país significar apenas 2,8% <strong>de</strong> toda a população do globo terrestre (CAMPOS apudPOCHMAMM, p. 3).Na década <strong>de</strong> 90, “acentuaram-se os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, assim como aprecarieda<strong>de</strong>, o sobretrabalho 16 e a <strong>de</strong>terioração dos níveis <strong>de</strong> renda, especialmente entre asfaixas etárias mais jovens.” A taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego dos jovens é o dobro da população adulta.Os jovens pertencentes às famílias <strong>de</strong> maior renda têm acesso maior aos trabalhos assalariados(77,1% contra 41,4%). Em relação aos contratos formais <strong>de</strong> trabalho a <strong>de</strong>sproporção é aindamaior (49% contra 25,7%) (Ibid., p. 2).“Percebe-se, [ainda], que as taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego se elevaram a um ritmo mais rápidojustamente para os níveis <strong>de</strong> maior escolarida<strong>de</strong> entre 1992 e 2002. Para os segmentos com14 anos <strong>de</strong> estudo a <strong>de</strong>socupação cresceu 76,9%, três vezes a mais do que o ritmo <strong>de</strong>crescimento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego para os segmentos educacionais com até 3 anos <strong>de</strong> estudo.” Nomesmo período, a renda média dos trabalhadores com curso superior caiu 35%, e a renda dostrabalhadores <strong>de</strong> nível médio caiu pela meta<strong>de</strong> (Ibid., p. 4-6).E a educação, que papel <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha nesse cenário <strong>de</strong> flexibilização e instabilida<strong>de</strong>?“O acesso ao conhecimento científico e técnico s<strong>em</strong>pre teve importância na luta competitiva; mas,também aqui 17 , po<strong>de</strong>mos ver uma renovação <strong>de</strong> interesses e <strong>de</strong> ênfase, já que, num mundo <strong>de</strong> rápidasmudanças <strong>de</strong> gostos e necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção flexíveis (<strong>em</strong> oposição ao mundorelativamente estável do fordismo padronizado), o conhecimento da última técnica, do mais novoproduto, da mais recente <strong>de</strong>scoberta científica, implica a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar uma importantevantag<strong>em</strong> competitiva”. “(...) a produção organizada <strong>de</strong> conhecimento passou por notável expansão nasúltimas décadas, ao mesmo t<strong>em</strong>po que assumiu cada vez mais um cunho comercial (como o provam asincômodas transições <strong>de</strong> muitos sist<strong>em</strong>as universitários do mundo capitalista avançado <strong>de</strong> guardiões doconhecimento e da sabedoria para produtores subordinados <strong>de</strong> conhecimento a soldo do capitalcorporativo)” (HARVEY, 1992, p. 151).No entanto, apesar da importância competitiva que o conhecimento continua tendo naatualida<strong>de</strong>, num quadro <strong>de</strong> estagnação econômica, baixo investimento <strong>em</strong> tecnologia eprecarização do mercado <strong>de</strong> trabalho, a elevação dos níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> são insuficientespara potencializar a geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos. “Na melhor das hipóteses, a elevação do nível <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> assegurou uma renda maior que nos estratos educacionais inferiores, [mas] não16 “Consi<strong>de</strong>ra-se sobretrabalho as situações relativas aos ocupados com jornada <strong>de</strong> trabalho acima <strong>de</strong> 44 horass<strong>em</strong>anais, aos aposentados e pensionistas que se mantêm ativos no mercado <strong>de</strong> trabalho, aos trabalhadores commais <strong>de</strong> uma ocupação e ao trabalho <strong>de</strong> pessoas abaixo <strong>de</strong> 16 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>” (POCHMAMM, 2004, p. 2).17 Na etapa histórica atual, da Acumulação Flexível28
29garantiu o acesso ao <strong>em</strong>prego e muito menos uma proteção contra a precarização e<strong>de</strong>terioração dos níveis <strong>de</strong> renda <strong>em</strong> cada estrato” (POCHMAMM, 2004, p. 4-6).E esse não é um probl<strong>em</strong>a exclusivo dos países pobres. Analisando a socieda<strong>de</strong>francesa da segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 90, Tanguy (1999, p. 3) conclui que “o diploma, <strong>em</strong>si, está longe <strong>de</strong> ser uma proteção contra o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, uma vez que um aumento geral dosníveis <strong>de</strong> formação não exclui um aumento geral das taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego nessa faixa etária.”Nesse sentido, ele é condição necessária, mas não suficiente para a obtenção <strong>de</strong> trabalho,protegendo do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego apenas <strong>de</strong> modo relativo. E vai mais longe ao afirmar que a posse<strong>de</strong> um diploma t<strong>em</strong> um significado diferente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da classe social <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> doestudante. As re<strong>de</strong>s locais e familiares são importantes no processo <strong>de</strong> inserção profissional.Acreditamos que esse raciocínio seja válido também para o Brasil. Em nosso país, osrelacionamentos sociais ainda são <strong>de</strong>terminantes para a inserção dos indivíduos no mercado<strong>de</strong> trabalho, muitas vezes <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da racionalida<strong>de</strong> do mérito e da competência.Seguindo a mesma linha <strong>de</strong> raciocínio, perceb<strong>em</strong>os que não passa <strong>de</strong> um mito a idéia<strong>de</strong> que “o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego é causado pela falta <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação entre os egressos dos vários níveisdo sist<strong>em</strong>a educativo e os recursos requeridos pelas diversas esferas do sist<strong>em</strong>a produtivo. Ataxa geral <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego t<strong>em</strong> muito pouco a ver com o nível médio <strong>de</strong> educação dapopulação, porque a repercussão <strong>de</strong>sse incr<strong>em</strong>ento sobre o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego seria, <strong>em</strong> qualquercaso, muito mo<strong>de</strong>sta” (SANCHIS, 1997, p. 197)Ou seja, o probl<strong>em</strong>a não está num suposto <strong>de</strong>sajuste (mesmo que isso possa estarocorrendo) entre a formação oferecida e as exigências do mercado. Quando a economiaestava <strong>em</strong> expansão e a mão-<strong>de</strong>-obra era escassa as <strong>em</strong>presas admitiam e treinavam jovensinexperientes. A crise econômica e o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego fizeram com que as <strong>em</strong>presas passass<strong>em</strong> acontratar mão-<strong>de</strong>-obra adulta e experiente, exce<strong>de</strong>nte no mercado.Em muitos paíseseuropeus o Estado procurou suavizar a transição da escola ao trabalho. Apesar disso, o
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