30<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego v<strong>em</strong> aumentando, fato que corrobora a tese <strong>de</strong> que ele “<strong>de</strong>corre muito mais daconfiguração da economia do que do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> formação dos jovens.” (Ibid., p. 199-201).Com este argumento não estamos querendo negar a relação incontestável que há entreeconomia e educação. “Um povo mais educado é um povo com maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tirarpartido dos recursos produtivos que t<strong>em</strong> a seu alcance ” (Ibid., p. 209). Concretamente, noentanto, muitos graduados estão fora <strong>de</strong> sua profissão. “A <strong>de</strong>terioração das condições <strong>de</strong>funcionamento do mercado <strong>de</strong> trabalho, ao invés <strong>de</strong> ser contida pela melhoria educacional,contribuiu para o <strong>de</strong>sperdício e o <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s educacionais <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>sprecárias e <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>” (POCHMAMM, 2004, p. 2).Também não estamos afirmando que há uma hierarquia das profissões, e que algumassejam mais importantes do que as outras. Quer<strong>em</strong>os apenas ressaltar a discrepância que háentre o sonho dos jovens que ingressam num curso superior, atualmente, e as chances cadavez mais reduzidas <strong>de</strong> inserção profissional na área escolhida. O sist<strong>em</strong>a produtivo mostra-seincapaz <strong>de</strong> gerar <strong>em</strong>pregos qualificados no mesmo ritmo <strong>em</strong> que o sist<strong>em</strong>a educativo formaprofissionais <strong>de</strong> nível médio e superior. A atualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse probl<strong>em</strong>a ficou evi<strong>de</strong>nte namanifestação dos estudantes franceses mostrada pela televisão brasileira <strong>em</strong> março <strong>de</strong> 2006.A repercussão internacional do movimento mostrou ao mundo que a inserção produtivajuvenil, e através <strong>de</strong>la a redução da violência e do uso <strong>de</strong> drogas, será um dos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safiosdo século XXI.Esse cenário nos obriga a uma releitura mais crítica dos números da educação superiorno país. O Censo da Educação Superior <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> que o curso <strong>de</strong> Administração, entretodos, foi o que mais registrou matrículas no ano <strong>de</strong> 2004. Enquanto muitos jovens quefizeram a opção por esse curso pensaram principalmente na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações para avida que ele po<strong>de</strong>ria agregar, a gran<strong>de</strong> maioria foi iludida pela falsa promessa <strong>de</strong> ascensãoprofissional e econômica. No entanto, para um restrito mercado <strong>de</strong> trabalho isso tudo soamuito irreal. “Mais do que assegurar <strong>de</strong>terminados conhecimentos, o que o título diz <strong>de</strong> seu
31possuidor é que ele t<strong>em</strong> atitu<strong>de</strong> compatível, estando socializado e suscetível <strong>de</strong> adaptação àsexigências da organização” (Ibid., p. 221).Diante do quadro <strong>de</strong>lineado acima, é preciso compreen<strong>de</strong>r que “um sist<strong>em</strong>a educativomais <strong>de</strong>mocrático implica, a longo prazo, uma socieda<strong>de</strong> também mais <strong>de</strong>mocrática.Portanto, a solução dos probl<strong>em</strong>as educacionais não se encontra somente na esferaeducacional” (Ibid., p. 227). A expansão da escolarida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser vista apenas do ponto<strong>de</strong> vista da produtivida<strong>de</strong>, mas especialmente da cidadania. S<strong>em</strong> crescimento econômico,distribuição do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho e, principalmente, da renda, não avançar<strong>em</strong>os.Pensar na expansão da escolarida<strong>de</strong> a partir da construção <strong>de</strong> uma concepção maiscidadã <strong>de</strong> educação é uma imposição para as instituições <strong>de</strong> ensino, públicas ou privadas. Emsentido pleno e amplo, ser cidadão “é ter consciência <strong>de</strong> que todos os <strong>de</strong>sequilíbrios queaflig<strong>em</strong> a socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> geral são conseqüências das ativida<strong>de</strong>s e das ações humanas.” Sercidadão implica na “ruptura com os princípios <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente predatória<strong>em</strong> todas as dimensões.”Esse é o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: “formar cidadãos e profissionaiscompetitivos, com consciência <strong>de</strong> preservação da humanida<strong>de</strong> e, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> simesmos”. (LIMA, 2000, p. 58).Uma formação que apenas aju<strong>de</strong> a garantir aos alunos, futuros profissionais,oportunida<strong>de</strong>s no mercado como força <strong>de</strong> trabalho ou <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dores, não será suficientepara promover as transformações que o mundo precisa.As instituições <strong>de</strong> ensino que selimitam a essa tarefa estão internalizando o discurso do darwinismo social, repetindocontinuamente o velho chavão <strong>de</strong> que “só os aptos sobreviverão”. (Ibid., p. 59).O uso i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong>ssa expressão foi criticado pelo próprio Darwin, que <strong>em</strong> suaautobiografia afirmou que a redução <strong>de</strong> sua teoria à tese da seleção natural serviu,equivocadamente, para justificar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s socioculturais e econômicas. A parte dateoria que discute a ação das condições externas, isto é, do meio ambiente, foiintencionalmente omitida.“Sua explicação apóia-se <strong>em</strong> uma conjunção <strong>de</strong> fatores. A
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