72privadas sérias e comprometidas com a educação, há a mercantilização levada às últimasconseqüências.O trabalho que se realiza <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> muitas instituições é s<strong>em</strong>elhante à rotina <strong>de</strong> umaorganização <strong>em</strong>presarial. A flexibilida<strong>de</strong> que se procura impor à instituição universitária,todavia, serve apenas às organizações <strong>em</strong>presariais. Estas sim, para ser<strong>em</strong> competitivas<strong>de</strong>v<strong>em</strong> preservar a instabilida<strong>de</strong> dos meios e objetivos. A mudança <strong>de</strong> curso nas políticas <strong>de</strong>uma gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa é um fator <strong>de</strong> sobrevivência. Cotidianamente elas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se adaptar àsmudanças do mercado, sob o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecer<strong>em</strong>.A Universida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> mudar <strong>de</strong>objetivo todas as vezes que o mercado ou a socieda<strong>de</strong> sofr<strong>em</strong> alguma alteração. Seu papel éjustamente o <strong>de</strong> avaliar o sentido <strong>de</strong>ssa mudança, não o <strong>de</strong> servir <strong>de</strong> vanguarda <strong>de</strong>ssesmovimentos. Seu compromisso maior <strong>de</strong>ve ser com a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> maisequilibrada, com maior distribuição das riquezas e justiça social.As normas que reg<strong>em</strong> as organizações <strong>em</strong>presariais também não serv<strong>em</strong> às instituiçõesuniversitárias. A pesquisa não po<strong>de</strong> se subordinar aos imperativos da produtivida<strong>de</strong>. Ela t<strong>em</strong>outra dinâmica, totalmente alheia a operacionalida<strong>de</strong> <strong>em</strong>presarial.Certas <strong>de</strong>scobertascientíficas não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m apenas da <strong>de</strong>dicação do pesquisador, mas <strong>de</strong> experimentos que<strong>de</strong>mandam t<strong>em</strong>po e investimentos. Os produtos <strong>de</strong>ssas pesquisas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre se prestam aexploração comercial. E n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre po<strong>de</strong>m ser aproveitados pelo hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma imediata.Muitos projetos científicos da atualida<strong>de</strong> serão a base <strong>de</strong> benefícios que a humanida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ráusufruir apenas no futuro. E tudo isso não po<strong>de</strong>ria ser diferente.A imposição <strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> mercantil e a dimensão utilitarista e pragmática queo ensino assumiu <strong>em</strong> muitas instituições são tendências incompatíveis com a idéia <strong>de</strong>formação <strong>de</strong>sinteressada. Gramsci soube fazer a crítica do rigor da educação tradicional,<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhada pelos jesuítas, mas foi sensato ao reconhecer o valor <strong>de</strong> algumas práticas queeram comuns a esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino. Referindo-se ao estudo gramatical, <strong>de</strong>staca que esteera orientado pela perspectiva cultural.
“As várias noções não eram apreendidas visando-se a uma imediata finalida<strong>de</strong> prático-profissional: estafinalida<strong>de</strong> aparecia <strong>de</strong>sinteressada, pois o interesse era o <strong>de</strong>senvolvimento interior da personalida<strong>de</strong>, aformação do caráter através da absorção e da assimilação <strong>de</strong> todo o passado cultural da civilizaçãoeuropéia mo<strong>de</strong>rna. Não se aprendia o latim e o grego para saber falar estas línguas, para servir <strong>de</strong>garçom, <strong>de</strong> intérprete ou <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte comercial. Aprendia-se a fim <strong>de</strong> conhecer diretamente acivilização dos dois povos, pressuposto necessário da civilização mo<strong>de</strong>rna, isto é, a fim <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong>conhecer conscient<strong>em</strong>ente a si mesmo.” (GRAMSCI, 1932, CADERNO 12, p. 82).É justamente a marca da “formação”, caracterizada pela ari<strong>de</strong>z dos conteúdos, pelosacrifício do estudo e da concentração, que está sendo perdida na educação superior. Em parte<strong>em</strong> razão da precária formação anterior, <strong>em</strong> parte pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> estabelecer relaçõesimediatas entre o conhecimento e as exigências do mundo do trabalho, muitos estudantes queestão chegando ao ensino superior prefer<strong>em</strong> manuais <strong>de</strong> fácil leitura, <strong>de</strong> preferênciaorganizados sob a forma <strong>de</strong> tópicos, para simplificar a aprendizag<strong>em</strong>. Cr<strong>em</strong>os que sejanecessário consi<strong>de</strong>rar que lidamos “com rapazolas, aos quais <strong>de</strong>ve-se levar a que contraiamcertos hábitos <strong>de</strong> diligência, <strong>de</strong> exatidão, <strong>de</strong> compostura mesmo física, <strong>de</strong> concentraçãopsíquica <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados assuntos, que não se po<strong>de</strong>m adquirir senão mediante uma repetiçãomecânica <strong>de</strong> atos disciplinados e metódicos.” (GRAMSCI, 1932, CADERNO 12, p. 82).É claro que a autodisciplina intelectual e a autonomia moral <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser adquiridasainda na escola secundária (ou unitária, para usar a terminologia <strong>de</strong> Gramsci) ou seja, numafase anterior à especialização. Porém, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> notar que esses atributos,atualmente, não são adquiridos n<strong>em</strong> no nível superior <strong>de</strong> ensino.Exalta-se a criativida<strong>de</strong>, mas na maioria das vezes ela não se manifesta n<strong>em</strong> na suaversão mais simplificada. Boa parte dos estudantes não possui sequer autonomia para buscara informação <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, atributo indispensável à vida profissional e pessoal. Em73geral, as discussões circunscrev<strong>em</strong>-se aos textos apresentados pelos professores.Essahabilida<strong>de</strong>, no entanto, não po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>em</strong> manuais. A prática da pesquisa, tão<strong>de</strong>sprezada na nova universida<strong>de</strong>, proporciona o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s quefacilitarão a educação continuada e o aprendizado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte no futuro. “Descobrir por simesmo uma verda<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> sugestões e ajudas exteriores, é criação, mesmo que a verda<strong>de</strong> sejavelha” (GRAMSCI, 1932, CADERNO 12, p. 72).
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