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Eles-usam-uma-estratégia-de-medo-Proteção-do-direito-ao-protesto-no-Brasil

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“ <strong>Eles</strong> <strong>usam</strong><strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong><strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>”<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong><strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>


A Anistia Internacional é um movimento mundial com mais <strong>de</strong> 3 milhões <strong>de</strong> apoia<strong>do</strong>res, membrose ativistas, em mais <strong>de</strong> 150 países e territórios, que fazem campanhas para acabar com osmais graves abusos <strong>do</strong>s <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s.Nossa visão é <strong>de</strong> que todas as pessoas <strong>de</strong>sfrutem <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s <strong>direito</strong>s consagra<strong>do</strong>s na DeclaraçãoUniversal <strong>do</strong>s Direitos H<strong>uma</strong><strong>no</strong>s e em outras <strong>no</strong>rmas internacionais <strong>de</strong> <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s. Somosin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> quaisquer gover<strong>no</strong>s, i<strong>de</strong>ologias políticas, interesses econômicos ou religiões,sen<strong>do</strong> financia<strong>do</strong>s, sobretu<strong>do</strong>, por <strong>no</strong>ssos membros e por <strong>do</strong>ações privadas.Publica<strong>do</strong> originalmente em 2014 porAmnesty International LtdPeter Benenson House1 Easton StreetLon<strong>do</strong>n WC1X 0DWUnited King<strong>do</strong>m© Amnesty International 2014Índice: AMR 19/005/2014 Brazilian PortugueseIdioma original: InglêsImpresso por Anistia InternacionalSecretaria<strong>do</strong> Internacional, Rei<strong>no</strong> Uni<strong>do</strong>To<strong>do</strong>s os <strong>direito</strong>s reserva<strong>do</strong>s. Esta publicação possui<strong>direito</strong>s autorais, mas po<strong>de</strong> ser reproduzida livremente,por quaisquer meios, para fins educacionais, <strong>de</strong> ativismoe <strong>de</strong> campanhas, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser comercializada.Pe<strong>de</strong>-se que tais usos sejam informa<strong>do</strong>s <strong>ao</strong>s <strong>de</strong>tentores <strong>do</strong>s<strong>direito</strong>s para que sua divulgação possa ser acompanhada.Para a reprodução <strong>de</strong>ste conteú<strong>do</strong> em quaisquer outrascircunstâncias, ou para sua reutilização em outraspublicações, bem como para tradução e adaptação,<strong>uma</strong> autorização prévia e por escrito <strong>de</strong>ve ser obtida <strong>do</strong>seditores, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> haver a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algum pagamento.Para solicitar permissão ou para outras informações,contate-<strong>no</strong>s em: copyright@amnesty.orgFoto da capa: Policiais militares durante manifestação emSão Paulo, 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013. Des<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013,em várias ocasiões, a polícia militar usou força excessivapara respon<strong>de</strong>r <strong>ao</strong>s <strong>protesto</strong>s.Credito: © Mídia Ninjaamnesty.org


“Eu tinha orgulho <strong>de</strong> participar <strong>do</strong>s <strong>protesto</strong>s, mas quan<strong>do</strong> fui preso,para mim acabou. <strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>. Não quero maispassar por isso. Tive crise <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e não consegui arr<strong>uma</strong>r emprego<strong>de</strong>pois disso: o emprega<strong>do</strong>r pe<strong>de</strong> antece<strong>de</strong>nte criminal. Eu fazia grafite,mas agora parou. Tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u.”Humberto Caporalli, 24 a<strong>no</strong>s, grafiteiro, enquadra<strong>do</strong> na Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional após participar <strong>de</strong><strong>uma</strong> manifestação em São Paulo, <strong>no</strong> dia 7 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2013, por melhoras na educação.INTRODUÇÃONas últimas semanas, milhares <strong>de</strong> manifestantes saíram às ruas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, enquanto o país seprepara para receber a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> futebol. Os <strong>protesto</strong>s <strong>de</strong> agora ecoam as gran<strong>de</strong>s manifestações<strong>do</strong> a<strong>no</strong> passa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> os brasileiros expressaram sua insatisfação com o aumentoda tarifa <strong>do</strong> transporte, com os gastos para a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> e com a carência <strong>de</strong> investimentosem serviços públicos. Os <strong>protesto</strong>s <strong>de</strong> 2013, que começaram em São Paulo <strong>no</strong> mês <strong>de</strong> junho, adquiriram<strong>uma</strong> dimensão sem prece<strong>de</strong>ntes, quan<strong>do</strong> centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas participaram<strong>de</strong> extensas manifestações em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o país.A reação da polícia à onda <strong>de</strong> <strong>protesto</strong>s <strong>de</strong> 2013 foi violenta e abusiva em muitas ocasiões. A políciamilitar usou gás lacrimogêneo <strong>de</strong> forma indiscriminada contra os manifestantes, inclusive<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um hospital, atirou com balas <strong>de</strong> borracha em indivíduos que não apresentavamqualquer ameaça e espancou as pessoas com cassetetes. Centenas ficaram feridas, entre elasum fotógrafo que per<strong>de</strong>u um olho <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser atingi<strong>do</strong> por <strong>uma</strong> bala <strong>de</strong> borracha. Outrascentenas foram encurraladas e <strong>de</strong>tidas, alg<strong>uma</strong>s com base em leis <strong>de</strong> combate <strong>ao</strong> crime organiza<strong>do</strong>,sem a me<strong>no</strong>r indicação <strong>de</strong> que estivessem envolvidas com ativida<strong>de</strong>s crimi<strong>no</strong>sas.As <strong>de</strong>ficiências que marcam a prática policial, sobretu<strong>do</strong> a formação ina<strong>de</strong>quada e a falta <strong>de</strong>prestação <strong>de</strong> contas, levantam sérias preocupações <strong>de</strong> que o <strong>direito</strong> <strong>de</strong> protestar seja gravementecomprometi<strong>do</strong> durante a realização <strong>do</strong> Mundial. O fato <strong>de</strong> o país planejar contar, em alg<strong>uma</strong>scida<strong>de</strong>s, com as forças armadas, cujos antece<strong>de</strong>ntes <strong>no</strong> cumprimento <strong>de</strong> funções policiais sãoreprováveis, agrava essas preocupações.


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>Polícia militar encurrala manifestantes pacíficos na escadaria da Câmara <strong>de</strong> Verea<strong>do</strong>res, na Cinelândia, Rio <strong>de</strong> Janeiro,15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2013. Depois disso, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pessoas que exerciam pacificamente seu <strong>direito</strong> <strong>de</strong> protestar foram<strong>de</strong>tidas. © Luiz BaltarRecentemente, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s fe<strong>de</strong>rais e estaduaiscomeçaram a propor leis mais severasque conferem à polícia e às autorida<strong>de</strong>sjudiciais maiores po<strong>de</strong>res para reprimir os<strong>protesto</strong>s. Em fevereiro <strong>de</strong> 2014, a morteaci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> um cinegrafista, causada porfogos <strong>de</strong> artifício dispara<strong>do</strong>s por um manifestante,aju<strong>do</strong>u a alimentar esse ímpeto,enquanto as autorida<strong>de</strong>s se aproveitavam dacontrovérsia criada em tor<strong>no</strong> da morte parapressionar por <strong>uma</strong> resposta mais linha dura.Embora a gran<strong>de</strong> maioria das pessoas quesaiu às ruas <strong>no</strong> último a<strong>no</strong> tenha manifesta<strong>do</strong>suas opiniões <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> pacífico, ocorreramtambém alguns episódios <strong>de</strong> violênciapor parte <strong>de</strong> certos grupos e indivíduosque <strong>de</strong>struíram bens, provocaram incêndios,impediram o trânsito e entraram em choquecom a polícia.Atualmente, tramitam <strong>no</strong> Congresso Nacionaldiversas propostas legislativas que po<strong>de</strong>rãoser usadas para restringir o <strong>direito</strong> <strong>de</strong>protestar. Entre estas, um <strong>no</strong>vo projeto <strong>de</strong> leiantiterrorista que contém <strong>uma</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>terrorismo tão ampla que, entre outras coisas,incluiria em seu escopo o da<strong>no</strong> à proprieda<strong>de</strong>ou a serviços essenciais, causan<strong>do</strong> temores <strong>de</strong>que possa ser usa<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> contramanifestantes. Uma série <strong>de</strong> outras propostasvisam diretamente a realização <strong>de</strong> <strong>protesto</strong>s,inclusive proibin<strong>do</strong> o uso <strong>de</strong> máscaras durantemanifestações e requeren<strong>do</strong> que os organiza<strong>do</strong>res<strong>no</strong>tifiquem as autorida<strong>de</strong>s com antecedênciasobre a realização <strong>de</strong>sses eventos. Porque essa legislação seria necessária, contu<strong>do</strong>,não está claro. O <strong>Brasil</strong> já conta com diversosinstrumentos jurídicos para respon<strong>de</strong>r <strong>ao</strong>vandalismo e <strong>ao</strong>s comportamentos violentos.4


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>O acréscimo <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas leis com tamanha abrangêncianão serve <strong>ao</strong>s <strong>direito</strong>s individuais nem <strong>ao</strong>sinteresses da socieda<strong>de</strong> brasileira com um to<strong>do</strong>.A Anistia Internacional entrevistou manifestantes,advoga<strong>do</strong>s, jornalistas e <strong>de</strong>fensores <strong>do</strong>s<strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s sobre os <strong>protesto</strong>s que têmaconteci<strong>do</strong> <strong>no</strong> último a<strong>no</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Também verificamosgravações em ví<strong>de</strong>o, examinamos registrosda polícia e analisamos <strong>do</strong>cumentos governamentais.Nosso trabalho <strong>de</strong> acompanhamento dareação policial às manifestações públicas faz parte<strong>de</strong> <strong>uma</strong> iniciativa mais ampla e <strong>de</strong> longo prazoque visa a monitorar as práticas policiais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Durante a Copa, a atenção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> estarávoltada para o <strong>Brasil</strong>. Os brasileiros quese sentem insatisfeitos com o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>seu gover<strong>no</strong> em termos <strong>de</strong> mudanças sociais ediminuição das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rarque esta seja <strong>uma</strong> boa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sairàs ruas. Para a Anistia Internacional, a Copa<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> será um momento crucial para testarse a polícia e outras autorida<strong>de</strong>s públicas<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> realmente enten<strong>de</strong>m e levam a sériosua obrigação <strong>de</strong> respeitar o <strong>direito</strong> à liberda<strong>de</strong><strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> reunião pacífica. Como Esta<strong>do</strong>parte<strong>do</strong> Pacto Internacional sobre DireitosCivis e Políticos, ratifica<strong>do</strong> em 1992, o <strong>Brasil</strong><strong>de</strong>ve garantir que indivíduos e grupos sejamcapazes <strong>de</strong> participar livremente <strong>de</strong> manifestaçõespúblicas.Manifestantes fogem <strong>de</strong>pois que a polícia militar fez uso indiscrimina<strong>do</strong> <strong>de</strong> gás lacrimogêneo durante um <strong>protesto</strong> em SãoPaulo, 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013. © Mídia Ninja5


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>USO EXCESSIVO DA FORÇANo último a<strong>no</strong>, centenas <strong>de</strong> manifestantesforam agredi<strong>do</strong>s enquanto participavam <strong>de</strong>manifestações públicas <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiroe em São Paulo, quase sempre pela políciamilitar. Informações abundantes fornecidaspor participantes e testemunhas das manifestaçõesindicam que a polícia usou forçaexcessiva para respon<strong>de</strong>r <strong>ao</strong>s <strong>protesto</strong>s,inclusive armas “me<strong>no</strong>s letais”, principalmentegás lacrimogêneo, spray <strong>de</strong> pimenta,bombas <strong>de</strong> efeito moral e balas <strong>de</strong> plásticoou borracha 1 .Em pelo me<strong>no</strong>s um <strong>protesto</strong>, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong>Janeiro em 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013, há indíciosconfiáveis <strong>de</strong> que a polícia usou armas <strong>de</strong>fogo para dispersar os manifestantes.Devi<strong>do</strong> a <strong>uma</strong> formação precária 2 e à falta<strong>de</strong> regulamentação 3 , os policiais brasileirosàs vezes utilizam armas “me<strong>no</strong>s letais” <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> impróprio. Por exemplo, em pelo me<strong>no</strong>strês ocasiões, em junho e julho <strong>de</strong> 2013<strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, a polícia usou gás lacrimogêneocontra manifestantes em locais fecha<strong>do</strong>s,como hospitais, estações <strong>de</strong> metrôe restaurantes. Zoel Salim, diretor da Casa<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pinheiro Macha<strong>do</strong>, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro,relatou à Anistia Internacional um <strong>de</strong>ssesinci<strong>de</strong>ntes, ocorri<strong>do</strong> <strong>no</strong> dia 11 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 2013. Ele contou que os policiais militares“atiraram bombas <strong>de</strong> gás <strong>no</strong> corre<strong>do</strong>r daemergência <strong>do</strong> hospital”, fazen<strong>do</strong> que o gás“se espalhasse por to<strong>do</strong> o hospital”.Policial militar lança spray <strong>de</strong> pimenta contra manifestantes em São Paulo, 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013. © Mídia Ninja6


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>As <strong>no</strong>rmas internacionais <strong>de</strong> <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s<strong>de</strong> cumprimento obrigatório pelo<strong>Brasil</strong> requerem que o gover<strong>no</strong> respeiteo <strong>direito</strong> à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong>reunião, e que responda <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> proporcionala qualquer comportamentoilegal durante manifestações. As <strong>no</strong>rmasinternacionais que governam o usoda força e <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo <strong>de</strong>terminamexplicitamente, entre outras coisas, queos policiais e outros agentes responsáveispela aplicação da lei somente po<strong>de</strong>rãousar a força quan<strong>do</strong> estritamentenecessário e na medida exigida para o<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas funções 4 . Antes <strong>de</strong>recorrer <strong>ao</strong> uso da força, esses funcionários<strong>de</strong>verão empregar, tanto quanto possível,meios não violentos. Caso o uso daforça seja inevitável, eles <strong>de</strong>verão usá-la<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> conti<strong>do</strong>. A<strong>de</strong>mais, não <strong>de</strong>verãousar armas <strong>de</strong> fogo contra pessoasa me<strong>no</strong>s que seja em legítima <strong>de</strong>fesa ouna <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> outras pessoas contra ameaçaiminente <strong>de</strong> morte ou lesão grave.▲Manifestante feri<strong>do</strong> durante <strong>protesto</strong> em São Paulo, 20 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 2013. © Mídia Ninja▲Mulher ferida por bala <strong>de</strong> borracha disparada pela polícia militardurante <strong>protesto</strong> em São Paulo, 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013.© Mídia NinjaEm vista <strong>de</strong> um histórico reprovável das forçasmilitares <strong>no</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> funções policiais, aspreocupações da Anistia Internacional sobre o usoexcessivo da força são exacerbadas pelas informações<strong>de</strong> que o efetivo militar será usa<strong>do</strong> nas cida<strong>de</strong>sbrasileiras que sediarão os jogos da Copa. Deve-seenfatizar que forças militares <strong>no</strong> cumprimento <strong>de</strong>funções <strong>de</strong> aplicação da lei <strong>de</strong>vem acatar as mesmas<strong>no</strong>rmas jurídicas internacionais que a força policialregular, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> sujeitar-se <strong>ao</strong>s mesmos mecanismos<strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> contas.▲Jornalista feri<strong>do</strong> por bala <strong>de</strong> borracha disparada pela polícia militardurante <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2013.© Luiz Baltar/Imagens <strong>do</strong> Povo7


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>SÉRGIO ANDRADE DA SILVA, FOTÓGRAFO, SÃO PAULOSérgio da Silva, 32 a<strong>no</strong>s, é fotógrafo profissional. No dia 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013, ele participou<strong>de</strong> <strong>uma</strong> manifestação em São Paulo contra o aumento das passagens <strong>de</strong> ônibus. De acor<strong>do</strong> comtestemunhas oculares e com gravações em ví<strong>de</strong>o verificadas pela Anistia Internacional, a políciausou força excessiva para respon<strong>de</strong>r <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong>.Naquela <strong>no</strong>ite, policiais militares bloquearam <strong>uma</strong> avenida por on<strong>de</strong> os manifestantesplanejavam passar. Sérgio da Silva cobria os <strong>protesto</strong>s nesse local. Posteriormente, ele contou àAnistia Internacional que não presenciou qualquer sinal <strong>de</strong> violência por parte<strong>do</strong>s manifestantes. Descreven<strong>do</strong> a ação da polícia como um “ataque”,Sérgio relatou que os policiais “simplesmente começaram ajogar gás lacrimogêneo e bombas <strong>de</strong> efeito moral, e a atirarcom balas <strong>de</strong> borracha em todas as direções”. Para ele,“pareceu ser um esforço premedita<strong>do</strong> e organiza<strong>do</strong> paraimpedir a marcha <strong>de</strong> prosseguir”. Sérgio também disseà Anistia Internacional que os policiais atiravamcontra transeuntes e repórteres, não apenas contr<strong>ao</strong>s manifestantes.Assim que os policiais começaram a atirar, ele foiatingi<strong>do</strong> <strong>no</strong> olho esquer<strong>do</strong> por <strong>uma</strong> bala <strong>de</strong> borracha.Segun<strong>do</strong> contou à Anistia, a <strong>do</strong>r que sentiu foi in<strong>de</strong>scritível.“Eu senti um impacto, <strong>uma</strong> <strong>do</strong>r terrível <strong>no</strong>olho esquer<strong>do</strong>, que ficou incha<strong>do</strong> na hora, o sangueescorren<strong>do</strong>.”Uma pessoa que assistia a cena levou-o a umhospital público. Apesar <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cirurgia na mesma<strong>no</strong>ite, ele per<strong>de</strong>u o olho, que teve <strong>de</strong> ser substituí<strong>do</strong>por <strong>uma</strong> prótese.Sérgio da Silva, casa<strong>do</strong> e pai <strong>de</strong> <strong>do</strong>is filhos, passoutrês meses sem po<strong>de</strong>r trabalhar. A perda da visão comprometeusua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fotografar, <strong>uma</strong> vez que,agora, ele tem gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para avaliar profundida<strong>de</strong><strong>de</strong> campo, foco e lumi<strong>no</strong>sida<strong>de</strong>. Também ficou difícil selocomover pela cida<strong>de</strong>, principalmente atravessar ruas e usar otransporte público.▲O fotógrafo Sérgio Andra<strong>de</strong> daSilva per<strong>de</strong>u um olho após seratingi<strong>do</strong> por <strong>uma</strong> bala <strong>de</strong> borracha,disparada pela polícia militardurante <strong>uma</strong> manifestaçãoem São Paulo, 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong>2013. © Sérgio Andra<strong>de</strong> da SilvaSérgio da Silva jamais recebeu qualquer explicação ou pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>sculpa oficial, nem oferta <strong>de</strong> compensação por parte das autorida<strong>de</strong>s.Ele e sua família tiveram que arcar com todas as <strong>de</strong>spesas médicas.Sérgio organizou pessoalmente <strong>uma</strong> petição e coletou 45 milassinaturas para pedir o fim <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> balas <strong>de</strong> borracha. Também ingressoucom <strong>uma</strong> ação civil por da<strong>no</strong>s contra o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo.“As autorida<strong>de</strong>s falam sobre as investigações <strong>do</strong> que eles chamam<strong>de</strong> ‘excessos da polícia’ durante os <strong>protesto</strong>s, mas não tornaram públicosos resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssas investigações,” afirmou. “O silêncio<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em resposta <strong>ao</strong> que aconteceu é <strong>uma</strong> segunda forma<strong>de</strong> violência.”8


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>GIULIANA VALLONE, REPÓRTER, SÃO PAULOGiuliana Vallone, 27 a<strong>no</strong>s, é repórter<strong>de</strong> um importante jornal <strong>de</strong> São Paulo.Ela estava entre os muitos jornalistasque cobriam os <strong>protesto</strong>s <strong>no</strong> centroda capital <strong>no</strong> dia 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong>2013, quan<strong>do</strong> foi atingida <strong>no</strong> olho por<strong>uma</strong> bala <strong>de</strong> borracha. Ela afirma queo policial responsável pelo disparo aviu, mirou a arma e atirou contra ela a<strong>uma</strong> distância <strong>de</strong> 20m.“Eu não estava protestan<strong>do</strong>”, contouGiuliana à Anistia Internacional.“Não tinha manifestante confrontan<strong>do</strong>a polícia na rua. Ele simplesmenteapontou a arma para mim e disparou.”No momento em que foi ferida,Giuliana havia para<strong>do</strong> para ajudar umtranseunte que estava perdi<strong>do</strong>. Elanão estava filman<strong>do</strong> nem tiran<strong>do</strong> fotografias.“Eu vi ele miran<strong>do</strong> em mim,mas eu jamais achei que ele fosse atirar…Você não imagina que um carafarda<strong>do</strong>, com <strong>uma</strong> arma, vai atirar nasua cara.”Os médicos disseram que foi ummilagre Giuliana não ter perdi<strong>do</strong> avisão naquele olho, e que os óculosque ela usava provavelmente a protegeram.9


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>No dia 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2014, policiais militares invadiram a recepção <strong>de</strong> um hotel em São Paulo, on<strong>de</strong> manifestantes haviambusca<strong>do</strong> abrigo. <strong>Eles</strong> lançaram bombas <strong>de</strong> gás lacrimogêneo e agrediram os manifestantes com cassetetes, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>muitos <strong>de</strong>les feri<strong>do</strong>s. © Yan BoechatManifestantes dispersam <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> a polícia militar usar gás lacrimogêneo <strong>de</strong> forma indiscriminada durante um <strong>protesto</strong>em São Paulo, 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013. © Mídia Ninja10


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Vinícius DUARTE, ESTUDANTE, SÃO PAULOVinícius Duarte, 27 a<strong>no</strong>s, músico e estudante universitário, foi brutalmenteespanca<strong>do</strong> por policiais militares durante <strong>uma</strong> manifestação em São Paulo<strong>no</strong> dia 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2014. Ele ficou gravemente feri<strong>do</strong>, teve a mandíbulae o nariz quebra<strong>do</strong>s e per<strong>de</strong>u quatro <strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>pois que <strong>do</strong>is policiais militareso golpearam diversas vezes com os cassetetes.Vinícius contou à Anistia Internacional que, após alguns manifestantesagirem <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> violento, a polícia tentou dispersar a manifestaçãousan<strong>do</strong> gás lacrimogêneo e agredin<strong>do</strong> as pessoas. Junto com um grupo <strong>de</strong>manifestantes, Vinícius entrou na recepção <strong>de</strong> um hotel nas proximida<strong>de</strong>spara tentar se proteger <strong>do</strong> gás lacrimogêneo. Conforme relatou à AnistiaInternacional: “Os policiais jogaram bombas a esmo e, <strong>de</strong> repente, a ruaficou empesteada e ninguém conseguia respirar. No <strong>de</strong>sespero, pra conseguirrespirar um pouco, alg<strong>uma</strong>s pessoas pediram pra entrar <strong>no</strong> hotel eos funcionários <strong>no</strong>s receberam n<strong>uma</strong> boa. Lá, nós começamos a socorreruns <strong>ao</strong>s outros. Tinha gente passan<strong>do</strong> mal por causa <strong>do</strong> gás e quem nãoestava ocupa<strong>do</strong> socorren<strong>do</strong> alguém estava sen<strong>do</strong> socorri<strong>do</strong>”.Vinícius afirma que os policiais cercaram o hotel e então a<strong>de</strong>ntraram.Contou que eles não tentaram negociar com os manifestantes, mas invadiramo hotel <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> violento, baten<strong>do</strong> com os cassetetes nas pessoas e atiran<strong>do</strong>com balas <strong>de</strong> borracha, inclusive em quem estava <strong>de</strong>ita<strong>do</strong> <strong>no</strong> chão.Vinícius disse que tentou conversar com os policiais, pedin<strong>do</strong> quetivessem calma. Foi nessa hora que <strong>do</strong>is policiais o atacaram. “Eu gesticuleicom a mão pedin<strong>do</strong> calma. Quan<strong>do</strong> eu fiz isso, <strong>do</strong>is policiaisvieram pra cima <strong>de</strong> mim e começaram a me bater com vários golpes <strong>de</strong>cassetete. Teve <strong>uma</strong> hora que tomei um golpe na cabeça que me fez cair<strong>no</strong> chão, e eles continuaram a me bater. Mesmo eu caí<strong>do</strong> <strong>no</strong> chão sempo<strong>de</strong>r me <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, eles continuaram baten<strong>do</strong> e batiam mais, e nisso euperdi muito sangue, perdi <strong>de</strong>ntes.”Vinícius sofreu várias lesões, mas não recebeu atendimento médicopor mais <strong>de</strong> duas horas. Havia médicos voluntários participan<strong>do</strong> da manifestaçãopara prestar atendimento imediato, mas Vinícius diz que ospoliciais não permitiram que ele fosse atendi<strong>do</strong>. Depois <strong>de</strong> muito tempo,finalmente ele foi leva<strong>do</strong> a um hospital.A polícia abriu um inquérito contra Vinícius por resistência e lesõescorporais. Ele moveu <strong>uma</strong> ação contra os policiais que afirma o teremagredi<strong>do</strong>. A Anistia Internacional não tem conhecimento <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>das investigações.11


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>PRISÕES ARBITRÁRIAS, NEGAÇÃO DE ACESSO ADes<strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2013,centenas <strong>de</strong> pessoas forampresas e interrogadas <strong>no</strong>contexto <strong>do</strong>s <strong>protesto</strong>s. Nagran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s casos, osmanifestantes foram soltossem que fossem acusa<strong>do</strong>sformalmente, alg<strong>uma</strong>s vezes<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> investigações dapolícia civil concluírem queas acusações contra eleseram infundadas. Até o momento,sabe-se <strong>de</strong> apenasum indivíduo que foi con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>por <strong>de</strong>lito relativo acomportamento crimi<strong>no</strong>sodurante os <strong>protesto</strong>s, sen<strong>do</strong>que a acusação contra ele équestionável.Em contravenção às leisbrasileiras e às <strong>no</strong>rmas internacionais,a polícia militarpren<strong>de</strong>u manifestantes mesmosem evidência <strong>de</strong> queestivessem envolvi<strong>do</strong>s emativida<strong>de</strong>s crimi<strong>no</strong>sas, levan<strong>do</strong>-osa <strong>de</strong>legacias <strong>de</strong> políciae <strong>de</strong>ten<strong>do</strong>-os temporariamentepara interrogatório everificação <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntescriminais. 5 Policiais <strong>de</strong>têm manifestante em São Paulo, 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013. Des<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013, emO simples ato <strong>de</strong>carregar ban<strong>de</strong>iras, cartazes,tinta ou vinagre (usa<strong>do</strong> para atenuar os efeitos <strong>do</strong> gás lacrimogêneo) era suficiente para que aspessoas fossem <strong>de</strong>tidas para interrogatório. Embora muitas tenham si<strong>do</strong> soltas em pouco tempo,seus da<strong>do</strong>s e informações pessoais permaneceram com a polícia, fazen<strong>do</strong> que os manifestantese seus advoga<strong>do</strong>s temam que possam vir a ser investiga<strong>do</strong>s futuramente.Outro motivo <strong>de</strong> preocupação é o uso impróprio <strong>de</strong> leis penais severas contra osmanifestantes.Indivíduos que participaram <strong>de</strong> <strong>protesto</strong>s foram presos com base na Lei sobre OrganizaçõesCrimi<strong>no</strong>sas (Lei Nº 12.850, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2013), <strong>uma</strong> lei que tem como alvo o crime organiza<strong>do</strong>.Pessoas que nunca antes haviam se encontra<strong>do</strong>, mas que foram <strong>de</strong>tidas na mesmamanifestação, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> impróprio, passaram a ser investigadas formalmente com base nessalei, por supostamente integrarem <strong>uma</strong> organização crimi<strong>no</strong>sa. De mo<strong>do</strong> semelhante, a AnistiaInternacional tem conhecimento <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s <strong>do</strong>is manifestantes que foram investiga<strong>do</strong>s combase na Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional (Lei Nº 7.170, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1983), <strong>uma</strong> lei que12


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>ASSISTÊNCIA LEGAL E MAU USO DE LEIS AMPLAStambém visa <strong>ao</strong> crime organiza<strong>do</strong>,formulada na épocaem que o país ainda estavasob regime militar. 6Também causa preocupaçãoo fato <strong>de</strong> vários manifestantesterem si<strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>spelo crime <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sacatoa autorida<strong>de</strong>” por afirmaçõesou comentários que fizeramà polícia. Em caso <strong>de</strong> con<strong>de</strong>naçãopor esse <strong>de</strong>lito, a pessoaestá sujeita a <strong>uma</strong> pena<strong>de</strong> seis meses a até <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s<strong>de</strong> prisão. Segun<strong>do</strong> informações,até mesmo advoga<strong>do</strong>sforam presos com base nessalei – embora não tenhamsi<strong>do</strong> objeto <strong>de</strong> investigaçãoformal – <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> serem interroga<strong>do</strong>spela polícia sobreos motivos da <strong>de</strong>tenção <strong>do</strong>smanifestantes. De mo<strong>do</strong> geral,leis <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sacato a autorida<strong>de</strong>”são incompatíveiscom o <strong>direito</strong> à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>expressão. 7Advoga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Pauloe <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro relataram<strong>ao</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res da Anistiavárias ocasiões, a polícia militar <strong>de</strong>teve manifestantes pacíficos em São Paulo. © Mídia NinjaInternacional que, <strong>ao</strong> compareceremàs <strong>de</strong>legacias <strong>de</strong>polícia, tiveram seu acesso <strong>ao</strong>s manifestantes nega<strong>do</strong> em diversas ocasiões. <strong>Eles</strong> contaram aindaque alguns manifestantes <strong>de</strong>ti<strong>do</strong>s foram proibi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> entrar em contato com advoga<strong>do</strong>s e familiarespor várias horas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> presos. Os advoga<strong>do</strong>s também relataram à Anistia Internacionalque sofreram interferência em seu trabalho nas <strong>de</strong>legacias <strong>de</strong> polícia, <strong>ao</strong> tentarem atuar em favor<strong>de</strong> manifestantes presos nas manifestações. Daniel Biral, integrante <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> advoga<strong>do</strong>svoluntários <strong>de</strong> São Paulo que oferece assistência jurídica gratuita a pessoas <strong>de</strong>tidas durante asmanifestações, afirma ter si<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong> por um policial militar durante um <strong>protesto</strong>. Em outr<strong>ao</strong>casião, após visitar um manifestante hospitaliza<strong>do</strong> em São Paulo, em 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2014,ele foi adverti<strong>do</strong> por um indivíduo arma<strong>do</strong> e não i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> para que parasse <strong>de</strong> representarmanifestantes. Segun<strong>do</strong> afirmou, o homem disse: “Aban<strong>do</strong>ne o caso; a polícia está certa. Nãomexa nesse caso. Os loucos estão a solta e com a autorização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, e você sabe que osloucos atiram.”13


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>HUMBERTO CAPORALLI, ARTISTA PLÁSTICO E GRAFITEIRO, SÃO PAULOHumberto Caporalli, 24 a<strong>no</strong>s, participou <strong>de</strong> <strong>uma</strong> manifestação por melhoras na educação, organizadaem apoio <strong>ao</strong>s professores grevistas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>no</strong> dia 7 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2013, emSão Paulo. Quan<strong>do</strong> a manifestação termi<strong>no</strong>u, ele foi preso e enquadra<strong>do</strong> na Lei <strong>de</strong> SegurançaNacional (Lei 7.170/1983).Durante o <strong>protesto</strong>, quan<strong>do</strong> manifestantes e policiais entraram em choque <strong>no</strong> centro <strong>de</strong> São Paulo e<strong>uma</strong> viatura da polícia foi <strong>de</strong>predada, ele tirava fotografias. Quan<strong>do</strong> a manifestação termi<strong>no</strong>u, Humbertoe <strong>uma</strong> amiga se dirigiram a um bar nas proximida<strong>de</strong>s. Ao saírem <strong>do</strong> bar, <strong>uma</strong> pessoa que Humbertoacredita ser um policial à paisana abor<strong>do</strong>u-os e começou a fazer perguntas. Em seguida, policiais civisarma<strong>do</strong>s se aproximaram em um carro e perguntaram o que eles estavam fazen<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> disseramter esta<strong>do</strong> na manifestação, os <strong>do</strong>is foram presos e leva<strong>do</strong>s a <strong>uma</strong> <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia perto dali.Na chegada, Humberto foi fotografa<strong>do</strong> pelos jornalistas, que <strong>de</strong>pois produziram matérias sobre aprisão. Dentro da <strong>de</strong>legacia, os policiais o pressionaram para que fornecesse a senha <strong>de</strong> sua conta <strong>no</strong>Facebook. Humberto passou <strong>do</strong>is dias <strong>de</strong>ti<strong>do</strong> até que um juiz lhe conce<strong>de</strong>sse liberda<strong>de</strong> provisória. Suacabeça foi raspada e, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à superlotação na prisão, ele tinha que alternar com outros <strong>de</strong>tentos ostur<strong>no</strong>s para sentar, <strong>de</strong>itar e <strong>do</strong>rmir.Humberto foi indicia<strong>do</strong> com base <strong>no</strong> artigo 15 da Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional por “praticar sabotagemcontra instalações militares, meios <strong>de</strong> comunicações, meios e vias <strong>de</strong> transporte, estaleiros,portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, <strong>de</strong>pósitos e outras instalações congêneres”, crime queprevê pena <strong>de</strong> até 10 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> prisão para quem o pratica. Também foi acusa<strong>do</strong> por da<strong>no</strong> qualifica<strong>do</strong><strong>ao</strong> patrimônio público, incitação <strong>ao</strong> crime, associação crimi<strong>no</strong>sa, porte ilegal <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo <strong>de</strong> usorestrito e crime <strong>de</strong> pichação. A soma total das penas máximas para to<strong>do</strong>s os crimes é <strong>de</strong> 23 a<strong>no</strong>s emeio <strong>de</strong> prisão.O boletim <strong>de</strong> ocorrência com as acusações contra Humberto incluía somente evidências circunstanciaispara justificar seu indiciamento. O <strong>do</strong>cumento afirmava que os seguintes itens foram encontra<strong>do</strong>sem sua mochila: quatro latas <strong>de</strong> spray <strong>de</strong> tinta, <strong>uma</strong> bomba <strong>de</strong> gás lacrimogêneo usada, <strong>uma</strong> câmarae “um <strong>do</strong>cumento tipo manifesto em poesia com co<strong>no</strong>tação <strong>de</strong> <strong>protesto</strong>”. Com base nas informaçõesobtidas pela polícia a partir da conta pessoal <strong>de</strong> Humberto <strong>no</strong> Facebook, o boletim afirmava ainda queele havia “curti<strong>do</strong>” <strong>uma</strong> página <strong>do</strong> grupo (anarquista) “black bloc”. Por fim, o <strong>do</strong>cumento afirmava queele “se vestia como reza a missa <strong>de</strong>sta organização, <strong>de</strong> preto”.Segun<strong>do</strong> relatou à Anistia Internacional, Humberto Caporalli é artista plástico e havia recolhi<strong>do</strong>a cápsula usada <strong>de</strong> bomba <strong>de</strong> gás lacrimogêneo, que fora lançada pela polícia, para usá-la em <strong>uma</strong>instalação artística.Seu caso faz parte <strong>de</strong> um inquérito mais amplo da polícia civil <strong>de</strong> São Paulo sobre o “black bloc”(investigação Nº 01/2013, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2013). Segun<strong>do</strong> informações, cerca <strong>de</strong> 300 pessoas jáforam investigadas com base <strong>no</strong> inquérito. Destas, 40 foram convocadas a prestar <strong>de</strong>poimento <strong>no</strong> sába<strong>do</strong>,22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2014, mesmo dia e horário em que ocorria <strong>uma</strong> segunda gran<strong>de</strong> manifestaçãocontra a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. Normalmente, a polícia civil não toma <strong>de</strong>poimentos <strong>ao</strong>s sába<strong>do</strong>s.Temeroso <strong>de</strong>ssa experiência e da ampla cobertura que sua prisão recebeu da mídia, HumbertoCaporalli <strong>de</strong>ixou São Paulo assim que foi posto em liberda<strong>de</strong>. Ele contou à Anistia Internacional quenão participa mais <strong>de</strong> <strong>protesto</strong>s. “Eu tinha orgulho <strong>de</strong> participar <strong>do</strong>s <strong>protesto</strong>s, mas quan<strong>do</strong> fui preso,para mim acabou. <strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>. Não quero mais passar por isso. Tive crise <strong>de</strong>ansieda<strong>de</strong> e não consegui arr<strong>uma</strong>r emprego <strong>de</strong>pois disso: o emprega<strong>do</strong>r pe<strong>de</strong> antece<strong>de</strong>nte criminal. Eufazia grafite, mas agora parou. Tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u.”Humberto não tem informações <strong>de</strong> como o processo contra ele está se encaminhan<strong>do</strong>.14


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>RAFAEL BRAGA VIEIRA, RIO DE JANEIROEm 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013, Rafael Braga Vieirafoi <strong>de</strong>ti<strong>do</strong> após <strong>uma</strong> manifestação <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong>Janeiro e sentencia<strong>do</strong> a cinco a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> prisão.Ele foi acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> porte ilegal <strong>de</strong> explosivos,mas afirma que levava produtos <strong>de</strong> limpeza.© Renata Ne<strong>de</strong>rAté 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2014, só se sabia <strong>de</strong> <strong>uma</strong> únicapessoa que tivesse si<strong>do</strong> julgada e con<strong>de</strong>nada por umcrime relaciona<strong>do</strong> <strong>ao</strong>s <strong>protesto</strong>s. Essa pessoa é RafaelBraga Vieira, 25 a<strong>no</strong>s, negro e sem teto.A <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> Rafael aconteceu após <strong>uma</strong> dasmaiores manifestações da história <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro,em 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013. Centenas <strong>de</strong> milhares<strong>de</strong> pessoas saíram às ruas para participar <strong>do</strong> <strong>protesto</strong>,mas Rafael afirma que não foi esse o seu caso. Amanifestação, que termi<strong>no</strong>u em choques com a polícia,aconteceu <strong>no</strong> centro comercial da cida<strong>de</strong>; porém,<strong>de</strong>pois que foi dispersada, milhares <strong>de</strong> pessoascaminharam longas distâncias até chegar em casa.Alg<strong>uma</strong>s se dirigiram para o bairro da Lapa, on<strong>de</strong>Rafael passava as <strong>no</strong>ites em <strong>uma</strong> casa aban<strong>do</strong>nada.Ele contou à Anistia Internacional que estava sain<strong>do</strong>da casa para encontrar sua tia quan<strong>do</strong> um grupo<strong>de</strong> aproximadamente 10 policiais o abor<strong>do</strong>u. Rafaelafirma que carregava duas garrafas <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>limpeza que ele havia encontra<strong>do</strong> e que planejava levarpara sua tia. Segun<strong>do</strong> relatou:<strong>Eles</strong> me chamaram “Vem cá, ô moleque,” “Aí, neguinho...ô, moleque...” Já chegaram me agredin<strong>do</strong>. <strong>Eles</strong> perguntaram: “O que você tem aí?”“Ah, cara, você tá com coquetel molotov?” “Você tá ferra<strong>do</strong>, neguinho”. Respondi que não eraisso, eu nem sabia o que era coquetel molotov. Me agrediram lá <strong>de</strong>ntro da <strong>de</strong>legacia, <strong>no</strong> estacionamento.Rafael Braga Vieira foi processa<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> “possuir artefato explosivo ou incendiáriosem autorização”. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2013, foi con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> e sentencia<strong>do</strong> a cinco a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> prisão.O lau<strong>do</strong> pericial <strong>do</strong> caso concluiu que os produtos químicos que ele portava não po<strong>de</strong>riam serusa<strong>do</strong>s como explosivos, mas o tribunal <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rou essa constatação em seu veredicto.15


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>FALTA DE RESPONSABILIZAÇÃO PELA VIOLÊNCIA POLICIALA Anistia Internacional preocupa-se com a aparente falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> em fazer que os policiaisprestem contas <strong>do</strong> comportamento abusivo que tiveram durante as manifestações. Emboraalg<strong>uma</strong>s autorida<strong>de</strong>s locais, como as <strong>de</strong> São Paulo, tenham anuncia<strong>do</strong> que fariam investigaçõesinternas sobre as <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> violência policial durante os <strong>protesto</strong>s, os resulta<strong>do</strong>s<strong>de</strong>ssas investigações não foram divulga<strong>do</strong>s até agora. Concretamente, não se tem conhecimento<strong>de</strong> que algum policial tenha si<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> a procedimentos penais ou disciplinares.Um <strong>do</strong>s obstáculos para a responsabilização <strong>do</strong>s agentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é a dificulda<strong>de</strong> emi<strong>de</strong>ntificar individualmente os policiais. As vítimas <strong>do</strong> excesso <strong>de</strong> força da polícia durante asmanifestações relataram à Anistia Internacional que não conseguiam i<strong>de</strong>ntificar os policiaisresponsáveis pelos abusos. Isso acontece principalmente com a tropa <strong>de</strong> choque, cujos equipamentosprotetores geralmente encobrem as tarjas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. Em outros casos, ospoliciais parecem não usar qualquer forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação.Polícia militar durante um <strong>protesto</strong> em São Paulo, 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013. © Mídia Ninja16


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>PROPOSTAS DE LEGISLAÇÃO PENALDiversas propostas estão sen<strong>do</strong> discutidas <strong>no</strong> Congresso Nacional para emendar ou criar leispenais que po<strong>de</strong>rão comprometer o <strong>direito</strong> à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> reunião. Dentre estas,<strong>uma</strong> <strong>no</strong>va lei <strong>de</strong> combate <strong>ao</strong> terrorismo e <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> outras leis que visam diretamente as manifestações,tanto proibin<strong>do</strong> o uso <strong>de</strong> máscaras quanto crian<strong>do</strong> a exigência <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação prévia.Muitas <strong>de</strong>ssas propostas foram redigidas às pressas, <strong>no</strong> calor <strong>de</strong> manifestações marcadas pelaviolência, com a intenção <strong>de</strong> que fossem aprovadas e vigorassem ainda antes da Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>.Em <strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong> positiva, o gover<strong>no</strong> afirmou recentemente que não apoia a tramitação emergencial<strong>de</strong>sses projetos <strong>de</strong> lei <strong>no</strong> Congresso, o que parece tornar improvável que sejam vota<strong>do</strong>s antes<strong>do</strong> início <strong>do</strong> Mundial em junho <strong>de</strong> 2014. Ainda assim, esses projetos continuam tramitan<strong>do</strong> <strong>no</strong>Congresso e po<strong>de</strong>rão ser aprova<strong>do</strong>s a qualquer momento.Projetos <strong>de</strong> lei antiterrorismoDois projetos em tramitação <strong>no</strong> Sena<strong>do</strong>, conheci<strong>do</strong>s como PLS 499/2013 e PLS 44/2014,tipificariam o crime <strong>de</strong> terrorismo <strong>no</strong> <strong>direito</strong> brasileiro 8 . Equivocadamente, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> terrorismoque consta <strong>no</strong>s projetos <strong>de</strong> lei é vaga e significativamente mais ampla <strong>do</strong> que a <strong>de</strong>finiçãorecomendada pelo relator especial da ONU sobre <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s e a luta contra o terrorismo9 . Tal <strong>de</strong>finição abrange não apenas os crimes <strong>de</strong> violência, mas também os crimes contra aproprieda<strong>de</strong>, suscitan<strong>do</strong> temores <strong>de</strong> que possa ser usada para processar manifestantes por atos<strong>de</strong> vandalismo ou outros da<strong>no</strong>s a bens.Um aspecto positivo seria que <strong>uma</strong> das propostas (PLS 44/2014) contém <strong>uma</strong> cláusula <strong>de</strong> exceçãoafirman<strong>do</strong> que a lei não se aplicaria, entre outras coisas, a manifestantes com motivaçõessociais relativas à <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s ou constitucionais. Essa cláusula, contu<strong>do</strong>, não ésuficiente para justificar a aprovação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> lei que permanece <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> ampla.No momento em que este <strong>do</strong>cumento foi escrito, nenh<strong>uma</strong> das propostas havia si<strong>do</strong> votada.Projetos <strong>de</strong> lei sobre manifestações públicasA Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s também está discutin<strong>do</strong> <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> propostas que tratam diretamente<strong>de</strong> manifestações, muitas <strong>de</strong>las apresentadas recentemente. As propostas encontram-se atualmentecom o relator, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Efraim Filho, que publicará um relatório avalian<strong>do</strong> os méritos <strong>do</strong>sdiferentes projetos <strong>de</strong> lei.Alguns <strong>de</strong>les, formula<strong>do</strong>s com a intenção <strong>de</strong> lidar com os chama<strong>do</strong>s grupos “black bloc”,estabeleceriam a proibição <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> máscaras durante manifestações. Na medida em que taispropostas proíbam o uso <strong>de</strong> máscaras inclusive com propósitos expressivos, e não simplesmenteas máscaras usadas com a intenção <strong>de</strong> impedir a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s manifestantes, elas po<strong>de</strong>rãocomprometer o <strong>direito</strong> à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão. 10 17


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>Polícia militar faz uso indiscrimina<strong>do</strong> <strong>de</strong> gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, 7 <strong>de</strong> setembro<strong>de</strong> 2013. © Luiz BaltarOutras propostas requereriam que os manifestantes <strong>no</strong>tificassem as autorida<strong>de</strong>s com antecedênciasobre a realização <strong>de</strong> qualquer manifestação. Embora a Anistia Internacionalconsi<strong>de</strong>re aceitável que os Esta<strong>do</strong>s requeiram ser comunica<strong>do</strong>s previamente sobre aglomeraçõese manifestações, a fim <strong>de</strong> que tomem medidas para proteger a segurança e a or<strong>de</strong>mpúblicas, ou para proteger o <strong>direito</strong> <strong>de</strong> outros, a realização <strong>de</strong> manifestações não <strong>de</strong>veriaestar submetida à permissão das autorida<strong>de</strong>s governamentais. Exigências <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificaçãoprévia <strong>de</strong>veriam incluir cláusulas <strong>de</strong> exceção para as aglomerações espontâneas. Os procedimentos,o formato e os meios requeri<strong>do</strong>s para apresentar a <strong>no</strong>tificação não <strong>de</strong>vem ser<strong>de</strong>masia<strong>do</strong> difíceis <strong>de</strong> cumprir.Caso os organiza<strong>do</strong>res não comuniquem às autorida<strong>de</strong>s, a reunião não <strong>de</strong>veria ser dissolvidaautomaticamente e os organiza<strong>do</strong>res não <strong>de</strong>veriam ser submeti<strong>do</strong>s a procedimentospenais ou administrativos que resultem em multas ou prisão. 11 A pena <strong>de</strong> até três a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>reclusão pelo não cumprimento da exigência <strong>de</strong> <strong>no</strong>tificação com 48 horas <strong>de</strong> antecedência,prevista em um <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong> lei, seria incompatível com os <strong>direito</strong>s à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressãoe <strong>de</strong> reunião.18


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕESComo membro <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Direitos H<strong>uma</strong><strong>no</strong>s da ONU, o <strong>Brasil</strong> recentemente votou a favor<strong>de</strong> <strong>uma</strong> importante resolução que o Conselho a<strong>do</strong>tou para proteger os <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s durantemanifestações pacíficas. 12 A resolução não apenas exorta os Esta<strong>do</strong>s a possibilitarem que indivíduose grupos exerçam seu <strong>direito</strong> à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunião, <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> associação durantemanifestações pacíficas, como também expressa preocupação com a instauração <strong>de</strong> processospenais contra indivíduos e grupos que participem <strong>do</strong>s <strong>protesto</strong>s.O <strong>Brasil</strong> tomou <strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong> acertada <strong>ao</strong> votar a favor da resolução, mas agora o país precisadar um passo adiante. Para que o apoio manifesta<strong>do</strong> pelo <strong>Brasil</strong> <strong>ao</strong>s <strong>direito</strong>s à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressãoe <strong>de</strong> manifestação pacífica seja realmente verda<strong>de</strong>iro, esses <strong>direito</strong>s precisam ser protegi<strong>do</strong>s<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua própria casa. Sen<strong>do</strong> assim, a Anistia Internacional exorta as autorida<strong>de</strong>sbrasileiras a garantirem que as leis e práticas <strong>do</strong> país <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong>méstico estejam plenamente<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas obrigações legais <strong>no</strong> âmbito internacional. Com esse propósito, a AnistiaInternacional faz as seguintes recomendações:Uso <strong>de</strong> força excessiva pelas forças <strong>de</strong> segurança• A polícia e outras forças <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong>vem procurar evitar a violência em manifestações públicas,comunican<strong>do</strong>-se com seus organiza<strong>do</strong>res antes <strong>do</strong>s eventos e durante sua realização.• A polícia e outras forças <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong>vem aplicar meios não violentos antes <strong>de</strong> recorrer <strong>ao</strong> usoda força.• Se <strong>uma</strong> manifestação pública mostrar-se violenta e o uso da força tornar-se necessário, por exemplo,para proteger seus participantes ou os transeuntes, a polícia e outras forças <strong>de</strong> segurança<strong>de</strong>verão limitar o uso <strong>de</strong>ssa força <strong>ao</strong> mínimo necessário.• A polícia e outras forças <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong>vem permitir que jornalistas, inclusive indivíduos quefotografam e gravam em ví<strong>de</strong>o, trabalhem livremente e sem interferências.• Armas “me<strong>no</strong>s letais”, como balas <strong>de</strong> plástico e <strong>de</strong> borracha, <strong>de</strong>vem ser usadas apenas quan<strong>do</strong>estritamente necessário, quan<strong>do</strong> seu uso for proporcional à ameaça que se apresenta e quan<strong>do</strong> outrosmeios não violentos forem insuficientes. Essas armas <strong>de</strong>vem ser usadas somente por agentesque receberam treinamento integral sobre seu uso apropria<strong>do</strong>.• As autorida<strong>de</strong>s brasileiras em nível fe<strong>de</strong>ral e estadual <strong>de</strong>vem assegurar que as polícias civil e militar,bem como outras forças <strong>de</strong> segurança, recebam treinamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> e efetivo para o policiamento<strong>de</strong> manifestações públicas, inclusive as <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensões. As forças <strong>de</strong> segurança<strong>de</strong>vem, principalmente, receber treinamento sobre o uso apropria<strong>do</strong> <strong>de</strong> armas “me<strong>no</strong>s letais” esobre as <strong>no</strong>rmas internacionais relativas <strong>ao</strong> uso da força.• As autorida<strong>de</strong>s brasileiras em nível fe<strong>de</strong>ral e estadual <strong>de</strong>vem criar regulamentos para o uso <strong>de</strong>armas “me<strong>no</strong>s letais” que sejam compatíveis com as <strong>no</strong>rmas internacionais relativas <strong>ao</strong>s <strong>direito</strong>sh<strong>uma</strong><strong>no</strong>s e à aplicação da lei.Prisões, <strong>de</strong>tenções e processos envolven<strong>do</strong> manifestantes pacíficos• As autorida<strong>de</strong>s brasileiras <strong>de</strong>vem assegurar que as pessoas não sejam <strong>de</strong>tidas ou processadas criminalmenteapenas por exercerem seu <strong>direito</strong> <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> manifestações públicas. • Infrações me<strong>no</strong>s graves da lei, como colar cartazes em local proibi<strong>do</strong>, jogar lixo <strong>no</strong> chão e causarda<strong>no</strong>s leves à proprieda<strong>de</strong>, cometidas por um indivíduo ou por um grupo <strong>de</strong> pessoas, po<strong>de</strong>m resultarem investigação e posterior responsabilização individual. No entanto, pela importância <strong>do</strong><strong>direito</strong> à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestação, esses atos não <strong>de</strong>veriam motivar a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> dispersar <strong>uma</strong>19


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>Policiais militares confrontam manifestantes durante um <strong>protesto</strong> na Avenida Presi<strong>de</strong>nte Vargas, Rio <strong>de</strong> Janeiro, junho<strong>de</strong> 2013.© Luiz Baltaraglomeração, nem <strong>de</strong> impedir as pessoas que protestam pacificamente <strong>de</strong> exercer seus <strong>direito</strong>s,tampouco <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter ilegalmente quem está protestan<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> pacífico.• As autorida<strong>de</strong>s brasileiras <strong>de</strong>vem assegurar que as pessoas <strong>de</strong>tidas durante os <strong>protesto</strong>s tenhample<strong>no</strong> acesso a aconselhamento e assistência legal, que os advoga<strong>do</strong>s tenham acesso às pessoas<strong>de</strong>tidas e que possam <strong>de</strong>sempenhar suas funções profissionais sem intimidações, obstruções,hostilida<strong>de</strong>s ou interferências impróprias.20


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Prestação <strong>de</strong> contas• As autorida<strong>de</strong>s brasileiras em nível nacionale estadual <strong>de</strong>vem estabelecer e pôr emprática mecanismos <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> contasclaros, eficazes e públicos para investigar<strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> violações cometidas portodas as forças <strong>de</strong> segurança responsáveispelo policiamento, antes e durante a Copa<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. Devem ainda garantir que os responsáveispor violações <strong>de</strong> <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>ssejam submeti<strong>do</strong>s <strong>ao</strong>s procedimentos disciplinarese penais apropria<strong>do</strong>s.• Qualquer inci<strong>de</strong>nte em que o uso da forçapelos agentes da lei resulte em ferimento oumorte, inclusive durante manifestações públicas,<strong>de</strong>ve ser investiga<strong>do</strong> exaustivamente,com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as autorida<strong>de</strong>s competentestomarem as medidas administrativasou penais apropriadas.• Denúncias contra a polícia <strong>de</strong>vem ser investigadas<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> efetivo e imparcial. Se agentesda lei cometerem violações <strong>de</strong> <strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s,eles <strong>de</strong>vem submeter-se a procedimentosdisciplinares e penais.• A polícia e outras forças <strong>de</strong> segurança, inclusivemilitares, responsáveis pelo policiamentoantes e durante a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong><strong>de</strong>vem possibilitar a i<strong>de</strong>ntificação individual<strong>de</strong> seus membros nas operações <strong>de</strong> manutençãoda or<strong>de</strong>m pública, por meio <strong>de</strong> crachásvisíveis conten<strong>do</strong> seu <strong>no</strong>me ou número.Equipamentos <strong>de</strong> proteção não <strong>de</strong>vem serusa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma que oculte a i<strong>de</strong>ntificaçãoindividual <strong>do</strong>s policiais.Propostas <strong>de</strong> legislação criminal eoutras aplicáveis a situações <strong>de</strong> <strong>protesto</strong>• O Congresso brasileiro <strong>de</strong>ve rejeitar os projetos <strong>de</strong> lei antiterrorismo PLS 499/2013 e PLS 44/2014. • O Congresso <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong>ve tomar especial cuida<strong>do</strong> <strong>ao</strong> apreciar projetos <strong>de</strong> lei relativos a manifestaçõespúblicas, não <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> aprovar qualquer legislação que possa infringir ou ameaçar o <strong>direito</strong>à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão ou o <strong>direito</strong> <strong>de</strong> manifestação pacífica.21


<strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong> <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>NOTAS FINAIS1. A Anistia Internacional utiliza o termo “me<strong>no</strong>s letal” para se referir às armas que não são <strong>de</strong>fogo, <strong>uma</strong> vez que as evidências mostram que muitas <strong>de</strong>ssas armas são potencialmente letais.Dispositivos usa<strong>do</strong>s para o controle <strong>de</strong> distúrbios, como canhões <strong>de</strong> água, munição <strong>de</strong> impacto(projéteis ou balas <strong>de</strong> plástico ou <strong>de</strong> borracha), irritantes químicos como spray <strong>de</strong> pimenta e gáslacrimogêneo, po<strong>de</strong>m causar lesões graves e até a morte.2. Um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2014 da Fundação Getúlio Vargas (FGV) constatou que mais <strong>de</strong> 60% <strong>do</strong>s policiaisconsi<strong>de</strong>ravam não ter recebi<strong>do</strong> treinamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> nem estar bem prepara<strong>do</strong>s para atuar emgran<strong>de</strong>s manifestações. “A polícia e os ‘black blocs’: a percepção <strong>do</strong>s policiais sobre junho <strong>de</strong>2013”. Relatório preliminar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2014.3. Atualmente, não existe <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>uma</strong> <strong>no</strong>rma regulamenta<strong>do</strong>ra para o uso <strong>de</strong> armas “me<strong>no</strong>sletais”,apesar da ampla utilização <strong>de</strong>ssas armas <strong>no</strong> país.4. Dentre as <strong>no</strong>rmas pertinentes estão o Código <strong>de</strong> Conduta da ONU para os Funcionários Responsáveispela Aplicação da Lei e os Princípios Básicos da ONU sobre a Utilização da Força e <strong>de</strong> Armas<strong>de</strong> Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei.5. O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos proíbe as prisões e <strong>de</strong>tenções arbitráriase requer que a polícia tenha <strong>uma</strong> suspeita razoável <strong>de</strong> que a pessoa presa seja culpada <strong>de</strong> umcrime. Para ter suspeita razoável da culpa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> pessoa, a polícia <strong>de</strong>ve dispor <strong>de</strong> fatos ou informaçõesque convençam um observa<strong>do</strong>r in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> que a pessoa em questão possa tercometi<strong>do</strong> o <strong>de</strong>lito. Veja a Publicação das Nações Unidas, <strong>de</strong> 2003, ‘H<strong>uma</strong>n Rights in the Administratio<strong>no</strong>f Justice: A Manual on H<strong>uma</strong>n Rights for Judges, Prosecutors and Lawyers’, p.174.6. A lei tem por finalida<strong>de</strong> cobrir os crimes políticos e sociais contra a segurança nacional.Muitosjuristas já a criticaram por consi<strong>de</strong>rá-la inconstitucional <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Constituição <strong>de</strong>mocrática<strong>de</strong> 1988.7. Veja, da Comissão Interamericana <strong>de</strong> Direitos H<strong>uma</strong><strong>no</strong>s (1995): Relatório sobre a Compatibilida<strong>de</strong>entre as Leis <strong>de</strong> Desacato e a Convenção Americana sobre Direitos H<strong>uma</strong><strong>no</strong>s, OAS/Ser L/VIII.88, Doc.9 rev, pp.210-223.8. A sigla PLS <strong>de</strong>signa um “Projeto <strong>de</strong> Lei <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>” e se refere a projetos <strong>de</strong> lei que foram propostos<strong>no</strong> Sena<strong>do</strong>. De mo<strong>do</strong> similar, a sigla PL <strong>de</strong>signa um “Projeto <strong>de</strong> Lei” e se refere a projetos<strong>de</strong> lei que foram propostos na Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s. Para serem aprova<strong>do</strong>s, os projetos <strong>de</strong> lei<strong>de</strong>vem ser vota<strong>do</strong>s tanto na Câmara quanto <strong>no</strong> Sena<strong>do</strong>. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da casa legislativa on<strong>de</strong> forampropostos, seguirão diferentes tramitações até sua aprovação final.9. Relatório <strong>do</strong> relator especial sobre a Promoção e a <strong>Proteção</strong> <strong>do</strong>s Direitos H<strong>uma</strong><strong>no</strong>s e Liberda<strong>de</strong>sFundamentais na Luta contra o Terrorismo, UN Doc. A/HRC/16/51, 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010,par. 28.10. Veja, por exemplo, o <strong>do</strong>cumento <strong>de</strong> 2010 da Organização para a Cooperação e a Segurança naEuropa, ‘Gui<strong>de</strong>lines on Free<strong>do</strong>m of Peaceful Assembly, Second Edition’, par. 98.11. Veja o relatório <strong>do</strong> relator especial da ONU sobre os <strong>direito</strong>s à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunião pacífica e <strong>de</strong>associação, UN Doc. A/HRC/20/27, 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012, par. 29.12. Conselho <strong>de</strong> Direitos H<strong>uma</strong><strong>no</strong>s da ONU, resolução 25/38 relativa à promoção e proteção <strong>do</strong>s<strong>direito</strong>s h<strong>uma</strong><strong>no</strong>s <strong>no</strong> contexto <strong>de</strong> <strong>protesto</strong>s pacíficos, UN Doc. A/HRC/25/L.20, 28 <strong>de</strong> março <strong>de</strong>2014.22


<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>23


“ <strong>Eles</strong> <strong>usam</strong> <strong>uma</strong><strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>me<strong>do</strong></strong>”<strong>Proteção</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong><strong>ao</strong> <strong>protesto</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Nas últimas semanas, milhares <strong>de</strong> pessoas saíram àsruas para protestar, enquanto o <strong>Brasil</strong> se prepara parareceber a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2014. Esses <strong>protesto</strong>secoaram as gran<strong>de</strong>s manifestações que aconteceram <strong>no</strong>a<strong>no</strong> passa<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma inédita <strong>no</strong> país, quan<strong>do</strong> centenas<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas, em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s,exerceram seu <strong>direito</strong> <strong>de</strong> protestar.A Anistia Internacional preocupa-se que, em alguns casos,os manifestantes tenham si<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong>s com a violência eos abusos da polícia. Enquanto isso, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s fe<strong>de</strong>raise estaduais começaram a propor leis mais severas queconferem à polícia e às autorida<strong>de</strong>s judiciais maiorespo<strong>de</strong>res para reprimir os <strong>protesto</strong>s. Atualmente, tramitam<strong>no</strong> Congresso Nacional diversos projetos <strong>de</strong> lei que po<strong>de</strong>minfringir as obrigações jurídicas internacionais <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.O país <strong>de</strong>ve garantir que indivíduos e grupos sejam capazes<strong>de</strong> participar livremente <strong>de</strong> manifestações públicas. Quantoà polícia e outras forças <strong>de</strong> segurança, se <strong>de</strong>frontadas comatos <strong>de</strong> violência, <strong>de</strong>vem limitar o uso da força <strong>ao</strong> mínimonecessário.Durante a Copa, a atenção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> estará voltada par<strong>ao</strong> <strong>Brasil</strong>. Os brasileiros que se sentem insatisfeitos com o<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> seu gover<strong>no</strong> em termos <strong>de</strong> mudançassociais e diminuição das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rarque a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> seja <strong>uma</strong> boa oportunida<strong>de</strong> parasair às ruas. Este será um momento crucial para testarse a polícia e outras autorida<strong>de</strong>s públicas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>realmente enten<strong>de</strong>m sua obrigação <strong>de</strong> respeitar o <strong>direito</strong>à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> reunião pacífica.Informações para contato:Anistia Internacional <strong>Brasil</strong>Praça São Salva<strong>do</strong>r, n° 5 - casa - Laranjeiras22.231 - 170 - Rio <strong>de</strong> Janeiro - <strong>Brasil</strong>Tel: (21) 3174 8601http://anistia.org.br/Índice: AMR 19/005/2014Junho <strong>de</strong> 2014

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