Emir Guimarães Andrich - Programa de Pós-Graduação em ...
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74Mesmo entre a maioria dos discentes ainda prevalece a noção equivocada de que osconteúdos são úteis apenas se possuírem alguma aplicabilidade imediata. Esse comportamentoé mais raro nas Ciências Humanas, mas muito comum em outras áreas do conhecimento. Coma disseminação dos cursos superiores de curta duração essa tendência se acentuou. A mesmaseparação que há na sociedade acaba se reproduzindo na escola. Para usar os termos deGramsci, podemos dizer que há uma educação para cada grupo social, destinada “a perpetuarnestes grupos uma determinada função tradicional, diretiva ou instrumental” (Ibid, p.87).O acesso a um ensino superior de qualidade não garantirá, por si só, a superação denossos desequilíbrios sociais, que possui profundas raízes históricas. A elevação dos níveisde escolaridade, como muitos estudos já comprovaram, “não garantiu o acesso ao emprego emuito menos uma proteção contra a precarização e a deterioração dos níveis de renda em cadaestrato” (POCHMAMM, 2004, p. 4-6). Daí a importância de se pensar numa educaçãosuperior que além de formar para o trabalho contribua para o desenvolvimento da consciênciacrítica. Ao perceberem sua posição na sociedade, os alunos oriundos das classes menosfavorecidas descobrirão que o diploma, ao contrário do que expressa a tese liberal, nãogarante sozinho o acesso à posições mais elevadas na sociedade. Dessa tomada deconsciência, podem surgir ações em defesa da democratização das oportunidades de ascensãosocial.A dicotomia entre ensino profissionalizante e educação integral tem implicações quevão além da reprodução das desigualdades sociais no âmbito da escola. Uma educaçãoexclusivamente de caráter técnico ou profissional impede que o indivíduo assuma outrasfunções na sociedade.A educação utilitarista deixa de oferecer noções importantes decidadania. Em outros tempos esse aprendizado poderia ocorrer nos sindicatos ou no âmbitodos movimentos sociais.Atualmente, no entanto, em função da alta flexibilidade 46 dosprocessos e dos mercados de trabalho, da enorme redução de categorias profissionais que46Sobre a flexibilização dos processos e mercados de trabalho ver a parte II do livro de David Harvey, aCondição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
outrora desempenharam um papel político importante (metalúrgicos, bancários, entre outros)os espaços de exercício da prática e do aprendizado político foram reduzidos de forma75drástica.Nesse sentido, o desprestígio da formação de caráter humanista, na educaçãosuperior, representa mais um espaço de debate e de desenvolvimento do senso crítico que estádesaparecendo.O desprestígio da formação humana e cidadã cedo ou tarde acaba contribuindo para odesequilíbrio ecológico e social. Os problemas que “afligem a sociedade são conseqüênciasdas atividades e das ações humanas.” (LIMA, 2000, p. 58). Nesse sentido, o grande desafio daeducação superior no século XXI será “formar cidadãos e profissionais competitivos, comconsciência de preservação da humanidade e, evidentemente, de si mesmos”. (Id).Até aqui, discutimos os dispositivos legais e algumas possíveis conseqüências doprocesso de diversificação de cursos e instituições. A universalização ou ampliação do acessoé legítima, mas o modo como ela tem sido buscada é bastante polêmico. A opção pelaflexibilização contribuiu para a expansão da oferta, mas colocou para o ensino superiorproblemas como o nivelamento, o crescimento acelerado das empresas educacionais, oincremento das desigualdades entre as instituições e, de certa forma, deu início a um processode descaracterização das universidades (SHIROMA, 2000, p. 17).A necessidade de apresentar uma conclusão provisória sobre a estratégia daflexibilização exige o resgate de duas questões fundamentais.A primeira delas estárelacionada com a importância da pesquisa científica numa proposta de educação superior quetenha compromisso com a qualidade. A importância desse primeiro elemento muitas vezesnão é reconhecida pela sociedade. Apesar da crítica pesada contra o modelo tradicional, asinstituições desse grupo produzem 90% da pesquisa científica nacional, além dedesempenharem uma ampla gama de serviços sociais. O fruto desse trabalho, todavia, é difícilde mensurar. Afinal, como afirma José Dias Sobrinho (1999, p. 71), "quanto vale para anação, para muito além do valor de mercado, a formação de um professor para a educação
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74Mesmo entre a maioria dos discentes ainda prevalece a noção equivocada <strong>de</strong> que osconteúdos são úteis apenas se possuír<strong>em</strong> alguma aplicabilida<strong>de</strong> imediata. Esse comportamentoé mais raro nas Ciências Humanas, mas muito comum <strong>em</strong> outras áreas do conhecimento. Coma diss<strong>em</strong>inação dos cursos superiores <strong>de</strong> curta duração essa tendência se acentuou. A mesmaseparação que há na socieda<strong>de</strong> acaba se reproduzindo na escola. Para usar os termos <strong>de</strong>Gramsci, po<strong>de</strong>mos dizer que há uma educação para cada grupo social, <strong>de</strong>stinada “a perpetuarnestes grupos uma <strong>de</strong>terminada função tradicional, diretiva ou instrumental” (Ibid, p.87).O acesso a um ensino superior <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> não garantirá, por si só, a superação <strong>de</strong>nossos <strong>de</strong>sequilíbrios sociais, que possui profundas raízes históricas. A elevação dos níveis<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, como muitos estudos já comprovaram, “não garantiu o acesso ao <strong>em</strong>prego <strong>em</strong>uito menos uma proteção contra a precarização e a <strong>de</strong>terioração dos níveis <strong>de</strong> renda <strong>em</strong> cadaestrato” (POCHMAMM, 2004, p. 4-6). Daí a importância <strong>de</strong> se pensar numa educaçãosuperior que além <strong>de</strong> formar para o trabalho contribua para o <strong>de</strong>senvolvimento da consciênciacrítica. Ao perceber<strong>em</strong> sua posição na socieda<strong>de</strong>, os alunos oriundos das classes menosfavorecidas <strong>de</strong>scobrirão que o diploma, ao contrário do que expressa a tese liberal, nãogarante sozinho o acesso à posições mais elevadas na socieda<strong>de</strong>. Dessa tomada <strong>de</strong>consciência, po<strong>de</strong>m surgir ações <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocratização das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ascensãosocial.A dicotomia entre ensino profissionalizante e educação integral t<strong>em</strong> implicações quevão além da reprodução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais no âmbito da escola. Uma educaçãoexclusivamente <strong>de</strong> caráter técnico ou profissional impe<strong>de</strong> que o indivíduo assuma outrasfunções na socieda<strong>de</strong>.A educação utilitarista <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> oferecer noções importantes <strong>de</strong>cidadania. Em outros t<strong>em</strong>pos esse aprendizado po<strong>de</strong>ria ocorrer nos sindicatos ou no âmbitodos movimentos sociais.Atualmente, no entanto, <strong>em</strong> função da alta flexibilida<strong>de</strong> 46 dosprocessos e dos mercados <strong>de</strong> trabalho, da enorme redução <strong>de</strong> categorias profissionais que46Sobre a flexibilização dos processos e mercados <strong>de</strong> trabalho ver a parte II do livro <strong>de</strong> David Harvey, aCondição pós-mo<strong>de</strong>rna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.