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A Paisagem, Medida e Distância na Obra de Jeff Wall. - CBHA

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A <strong>Paisagem</strong>, <strong>Medida</strong> e <strong>Distância</strong> <strong>na</strong> <strong>Obra</strong> <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong> 1Fer<strong>na</strong>nda Bulegon Gassen - UFRGSResumo: O presente artigo aborda fotografias <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong><strong>Wall</strong>, centradas em landscapes ou cityscapes. O ponto<strong>de</strong> vista lançado aqui cerca a noção <strong>de</strong> distanciamentoe, igualmente, <strong>de</strong> medida, apontadas pelo artista comopontos <strong>de</strong> referência para a elaboração <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong>imagem. Sendo assim, as mesmas serão observadassob a lógica do espaço pictórico, construído no âmbitoda paisagem, conjecturando os traços da pinturacolocados em discussão pelo referido artista em suasfotografias.Palavras-chave: <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>. <strong>Paisagem</strong>. Espaçopictórico. <strong>Distância</strong>.Abstract: This paper addresses the work of <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>,centered in their landscapes or cityscapes. The viewreleased here, is about the notion of distance and alsoof measure, i<strong>de</strong>ntified by the artist as reference pointsfor the <strong>de</strong>velopment of this type of images. Therefore,they will be observed un<strong>de</strong>r the logic of the pictorialspace, built within the landscape, conjecturing thetraces of painting placed un<strong>de</strong>r discussion by thatartist in their photographs.1O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil


XXXII Colóquio <strong>CBHA</strong> 2012 - Direções e Sentidos da História da ArteKeywords: <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>. Landscape. Pictorial space.Distance.Diferentes formas <strong>de</strong> perceber o mundo po<strong>de</strong>memergir da experiência com a pintura, como é o caso doartista ca<strong>na</strong><strong>de</strong>nse, <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>, o qual toma imagens da históriada arte para alicerçar sua prática fotográfica em termosconceituais e formais. Na obra <strong>de</strong> <strong>Wall</strong>, a pintura e seusgêneros encampam formas <strong>de</strong> pensar estruturas e sentidospara a fotografia, como estratégias <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong>articulações foto-pictóricas.Assim, o presente texto aborda as landscapes oucityscapes produzidas por <strong>Wall</strong>, através da lógica <strong>de</strong> umpensamento da paisagem como amplitu<strong>de</strong> que nos distanciae, ao mesmo tempo, nos coloca diante da escolha ou daprodução <strong>de</strong> um fenômeno <strong>de</strong> passagem, fixado em umaexperiência <strong>de</strong> visada.Uma série <strong>de</strong> imagens da história da arte persegueas produções <strong>de</strong> <strong>Wall</strong> em âmbitos distintos, por vezes,fornecendo a estrutura compositiva às fotografias ouservindo como disparadores conceituais para a sua obra.Especificamente no caso das paisagens, essa últimacolocação po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciada por meio da abordagemque o artista faz da pintura, propondo esta como uma forma<strong>de</strong> percepção do espaço, on<strong>de</strong> diferentes pinturas po<strong>de</strong>mproporcio<strong>na</strong>r distintas experiências espaciais. Nas palavrasdo próprio artista, em entrevista a Martin Schwan<strong>de</strong>r:Eu tenho me interessado por outros tipos <strong>de</strong> imagem, e, outrostipos <strong>de</strong> espaço pictórico. Tenho feito muitas fotos com diferentes804


XXXII Colóquio <strong>CBHA</strong> 2012 - Direções e Sentidos da História da Artesão incluídas em um ponto <strong>de</strong> vista mais alargado, com<strong>de</strong>staque para a atmosfera ou mesmo para a relação dasmesmas com a amplitu<strong>de</strong> da imagem. O amplo espaço nosafasta das ações propriamente ditas, ao mesmo tempo emque impõem-se como presença <strong>de</strong> primeiro plano. Essaconstatação po<strong>de</strong> ser aproximada ao pensamento que AnneCauquelin 3 elabora acerca da noção <strong>de</strong> perspectiva noâmbito da origem da pintura <strong>de</strong> paisagem. A autora comentasobre a passagem da istoria a um segundo plano, sendo ocerne <strong>de</strong>sta tipologia <strong>de</strong> imagens a busca por aclarar planose distâncias, ambas características da constituição doconceito <strong>de</strong> perspectiva. Sendo assim, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> perspectiva,corrobora para o pensamento da paisagem como medida edistância <strong>na</strong>s obras <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>. Ainda, a construção visualem fuga no espaço <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do do recorte po<strong>de</strong> ser pensadacomo constituinte da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> espaço pictórico apresentadapelo referido artista.No contexto da experiência espacial proporcio<strong>na</strong>dapela pintura, voltaremos o olhar para A Vista <strong>de</strong> Delf (1660-1661) <strong>de</strong> Johannes Vermeer, colocada aqui como ponto <strong>de</strong>referência para as fotografias <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>. Através <strong>de</strong> talimagem, o acentuado distanciamento dado pela relaçãoentre as perso<strong>na</strong>gens e o ambiente on<strong>de</strong> estão inseridas,propiciado pelo ponto <strong>de</strong> vista que se amplia para umdistanciamento ou mesmo uma imersão <strong>de</strong>stas ce<strong>na</strong>s noseu espaço <strong>de</strong> acontecimento, po<strong>de</strong>m emprestar à <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>a lógica para a construção <strong>de</strong> suas imagens. Essas figurassão localização, pontuação, nos remetendo à uma possível3CAUQUELIN (2007, p. 81-82).806


A <strong>Paisagem</strong>, <strong>Medida</strong> e <strong>Distância</strong> <strong>na</strong> <strong>Obra</strong> <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong> - Fer<strong>na</strong>nda Bulegon Gassenrememoração da experiência espacial. No interior <strong>de</strong> suaprática, <strong>Wall</strong> abriga-se <strong>na</strong> articulação presente, sobretudo,<strong>na</strong> forma como se dá a relação entre as perso<strong>na</strong>gens e oespaço amplo que enquadra <strong>na</strong>s suas fotografias. (Figuras1 e 2)Figura 1 - Johannes Vermeer, A Vista <strong>de</strong> Delf (1660-1661)Em The Old Prision (1987), no interior <strong>de</strong> um recortepanorâmico, a perso<strong>na</strong>gem encontra-se submersa noespaço, <strong>de</strong>vido a sua dimensão e isolamento em umaampla paisagem. Tal enquadramento coloca a referidaperso<strong>na</strong>gem <strong>de</strong> costas observando aquilo que po<strong>de</strong>ria serconsi<strong>de</strong>rado um segundo plano da paisagem. Os planos807


XXXII Colóquio <strong>CBHA</strong> 2012 - Direções e Sentidos da História da ArteFigura 2 - <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>, The Old Prision (1987)distintos que formam a imagem estão divididos por umrio que separa um lugar mais vazio, on<strong>de</strong> localiza-se aperso<strong>na</strong>gem, <strong>de</strong> outra parte habitada da cida<strong>de</strong>, para on<strong>de</strong>ela dirige seu olhar. Esse recorte nos dispõe, em um duplojogo, entre a paisagem total que vemos e a paisagem vistapela perso<strong>na</strong>gem, proporcio<strong>na</strong>ndo uma espécie <strong>de</strong> visãoem abismo em um mesmo plano <strong>de</strong> imagem. Aqui, po<strong>de</strong>-serecorrer à seguinte colocação <strong>de</strong> Cauquelin, 4 on<strong>de</strong> a autoraaponta um importante recurso da paisagem, o da:“[...] focalização, dispersão e, novamente concentração; a obra éa visão <strong>de</strong> um conjunto or<strong>de</strong><strong>na</strong>dor das categorias <strong>de</strong> espaço e <strong>de</strong> tempo”.Ainda, sobre a tradição da pintura, a produção holan<strong>de</strong>sado século XVII po<strong>de</strong> apresentar outro interessante elemento<strong>de</strong> comparação com a forma <strong>de</strong> elaboração do recorte queé feito por <strong>Wall</strong> <strong>na</strong> imagem comentada anteriormente. Tal4CAUQUELIN (2007, p. 12).808


A <strong>Paisagem</strong>, <strong>Medida</strong> e <strong>Distância</strong> <strong>na</strong> <strong>Obra</strong> <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong> - Fer<strong>na</strong>nda Bulegon Gassenelemento é apontado por Svetla<strong>na</strong> Alpers, 5 quando a autoradiscorre sobre uma série <strong>de</strong> formatos adotados pelos pintorese gravuristas holan<strong>de</strong>ses, para representação das vistas dacida<strong>de</strong>, indicando o perfil como um dos mais relevantes,conforme segue:Uma <strong>de</strong>las é a vista <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perfil – no caso dascida<strong>de</strong>s holan<strong>de</strong>sas, muitas vezes vistas do outro lado <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong>água, como no caso da Vista <strong>de</strong> Nijmegen ou <strong>na</strong> vista <strong>de</strong> Hendrik Vroom(1615) do recém construído Portal <strong>de</strong> Harleen em Amsterdã. Esse é oformato usado por Esias van <strong>de</strong> Vel<strong>de</strong> e, mais tar<strong>de</strong>, por Vermeer.Nesse âmbito, é interessante pensar no elemento<strong>na</strong>tural, o rio ou o mar, que, integrante da composição <strong>de</strong>uma paisagem, implica a interposição <strong>de</strong> uma barreira <strong>de</strong>distância e medida sem altura, sem espessura, da or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> um aprofundamento do ponto <strong>de</strong> vista. Entretanto, nãose trata <strong>de</strong> um espaço intransponível, mas sim <strong>de</strong> um dadovisual que, em sua horizontalida<strong>de</strong>, prolonga a perspectiva.Sendo assim, a pintura A Vista <strong>de</strong> Delf, <strong>de</strong> Vermeer, nosfornece dados para uma justaposição em termos estruturaiscom as fotografias <strong>de</strong> <strong>Wall</strong>. Enfatizando a distância <strong>de</strong> ponto<strong>de</strong> vista, Vermeer retrata um lugar afastado, <strong>de</strong> camadascoladas, mas que apresentam uma sucessão <strong>de</strong> espaços<strong>de</strong> i<strong>na</strong>cessibilida<strong>de</strong> no recorte, para on<strong>de</strong> as perso<strong>na</strong>gensdirigem sua visada. Devido à hierarquia <strong>de</strong> proporções nointerior da pintura, a paisagem surge como que subjugandoa figura huma<strong>na</strong> em sua pequenez. Desse modo, po<strong>de</strong>seafirmar que <strong>Wall</strong> acio<strong>na</strong> essa tipologia <strong>de</strong> experiênciaespacial em suas paisagens, por meio dos gran<strong>de</strong>s5ALPERS (1999, p. 295).809


XXXII Colóquio <strong>CBHA</strong> 2012 - Direções e Sentidos da História da Arteplanos e panorâmicas para a produção <strong>de</strong> tais imagens.Suas perso<strong>na</strong>gens, além <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rem dimensão peloafastamento, não expressam dramaticida<strong>de</strong>, traços quepo<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>rivações <strong>de</strong> sua experiênciacom as pinturas <strong>de</strong> paisagem, como a <strong>de</strong> Vermeer. Tantoas imagens <strong>de</strong> Vermeer quanto as <strong>de</strong> <strong>Wall</strong> nos fornecemdados para pensarmos o impacto da paisagem <strong>na</strong>s figurasque a habitam.As ações representadas pelas perso<strong>na</strong>gens dasfotografias <strong>de</strong> <strong>Wall</strong>, em certa medida, passivas, po<strong>de</strong>m serpercebidas por distintas perspectivas. Em termos gerais,o que constitui suas paisagens são amplas tomadas<strong>de</strong> espaços <strong>de</strong>s<strong>na</strong>turalizados pela arquitetura ou pelopaisagismo, elementos que po<strong>de</strong>m ser relacio<strong>na</strong>dos ànoção <strong>de</strong> perspectiva pelas suas formas <strong>de</strong> estruturação.Nessa atmosfera, as figuras parecem vagar em seusambientes cotidianos, executando ativida<strong>de</strong>s relativas aosespaços específicos on<strong>de</strong> estão inseridas. Em The JewishCemetery (1980) ou em The Holocaust Memorial in theJewish Cemetery (1987), as perso<strong>na</strong>gens visitam e ren<strong>de</strong>mhome<strong>na</strong>gem àquilo que simboliza a anterior presença <strong>de</strong>seus entes queridos. O local aqui já si<strong>na</strong>liza um dado <strong>de</strong>distância. Em ambas as imagens não são explicitadas açõesintensas por parte das perso<strong>na</strong>gens no interior das ce<strong>na</strong>s,pois elas respeitam gestos mínimos. Dadas as ativida<strong>de</strong>spróprias ao lugar on<strong>de</strong> se encontram, os atores <strong>de</strong>ssasrepresentações, para além <strong>de</strong> sua disposição no espaçoda fotografia, <strong>de</strong>marcam o lugar <strong>de</strong> um encontro social.Entretanto, a distância que se evi<strong>de</strong>ncia <strong>na</strong> construção da810


A <strong>Paisagem</strong>, <strong>Medida</strong> e <strong>Distância</strong> <strong>na</strong> <strong>Obra</strong> <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong> - Fer<strong>na</strong>nda Bulegon Gassenimagem dilui essas figuras, em um espaço social afastadopelo ponto <strong>de</strong> vista que nos é dado. Nas palavras <strong>de</strong> <strong>Wall</strong>:Para mim, então, a paisagem como gênero está envolvida comfazer visível a distância que <strong>de</strong>vemos manter entre nós, a fim <strong>de</strong> quepossamos reconhecer uns aos outros, e que, sob condições que variamconstantemente, parecemos estar. É só a uma certa distância (e <strong>de</strong> umcerto ângulo) que po<strong>de</strong>mos reconhecer o caráter da vida comum doindivíduo [...]. 6Com relação à perso<strong>na</strong>gens isoladas, mesmoquando <strong>Wall</strong> coloca a figura huma<strong>na</strong> no primeiro plano pelanomeação da fotografia, como no caso <strong>de</strong> A Villager fromAricakõyu arriving in Mahmutbey – Istambul, September(1997) o espaço amplo da paisagem nos direcio<strong>na</strong>, pelaperspectiva, ao que está no segundo plano, à imensidãoda paisagem. Tal <strong>de</strong>slocamento coloca em questão asreferências <strong>de</strong> paisagem, como espaço pictórico dacontemplação, do aprazível, apresentando o contextoda invasão arquitetônica neste golpe <strong>de</strong> vista. De formadistinta, a tensão entre a lógica do dispositivo paisagem edo contexto <strong>de</strong> execução das imagens está presente emThe Crooked Path (1991). Nessa imagem não há figuraçãoaparente, ela apresenta ape<strong>na</strong>s um caminho <strong>de</strong>senhadopelo andar sobre o gramado, em uma extensão ver<strong>de</strong> emprimeiro plano, e, ao fundo, prédios <strong>de</strong> fábrica. Há umatensão apresentada <strong>na</strong> sobreposição dos espaços <strong>na</strong>contemporaneida<strong>de</strong>, o da <strong>na</strong>tureza e o do aparato industrial,6Tradução nossa: “To me, then, landscape as a genre is involved with making visibledistance we must maintain between ourselves in or<strong>de</strong>r that we may recognize each otherof what, un<strong>de</strong>r constantly varying conditions, we appear to be. It is only at a certaindistance (and from certain angle) that we can recognize the character of the commu<strong>na</strong>llife of the individual [...]”. cf: SCHWANDER (2003, p. 145).811


XXXII Colóquio <strong>CBHA</strong> 2012 - Direções e Sentidos da História da Arteos quais compõem o nosso espaço <strong>de</strong> assentamento.(Figura 3)A aproximação da paisagem e da <strong>na</strong>tureza se mostra<strong>na</strong> linha construída pelo andar dos operários das fábricasFigura 3 - <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>, The Crooked Path (1991).que, em uma espécie <strong>de</strong> vestígio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência, marcano espaço ver<strong>de</strong> um traço <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio das roti<strong>na</strong>s <strong>de</strong> entradae saída <strong>de</strong> seus locais <strong>de</strong> trabalho. Mesmo não figurandonenhuma perso<strong>na</strong>gem nesta imagem, o registro <strong>de</strong> umtrajeto ou <strong>de</strong> um lugar <strong>de</strong> passagem coloca em evidênciauma presença, <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> resistência sutilmenteexpressa <strong>na</strong> configuração <strong>de</strong> uma paisagem fotografada.Em termos gerais, as paisagens <strong>de</strong> <strong>Wall</strong> nos colocamem uma experiência intercambiante entre o impacto da812


A <strong>Paisagem</strong>, <strong>Medida</strong> e <strong>Distância</strong> <strong>na</strong> <strong>Obra</strong> <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong> - Fer<strong>na</strong>nda Bulegon Gassenrepresentação e aquilo que nos é dado <strong>na</strong> experiênciacom o mundo. Retor<strong>na</strong>ndo a obra The Old Prision, o artistaconstrói uma fotografia em gran<strong>de</strong> escala e <strong>de</strong> um ponto<strong>de</strong> vista possivelmente diverso daquele que teríamos <strong>na</strong>experiência real do espaço, o que nos proporcio<strong>na</strong> umaampliação do campo <strong>de</strong> visão. Apesar <strong>de</strong> <strong>Wall</strong> proporcio<strong>na</strong>rum modo <strong>de</strong> ver apoiado <strong>na</strong> estrutura pictórica, as suasfotografias instituem um ponto <strong>de</strong> crise <strong>na</strong> visão doobservador. Este ponto <strong>de</strong> crise localiza-se numa sutilpassagem, entre o espaço da representação paisagísticae esses lugares do mundo contemporâneo paradoxais <strong>na</strong>sua relação com a <strong>na</strong>tureza e paradoxais em seus usoscomo espaços sociais.Assim, a medida e o afastamento <strong>na</strong> obra <strong>de</strong> <strong>Wall</strong>po<strong>de</strong>m adquirir um sentido que vai além <strong>de</strong> uma experiênciacom a representação perspectiva, um sentido que resi<strong>de</strong>neste ruído presente <strong>na</strong> imagem. As fotografias <strong>de</strong> <strong>Wall</strong>constituem objetos para um embate com esse senso <strong>de</strong>distância que a imagem proporcio<strong>na</strong>, jogando com umparadoxo estabelecido pelo enfrentamento com um quadroem gran<strong>de</strong> escala, o qual se impõem ao observador.Segundo Jean-François Chevrier:O efeito <strong>de</strong> distanciamento do conteúdo <strong>de</strong>scritivo resultanteestá compensado pela intrusão da imagem luminosa no espaço real darecepção. O lugar reservado (supostamente sagrado) da contemplaçãoestética se vê invadido, mas também cheio ou qualificado, pelo exteriorda ce<strong>na</strong> social. 77Tradução nossa: “El efecto <strong>de</strong> alejamiento <strong>de</strong>l contenido <strong>de</strong>scriptivo resultante estácompensado por la intrusión <strong>de</strong> la imagen luminosa en el espacio real <strong>de</strong> su recepción.El lugar reservado (supostamente sagrado) <strong>de</strong> la contemplación estética se ve invadido,pero también lle<strong>na</strong>do o calificado, por el exterior <strong>de</strong> la esce<strong>na</strong> social. CHEVRIER (2006,p. 164).813


XXXII Colóquio <strong>CBHA</strong> 2012 - Direções e Sentidos da História da ArteNesse sentido, <strong>Wall</strong> introduz o pensamento dapaisagem como uma forma <strong>de</strong> elaboração visual que nãotoma como mo<strong>de</strong>lo o ser humano, mas talvez sim a suamedida. Todavia, essa medida po<strong>de</strong>, por vezes, tor<strong>na</strong>r-se omeio pelo qual a imagem nos <strong>de</strong>sloca do lugar comum dapaisagem ou <strong>de</strong> nossa experiência <strong>de</strong> olhar, para dar a verdistância.A construção imagética embasada em uma experiênciaespacial, inter<strong>na</strong> à obra, a ultrapassa em sua apresentação.Em suas paisagens, o espectador é colocado diante <strong>de</strong>uma imagem geralmente maior que ele mesmo e nesteencontro, há um dado <strong>de</strong> distanciamento concentrado <strong>na</strong>sproporções percebidas <strong>na</strong> experiência com a imagem.Nesta perspectiva, aquele que vê a imagem é colocadoem um jogo aproximado ao da construção conceitualda fotografia, a qual constitui-se por uma abordagem doafastamento próprio a esta tipologia <strong>de</strong> imagens.As paisagens <strong>de</strong> <strong>Wall</strong> estão carregadas <strong>de</strong> um senso<strong>de</strong> distância, sendo que a paisagem permite o afastamento,no sentido <strong>de</strong> tomar distância <strong>de</strong> uma presença imediata <strong>de</strong>figuras ou perso<strong>na</strong>gens, ao mesmo tempo em que po<strong>de</strong>seperceber essa presença rarefeita no espaço social. Damesma forma, po<strong>de</strong>-se apontar que Vermeer, <strong>na</strong> sua vistada cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Delf, presentifica uma série <strong>de</strong> atores sociais,os quais, absortos em seu cotidiano, estão dissipados emmeio à ampla dimensão arquitetônica representada, duasdimensões <strong>de</strong> um mesmo ambiente cortadas por um rio.Nessa via, a paisagem po<strong>de</strong> ser entendida atravésda diluição da noção <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> importância em um814


A <strong>Paisagem</strong>, <strong>Medida</strong> e <strong>Distância</strong> <strong>na</strong> <strong>Obra</strong> <strong>de</strong> <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong> - Fer<strong>na</strong>nda Bulegon Gassenvasto espaço. Diante da mesma, a atenção <strong>de</strong>slocase<strong>de</strong> elementos ou assuntos específicos, para o lugaraproximado <strong>de</strong> nossa experiência com o espaço aberto.Esta experiência é reconstruída pela via <strong>de</strong> uma implicaçãoilusória e poética, da or<strong>de</strong>m da paisagem como construção.Diferentemente do espaço <strong>na</strong>tural, a paisagem comorepresentação ou apresentação, implica uma operação <strong>de</strong>escolha e um modo <strong>de</strong> ver colecio<strong>na</strong>do ao sabor do tempoe <strong>de</strong> nossas experiências com a imagem.Referências Bibliográficas:ALPERS, Svetla<strong>na</strong>. A Arte <strong>de</strong> Descrever: a arte holan<strong>de</strong>sa no século XVII. São Paulo:Editora da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1999.CAUQUELIN, Anne. A Invenção da <strong>Paisagem</strong>. São Paulo: Martins Fontes, 2007.CHEVRIER, Jean-François. La Fotografía Entre las Bellas Artes y los Medios <strong>de</strong>Comunicación. Barcelo<strong>na</strong>: Editorial Gustavo Gili, 2006.SCHWANDER, Martin. Restoration (interview with <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>). CHEVRIER, Jean-François; DUVE, Thierry <strong>de</strong> (orgs). <strong>Jeff</strong> <strong>Wall</strong>. Nova York : Phaidon, 2003.815

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