16)Já as ações <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador enfrentam o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> integraçãodas disciplinas <strong>em</strong> VISA; pressupõe-se ação, mas nenhuma <strong>de</strong>las contém na suatotalida<strong>de</strong>. Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto, as noções <strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong> etransdisciplinarida<strong>de</strong> auxiliam a discussão sobre a constituição da VISA; poissinalizam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> matrizes, nas quais há integração dasdiversas disciplinas que se estruturam, constituindo um novo campo <strong>de</strong>conhecimento. (PIOVESAN, 2002)A VISA além da realização e promoção <strong>de</strong> estudos e pesquisasinterdisciplinares, da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> fatores potencialmente prejudiciais à qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida e da avaliação <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> interesse para a saú<strong>de</strong>, é um órgão que<strong>de</strong>verá aplicar medidas corretivas para o exercício <strong>de</strong> direitos individuais e coletivos.Se tal processo é ainda hoje marcado por incertezas quanto à sua capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> realização, <strong>de</strong>staca-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um incr<strong>em</strong>ento da oferta <strong>de</strong> serviços,com a reorganização do mo<strong>de</strong>lo assistencial e com a reavaliação da das ações <strong>de</strong>S.T.Em 1997, a Norma Operacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador veio compl<strong>em</strong>entara NOB-SUS, nº. 01/96. T<strong>em</strong> por objetivo orientar e instrumentalizar a realização dasações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador urbano e rural, consi<strong>de</strong>rando as diferenças <strong>de</strong>gênero pelos Municípios, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e Estados. As ações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se nortearpelos seguintes pressupostos básicos: a universalida<strong>de</strong> e eqüida<strong>de</strong> - acessogarantido a todos os níveis <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>; integralida<strong>de</strong> das ações, articulandoações individuais/curativas com ações coletivas <strong>de</strong> vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, uma vezque os agravos à saú<strong>de</strong>, advindos do trabalho, são essencialmente preveníveis;direito à informação sobre a saú<strong>de</strong>; participação e controle social; regionalização ehierarquização das ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as básicas até asespecializadas; avaliação <strong>de</strong> riscos no planejamento e na avaliação das ações, noestabelecimento <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s e na alocação <strong>de</strong> recursos; configuração da S. T. naVISA.94


95Essa Norma trata <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s essenciais para aincorporação das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador no contexto das ações <strong>de</strong> atençãoà saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo os municípios, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e os Estados, que já têm serviços eações organizados, quer pelas características <strong>de</strong> seu parque produtivo e perfilepi<strong>de</strong>miológico, ampliar<strong>em</strong> seu espectro <strong>de</strong> ação para além do aqui estabelecido.Essas propostas compl<strong>em</strong>entam as responsabilida<strong>de</strong>s já <strong>de</strong>finidas <strong>em</strong> leisanteriormente citadas. O que chama a atenção é o comprometimento das ações sobo olhar da comunida<strong>de</strong> local e a articulação com outros setores. Isso <strong>de</strong>veria seruma prática; então, essa Norma v<strong>em</strong> reforçar e “garantir” , dar subsídio técnicos elegais para que as ações sejam postas <strong>em</strong> prática.Em 1998, o Ministério da Saú<strong>de</strong> baixa a Portaria n°3908, conhecida comoNorma Operacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (NOST/98), que t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong>orientar e instrumentalizar a realização das ações <strong>em</strong> S.T. - integralida<strong>de</strong> das ações,tanto <strong>em</strong> termos do planejamento quanto da execução, com um movimentoconstante <strong>em</strong> direção à mudança do mo<strong>de</strong>lo assistencial para a atenção integral,articulando ações individuais e curativas com ações coletivas <strong>de</strong> vigilância saú<strong>de</strong>,uma vez que os agravos à saú<strong>de</strong>, advindos do trabalhador, são essencialmentepreveníveis. Recomenda-se a criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s especializadas <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador pelo SUS - Estadual e Municipal, b<strong>em</strong> como a orientação einstrumentalização das ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador.Esse instrumento legal preten<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma forma sucinta, fornecer subsídiosbásicos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador ecompõe um conjunto <strong>de</strong> práticas sanitárias, articuladas com relação à saú<strong>de</strong>,ambiente e os processos <strong>de</strong> trabalho.A configuração da S.T. como um conjunto <strong>de</strong> ações na VISA e assistênciavisa à promoção, a proteção, a recuperação e a reabilitação da saú<strong>de</strong> dostrabalhadores submetidos a riscos e agravos advindos do processo <strong>de</strong> trabalho.Na gestão Plena da Atenção Básica, a Saú<strong>de</strong> do Trabalhador assumirá asseguintes ações:a. Garantia do atendimento ao aci<strong>de</strong>ntado do trabalho e ao suspeito ouportador <strong>de</strong> doenças profissionais ou do trabalho, por meio da re<strong>de</strong>própria ou contratada, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu nível <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da95


96atenção, assegurando todas as condições necessárias para o acessoaos serviços <strong>de</strong> referência, s<strong>em</strong>pre que a situação exige;b. Realização <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> vigilância nos ambientes e processos <strong>de</strong>trabalho, compreen<strong>de</strong>ndo a i<strong>de</strong>ntificação das situações <strong>de</strong> risco atomadas <strong>de</strong> medidas pertinentes para a resolução da situação e ainvestigação epi<strong>de</strong>miológica;c. Notificação dos agravos à saú<strong>de</strong> e os riscos relacionados ao trabalho,alimentando regularmente o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informação dos órgãos eserviços <strong>de</strong> vigilância sanitária, como a base <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> interessenacional.Em 1999, aten<strong>de</strong>ndo às diretrizes do Plano <strong>de</strong> Reforma do Estado, é criada aAgência Nacional <strong>de</strong> Vigilância (ANVISA), cuja finalida<strong>de</strong> institucional é promover aproteção da saú<strong>de</strong> da população por intermédio do controle sanitário da produção eda comercialização <strong>de</strong> produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária –inclusive, seus ambientes e processos, b<strong>em</strong> como o controle <strong>de</strong> portos, aeroportos efronteiras. (Lei n° 9.782, 26/01/99) 45._____________________________________________________________________________________________________________________45ANVISA Outra característica importante é a Diretoria Colegiada que t<strong>em</strong> mandato <strong>de</strong>finido <strong>de</strong>A ANVISA não incorporou a S.T. as competências da Secretaria <strong>de</strong> VigilânciaSanitária do Ministério da Saú<strong>de</strong>. “A ANVISA nega oficialmente a saú<strong>de</strong> dotrabalhador na Vigilância Sanitária”.(JLN, entrevista realizada no dia 13/04/05)Frise-se que essa postura é expressamente reforçada posteriormente, na falado dirigente máximo <strong>em</strong> uma publicação na imprensa escrita, quando diz que opapel <strong>de</strong> controle dos riscos do trabalho já é realizado pelo Ministério do Trabalho eEmprego, motivo pelo qual essa tarefa não po<strong>de</strong>ria ser assumida pelo órgão quedirige (LACAZ, 1997, p. 1-26).“... a inclusão da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador como atribuição da vigilânciasanitária foi resultado <strong>de</strong> uma luta dos profissionais da vigilância sanitária <strong>de</strong> todo o Brasil”(LUCCHESE, 2001).Essa Agência t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r maior autonomia para o tratamento<strong>de</strong> questões como a proteção ao consumidor, ao meio ambiente e ao ambiente <strong>de</strong>trabalho; possui receita própria, como resultado da cobrança <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong>fiscalização e do exercício do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia.96


97Portanto, ao invés <strong>de</strong> atribuir e/ou incluir o setor privado na realização <strong>de</strong>ações, muito pelo contrário, a vigilância sanitária brasileira continua <strong>de</strong>tendo aresponsabilida<strong>de</strong> pelas ações e agregou maiores responsabilida<strong>de</strong>s nesse processo(WANDERLEY, 2000, p. 17).A ANVISA também <strong>de</strong>senvolveu instrumentos fundamentais para a vigilânciasanitária do Brasil. Isso mostra que investir no aumento do seu grau <strong>de</strong> qualificaçãoprofissional, juntamente com a estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua equipe dirigente e do aporte <strong>de</strong>recursos, além da maior flexibilida<strong>de</strong> administrativa, dá maior autonomia eresultados. (WANDERLEY, 2002, p. 18) 46 .Essa informação chama atenção na ANVISA é o crescente aumento noquadro <strong>de</strong> funcionários e o incentivo na qualificação profissional. Porém nos Estadose municípios que realizam as ações não acontece o contrário cada vez menosfuncionários e a qualificação profissional é cada vez menos oferecidos.____________________________________________________________________________trêsanos e só po<strong>de</strong> ter uma única recondução, o que diminuiria a vulnerabilida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong>cisóriocom relação a eventuais pressões políticas ou econômicas.46A agência possuía cerca <strong>de</strong> 200 servidores nos anos <strong>de</strong> 1998 e 1999. Em 2002, conta comaproximadamente <strong>de</strong> 1.100 servidores, atuando <strong>em</strong> Brasília, na se<strong>de</strong> da ANVISA. (2000, p. 17)Mas o Estado do Paraná promulgou o Código Saú<strong>de</strong> do Estado do Paraná(CSP) 47 proporcionou um avanço na área <strong>de</strong> S.T. , quando dispõe sobre aorganização, regulamentação, fiscalização e controle das ações dos serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Tanto a atualização do Código Sanitário a compl<strong>em</strong>entação das ações naárea <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador foram um gran<strong>de</strong> avanço da Saú<strong>de</strong> noEstado do Paraná.No Capítulo II, os Artigos <strong>de</strong> 101 ao 153 estão <strong>de</strong>finindo a Saú<strong>de</strong> doTrabalhador como um conjunto <strong>de</strong> práticas sanitárias, articuladas setorialmente, ecompreen<strong>de</strong> uma atuação contínua e sist<strong>em</strong>ática nos ambientes <strong>de</strong> trabalho, quersejam públicos ou privados.Esse Código compreen<strong>de</strong> as ações na área <strong>de</strong> vigilância sanitária, aavaliação das fontes <strong>de</strong> risco à saú<strong>de</strong> nos locais e processos <strong>de</strong> trabalho,<strong>de</strong>terminando a adoção <strong>de</strong> providências para eliminação <strong>de</strong> riscos. Todas assituações que ofereçam grave e <strong>em</strong>inente risco para a saú<strong>de</strong> do trabalhador <strong>de</strong>v<strong>em</strong>ser imediatamente interrompidas por interdição expedida pela autorida<strong>de</strong> sanitária.(Capítulo II, Artigo 115 e 124).97


98O CSP <strong>de</strong>fine Autorida<strong>de</strong> Sanitária como “a pessoa investida <strong>de</strong> função oucargo com responsabilida<strong>de</strong> e atribuições legais (...) e são consi<strong>de</strong>rados auxiliaresdas autorida<strong>de</strong>s sanitárias quaisquer funcionários da SESA, quando <strong>de</strong>vidamentecre<strong>de</strong>nciados” (Artigo 574; &. Único). As atribuições que são <strong>de</strong>scritas <strong>em</strong> âmbito <strong>de</strong>meio ambiente também estão ligadas à saú<strong>de</strong> do trabalhador: “Descreve asegurança, o transporte, a responsabilida<strong>de</strong> sobre as cargas perigosas químicas,radioativas e inflamáveis.” (CSE - Artigo 340 parágrafos 1, 2 e 3).O Estado do Paraná, além <strong>de</strong> possuir a lei que inclui as atribuições daVigilância Sanitária, também dispõe sobre legislação, sobre processosadministrativos, ou seja, as infrações, punições, como multa interdição. Isso é algoimportante, pois os técnicos <strong>de</strong>têm um instrumento <strong>de</strong> trabalho que possibilita umaação completa; apesar das interferências políticas, existe o instrumentos legais.Fazer cumprir essas leis, expedindo informações, lavrando autos <strong>de</strong>_____________________________________________________________________________________________________________________47 Código <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Estado do Paraná - Lei 13331 <strong>de</strong> 23/11/2001 - Decreto nº 5711 <strong>de</strong> 23/05/2002.infração e impondo penalida<strong>de</strong>s, quando for o caso, visando à prevenção e arepressão <strong>de</strong> tudo que possa comprometer a saú<strong>de</strong> são funções fiscalizadoras <strong>de</strong>competência dos médicos, veterinários, engenheiros químicos, bioquímicos,<strong>de</strong>ntistas, farmacêuticos, inspetores e agentes <strong>de</strong> saneamento das Secretarias <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> (Artigo 574, parágrafo Único; Art. 690, parágrafo 1°).As ações <strong>de</strong> vigilância sanitária são fundamentas no <strong>em</strong>basamento técnico,i<strong>de</strong>ntificando risco à saú<strong>de</strong>. Entre outros aspectos, baseia-se no conhecimentoefetivo das leis e outras normas jurídicas. As prerrogativas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> polícia e <strong>de</strong>autuação são ações fundamentadas <strong>em</strong> dispositivos legais.No ano <strong>de</strong> 2002, o Decreto nº. 5.711 regula a organização e o funcionamentodo Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no âmbito do Estado do Paraná, estabelece normas <strong>de</strong>promoção, proteção e recuperação da saú<strong>de</strong> e dispõe sobre as infrações sanitário erespectivo processo administrativo. Mesmo sendo <strong>de</strong> incumbência do Estado, aPolítica Saú<strong>de</strong>, é reforçada com a <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> penalida<strong>de</strong>s nos casos dosprocessos administrativos, sendo condições indispensáveis ao exercício do direito àsaú<strong>de</strong>, a população, atuação necessária principalmente <strong>em</strong> <strong>em</strong>presas que não sea<strong>de</strong>quam as legislações e que riscos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças aos trabalhadores98


99Em 2002, foi criada a Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Assistência à Saú<strong>de</strong> do Trabalhador(RENAST) 48 . T<strong>em</strong> como objetivo fortalecer a saú<strong>de</strong> do trabalhadorno SUS, sob financiamento diferenciado e específico do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>do Trabalhador, integrando ações <strong>de</strong> atendimento básico <strong>de</strong> alta complexida<strong>de</strong> ehospitalar. O atendimento po<strong>de</strong> ser feito nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como, por ex<strong>em</strong>plo,curativos e consultas, mas po<strong>de</strong> chegar a casos mais complexos, que necessit<strong>em</strong> <strong>de</strong>internamentos.A Proposta da RENAST é a implantação dos Centros <strong>de</strong> Referências, queforam muito discutidos nas Conferências Estaduais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do____________________________________________________________________________48 RENAST: A política da RENAST dá atenção integral à Saú<strong>de</strong> dos Trabalhadores, articulação intra eintersetoriais, informações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estudos epesquisas, capacitação permanente <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, participação da comunida<strong>de</strong> na gestãodas ações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador. Deve orientar as Secretarias <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Estados e do DistritoFe<strong>de</strong>ral a instituír<strong>em</strong> e fortalecer<strong>em</strong> a Coor<strong>de</strong>nação Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CESAT),criando, sob a sua coor<strong>de</strong>nação, o Grupo Estadual <strong>de</strong> Implantação e acompanhamento da RENAST.Trabalhador <strong>de</strong> 1994 e as Conferências que seguiram 1997 a 2005. O Estado doParaná, <strong>em</strong> 2002, elaborou um Plano <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, o qual foi enviado aRENAST <strong>em</strong> Brasília. Uma das entrevistadas fala sobre as dificulda<strong>de</strong>sapresentadas no Paraná com relação a RENAST, “Antes não haviam recursosespecíficos e <strong>em</strong> 2002 e 2003 vieram e assim uma gran<strong>de</strong> expectativa, a daRENAST”. (CAR, entrevista realizada 23/03/06).Essa re<strong>de</strong> encabeça uma discussão para uma aplicação técnico-política, incorporando oMinistério do Trabalho e Emprego e a Previdência, os pólos <strong>de</strong> educação permanente, paraque estejam engajados na capacitação. A rigor, todas as ações <strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong>veriam ter orespectivo <strong>em</strong>basamento e apoio jurídico. Todavia, essa parece ser outra área <strong>de</strong> absolutacarência para os órgãos estaduais <strong>de</strong> vigilância sanitária.Estão habilitados pela RENAST 3 (três) centros <strong>de</strong> Referência <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador, sendo localizados <strong>em</strong> Londrina, Cascavel e Curitiba. (Coor<strong>de</strong>nação doCEST, 2006).Outro <strong>de</strong>safio é a implantação das ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador com aestratégia <strong>de</strong> implantação da RENAST, porque o SUS assume, <strong>em</strong> posição diferenteda política pública, um papel único, aten<strong>de</strong>ndo trabalhadores dos setores formal,informal e os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados; há novas <strong>de</strong>mandas dos trabalhadores e <strong>de</strong> novaspráticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.99


100Há um repasse mensal <strong>de</strong> R$30.000,00 a R$40.000,00 aos Centros <strong>de</strong>Referência.Mas como ressaltam as entrevistas com relação ao repasse “Não há controlesobre esse dinheiro, o município monta o centro <strong>de</strong> referência e faz o cadastro e ogoverno fe<strong>de</strong>ral encaminha recursos para ele. Na prática, não foi vista nenhumamudança. Na época, fizeram Curitiba, Cascavel, Londrina.”( CAR- entrevistarealizada 23/03/06).Com o incentivo do repasse <strong>de</strong> recursos específicos para as ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>do Trabalhador 3 gran<strong>de</strong>s municípios do estado enviaram os projetos para aformação dos Centros <strong>de</strong> Referência.A Coor<strong>de</strong>nação da RENAST (HOEFEL, 2005, p. 825) <strong>de</strong>staca as dificulda<strong>de</strong>sa ser<strong>em</strong> sanadas:• A saú<strong>de</strong> do trabalhador ainda não foi efetivamente incorporada naAgência <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do SUS, dificultando a articulação intra-setorial;• A falta <strong>de</strong> preparo dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que atuam na re<strong>de</strong> <strong>de</strong>serviços para lidar com os riscos e agravos à saú<strong>de</strong> relacionada aotrabalho e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> encaminhamentos médicos e administradosa<strong>de</strong>quados;• Precedência <strong>de</strong> assistência <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento das ações <strong>de</strong> vigilância;poucas ações intersetoriais.Com esse intuito, a Instrução Normativa <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador preten<strong>de</strong> sensibilizar para a importância da ampliação das re<strong>de</strong>ssolidárias <strong>de</strong> construção da área específica e do próprio Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Michel Foucault nos ajuda a compreen<strong>de</strong>r sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, assimbaseado <strong>em</strong> normas. Como todas as normas têm estreitas ligações com uma vastare<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, estas se tornam a gran<strong>de</strong> mediadora social que ora serve <strong>de</strong>vigilância, ora serve <strong>de</strong> punição para comportamentos consi<strong>de</strong>rados anormais (1990,p.170).Se a norma é regida por fundamentos da vigilância e <strong>de</strong> punição, torna-separa o Estado mo<strong>de</strong>rno muito mais vantajoso economicamente vigiar do que punir. Equando o vigiar não é suficiente, opta-se então por punir, através <strong>de</strong> sançõesnormalizadoras. A concretu<strong>de</strong> da lei só faz valer se for aceita pela socieda<strong>de</strong>.100


101Portanto, as normas dão ao Governo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> escolher entre vigiar e punir,conforme a necessida<strong>de</strong> 49 .E o Estado enquanto o Po<strong>de</strong>r Soberano t<strong>em</strong> autorida<strong>de</strong> supr<strong>em</strong>a. T<strong>em</strong> odireito sobre uma área geográfica, grupo <strong>de</strong> pessoas, ou sobre o indivíduo 50 .Po<strong>de</strong>-se dizer que o po<strong>de</strong>r soberano mantêm direito <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> morte aex<strong>em</strong>plo dos soberanos dos séculos passados. Significa que ele po<strong>de</strong> fazer_____________________________________________________________________________________________________________________49 Falha nas ações <strong>de</strong> promoção da Saú<strong>de</strong> e prevenção da doença gera maiores gastos com serviçoscurativos50 FOUCAULT rejeita uma análise <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, isto é, que parta <strong>de</strong> cima, do alto (do soberano, porex<strong>em</strong>plo) para baixo. A noção <strong>de</strong> dominação também não é suficiente para dar conta do conceito <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r.morrer ou <strong>de</strong>ixar viver; o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> “fazer”. Ao soberano cabe a execução; não sót<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r que vinga a lei, mas como o po<strong>de</strong>r que é capaz <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r a lei.(FOUCAULT, 1987, p. 45). Porém há ingerências sobre o po<strong>de</strong>r soberano que lheimpe<strong>de</strong>m ora <strong>de</strong> aplicar a lei; ora <strong>de</strong> suspendê-la.A re<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res formada extrapola o po<strong>de</strong>r soberano, localizando-o <strong>em</strong>outros pontos da re<strong>de</strong>.O soberano faz com que todo po<strong>de</strong>roso faça valer a sua força e, com apunição, mostre a sua superiorida<strong>de</strong> intrínseca.Com relação a VISA, as dificulda<strong>de</strong>s que cercam as ações <strong>de</strong> fiscalização,estão ligadas aos po<strong>de</strong>res políticos <strong>de</strong> interesse pessoal e financeirocomprometendo os regulamentos técnicos e das diretrizes legais.2.2 - Atuação dos Técnicos na Vigilância SanitáriaPara atuação dos técnicos na Vigilância Sanitária, nos Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,po<strong>de</strong>rão ser utilizados os seguintes instrumentos Legais para certificar a autonomiae o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> realizar ações na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador:I. Artigos 129, 127 e 205, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral;II. Artigo 269, do Código Penal;III. Artigo 169, da Consolidação das Leis Trabalhistas;IV. Resolução n.º 916, <strong>de</strong> 24, <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1994 – Procuradoria Geral <strong>de</strong>Justiça - Cria o Centro <strong>de</strong> Apoio Operacional das Promotorias <strong>de</strong> Defesada Saú<strong>de</strong> do Trabalhador;101


102V. Normas Regulamentadoras; entre outros.Apesar <strong>de</strong> diversas legislações mostrar<strong>em</strong> a incumbência do SUS <strong>em</strong> realizarações na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, po<strong>de</strong>-se esperar a intervenção <strong>de</strong> qualquerórgão/instituição como, por ex<strong>em</strong>plo, a Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado do RioGran<strong>de</strong> do Sul que abriu um processo contra o prefeito <strong>de</strong> Porto Alegre sobre ainconstitucionalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> realizar ações que eram <strong>de</strong> incumbência específicas daUNIÃO, porém a posição foi favorável a Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para atuar na área <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.Em 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2002, o procurador geral <strong>em</strong> exercício, do município<strong>de</strong> Porto Alegre, respon<strong>de</strong> à ação direta <strong>de</strong> inconstitucionalida<strong>de</strong>, nº. 70005412986,proposta pela Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, contraprefeito e Câmara municipais <strong>de</strong> Porto Alegre.A Fe<strong>de</strong>ração apresenta o processo sobre a Lei Compl<strong>em</strong>entar Municipal nº.395/96, específica sobre Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, que estabelece regras <strong>de</strong> interessepúblico e foi elaborada conforme a concepção do SUS.Enten<strong>de</strong>u o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bargador que a legislação atingiu a matéria <strong>de</strong> naturezatrabalhista e relacionada com inspeção, com segurança e medicina do trabalho, cujacompetência legislativa é da união.Dentre as resposta recebidas pela Fe<strong>de</strong>ração, estavam as seguintes ”asinformações que me competiam prestar e requerer sejam acolhidas as razões e nomérito seja julgada improce<strong>de</strong>nte a presente ação direta <strong>de</strong> inconstitucionalida<strong>de</strong>”.(resposta do Procurador-Geral (<strong>em</strong> exercício) do Município <strong>de</strong> Porto Alegre - RicardoZamora).Consi<strong>de</strong>rando este parecer fica claro o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia da VISA e ocomprometimento dos técnicos <strong>em</strong> utilizar esse po<strong>de</strong>r para interferir nas condições<strong>de</strong> trabalho e na tentativa <strong>de</strong> viabilizar a segurança para os trabalhadores realizar<strong>em</strong>suas tarefas. Embora n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre se cumpra.A<strong>de</strong>mais população interpreta o “Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Polícia” com uma conotação exclu<strong>de</strong>nte,parte <strong>de</strong> um princípio equivocado do comportamento dos técnicos, é preciso l<strong>em</strong>brar queesses técnicos são também cidadãos, que t<strong>em</strong> compromissos e responsabilida<strong>de</strong>s e qu<strong>em</strong> só102


103obe<strong>de</strong>ce não é cidadão. Ser cidadão é obe<strong>de</strong>cer e <strong>de</strong>terminar. Entretanto o governo e osinteresses privados, não permit<strong>em</strong> que isso aconteça.A relação entre o trabalhador e o técnico <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia um probl<strong>em</strong>a, por queo trabalhador não aceita a posição do técnico e a outra interferência são as políticasque conseqüent<strong>em</strong>ente atrapalham a relação entre técnico e patrão, resulta <strong>em</strong>retrocesso nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.E que se origina tanto do distanciamento freqüente entre as <strong>de</strong>cisões políticase os benefícios sociais, como do longo período <strong>de</strong> regime militar, no qual o Estadobrasileiro confundia-se com exceção e arbitrarieda<strong>de</strong>, e não com garantia <strong>de</strong> direitosfundamentais. (PIOVESAN, 2002).O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia permite a interdição, fiscalização e a avaliação doprocesso produção. Os instrumentos administrativos <strong>de</strong> registro da ação, <strong>de</strong>exigências e outras medidas são os mesmos utilizados pelas áreas <strong>de</strong>Vigilância/Fiscalização, tais como os Termos <strong>de</strong> Visita, Notificação, Intimação, Auto<strong>de</strong> Infração, etc.Esse po<strong>de</strong>r policial atua também como instrumento <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> disciplina,com sua incessante observação; o po<strong>de</strong>r disciplinar atua na massa <strong>de</strong> conhecimentodas ações e comportamentos e este gera um instrumento <strong>de</strong> trabalho para VISA, osrelatórios.Por sua vez, a falta <strong>de</strong> equipamentos e recursos humanos torna os serviçosextr<strong>em</strong>amente ineficientes. As “multas são inexpressivas e não levam À mudançanas condições <strong>de</strong> trabalho” (1ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador,p.10).Consi<strong>de</strong>rando que foram i<strong>de</strong>ntificadas as irregularida<strong>de</strong>s no ambiente <strong>de</strong>trabalho/estabelecimento é expedido o auto <strong>de</strong> infração, os quais são classificadosentre infrações: leves, graves, gravíssimas. A partir do julgamento da chefia diretaserá imposta a penalida<strong>de</strong>, as alternativas <strong>de</strong> pena são: advertência, penaeducativa, apreensão do equipamento, inutilização, cancelamento da autorização <strong>de</strong>funcionamento e outras autorização e documentos, interdição (total, parcial, cautelar,<strong>de</strong>finitiva) e multa.Mas a VISA torna-se cada fez mais impotente <strong>em</strong> realizar essas ações,apesar <strong>de</strong> ter o direito, <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> punir e possuir o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r m<strong>em</strong>bros dasocieda<strong>de</strong>, ou seja, o trabalhador, mas, <strong>em</strong> nome das medidas <strong>de</strong> segurança,103


104também t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> neutralizar os perigos. Isto não acontece, <strong>de</strong>vido as forçaspolíticas. Assim ela se torna instrumento <strong>de</strong> controle dos trabalhadores.Para Foucault o comportamento do con<strong>de</strong>nado é punido pela aplicação<strong>de</strong>ssas “medidas <strong>de</strong> segurança” que acompanham a pena, mas se <strong>de</strong>stinam acontrolar o indivíduo, a neutralizar sua periculosida<strong>de</strong>. (1987, p.20)A arte <strong>de</strong> punir não t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issão dos erros e n<strong>em</strong> a repressão,mas a continuação da regra do po<strong>de</strong>r, através da relação dos atos, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhos ecomportamentos. (FOUCAULT, 1987, p. 152)O objetivo principal da arte <strong>de</strong> punir é permitir que se perpetu<strong>em</strong> as regras <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r, conseqüent<strong>em</strong>ente uma forma <strong>de</strong> controle.A VISA t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia que permite a <strong>de</strong>finição e a aplicação <strong>de</strong>penalida<strong>de</strong>s, mas <strong>de</strong>veria ser instituída pela justiça, pois qu<strong>em</strong> controla <strong>de</strong>ve punir, ediversas ações contra o trabalhador <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas crimes, pois para ostécnicos o con<strong>de</strong>nado, o criminoso é o <strong>em</strong>presário que coloca <strong>em</strong> risco otrabalhador, por isso também <strong>de</strong>ve sofre as punições que po<strong>de</strong>m ser a instalação <strong>de</strong>medidas <strong>de</strong> segurança, constante inspeção, interdição <strong>de</strong> máquinas que provoqu<strong>em</strong>perigo <strong>em</strong>inente.O po<strong>de</strong>r do proprietário está <strong>em</strong> coagir os profissionais da VISA a atuar, aescon<strong>de</strong>r os casos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte ocorridos na sua <strong>em</strong>presa, mas continua a controlaro trabalhador <strong>em</strong> prol dos lucros, o que ele enten<strong>de</strong> por produzir e manter otrabalhador cada vez mais submisso e alienado às regras da <strong>em</strong>presa.Os <strong>em</strong>presários colocam que as mudanças no processo <strong>de</strong> trabalho geramcustos e esses custos serão retirados, <strong>de</strong> alguma forma, dos funcionários, através<strong>de</strong> <strong>de</strong>missões. Até mesmo ameaçam os técnicos que, se as exigências for<strong>em</strong>muitas, eles se mudam e se instalam <strong>em</strong> municípios menos exigentes.Já o Po<strong>de</strong>r disciplinar torna-se um sist<strong>em</strong>a integrado ao interior da economiae aos fins do dispositivo on<strong>de</strong> é exercido um po<strong>de</strong>r múltiplo, pois, na verda<strong>de</strong>, avigilância repousa sobre indivíduos seu funcionamento <strong>em</strong> relações <strong>de</strong> cima parabaixo, <strong>de</strong> baixo para cima; perpassam <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r para outro, fiscaisperpetuamente fiscalizados (FOUCAULT, 1987, p.148).O trabalhador continua submetido às péssimas condições <strong>de</strong> trabalho, como:risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes, manipulação <strong>de</strong> produtos químicos, realização <strong>de</strong> tarefas s<strong>em</strong>treinamento, entre outros. E ainda pensa que está realizando a tarefa <strong>de</strong> forma104


105correta. As <strong>em</strong>presas preconizam o lucro e o trabalhador fica sujeito ao <strong>de</strong>sprezo,chegando até a sua morte e essa morte torna-se aceitável diante da perda <strong>de</strong>valores <strong>em</strong> prol do lucro.A força <strong>de</strong> trabalho, o corpo humano, não têm a utilida<strong>de</strong> n<strong>em</strong> o valor <strong>de</strong>mercado. É certo também que o <strong>de</strong>sprezo pelo corpo e a atitu<strong>de</strong> com relação àmorte torna-se geral e aceitável e o que é pior per<strong>de</strong>r-se-ão valores, tornando aagressão algo permanente. (FOUCAULT, 1987, p. 46).Um po<strong>de</strong>r sabiamente físico, o domínio sobre o corpo, atua segundo as leis,segundo o espaço físico, o excesso, as forças <strong>em</strong> questão. A atuação fica limitada<strong>de</strong>vido a essa limitação <strong>de</strong> espaço. A saú<strong>de</strong> do trabalhador está inserida no meioambiente, na avaliação das condições <strong>de</strong> vida, na saú<strong>de</strong>, habitação, alimentação,entre outros. Não se po<strong>de</strong> esquecer que a inspeção somente não indica osprobl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, mas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser avaliados documentos, leituras<strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> riscos e exames dos funcionários.Partindo da caracterização do po<strong>de</strong>r como situação complexa numa dadasocieda<strong>de</strong>, o conceito <strong>de</strong> panóptico 51 , o resultado é a submissão. É uma técnicamo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> dominação, na qual o sujeito absorve o controle do sist<strong>em</strong>a e as normasque são impostas.O vigia <strong>de</strong>ve ver cada con<strong>de</strong>nado, que <strong>de</strong>ve estar b<strong>em</strong> trancado, mas esseencarcerado nunca t<strong>em</strong> acesso aos outros con<strong>de</strong>nados. Essa é uma garantia <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m, pois assim os presidiários são impedidos <strong>de</strong> qualquer evasão, elaboração <strong>de</strong>qualquer crime futuro, e, no caso dos trabalhadores, são impedidos <strong>de</strong> qualquerorganização para reivindicação, conluios, dispersões que atras<strong>em</strong> a produção.O trabalho não exclui, mas a fábrica sim, consi<strong>de</strong>rando-se o aparelho <strong>de</strong>produção, que t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> reger e operar/moldar o trabalhador. Sãoencontrados, <strong>em</strong> profusão, ambientes insalubres, perigosos, <strong>em</strong>presas s<strong>em</strong> nenhumrespeito às legislações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e segurança e on<strong>de</strong> o trabalhador não t<strong>em</strong> amínima condição <strong>de</strong> se opor a elas (ABRASCO, p.810).O trabalhador v<strong>em</strong> sofrendo pelas péssimas condições <strong>de</strong> trabalho, saláriosbaixos, com ilegalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus contratos <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong>ixam todos essesinconvenientes adormecidos para dar valor ao salário, que apesar <strong>de</strong> tudo, é o quepromove a subsistência da família. Por isso, o trabalhador não enfrenta nada, pois,ao encarar o po<strong>de</strong>r, há uma interpretação que é um combate, que é uma repressão.105


106Dessa maneira, o trabalhador não t<strong>em</strong> nenhuma força, ele é objeto <strong>de</strong>ssascondições.O trabalho é a providência dos povos mo<strong>de</strong>rnos. Serve-lhes como moral,preenche o vazio das crenças e passa por ser o princípio <strong>de</strong> todo b<strong>em</strong>. Umasocieda<strong>de</strong> – máquina seria necessário reformas puramente mecânica. (FOUCAULT,1987, p.204)._____________________________________________________________________________________________________________________51 Panóptico – essa teoria foi baseada <strong>em</strong> uma análise que Benthan fez <strong>de</strong> um zoológicolocalizado <strong>em</strong> Levaux <strong>em</strong> Versailhes. O Panóptico <strong>de</strong> Bentham é uma estrutura <strong>em</strong> forma <strong>de</strong>arredondada. No centro existia uma torre e esta possui janelas que permit<strong>em</strong> ver toda a área <strong>em</strong>volta. Basta colocar uma pessoa na torre, no centro, para fazer funcionar esse po<strong>de</strong>r. Não importaqu<strong>em</strong> seja colocado, qualquer um po<strong>de</strong> exercer esse po<strong>de</strong>r. O <strong>de</strong>feito é que oencarcerado/trabalhador está submetido a um po<strong>de</strong>r permanente e possui uma submissãoconsciente.O trabalho é uma forma <strong>de</strong> gerar benefícios para os trabalhadores, tanto parasuperar dificulda<strong>de</strong>s/ vazios, adquirira bens, mas o perigo é quando o trabalhador étratado como uma máquina. Este trabalhador <strong>de</strong>ve produzir e produzir, mais e mais,não t<strong>em</strong> direitos somente <strong>de</strong>veres e quando quebra vai para o conserto (INSS), sevoltar com algum <strong>de</strong>feito é colocado <strong>de</strong> lado.Assim, os técnicos da VISA, pela suas atribuições legais, tentam, <strong>em</strong> suasinspeções, controlar e sanar essas condições <strong>de</strong> trabalho, mas acabam sendoinstrumentos <strong>de</strong> controle, pois chegam às fábricas verificando se o trabalhador estáutilizando os equipamentos <strong>de</strong> proteção, realizando as tarefas na postura correta,verifica se participou <strong>de</strong> treinamentos, se fez exames laboratoriais e consultas commédicos. Isso não passa <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> vigiar, vigiar é uma forma <strong>de</strong> controle e<strong>de</strong> disciplina, corretamente disciplinada com a arte do a<strong>de</strong>stramento.Para exercer ações <strong>de</strong> vigilância na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, énecessário reunir informações, documentos da <strong>em</strong>presa, dos funcionários, o númerototal <strong>de</strong> funcionários, suas características, i<strong>de</strong>ntificar se estão sendo cumpridas asnormas regulamentadoras, i<strong>de</strong>ntificar riscos, e meios <strong>de</strong> produção para a realização<strong>de</strong> ações preventivas.Os exames médicos também são documentos, os quais compõ<strong>em</strong> arquivos<strong>de</strong>talhados, incorporando os indivíduos a uma posição <strong>de</strong> vigilância e observação.Entre as ativida<strong>de</strong>s da Vigilância Sanitária <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, éimportante <strong>de</strong>stacar a entrevista/conversa com os funcionários sobre suasativida<strong>de</strong>s.106


107O objeto da saú<strong>de</strong> do trabalhador po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como o processo <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e doença dos grupos humanos, <strong>em</strong> sua relação com o trabalho. Representaum esforço <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong>sse processo - como e por que ocorre - e do<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> intervenção que lev<strong>em</strong> à transformação <strong>em</strong>direção à apropriação, pelos trabalhadores, da dimensão humana do trabalho, numaperspectiva teleológica.Principalmente na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> VigilânciaSanitária <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>senvolvidas mediante a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco ediferentes agravos à saú<strong>de</strong>. Além disso, é preciso consi<strong>de</strong>rar os aspectos passíveis<strong>de</strong> causas <strong>de</strong> dano à saú<strong>de</strong>, mesmo que não estejam previstos nas legislações. Énecessário que haja não só a observação direta por parte da equipe <strong>de</strong> risco àsaú<strong>de</strong> como, também, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas as questões subjetivas referidaspelos trabalhadores na relação <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong> com o trabalho realizado.Quando se fala <strong>em</strong> trabalho, fala-se <strong>em</strong> produção; portanto, produzir maistorna o trabalhador mais vulnerável às péssimas condições <strong>de</strong> trabalho.Como diz Foucault, o salário faz com que se adquira amor e hábito aotrabalho (1987, p.204).Sabe-se que num ambiente <strong>de</strong> trabalho na maioria das vezes haverádificulda<strong>de</strong>s, probl<strong>em</strong>as, pressões psicológicas e físicas, estresse, perigo, risco paraa saú<strong>de</strong> e a vida do trabalhador, entre outras diversas <strong>de</strong>sagradáveis. Mas não sepo<strong>de</strong> esquecer que o trabalho ocupa cada vez mais espaço na vida <strong>de</strong> todos eprecisa ser reforçado o outro lado, também po<strong>de</strong> ser fonte <strong>de</strong> realização,<strong>de</strong>senvolvimento pessoal, participação social. Quando trabalhamos, não somosapenas profissionais ven<strong>de</strong>ndo serviços, mas pessoas que se <strong>de</strong>dicam a algo,investindo sua energia, sua força, sua competência; neste processo, apren<strong>de</strong>mos enos transformamos – e transformamos o mundo. O ato <strong>de</strong> trabalhar quandotransformado <strong>em</strong> salário <strong>em</strong> ganho é <strong>de</strong>ssa maneira um instrumento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> subsistência própria e <strong>de</strong> sua família, benefício e incentivador<strong>de</strong> alto estima consi<strong>de</strong>rando que o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregado, o improdutivo é excluído pelasocieda<strong>de</strong>.Os riscos, como o efeito sobre a saú<strong>de</strong> dos trabalhadores, são conseqüênciasdas condições <strong>de</strong> trabalho, das tecnologias aplicadas e da forma como os107


108trabalhadores objetivamente exerc<strong>em</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Qualquer ação <strong>de</strong> vigilânciaque não leve <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração essas questões ten<strong>de</strong> a ser incompleta.O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vigilância parte da situação <strong>de</strong> risco ou do agravo, ou mesmo daconjunção <strong>de</strong> ambas as situações e se fortalece quando integrado à noção <strong>de</strong>território, <strong>em</strong> que diversos atores e instâncias institucionais <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham suasações configurando um campo <strong>de</strong> forças – a vigilância que vai atingir o outroel<strong>em</strong>ento fundamental do mo<strong>de</strong>lo, o processo <strong>de</strong> trabalho, representado pelaativida<strong>de</strong> e pelo setor on<strong>de</strong> se concentram os casos e as exposições (BAKER,1989).A partir do momento que o técnico i<strong>de</strong>ntifica riscos, inicia-se a vigilância, quepo<strong>de</strong> ser no ambiente, no processo <strong>de</strong> trabalho... Mas essa avaliação po<strong>de</strong> serfortalecida com a relação entre outras instituições <strong>de</strong> interesse <strong>em</strong> S.T., realizandouma análise do território que compreen<strong>de</strong> as relações <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> trabalho, ageração <strong>de</strong> risco no meio ambiente e a exposição da população da área quecompreen<strong>de</strong> a <strong>em</strong>presa.O fator <strong>de</strong> diferenciação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo é a construção do aprofundamento narelação dos agravos e riscos com o território e as ativida<strong>de</strong>s. As possíveis situações<strong>de</strong> risco ten<strong>de</strong>m a aumentar e o ambiente <strong>de</strong> trabalho torna-se um ambiente propíciopara os agravos da saú<strong>de</strong>.A interpretação <strong>de</strong> risco “... é a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> um eventocausador às pessoas e ao meio ambiente <strong>de</strong> forma leve ou grave,...” (CUT, 1991,p.81).Sendo constatada a ocorrência <strong>de</strong> risco ou dano à saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à utilização<strong>de</strong> qualquer produto, procedimento, equipamento e/ou utensílio, através <strong>de</strong> dadosclínicos, laboratoriais, resultados <strong>de</strong> pesquisa ou estudos <strong>de</strong> investigaçãoepi<strong>de</strong>miológica, a autorida<strong>de</strong> sanitária <strong>de</strong>verá proibir o seu uso ou consumo.“Entretanto, apesar <strong>de</strong> a ênfase no aspecto da fiscalização ser inerente à suafunção e estar institucionalizada <strong>em</strong> seus regulamentos <strong>de</strong>vido ao seu incipientepo<strong>de</strong>r político, essa noção <strong>de</strong> vigiar, <strong>em</strong> boa parte, nunca foi efetivamente realizadapela Vigilância Sanitária, encontrando-se, ainda hoje, inversamente relacionada aopo<strong>de</strong>r econômico e político do âmbito vigiado” (PIOVESAN, 2002).Na rotina dos técnicos da Vigilância Sanitária é comum sofrerconstrangimentos, primeiro por parte do <strong>em</strong>presário que não quer sua entrada para108


109a realização da inspeção, na prática i<strong>de</strong>ntificar irregularida<strong>de</strong>s aos olhos <strong>de</strong> outrapessoa que não faz parte daquele estabelecimento é um intruso que, além <strong>de</strong> tirarda rotina os procedimentos <strong>de</strong> trabalho têm uma função <strong>de</strong> imprimir gastos, através<strong>de</strong> infrações ou até mesmo <strong>de</strong> solicitações <strong>de</strong> mudanças no ambiente <strong>de</strong> trabalho.Isto é que tira a tranqüilida<strong>de</strong> do <strong>em</strong>presário/proprietário.Os trabalhadores e <strong>em</strong>presários se un<strong>em</strong>, na opinião <strong>de</strong> que os técnicosestão incomodando e o resultado <strong>de</strong>ssa “intromissão” surt<strong>em</strong> resultados contrárioscomo: críticas por parte dos trabalhadores/funcionários <strong>de</strong>ssas <strong>em</strong>presas,convencidos pelos seus patrões que esses técnicos não inspecionam s<strong>em</strong> darprejuízos para a <strong>em</strong>presa, <strong>de</strong>terminam mudanças <strong>de</strong>snecessárias e que istoacarretará <strong>em</strong> gastos que comprometerão ao <strong>em</strong>presário, consequent<strong>em</strong>ente,A<strong>de</strong>mais a inspeção gera o medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o <strong>em</strong>prego, por parte do trabalhador.Outra resultante são os questionamentos sobre o objetivo <strong>de</strong>ssas inspeções,alguns patrões argumentam perseguição daqueles que a executa. Os técnicosacabam recuando também, <strong>de</strong>vido a necessida<strong>de</strong> do <strong>em</strong>prego, pois alguns estão <strong>em</strong>situação irregular:A YM que conhece a realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> todo o Estado do Paraná <strong>de</strong>staca ainstabilida<strong>de</strong> dos técnicos, dizendo: “Se você encontra um técnico no município, no anoseguinte ele não vai estar lá, os contratos <strong>de</strong> trabalho da saú<strong>de</strong> são precarizados, s<strong>em</strong>registro <strong>em</strong> carteira ou como autônomo, s<strong>em</strong> direito a férias, 13º e outros benefícios dalei". “S<strong>em</strong> ter segurança <strong>de</strong> seu próprio <strong>em</strong>prego ele vai entrar num conflito, não t<strong>em</strong>como.”O que acontece é uma seqüência <strong>de</strong> contradições, e esse técnico quetambém sofre com as irregularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong> trabalho, acaba ce<strong>de</strong>ndo aspressões e não volta nessas <strong>em</strong>presas, ou volta e torna-se maleável.Não se po<strong>de</strong> esquecer que as práticas <strong>de</strong> inspeção estão previstas <strong>em</strong> lei e<strong>em</strong> algumas, também ficam limitadas. “A competência dos agentes <strong>de</strong> saneamentofica limitada, (...) a fiscalização das condições <strong>de</strong> trabalho é reconhecidamenteinoperante, distanciada do acompanhamento do trabalhador, esporádica, pontual ecentralizada”. (Artigo 690, parágrafo. 2°- C.S.E.) 52109


110Foucault salienta que mantiveram-se muito próximas as mudançastecnológicas da produção, a divisão do trabalho e a elaboração do proce<strong>de</strong>rdisciplinar. (1987, p. 182)Na verda<strong>de</strong>, os processos <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital estão intrinsecamenteligados a exploração <strong>de</strong> Forças <strong>de</strong> trabalho para assim garantir a crescenteprodução. 53_____________________________________________________________________________________________________________________52 C.S.E.- Código Sanitário do Estado do Paraná – lei compl<strong>em</strong>entar nº. 4/75 – <strong>de</strong>creto nº 3641/77.53 O controle é intenso, contínuo e corre ao longo do processo <strong>de</strong> trabalho, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>raçãoa ativida<strong>de</strong> dos trabalhadores, seu conhecimento técnico, a técnica <strong>de</strong> realizaçãoO sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> produção cria indivíduos para a realização <strong>de</strong> seus interesses;não exige, mas controla e vigia, assim i<strong>de</strong>ntifica quais são os indivíduos que forammoldados pelas suas instituições. Por ex<strong>em</strong>plo, os trabalhadores que não produz<strong>em</strong>conforme a meta da <strong>em</strong>presa, que não aceitam as condições <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong>salários, são simplesmente retirados dos espaços <strong>de</strong> trabalho e, muitas vezes, s<strong>em</strong>direito a nada. E por que eles se submet<strong>em</strong>?A disciplina fabrica indivíduos moldados para os interesses <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> osmoldou - os patrões. Essa é uma técnica específica <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que torna, ao mesmot<strong>em</strong>po, indivíduos <strong>em</strong> objetos e instrumentos <strong>de</strong> seus exercícios. O po<strong>de</strong>r é umefeito, que <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> apropriar-se e <strong>de</strong> retirar, t<strong>em</strong> como a função maior “a<strong>de</strong>strar”para aproveitar (FOUCAULT, 1987, p. 143).Mesmo que a Vigilância Sanitária mu<strong>de</strong> <strong>de</strong> nome e passe a se chamarvigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador, só irá modificar a forma <strong>de</strong> vigiar, tornando-auma função especializada, realizada por profissionais especialistas, que ao mesmot<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que vigiam também são vigiados. Pois o po<strong>de</strong>r disciplinador éabsolutamente indiscreto está <strong>em</strong> toda parte e s<strong>em</strong>pre alerta e controlacontinuamente mesmo os que estão encarregados <strong>de</strong> controlar. (FOUCAULT 1988,p.138)A vigilância transforma-se <strong>em</strong> uma peça do aparelho <strong>de</strong> produção e é umaforma indispensável, pois funciona como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações hierárquicas erepousa sobre os indivíduos, controlando as ativida<strong>de</strong>s dos trabalhadores e <strong>de</strong> seusgerentes. Torna-se um operador econômico <strong>de</strong>cisivo, na medida <strong>em</strong> que, e aomesmo t<strong>em</strong>po, é uma peça interna no aparelho <strong>de</strong> produção e uma engrenag<strong>em</strong>específica do po<strong>de</strong>r disciplinar. (FOUCAULT, 1987, p. 147)110


111A Vigilância Sanitária reage <strong>em</strong> estreita relação à economia. Ou seja, avigilância realiza ações sobre os indivíduos, tanto na relação hierárquica dasdas tarefas, comportamento, produção e asseio. Quanto mais complexa a produção, maior o número<strong>de</strong> funcionários e a divisão do trabalho. As relações complexas, a sua utilização econômica, namaioria, está ligada à produção <strong>em</strong> que o corpo está investido por relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> dominação.O po<strong>de</strong>r se articula diretamente sobre o t<strong>em</strong>po, realiza o controle <strong>de</strong>le e garante a utilização. O t<strong>em</strong>pomedido e pago <strong>de</strong>ve ser aplicado ao exercício, à exatidão. Essas são maneiras <strong>de</strong> controlar o ritmodo trabalhador e penetram no seu corpo, no seu comportamento e com ele vêm todos os controlesminuciosos do po<strong>de</strong>r.diversas posições com relação à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, começando com os diretores,operários ou com os dois. É assim que é formado o <strong>em</strong>aranhado <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que asustenta.Punir é uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a socieda<strong>de</strong> e também t<strong>em</strong> a função <strong>de</strong>prevenir <strong>de</strong>litos da mesma espécie. O castigo <strong>de</strong>ve levar <strong>em</strong> si uma forma <strong>de</strong>correção. A punição não aparece como efeito arbitrário do humano, ou seja, não sepune para pagar o crime, mas para transformar o culpado.A vantag<strong>em</strong> entre o crime e o castigo é a leitura quantitativa dos interesses.Assim que o crime for cometido, o mais rápido possível virá a punição. A punição éuma forma política <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> justiça; <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> se vingar, pune-se.Ressaltando que se um aci<strong>de</strong>nte ou doença do trabalho result<strong>em</strong> <strong>em</strong> lesãocorporal, o qual concorra conduta dolosa ou culposa é consi<strong>de</strong>rado crime previsto nocódigo penal, então o patrão po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um criminoso. Mas sabe-se qu<strong>em</strong>uitos crimes per<strong>de</strong>ram tal conotação, naturalizaram-se.Este é um ex<strong>em</strong>plo típico da área <strong>de</strong> S.T. , os trabalhadores morr<strong>em</strong>, sofr<strong>em</strong>amputações e muitas vezes as condições <strong>de</strong> risco/perigo continuam, torna-secomum as condições <strong>de</strong> riscos e a <strong>de</strong>sculpa é que o trabalhador, que já trabalhoumuito t<strong>em</strong>po e esta acostumado a conviver com o s riscos, não aconteceu nada atéo momento então não vai acontecer nada, ou seja, ignora o probl<strong>em</strong>a/riscos e paracompletar não quer usar os equipamentos <strong>de</strong> proteção e essas situações seperpetuam, tornando-se normais e naturais.A divisão entre permitido e proibido se mantêm nas leis, entretanto a práticaprecisam ser punidos, a VISA, pois muitas vezes se trata <strong>de</strong> um crime. Na verda<strong>de</strong>isto não ocorre porque existe entre as relações pessoais <strong>de</strong> “trocas <strong>de</strong> favores” entre<strong>em</strong>presários e políticos, que mesmo que existam irregularida<strong>de</strong>s na111


112<strong>em</strong>presa/fábrica/estabelecimento o <strong>em</strong>presário esta respaldado e o técnico nãoconsegue atuar mesmo tendo instrumentos legais.Esses instrumentos legais foram <strong>de</strong>stacados no início <strong>de</strong>sse capítulo, mas osórgãos que realmente atuam são o Ministério Público e a Justiça do Trabalho.Na seqüência serão apresentadas informações sobre os dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntese mortes no trabalho no Brasil e no Estado do Paraná.2.3 - Dados Relacionados a Aci<strong>de</strong>ntes e Óbitos no TrabalhoOs dados estatísticos, neste caso os <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e óbitos no trabalho, sãoformas <strong>de</strong> controle sobre o corpo do trabalhador; portanto, serão apresentadas comoinformações <strong>de</strong> interesse na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.Conforme dados da Previdência Social, <strong>em</strong> 1970, ocorriam 167 aci<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong>cada grupo <strong>de</strong> mil trabalhadores segurados. A ausência <strong>de</strong> informações sist<strong>em</strong>áticassobre os números <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho no país, antes <strong>de</strong>ssa dada não seconseguia um a<strong>de</strong>quado escrutínio.No período <strong>de</strong> 1970 e 1995, os dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho revelam umaredução dos casos.A curva dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho no Brasil (INSS/DATAPREV/BEAT 54 /1970-1995) apresenta evolução ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1970. Daí, até 1983, épredominant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>clinante, tornando-se novamente ascen<strong>de</strong>nte, até atingir opico máximo <strong>em</strong> 1985 -1986. Retorna, então, o <strong>de</strong>clínio, abrupto, que se prolongaaté 1992, quando o movimento da curva indica a retomada da tendência ascen<strong>de</strong>nte(WÜNSCH, 1999, p.48).No início da década <strong>de</strong> 70, a economia brasileira vivia um período <strong>de</strong> intensaeuforia, com níveis <strong>de</strong> crescimento acima <strong>de</strong> 10% ao ano. Wünsch (1999, p.48) fazuma análise avaliando que quando a economia cresceu, quando houve saldopositivo do Produto Interno Bruto (PIB) 55 , as notificações <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes tambémcresceram; conseqüent<strong>em</strong>ente, nos períodos <strong>de</strong> crescimento negativo da economia,o número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes diminuiu. O PIB brasileiro <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> não apenas da orientaçãodas políticas econômicas nacionais, mas é também bastante vulnerável a fatores <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m externa.Essa situação começou a mudar <strong>em</strong> 1973, com a primeira crise mundial112


113do petróleo, e aprofundou-se no final daquela década, no curso do segundo choquedo petróleo (LUNES, 1995). Em 1978, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou uma nova crise.54 Boletim Estatístico <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho (BEAT).55Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma (<strong>em</strong> valores financeiros) <strong>de</strong> todas as riquezas finaisproduzidas <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>terminada região ou parcela da socieda<strong>de</strong> (qual seja, países, estados,cida<strong>de</strong>s), durante um período <strong>de</strong>terminado (mês, trimestre, ano, etc). Consi<strong>de</strong>ram-se bens e serviços.No cálculo do PIB a preços <strong>de</strong> mercado consi<strong>de</strong>ram-se apenas os valores agregados, para evitar oprobl<strong>em</strong>a conhecido como dupla contag<strong>em</strong>: quando valores gerados na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produçãoaparec<strong>em</strong> contados duas vezes na soma do PIB.Um ex<strong>em</strong>plo disso foi à <strong>de</strong>missão <strong>em</strong> massa da categoria dos metalúrgicosque já tinha conquistado salários com uma média maior que a maioria dostrabalhadores.Tomando como referência os dados da pesquisa PNAD (Brasil -1986) sobreas taxas <strong>de</strong> utilização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, aquelas famílias com renda maior doque 2 (dois) salários mínimos gastam mais <strong>em</strong> prevenção do que as <strong>de</strong> menorrenda, segundo classe <strong>de</strong> renda per capita; isso <strong>de</strong>monstra uma percepção sanitáriamais a<strong>de</strong>quada nas famílias <strong>de</strong> maiores condições <strong>de</strong> acesso e melhor condiçãosocioeconômica.A recessão econômica continuou na década <strong>de</strong> 1980 e continuou gerando<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego reduziu a oferta <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego com carteira assinada e os trabalhadores<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados transferiram-se para o setor informal da economia e, talvez nessascondições, tenham sofrido aci<strong>de</strong>ntes, os quais não foram registrados.Segundo Silveira Barros da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), a redução<strong>de</strong>ve-se à diminuição no número <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho e também indica avanços naárea <strong>de</strong> segurança. O Brasil paga um alto preço pela falta <strong>de</strong> segurança,aproximadamente R$ 6 bilhões por ano.Serão apresentados alguns dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes, mortes no trabalho queobviamente po<strong>de</strong>riam ser evitadas; não existe uma forma para calcular o custo <strong>de</strong>uma amputação, uma incapacida<strong>de</strong> permanente e, principalmente, a morte <strong>de</strong> umtrabalhador que é um cidadão, pai <strong>de</strong> família, esposo, filho, ou seja, o prejuízo sócioafetivoé muito maior que o financeiro.Em 1990, a incidência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes 56 atingiu 36 trabalhadores por mil; <strong>em</strong>1994, atingiu 16 por mil. Os números acompanham a tendência correspon<strong>de</strong>nte aocupação no setor secundário, ao aumento <strong>de</strong> trabalhadores s<strong>em</strong> carteira assinada.113


114Diverge com relação à da ocupação no setor terciário, pois esse cresceuconsi<strong>de</strong>ravelmente nos últimos anos.Po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como um reflexo <strong>de</strong>ssa política a queda dos casos,pois nos anos à previdência social é estimulada (MACHADO, 1994,p.81)____________________________________________________________________________56 Incidência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes são Indicadores <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Indicadores são medidas usadas para auxiliar a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>uma situação existente, avaliar mudanças ou tendências durante um período do t<strong>em</strong>po. O cálculo é feito pelaformula: coeficiente é igual ao número <strong>de</strong> eventos reais (casos ocorridos) dividido pelo número <strong>de</strong> eventospossíveis <strong>de</strong> ocorrer (número <strong>de</strong> trabalhadores expostos).a restringir os benefícios e o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> avaliação nesse órgão conduz a umadiminuição progressiva dos casos, consequent<strong>em</strong>ente, ocorre somente o registrodaqueles aci<strong>de</strong>ntes que geram o pagamento <strong>de</strong> benefícios (1984 -1991/ MPS).Isso é reforçado por Wünsch (1999, p. 48) que <strong>de</strong>staca que <strong>em</strong> nos início dosanos 1980 ocorriam um número 100% maior que na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong>80 — que correspon<strong>de</strong> à proporção dos casos <strong>de</strong> até 15 dias <strong>de</strong> afastamento(aqueles que geram benefícios).Em 1995 foram 30.227, ou seja, houve uma queda no número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.Isso se <strong>de</strong>ve à diminuição dos riscos nos ambientes <strong>de</strong> trabalho, às mudanças nalegislação e à diminuição do índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.Quanto à letalida<strong>de</strong>, o Brasil, no ano <strong>de</strong>1986, encontrava-se com uma média<strong>de</strong> 3,15 óbitos por 1.000 aci<strong>de</strong>ntes (Anuário Estatístico da OIT/1988), ou seja, estão47,9% acima <strong>de</strong>ssa média, com uma taxa <strong>de</strong> 4,66 óbitos por 1.000 aci<strong>de</strong>ntes,ocorrendo 1,51 óbitos a mais.A mortalida<strong>de</strong> reduziu-se entre 1970 e 1994, passando <strong>de</strong> 31p/100.000trabalhadores para 14p/100.000.Nos últimos 15 anos da série, a letalida<strong>de</strong> aumentou <strong>em</strong> todas as regiõesbrasileiras, mas <strong>de</strong> forma mais intensa nas regiões Norte, Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste.A letalida<strong>de</strong> cresceu mais <strong>de</strong> quatro vezes no período, <strong>de</strong> 0,18%, <strong>em</strong> 1970, para0,84%, <strong>em</strong> 1994, particularmente nesta última tornando-se novamente ascen<strong>de</strong>nte,até atingir o pico máximo <strong>em</strong> 1985 -1986. No ano <strong>de</strong> 1992, teve uma quedasignificativa (MPS – 1970/1992).O coeficiente médio <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 14,84 por 100.000 trabalhadores. Acomparação <strong>de</strong>sse coeficiente com o <strong>de</strong> outros países – Finlândia, 2,1 (2001);114


115França, 4,4 (2000) - <strong>de</strong>monstra que o risco <strong>de</strong> morrer por aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho, noBrasil, é cerca <strong>de</strong> duas a sete vezes maior. (MACHADO, 1994).O Brasil possui uma População Economicamente Ativa (PEA) <strong>de</strong> 82.902.480pessoas e apenas 22.903.311 são formalmente registrados pela Previdência Social(trabalhadores com carteira assinada) e as estatísticas oficiais refer<strong>em</strong>-se somenteaos trabalhadores com registro <strong>em</strong> carteira. Não exist<strong>em</strong> dados <strong>de</strong> abrangêncianacional que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> a situação <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças do trabalho <strong>de</strong> todosos trabalhadores brasileiros, incluindo aqueles que se encontram na informalida<strong>de</strong>.Para a entrevistada CAR essa questão “não t<strong>em</strong> como ser feita essa avaliação, osdados eram parciais, as CAT´s, não eram cadastradas 100% e a sub-notificação égran<strong>de</strong>, o informal não entra e a análise fica prejudicada” (Entrevista realizada <strong>em</strong>23/03/06).Quer dizer que não é possível <strong>de</strong>finir que os dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doençast<strong>em</strong> diminuído, conforme a realização <strong>de</strong> ações na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador,mesmo porque os dados não correspon<strong>de</strong>m a realida<strong>de</strong>, os motivos são: a falta <strong>de</strong>uma política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que force as <strong>em</strong>presas a notificar<strong>em</strong> esses casos, a inclusãodos casos somente <strong>de</strong> trabalhadores com carteira assinada; e a falta <strong>de</strong> estruturados serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> registrar qualquer situação, incluindo os trabalhadores <strong>em</strong>carteira.Além <strong>de</strong>ssa falta <strong>de</strong> notificação CAR indica outro probl<strong>em</strong>a que é a falta <strong>de</strong>análise dos dados (CATS) por parte dos serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.A notificação, a compilação e análise dos dados são muito importantes para aorganização dos serviços, conclui-se que não po<strong>de</strong> ser usado como indicador <strong>de</strong>qualida<strong>de</strong> e eficiência dos serviços, melhora ou piora dos ambientes <strong>de</strong> trabalho,mas como um probl<strong>em</strong>a a ser resolvido.Para LACAZ, o que ocorre é uma forma <strong>de</strong> se forjar um trabalho a ser feitopara aten<strong>de</strong>r aos trabalhadores através <strong>de</strong>sses serviços, porém somente aostrabalhadores com vínculo <strong>em</strong>pregatício, portanto, incluídos no mercado formal <strong>de</strong>trabalho, a minoria <strong>de</strong>ntro da População Economicamente Ativa (PEA), dada aprecarização das relações e vínculos <strong>de</strong> trabalho (1997).Assim po<strong>de</strong>-se interpretar que os serviços <strong>de</strong> notificação são organizadospara “aten<strong>de</strong>r” a população como uma estratégia política para dizer que os serviços115


116<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estão realizando ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> prol do probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Ressaltandoque somente os trabalhadores com Carteira <strong>de</strong> Trabalho e Previdência Social(CTPS), que t<strong>em</strong> direito aos benefícios do INSS é que po<strong>de</strong>m ter seus casos <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>ntes/ doenças registradas.No ano <strong>de</strong> 1998, o DATAPREV (MPAS) registrou 395.455 aci<strong>de</strong>ntes e 4.488óbitos, portanto ocorreu uma redução <strong>de</strong> 23,01% (MTE); morreram 1.032 a menos,porém ainda ficaram acima 3.456 da média <strong>de</strong> 3.059 óbitos/ano (MPAS).No período <strong>de</strong> 1999 a 2003, a Previdência Social registrou 1.875.190aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho e 72.020 com incapacida<strong>de</strong> permanente. No mesmo períodomencionado, o Instituto Nacional <strong>de</strong> Segurida<strong>de</strong> Social (INSS) conce<strong>de</strong>u 854.147benefícios por incapacida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>porária ou permanente provocada por aci<strong>de</strong>ntes dotrabalho – média <strong>de</strong> 3.235 auxílios-doença e aposentadorias por invali<strong>de</strong>z, por diaútil.Existe a possibilida<strong>de</strong> dos trabalhadores ser<strong>em</strong> dispensados <strong>de</strong> seus<strong>em</strong>pregos, <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> incorporadas mais horas <strong>de</strong> trabalho na sua carga horária ou terum aumento da intensida<strong>de</strong> do trabalho entre os que permanec<strong>em</strong> na produção eproporcionando formas <strong>de</strong> maior risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes. (VENTURA, 1998, p. 48).O espaço administrativo e político passam a ser articulados e a tendência éindividualizar as doenças, sintomas, vidas, mortes. Inclu<strong>em</strong>-se aci<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> umquadro real, ou seja, um espaço que também o utiliza do ponto <strong>de</strong> vista médico.Para o mesmo período (1999 a 2003), foram registrados 105.514 casos <strong>de</strong>doenças relacionadas ao trabalho. Apesar <strong>de</strong> elevados, esses números não reflet<strong>em</strong>a realida<strong>de</strong>, que é b<strong>em</strong> pior.No período <strong>de</strong> 1999 a 2003, a Previdência Social registrou média <strong>de</strong> 3.059óbitos/ano, totalizando 15.293 entre os trabalhadores formais (média <strong>de</strong> 22,9milhões <strong>em</strong> 2002).Tomando como referência à alta incidência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doençasocupacionais, torna-se evi<strong>de</strong>nte que estamos longe do objetivo e faz-se necessário<strong>de</strong>senvolver estratégias <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong> e prevenção <strong>de</strong> agravos à saú<strong>de</strong> dotrabalhador (VISAT, p. 2).Corre-se o risco <strong>de</strong> retorno à situação anterior a 1970, quando asseguradoras que davam cobertura aos aci<strong>de</strong>ntados <strong>de</strong> trabalho não mantinham taisdados organizados, e eram perdidos, irr<strong>em</strong>ediavelmente. A iminente privatização do116


117seguro <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho indica que os dados sobre aci<strong>de</strong>ntes ten<strong>de</strong>rão a se<strong>de</strong>teriorar.Wünsch (1999, p.43) fala que nos 25 anos (1970-1995) que cont<strong>em</strong>plaram oseu estudo, ocorreram mais <strong>de</strong> 29 milhões <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e mais <strong>de</strong> c<strong>em</strong> mil mortesrelacionadas ao trabalho foram registrados no Brasil (INSS/DATAPREV/BEAT eIBGE). S<strong>em</strong> contar os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> mortes, atingindo os trabalhadores do setorinformal, que não são incluídos, ou seja, ficam mascarados e <strong>de</strong>veriam serincorporados a esse total.Além <strong>de</strong>sse fato, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar surgindo novos tipos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes,acompanhando a reestruturação produtiva, o que supõe uma maior suscetibilida<strong>de</strong>e/ou maior irritabilida<strong>de</strong> e tensão do trabalhador. Portanto, é preciso pensar, criarnovas estratégias e abordagens, como a criação <strong>de</strong> Bancos <strong>de</strong> Dados Regionaisque permitam centralizar as informações sobre a saú<strong>de</strong> dos trabalhadores, porque aCAT não representa mais uma fonte <strong>de</strong> dados a<strong>de</strong>quada (3ª Conferência Nacional<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, P. 105, 2005).Uma gran<strong>de</strong> conquista foi a <strong>de</strong>mocratização das informações processadaspela Empresa <strong>de</strong> Tecnologia e Informações da Previdência Social (DATAPREV),com a informatização das CATs e o envio dos dados gerais a todos os sindicatos,associações, universida<strong>de</strong>s. Todos os órgãos prestadores <strong>de</strong> assistência médica<strong>de</strong>v<strong>em</strong> notificar a autorida<strong>de</strong> sanitária local sobre aci<strong>de</strong>ntes e doenças do trabalho.Mas é preciso ficar atento à rápida mudança na conjuntura social no mundodo trabalho, que indica que a vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador não <strong>de</strong>ve per<strong>de</strong>r ofoco do conjunto <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes aqui analisados, mas fixar a atenção nas situações <strong>de</strong>trabalho <strong>em</strong> que os aci<strong>de</strong>ntes ocorr<strong>em</strong>. Chegou-se à conclusão <strong>de</strong> que exist<strong>em</strong>aci<strong>de</strong>ntes que não são notificados, por não ser<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rados pela legislação, pelofato do trabalhador aci<strong>de</strong>ntado ou adoecido manter-se <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> e outros motivosque já foram abordados.A análise e a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> dados na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador ajudarão oprofissional e os Serviços <strong>de</strong> S.T. a propor medidas <strong>de</strong> Avaliação, <strong>Programa</strong>s, b<strong>em</strong> comoelaborar um Planejamento das ações na área.Com relação aos dados <strong>de</strong> doenças do trabalho a América Latina, incluindo oBrasil é notificado apenas <strong>de</strong> 1% a 4% dos casos. A Proposta do Grupo <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da117


118OMS <strong>de</strong>nuncia que apenas uma pequena parte das doenças agravadas pelas condições<strong>de</strong> trabalho é registrada (OMS).No ano <strong>de</strong> 1938, <strong>em</strong> Londres foi realizada uma análise dos dados <strong>de</strong> doençase chegou-se à conclusão <strong>de</strong> que o custo com o tratamento <strong>de</strong> doenças era maior doque a realização <strong>de</strong> ações preventivas. Portanto é importante priorizar as açõespreventivas.A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> taxas mostra, através <strong>de</strong> números, quais as doenças e pessoasque ficaram doentes ou morreram. As epi<strong>de</strong>mias significaram a subtração <strong>de</strong> forças docorpo, a diminuição do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho, “baixa energia”, atualmente conhecida comobaixa produtivida<strong>de</strong>, custo econômico, gastos e o tratamento médico dispensados aostrabalhadores (FOUCAULT, 2002, p.290).O conceito geral <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>mia trata <strong>de</strong> uma doença infecciosa 57 que surgesimultaneamente <strong>em</strong> uma região, afetando um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas. Portanto,po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados, entre essas doenças, os casos ocorridos no ambiente <strong>de</strong>trabalho, pois, para se <strong>de</strong>senvolver uma doença, é preciso ter um hospe<strong>de</strong>iro(hom<strong>em</strong>), agente etiológico (ex: poeira das <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> cal) e o meio ambiente.Assim se fecha o ciclo e o trabalhador sofre com os danos causados pela doença.Na seqüência, serão apresentados os dados do Paraná e será feita umacorrelação com as ações existentes no Estado.2.3.1 - Dados Relacionados a aci<strong>de</strong>ntes e óbitos no trabalho no Paraná, antes e pós1986O Paraná teve um aumento significativo da população no período <strong>de</strong> 1940 a1970, <strong>de</strong>vido aos imigrantes, vindos <strong>de</strong> Minas Gerais, São Paulo, Nor<strong>de</strong>ste e <strong>de</strong>outros Estados do Sul do país; pessoas saíam das lavouras <strong>de</strong> café e outrasculturas e mudavam para os centros urbanos na tentativa <strong>de</strong> novas chances <strong>de</strong>trabalho os quais eram diferentes das ativida<strong>de</strong>s que estavam habituados arealizar<strong>em</strong>. Isto fez com que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>asse o incr<strong>em</strong>ento no número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.No início da década <strong>de</strong> 80, o Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, mesmo antes do SUS, tinhao objetivo <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r todos os trabalhadores com a estratégia <strong>de</strong> incorporá-los àre<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, intervindo nos locais <strong>de</strong> Trabalho, não tendo a118


119visão <strong>de</strong> pacientes somente como meros consumidores <strong>de</strong> receitas e prescriçõesmédicas._____________________________________________________________________________________________________________________57 Doença Infecciosa: Processo biológico subjacente produzido por um agente infeccioso; infecção;penetração; alojamento; e, <strong>em</strong> geral, multiplicação <strong>de</strong> um agente etiológico, organismo <strong>de</strong> umhospe<strong>de</strong>iro produzindo danos a estes, com ou s<strong>em</strong> aparecimento <strong>de</strong> sintomas clinicamentereconhecíveis.Em 1985, ocorriam cerca <strong>de</strong> 140 aci<strong>de</strong>ntes por dia no Estado, e os maisperigosos eram da área da Construção Civil, seguido da Indústria Metalúrgica e daárea rural. As mortes por agrotóxico contribuíam com 106 casos <strong>de</strong> óbitos (PST-1992).Em 1986, a população do Paraná era <strong>de</strong> 8.740.363 (IBGE-IPARDES). Nomesmo ano, o total <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho foi 76.866. A partir <strong>de</strong>ssa data os dadosmostram uma diminuição, porém se for feita uma comparação com as péssimascondições dos ambientes <strong>de</strong> trabalho, isto não correspon<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong>, mas oindica estar acontecendo é a subnotificação dos casos.Em 1986, o Jornal Gazeta do Povo 58 publicou o seguinte: “morre uma pessoapor dia por causa <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte do trabalho (...), enquanto dois trabalhadores por diasão vítimas <strong>de</strong> invali<strong>de</strong>z permanente.” (FUNDACENTRO).A partir <strong>de</strong> 1989, a Secretaria <strong>de</strong> Estado da Saú<strong>de</strong> do Paraná começou arealizar ações pontuais <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, com participação <strong>de</strong> técnicosinterinstitucionais, começando pelas inspeções <strong>em</strong> fábricas <strong>de</strong> bateria.De 1990 a 1992, <strong>de</strong>pois da promulgação da Lei do SUS, esses mesmostécnicos e a Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador iniciaram a discussão sobre o“Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Atenção <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador” e sobre o “<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador”. Esses <strong>Programa</strong>s tinham o objetivo <strong>de</strong> subsidiar as equipes dasRegionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e municípios nas ações <strong>de</strong> rotina.Em 1992, este grupo também iniciou discussões com instituições que seinteressavam pela área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador, juntamente com o MinistérioPúblico.Em 1995, diminuíram os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho contando-se foram 30.227, Aqueda no número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntados <strong>de</strong>ve-se à diminuição dos riscos nos ambientes <strong>de</strong>trabalho, à mudança <strong>de</strong> legislação e ao aumento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.119


120MGD ao ser entrevistada fala sobre a notificação: “Não criou impacto, essesdados não t<strong>em</strong>os” (entrevista realizada dia 24/03/06).A entrevistada diz que não existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar se os dadosdiminuíram com a atuação dos técnicos. Assim como o número <strong>de</strong>_____________________________________________________________________________________________________________________58 Jornal Gazeta do Povo dia 28/05/86, página 40.técnicos e treinamentos na área <strong>de</strong> S.T., também, os dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes não sãoreais.Em 1997, ocorreram 27.968 (FUNDACENTRO, 1998) aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho,sendo que não foram incluídos os sub<strong>em</strong>pregados, estatutários, domésticos.Os dados <strong>de</strong>monstram que os casos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho v<strong>em</strong>diminuindo, principalmente se comparar os anos <strong>de</strong> 1986 (ano da 8ª CNS) e 1997 (7anos <strong>de</strong>pois da Promulgação da Lei Orgânica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>), mas não é possível afirmarque foram as ações na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador que fizeram esses númerosser<strong>em</strong> modificados. Mas <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>speitar uma preocupação quanto a subnotificação.Em 1996, com a parceria da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Curitiba, foi criado o(CEMAST), com abrangência macro-regional, aten<strong>de</strong>ndo cerca <strong>de</strong> 45 municípios.Com base nesse projeto, no ano seguinte, foi celebrado convênio com o Ministérioda Saú<strong>de</strong> para a implantação dos Centros <strong>de</strong> Referência no Estado.O CEMAST foi criado com a função <strong>de</strong> capacitar as equipes <strong>de</strong> vigilância dosmunicípios para atuar <strong>em</strong> S.T. e apoiar os técnicos na i<strong>de</strong>ntificação do nexo causal<strong>de</strong> doenças e aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, além <strong>de</strong> estruturar e manter o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>informação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.O Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informação das Comunicações <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Trabalho(SISCAT) analisa as informações da região metropolitana <strong>de</strong> Curitiba e foi criado umBanco <strong>de</strong> Dados a partir das Fichas <strong>de</strong> Investigação <strong>de</strong> Óbitos e Amputações, osquais foram analisados e divulgados.No mesmo ano, o CEMAST levantou a informação sobre o Trabalho Infantilnos Municípios da Região Metropolitana, que somam 39, dos quais, somente 8estavam inscritos no <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). OCEMAST chamou a atenção <strong>de</strong>sses municípios mostrando os dados (CENSO-IBGE,120


1211996) que indicaram 4500 crianças, <strong>de</strong> 7 a 14 anos, que trabalhavam, s<strong>em</strong> nenhumincentivo para que essa realida<strong>de</strong> fosse transformada.Essas crianças trabalhavam catando lixo, na lavoura, na colheita <strong>de</strong> laranja,batata, café, algodão, fumo; como ven<strong>de</strong>dores ambulantes, no comércio, guardandocarros, <strong>em</strong> fábricas, carvoarias, corte <strong>de</strong> pinos, olarias/cerâmicas,serrarias/laminadores, como domésticas e na prostituição.Em 1998, a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> União da Vitória, com sua fonteprópria <strong>de</strong> dados, registrou 163 casos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes. Atualmente, essa forma <strong>de</strong>notificação “in loco” é a mais recomendada, consi<strong>de</strong>rando a informalida<strong>de</strong>, aintervenção dos setores médicos e <strong>de</strong> segurança das <strong>em</strong>presas. Somente <strong>de</strong>ssamaneira po<strong>de</strong>-se conseguir uma base <strong>de</strong> dados real, ou seja, informações sãoobtidas no momento do atendimento do trabalhador quer ele seja, autônomo,registrado ou não e ainda <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregado.Em 1998, foi implantado, pelo Paraná, o Comitê <strong>de</strong> óbitos e amputações. Essecomitê era formado por representantes <strong>de</strong> diversas instituições e sindicatos que atuavamrecebendo e analisando as CAT´S e, posteriormente, enviavam aos municípios o númeroda ocorrência do aci<strong>de</strong>nte para investigação do mesmo.Para CAR, é muito importante a notificação, tanto que ela diz: “É possívelavaliar os gran<strong>de</strong>s eventos, através do comitê <strong>de</strong> óbitos /amputações, se a notificaçãomelhorar.” (CAR - entrevista realizada <strong>em</strong> 23/03/06).No ano <strong>de</strong> 1999, foram registrados 14.091 aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho.O Jornal Gazeta do Povo 59 publicou que o número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes do trabalhono setor formal sofreu uma redução <strong>de</strong> 11,5% no Estado, no período <strong>de</strong> 1999 para2000. Segundo dados da Previdência Social, o Paraná sai da quarta para a quintaposição no Brasil <strong>em</strong> casos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes, atrás <strong>de</strong> Minas Gerais e Rio Gran<strong>de</strong> doSul e Santa Catarina.No Estado do Paraná, foram registrados 349.497 aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho nosúltimos onze anos (1990 a 2000), com 3.479 óbitos e 8.257 casos <strong>de</strong> DoençasProfissionais, segundo dados do Anuário Estatístico da Previdência Social. Essesdados se refer<strong>em</strong> apenas aos trabalhadores do mercado formal, regidos pelaConsolidação das Leis do Trabalho – CLT - e que tiveram seu aci<strong>de</strong>nte notificadoatravés da CAT (Comunicação <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Trabalho).121


122Sabe-se que, atualmente, mais <strong>de</strong> 50% da População Economicamente Ativa(PEA) do Estado está no mercado informal <strong>de</strong> trabalho, não fazendo parte dasestatísticas oficiais <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, sendo assistida apenas pelo SUS.Por isso, é reforçada a proposta <strong>de</strong> notificação na ponta, ou seja, no local <strong>de</strong>atendimento do aci<strong>de</strong>ntado, como já foi citado o caso <strong>de</strong> União da Vitória.As ações <strong>em</strong> S.T. t<strong>em</strong> singularida<strong>de</strong>s e especificida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> serobservadas. É necessário relacionar o Processo Saú<strong>de</strong>–Doença com o processo <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong>/Trabalho e isso requer um olhar próprio, que se passe a consi<strong>de</strong>rar o trabalhocomo fator <strong>de</strong>terminante da condição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, estabelecendo o nexo causal dosagravos, e permitindo a intervenção na geração dos mesmos.Existe, assim, uma gran<strong>de</strong> subnotificação dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, que éainda mais acentuada no caso das Doenças Profissionais, pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>diagnóstico e <strong>de</strong> estabelecimento do nexo causal.Em Curitiba, Paraná, num Pronto Socorro, <strong>em</strong> um mês <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> meio-diaaté 20h00min, foram i<strong>de</strong>ntificados 170 aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho. Desses, a proporção<strong>de</strong> trabalhadores com carteira assinada foi <strong>de</strong> 58,8%. Mesmo <strong>de</strong>ntre essestrabalhadores, sobre os quais <strong>de</strong>veriam ser <strong>em</strong>itidas as CAT’s, o Hospital <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>solicitar à <strong>em</strong>presa o registro do aci<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 30% dos casos. Somando-seaos <strong>de</strong>mais trabalhadores não cobertos por esse registro, conclui-se que a CAT éuma fonte ina<strong>de</strong>quada para fins <strong>de</strong> estudos epi<strong>de</strong>miológicos (VENTURA, 1998),porém é o instrumento existente.A entrevistada CAR fala que é impossível investigar todos os aci<strong>de</strong>ntesregistrados e que a proposta <strong>de</strong> trabalho era investigar 80% -70% dos óbitos, porque100% não foi possível.” (entrevista realizada <strong>em</strong> 23/03/06).Consi<strong>de</strong>rações:Não é um dos pontos principais <strong>de</strong>sse trabalho abordar sobre as diferençasentre M.T. e M.S., mas é impossível falar <strong>em</strong> S.T. s<strong>em</strong> indicar essa situação. Comojá foi visto anteriormente é um probl<strong>em</strong>a histórico e mal resolvido. Essa situação épreocupante porque é polêmica, pois é uma disputa da natureza legal e políticaentre MT e MS para inspecionar os ambientes <strong>de</strong> trabalho.122


123O Ministério do Trabalho limitado as suas inspeções na avaliação <strong>de</strong>documentos, registros <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> técnica o que diverge das ações <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> que visam realmente intervir nas condições <strong>de</strong> risco a Saú<strong>de</strong> do Trabalhadorcomo preconiza as ações no SUS, mas apesar disso Scopinho fala que a política <strong>de</strong>inspeção no trabalho continua centrada no MT (2003, p.130).Deve-se <strong>de</strong>stacar que o controle social conseguiu incorporar entre asconquistas das Conferências <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> as ações <strong>de</strong> S.T. e consequent<strong>em</strong>ente nalegislação a participação dos Conselhos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Os proprietários/<strong>em</strong>presáriosprefer<strong>em</strong> que continu<strong>em</strong> essas ações sobre responsabilida<strong>de</strong> do M.T. porque nãoconsi<strong>de</strong>ra o controle social como a participação popular através <strong>de</strong> conferencia eConselhos representativos.O movimento <strong>de</strong> Reforma Sanitária, com a 1ª Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>do Trabalhador, inicia um processo <strong>de</strong> ampliação da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dotrabalhador, da esfera institucional do trabalho para a saú<strong>de</strong>.Para COSTA (2005) surgiu a iniciativa <strong>de</strong> construir uma Política Nacional paraa Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (PNST) <strong>em</strong> apoio à crise previ<strong>de</strong>nciária do Ministério doTrabalho e Emprego uma iniciativa oposto ao mo<strong>de</strong>lo do SUS para aten<strong>de</strong>r aoprojeto neoliberal. Isto <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou uma mudança nas concepções <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> esegurança do trabalho quando a ser tratadas como mercadorias e o própriomercado, não mais o Estado, regularia o setor - até mesmo a participação domovimento social preconiza a Lei do SUS e a Constituição <strong>de</strong> 1988 no que se refereà saú<strong>de</strong> é direito social e <strong>de</strong>ver do Estado.Houve resistência do Ministério da Saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> alguns sindicatos e <strong>de</strong> técnicosdo MTE. O processo <strong>de</strong> redução do papel dos órgãos do MTE responsáveis<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou o esvaziamento do setor. Observe-se que a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> esegurança do trabalho do Ministério do Trabalho se caracteriza apenas como umprocesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>smonte <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> regulação do Estado e não a transferência<strong>de</strong>ssas ações para o SUS ou da Previdência Social (COSTA, 2005).O fim da inspeção <strong>em</strong> segurança e saú<strong>de</strong> no trabalho no MTE na perspectivada privatização. Esta estratégia se <strong>de</strong>senvolveu s<strong>em</strong> qualquer transparência para asocieda<strong>de</strong> civil. O fim das inspeções no trabalho pelo MTE representa uma espécie<strong>de</strong> transferência futura <strong>de</strong>sta prática para as <strong>em</strong>presas privadas, reduzindo ou123


124mesmo eliminando o papel do Estado na inspeção do trabalho e, <strong>de</strong>ssa forma, asestruturas <strong>de</strong> SST do MTE passariam a per<strong>de</strong>r importância.Para que isso aconteça é uma questão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e o M.T.E, t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>saliados que não permit<strong>em</strong> essa mudança por isso continua essa polêmica e umacontrovérsia que interfere diretamente na Saú<strong>de</strong> do Trabalhador e nas ações nessaárea que não <strong>de</strong>slancham.Nas ações <strong>de</strong> S.T. é o Biopo<strong>de</strong>r, que se <strong>de</strong>staca como forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, sendouma forma <strong>de</strong> autonomia <strong>de</strong> “fazer viver” e “<strong>de</strong>ixar morrer” é uma tecnologia que agesobre a população, instituindo regras <strong>de</strong> controle e atuação.A Biopolítica vai extrair seu saber e <strong>de</strong>finir o campo <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong> seupo<strong>de</strong>r. Em primeiro lugar o enfoque <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser sobre o individuo e passa a sersobre a população, essa é consi<strong>de</strong>rada como probl<strong>em</strong>a político, biológico, cientifico,ou seja, <strong>em</strong> sua complexida<strong>de</strong>. Depois o enfoque passa a ser sobre os fenômenosocorridos como as doenças, aci<strong>de</strong>ntes, mortes a duração <strong>de</strong>sses acontecimentos.Em terceiro lugar as estatísticas, mostram como está a população, o que saiu docontrole, on<strong>de</strong> ocorreu o <strong>de</strong>sequílibrio. É uma forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que vai i<strong>de</strong>ntificarsaberes para <strong>de</strong>finir seu campo <strong>de</strong> atuação e, conseqüent<strong>em</strong>ente, intervir nessesdados seja: baixando a mortalida<strong>de</strong>/morbida<strong>de</strong> ou estimulando a natalida<strong>de</strong>, oumesmo estimulando mecanismos para maximizar as forças, disponibilizandotreinamentos para os trabalhadores, Por Ex<strong>em</strong>plo: a estruturação <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> e Formação <strong>de</strong> Recursos Humanos (FOUCAULT, 2002, p. 292).FONSECA (2000) coloca que, <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa da Socieda<strong>de</strong>, o discurso é umaforma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a socieda<strong>de</strong>, a vida, mas t<strong>em</strong> seus artifícios que exerc<strong>em</strong> sobre avida e a morte, <strong>em</strong> nome do benefício da socieda<strong>de</strong>, e também chega a ocultarresultados <strong>em</strong> nome da “<strong>de</strong>fesa da socieda<strong>de</strong>”.Há 16 anos (2006) da promulgação da Lei 8080/90 o SUS, ainda não seconseguiu incorporar as implicações que o trabalho causa na vida e na saú<strong>de</strong> dotrabalhador, na relação do processo saú<strong>de</strong>-doença havendo fraca articulaçãointersetorial/interinstitucional. Apesar das inovações do texto constitucional,manteve-se a superposição ou concorrência na atuação <strong>de</strong> atribuições, fomentandoo conflito entre os setores, especificamente nas ações <strong>de</strong> fiscalização.Porém o pior é a saú<strong>de</strong> dos trabalhadores que, além <strong>de</strong> manter-se<strong>de</strong>sabrigada <strong>de</strong> qualquer proteção, caso ocorra algum aci<strong>de</strong>nte ou outra124


125necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento médico hospitalar. Ficará por conta do Município, amunicipalização da saú<strong>de</strong> pelo SUS, resumindo-se a atuar curativamente, enquantoo mais eficaz e inteligente seria a atuação preventiva.Assim observamos que o po<strong>de</strong>r se exerce <strong>em</strong> uma espécie <strong>de</strong> re<strong>de</strong> na qualestão os indivíduos (vigiando ou vigiados) ora <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> exercer o po<strong>de</strong>r, ora<strong>em</strong> posição <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> submetidos a ele. O po<strong>de</strong>r circula constant<strong>em</strong>ente, s<strong>em</strong> sefixar <strong>em</strong> alguém, e está, ao mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong> todos os sujeitos.Os indicadores <strong>de</strong> referência são a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e as taxas <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong>correntes do trabalho. Os indicadores são apurados com base <strong>em</strong>informações dos Ministérios do Trabalho e Emprego e da Previdência e Assistência Social.A vida e a morte são fenômenos naturais e radicais que se localizam fora do campo dopo<strong>de</strong>r político e há um paradoxo: o súdito não é pleno <strong>de</strong> direito, n<strong>em</strong> vivo n<strong>em</strong> morto. Dizerque o soberano t<strong>em</strong> direito à vida ou à morte significa que ele po<strong>de</strong> fazer morrer e <strong>de</strong>ixarviver.Essas argumentações são estratégias <strong>de</strong> marketing para manter a imag<strong>em</strong> dopapel importante do Ministério na <strong>de</strong>fesa e na redução dos índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> eaci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho. Em 2001, esse Ministério concluiu que ocorreu uma variaçãosatisfatória, ou seja, uma redução dos dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, mas areflexão é: Como um resultado po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado positivo se há trabalhadoresmorrendo no trabalho, per<strong>de</strong>ndo m<strong>em</strong>bros. Tais resultados não po<strong>de</strong>m quantificar ovalor <strong>de</strong> uma vida, n<strong>em</strong> mensurar o prejuízo <strong>de</strong> alguém que viva com umaincapacida<strong>de</strong> permanente.FOUCAULT (2002, p.299) fala que não quer fazer uma oposição entre Estadoe Instituição, mas explica que o po<strong>de</strong>r disciplinar e o po<strong>de</strong>r regulador do Estado secompl<strong>em</strong>entam não somente <strong>em</strong> nível superior – encontram-se diferentes níveisestaduais, assim como é diferente a forma <strong>de</strong> regulamentação, como nas caixas <strong>de</strong>auxílios, seguros.Os números indicam que no período <strong>de</strong> 1998 a 2003, foram registrados 15.293 óbitos(uma média <strong>de</strong> 3.059 óbitos/ano). Em análise dos dados <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças do Trabalho,chegou-se ao registro <strong>de</strong> 29 milhões <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e mais <strong>de</strong> 100 mil mortes <strong>em</strong> 25 anos. Outroagravante foram os dados dos trabalhadores informais não ser<strong>em</strong> incluídos. Os números <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>ntes totalizaram 1.875.190, sendo que 72.020 são incapacida<strong>de</strong>s permanentes e 15.293125


126óbitos (uma média <strong>de</strong> 3.059 óbitos/ano). No período <strong>de</strong> 1999 a 2003, os casos <strong>de</strong> doençasrelacionadas ao trabalho totalizaram 105.514, formando uma taxa <strong>de</strong> 14,84 para 100.000trabalhadores.No próximo capítulo, será apresentado como estão organizados os Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>no Estado do Paraná, quais os setores responsáveis pelas ações voltadas a área <strong>de</strong> S.T., b<strong>em</strong>como a formação dos profissionais <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador.126


127CONCLUSÂOJá se passaram 20 anos após as conquistas obtidas na 8ª CNS, naConstituição Fe<strong>de</strong>ral e nas Leis, 8080/1990, Orgânica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>/SUS, 8142/ 1990.Decorrentes dos movimentos sociais, elas são fruto das lutas sindicais e <strong>de</strong>entida<strong>de</strong>s e profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> organizados através do movimento <strong>de</strong> reformasanitária.A Constituição Fe<strong>de</strong>ral do Brasil, no Artigo 200, It<strong>em</strong> II, <strong>de</strong>termina ao SUS,além <strong>de</strong> outras atribuições, executar as ações <strong>de</strong> vigilância sanitária eepi<strong>de</strong>miológica, b<strong>em</strong> como as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador.A Lei do SUS no Artigo 6º propõe a execução <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> vigilância sanitáriae <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador. Porém leis pouco resolveram a situação preocupante <strong>de</strong>disputa da natureza legal e política entre MT e MS para inspecionar os ambientes <strong>de</strong>trabalho. Como já foi assinalado anteriormente é um probl<strong>em</strong>a histórico que v<strong>em</strong>sendo mal resolvido. Ora <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da Saú<strong>de</strong> – a ex<strong>em</strong>plo dos anos <strong>de</strong>1920, quando a Higiene do Trabalho é consi<strong>de</strong>rada uma atribuição do DepartamentoNacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, ora o Serviço <strong>de</strong> Higiene do Trabalho passa para oMinistério do Trabalho, Indústria e Comércio, como ocorreu <strong>em</strong> 1934, retirandoassim essas atribuições do setor <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública.Além <strong>de</strong>ssas divergências ainda ocorr<strong>em</strong> interferências na rotina <strong>de</strong> trabalho,como a coação dos proprietários intimidando os técnicos a não realizar<strong>em</strong> as açõesnecessárias <strong>de</strong> interdição, intimação, auto-ação e até mesmo proibindo a suaentrada na <strong>em</strong>presa. Assim a VISA torna-se cada fez mais impotente <strong>em</strong> realizaressas ações, <strong>de</strong>vido às interferências políticas que são postas. E os trabalhadorescontinuam submetidos às péssimas condições <strong>de</strong> trabalho. A pressão é tamanhaque forçam os trabalhadores a se unir<strong>em</strong> aos <strong>em</strong>presários na argumentação <strong>de</strong> queas ações da VISA são geradoras <strong>de</strong> prejuízos para a <strong>em</strong>presa, <strong>de</strong>terminandomudanças <strong>de</strong>snecessárias e que isto acarreta gastos que compromet<strong>em</strong> o<strong>em</strong>presário e põ<strong>em</strong> <strong>em</strong> risco os seus <strong>em</strong>pregos, pois implicam <strong>em</strong> gastos.Sabe-se que as ações <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador não se resum<strong>em</strong> somenteás inspeções e que é preciso uma Política <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador. E aCoor<strong>de</strong>nação da RENAST <strong>de</strong>staca as dificulda<strong>de</strong>s a ser<strong>em</strong> sanadas: a falta <strong>de</strong>preparo dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que atuam na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços, a precedência127


128<strong>de</strong> assistência <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento das ações <strong>de</strong> vigilância, as poucas açõesintersetoriais, entre outros.Também exist<strong>em</strong> outras interferências sobre as ações da VISA na área <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do trabalhador como a rotina que faz com que os técnicos prioriz<strong>em</strong> outrasáreas, <strong>de</strong>vido à sobrecarga. Vejamos, <strong>em</strong> 1999 havia 23 profissionais na RMC, e,<strong>em</strong> 2005, agregava-se apenas 1 técnico, <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 6 (seis) anos.Além do mais os <strong>de</strong>poimentos aqui levantados indicaram: os treinamentosnesta área são <strong>de</strong>scontínuos, falta avaliação e o resultado disso são profissionais<strong>de</strong>smotivados que acabam <strong>de</strong>senvolvendo uma espécie <strong>de</strong> passivida<strong>de</strong> com relaçãoàs situações encontradas, pois não encontram apoio do Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> tantoMunicipal quanto Estadual para efetivar as ações.Os dados <strong>de</strong>monstraram que <strong>em</strong> 1999, dos 23 profissionais registrados, 14participaram <strong>de</strong> treinamentos ofertados na Secretaria <strong>de</strong> Estado da Saú<strong>de</strong> e 7fizeram cursos específicos na área. Portanto houve interesse dos técnicos <strong>em</strong>participar<strong>em</strong> dos treinamentos.O início <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s foi marcado pela inexperiência <strong>em</strong> treinamentosresultando <strong>em</strong> <strong>de</strong>scrédito. A falta <strong>de</strong> planejamento foi comum na prática dos técnicosda Saú<strong>de</strong>, pois esses treinamentos não abordavam a realida<strong>de</strong> dos municípiosparticipantes.Segundo os entrevistados os objetivos dos treinamentos foram atingidos, poisproporcionaram conhecimentos, conscientizaram e encorajararam a entrada dostécnicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nas <strong>em</strong>presas. Mas existia outro probl<strong>em</strong>a a enfrentar, a falta <strong>de</strong>condições dos municípios <strong>em</strong> estruturar os serviços <strong>de</strong> S.T. e a insuficiência <strong>de</strong>informações, pois não basta somente conscientizar, sensibilizar este é só o inicio,proce<strong>de</strong>ndo com os treinamentos efetivos e formação.Diante das informações oferecidas pelos entrevistados ficaram algumasperguntas: Por que os técnicos não se sentiram seguros <strong>em</strong> atuar na área <strong>de</strong> S.T.?Será que os treinamentos não atingiram seus objetivos? Os técnicos daSESA/Municípios, t<strong>em</strong> claro o seu papel? Se a atribuição dos técnicos da SESA eradar treinamentos por que os mesmos não tinham formação pedagógica?Outro ponto que chamou a atenção no projeto <strong>de</strong> treinamentos foi a forma <strong>de</strong>elaboração: quando constavam objetivos, a metodologia <strong>em</strong>pregada nãocorrespondia ao t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> discussão. Também se observou a falta <strong>de</strong> avaliação128


129<strong>de</strong>sses treinamentos e, quando realizados, o questionamentoopiniões dos participantes, as quais não foram compiladas.relacionou-se àsConclui-se que a falta <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> nos treinamentos é algo patente,reforçado pela falta <strong>de</strong> profissionais específicos da área <strong>de</strong> educação e ainsuficiência no preparo dos técnicos. Embora constatada essas <strong>de</strong>ficiências, não setrata <strong>de</strong> localizar nos treinamentos a ineficiência para atuar na área.Em 2006, o CEMAST foi extinto e os técnicos foram incorporados aochamado Centro Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador (CEST). Durante os 10 anos <strong>de</strong>atuação foram realizados diversos treinamentos e <strong>de</strong>senvolvidos métodos <strong>de</strong>trabalho, que na prática possibilitou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> falta <strong>de</strong>segurança nas <strong>em</strong>presas, b<strong>em</strong> como pouquíssima resolutivida<strong>de</strong> das irregularida<strong>de</strong>sencontradas.Desse modo concluimos que são necessárias Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doTrabalhador e atuação na prevenção, promoção, proteção e recuperação da saú<strong>de</strong>,b<strong>em</strong> como Políticas <strong>de</strong> Recursos Humanos para formação <strong>de</strong> profissionaishabilitados para atuar<strong>em</strong> nas diversas áreas <strong>de</strong> interesse da Saú<strong>de</strong> Trabalhador.129


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140SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁRua Piquiri, 170 - Rebouças Curitiba - PR CEP 80230-140 Fone: 41 330-4300 Fax:41 330-4406sesa@pr.gov.br- Secretaria <strong>de</strong> Estado da Saú<strong>de</strong> do ParanáCENTRO FORMADOR DE RECURSOS HUMANOSRua Prof. Basílio Ovídio da Costa, 639 – V. Izabel – Curitiba – Pr Fone: 3343-0477http://www.sau<strong>de</strong>informacao.com.br/downloads/controle_social.pdf.http://www.abepsi.org.br/abepsi/cartilha_financiamento.pdfReferênciaBibliográfica:SALVADOR, José Gonçalves - Os Magnatas do Tráfico Negreiro, Ed. Pioneira/Edusp - 1981,SP.Artigo escrito por:Cristiano Rodrigo CatarinHISTORIA DO BRASILLúciaHelenaStoCapítulo 4O Mundo NegrortoSidney Aguilar FilhoNovos Estudos - CEBRAPPrint ISSN 0101-3300Novos estud. - CEBRAP no.74 São Paulo Mar. 2006A dinâmica da escravidão no BrasilResistência, tráfico negreiro e alforrias,séculos XVII a XIX 1Rafael <strong>de</strong> Bivar MarqueseProfessor no Departamento <strong>de</strong> História da USP140

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