Essa <strong>de</strong>sarticulação, é preciso ressaltar, nunca significou a negação do papel das26instituições educativas no <strong>de</strong>senvolvimento econômico.A educação s<strong>em</strong>pre contribuiudiretamente para o <strong>de</strong>senvolvimento das nações. Indiretamente, ainda que certas contribuiçõessejam difíceis <strong>de</strong> quantificar, são inegáveis os efeitos positivos produzidos pela educaçãoformal nas áreas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, fecundida<strong>de</strong>, nutrição, redução da criminalida<strong>de</strong>, coesão social,entre outras (SANCHIS, 1997, p. 222).“A <strong>de</strong>sintegração da promessa integradora não t<strong>em</strong> suposto a negação da contribuição econômica daescolarida<strong>de</strong>, e sim uma transformação substantiva <strong>em</strong> seu sentido. Passou-se <strong>de</strong> uma lógica daintegração <strong>em</strong> função <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> caráter coletivo (a economia nacional, acompetitivida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas, a riqueza social, etc), a uma lógica econômica estritamente privada eguiada pela ênfase nas capacida<strong>de</strong>s e competências que cada pessoa <strong>de</strong>ve adquirir no mercadoeducacional para atingir uma melhor posição no mercado <strong>de</strong> trabalho” (GENTILI, 1998, p. 81).Com o fim da era <strong>de</strong> ouro o sonho da integração econômica é substituído pelapromessa da <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> (<strong>de</strong> caráter privado). No ensino superior o apelo para essapromessa é cada vez mais presente. A ênfase exclusiva nas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção nomercado que a educação po<strong>de</strong> proporcionar t<strong>em</strong> levado os indivíduos a estabelecer<strong>em</strong> ointeresse particular como finalida<strong>de</strong> última <strong>de</strong> todas as suas ações, apesar <strong>de</strong> todas as críticasdirigidas a esse processo 14 .Apesar do apelo insistente das instituições educativas, sobretudo das privadas, queprecisam ressaltar a relação <strong>de</strong> custo benefício dos serviços que oferec<strong>em</strong>, a tão sonhada<strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> ficado apenas na esfera da promessa.As características do capitalismo atual, retratadas por David Harvey, não <strong>de</strong>ixamdúvidas sobre o caráter exclu<strong>de</strong>nte do atual estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das forças produtivas.O contraste que há entre as práticas político-econômicas da atualida<strong>de</strong> e as do período <strong>de</strong>expansão do pós-guerra são relevantes o suficiente para que possamos afirmar que estamosdiante <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> acumulação 15 . A flexibilida<strong>de</strong> dos processos e mercados <strong>de</strong>trabalho, dos produtos e padrões <strong>de</strong> consumo, as inovações tecnológicas, comerciais e14 Sobre esse assunto, indicamos o artigo <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Gisi, Políticas públicas, educação e cidadania.15 Esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> acumulação é <strong>de</strong>nominado por Harvey <strong>de</strong> acumulação flexível, e caracteriza-se pelosurgimento <strong>de</strong> setores <strong>de</strong> produção inteiramente novos, novas maneiras <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> serviços financeiros,novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas <strong>de</strong> inovação comercial, tecnológica eorganizacional” (HARVEY, 1992, p. 140).
27organizacionais, a redução do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha da classe trabalhadora, <strong>em</strong> razão da altamobilida<strong>de</strong> das <strong>em</strong>presas, que passaram a operar <strong>em</strong> regiões on<strong>de</strong> a organização dostrabalhadores é mais fraca, e outras características do capitalismo recente corroboram a tese<strong>de</strong> Harvey (1992).O mais impressionante nesse processo que estamos vivendo é a reatualização dosel<strong>em</strong>entos essenciais do capitalismo. Muita coisa mudou, mas na essência o capitalismocontinua o mesmo. Ou seja, continua sendo orientado para o crescimento, pouco importandoas conseqüências sociais, políticas, geopolíticas ou ecológicas (Ibid, p. 161). Por isso, nãosurpreen<strong>de</strong> o retorno <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> exploração arcaicas, como o trabalho escravo e atransferência <strong>de</strong> algumas etapas do processo produtivo para a esfera doméstica. Junto comelas, a Acumulação Flexível criou o banco <strong>de</strong> horas, a terceirização e os contratos por t<strong>em</strong>po<strong>de</strong>terminado. Tudo para proteger o capital das oscilações do mercado. O crescimento <strong>em</strong>valores reais continua se fundamentando na exploração do trabalho humano. A flexibilizaçãonão trouxe, <strong>em</strong> essência, nada <strong>de</strong> novo. E, é claro, “as tecnologias e formas organizacionaisflexíveis não se tornaram heg<strong>em</strong>ônicas <strong>em</strong> toda parte – mas o fordismo que as prece<strong>de</strong>utambém não” (Ibid., p. 179).Mais importante do que perceber as permanências do antigo mo<strong>de</strong>lo, no entanto, énotar a força das mudanças atuais e o sentido que elas po<strong>de</strong>m assumir no futuro. É claro que osist<strong>em</strong>a educativo cumpre outras importantes funções (além <strong>de</strong> preparar o indivíduo para otrabalho), como a socialização das novas gerações e a transmissão dos saberes e da cultura.No entanto, a função econômica, sobretudo <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>, assume umadimensão importante. O trabalho continua sendo a base da dignida<strong>de</strong> humana, e sua ausênciainterfere <strong>em</strong> todas as instâncias da vida. Não é a toa que os homicídios praticados anualmenteno Brasil representam 9,4% <strong>de</strong> todos os assassinatos no mundo. Há uma relação inequívoca<strong>de</strong>sse dado com o fato <strong>de</strong> que 5% dos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados do mundo estão no Brasil, apesar do
- Page 1 and 2: EMIR GUIMARÃES ANDRICHA EDUCAÇÃO
- Page 3 and 4: SUMÁRIO31 INTRODUÇÃO............
- Page 5 and 6: 5.6 A CONSOLIDAÇÃO DE UM SISTEMA
- Page 7 and 8: RESUMO7Este trabalho analisa as tra
- Page 9 and 10: I - INTRODUÇÃO9A educação super
- Page 11 and 12: 113.17% em 2002 (44% de queda); e n
- Page 13 and 14: 13implementadas por decretos, suces
- Page 15 and 16: 15mudança de perfil de alguns curs
- Page 17 and 18: CAPÍTULO II17A CRISE DO CAPITALISM
- Page 19 and 20: crescimento quantitativo do setor p
- Page 21 and 22: 21tempo em que ele assegurou as con
- Page 23 and 24: era interpretado como um elemento f
- Page 25: 25anos subseqüentes o problema só
- Page 29 and 30: 29garantiu o acesso ao emprego e mu
- Page 31 and 32: 31possuidor é que ele tem atitude
- Page 33 and 34: 33Inicialmente, a crise iniciada na
- Page 35 and 36: 35pelo modelo de desenvolvimento ec
- Page 37 and 38: incentivo à privatização do ensi
- Page 39 and 40: 39na implantação de cursos a dist
- Page 41 and 42: 41“quantidade”, “tempo” e
- Page 43 and 44: 43sentido foi a criação do PROUNI
- Page 45 and 46: 45explorando o pluralismo de idéia
- Page 47 and 48: pesquisas que tivessem interesse co
- Page 49 and 50: financiamento, defende a concepçã
- Page 51 and 52: 51seja creditado à falta de vocaç
- Page 53 and 54: Essa tendência, que não se restri
- Page 55 and 56: superior de ensino, pode ser credit
- Page 57 and 58: 3.1.2 A LDB 36 e os Seus Decretos R
- Page 59 and 60: ) centros universitários e59c) fac
- Page 61 and 62: 61empresários da educação por es
- Page 63 and 64: 63administrativo de cozinha; entre
- Page 65 and 66: 65estimulada pela legislação rece
- Page 67 and 68: 67Estado quase sempre omitem sua im
- Page 69 and 70: pela associação das atividades de
- Page 71 and 72: 71Boa parte da reflexão que Gramsc
- Page 73 and 74: “As várias noções não eram ap
- Page 75 and 76: outrora desempenharam um papel pol
- Page 77 and 78:
CAPÍTULO IV77O ENSINO SUPERIOR NO
- Page 79 and 80:
79Gráfico 2 - Evolução do Númer
- Page 81 and 82:
81GRÁFICO 4 - Evolução do Númer
- Page 83 and 84:
834.1.3 CursosA evolução do núme
- Page 85 and 86:
85Todas essas formas de organizaç
- Page 87 and 88:
87GRÁFICO 8 - Evolução do Númer
- Page 89 and 90:
89cursos, de matrículas e institui
- Page 91 and 92:
91GRÁFICO 11 - Evolução do Núme
- Page 93 and 94:
De 1999 a 2004, o número de cursos
- Page 95 and 96:
95Tabela 16 - Crescimento da Educa
- Page 97 and 98:
97preservação da cultura e da eru
- Page 99 and 100:
99grau. O cenário nacional para as
- Page 101 and 102:
Os modestos indicadores brasileiros
- Page 103 and 104:
103Gráfico 15 - Evolução da Dema
- Page 105 and 106:
105respectivamente. Quatorze anos d
- Page 107 and 108:
na estrutura pública acentuou a de
- Page 109 and 110:
privado em 2004 (43.8%). Aparenteme
- Page 111 and 112:
CAPÍTULO V111PELOS CAMINHOS DA REF
- Page 113 and 114:
finalmente instituir parâmetros pr
- Page 115 and 116:
115Sob o ponto de vista das oportun
- Page 117 and 118:
117aceleração e intensificação
- Page 119 and 120:
119acumulação. “(...) Uma das c
- Page 121 and 122:
5.1.1 A Interação Entre o Decreto
- Page 123 and 124:
123princípios e diretrizes a serem
- Page 125 and 126:
125Nacional”, e que o Decreto-pon
- Page 127 and 128:
127decreto exige a apresentação d
- Page 129 and 130:
129O descumprimento do protocolo de
- Page 131 and 132:
131TABELA 26 - Parâmetros Mínimos
- Page 133 and 134:
133apenas 20% de professores com o
- Page 135 and 136:
1355.4 AUTONOMIA PARA NEGOCIAR COM
- Page 137 and 138:
137ANDES-SN - Associação Nacional
- Page 139 and 140:
139O Projeto de Lei da Reforma prev
- Page 141 and 142:
5.6 A CONSOLIDAÇÃO DE UM SISTEMA
- Page 143 and 144:
143“a adoção [de] um padrão un
- Page 145 and 146:
145as IES possuem um prazo máximo
- Page 147 and 148:
1472004 já dominavam quase 90% do
- Page 149 and 150:
149as rádios e televisões educati
- Page 151 and 152:
151Mas não para a pesquisa cujos r
- Page 153 and 154:
7 REFERÊNCIAS153ABMES - Associaç
- Page 155 and 156:
DECRETO-PONTE para preparar a refor
- Page 157 and 158:
LEHER, Roberto. Reforma universitá
- Page 159 and 160:
____. Educação superior no limiar