22Além da aliança entre o Estado e o setor produtivo, da revolução tecnológica, dosrecursos oriundos do Plano Marshall 11 e da estabilida<strong>de</strong> política internacional 12 , o preço dobarril <strong>de</strong> petróleo saudita, que na época custava menos <strong>de</strong> dois dólares, contribuiu<strong>de</strong>cisivamente para a geração <strong>de</strong> energia barata, fator essencial ao crescimento da indústria(HOBSBAWM, 1995, p. 270-277). A combinação <strong>de</strong>sses fatores levou à maturida<strong>de</strong> dofordismo 13 como regime <strong>de</strong> acumulação. Estava se forjando não só uma nova forma <strong>de</strong>organizar as ativida<strong>de</strong>s produtivas, mas uma nova socieda<strong>de</strong>. A produção <strong>em</strong> massa, oconsumo <strong>em</strong> massa, o planejamento <strong>em</strong> larga escala, as taxas elevadas <strong>de</strong> crescimento eoutras mudanças no âmbito da economia alteraram os padrões <strong>de</strong> vida vigentes. As relaçõesentre capital e trabalho também foram modificadas.Muitos benefícios sociais foramliteralmente barganhados pela “adoção <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> cooperativa no tocante às técnicasfordistas <strong>de</strong> produção e às estratégias corporativas cognatas para aumentar a produtivida<strong>de</strong>”(HARVEY, 1992, p. 128).Todas as mudanças ocorridas no pós-guerra, que levaram as nações <strong>de</strong>senvolvidas àriqueza e refletiram até mesmo na dura realida<strong>de</strong> das nações pobres do globo, impactaram naspolíticas educacionais.“A expansão dos sist<strong>em</strong>as escolares nacionais a partir da segundameta<strong>de</strong> do século XIX” po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada um produto <strong>de</strong>ssa conjuntura. O crescimento dosist<strong>em</strong>a educacional era visto com bons olhos, pois representava uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>integração social num sentido amplo.Na era <strong>de</strong> ouro do capitalismo a dimensão mais<strong>de</strong>stacada era a da integração econômica. Nesse período, proliferavam-se os discursos queenfatizavam o papel produtivo do conhecimento e a importância das instituições escolarespara a competitivida<strong>de</strong> das economias na era da globalização. “O processo da escolarida<strong>de</strong>11 Plano <strong>de</strong> ajuda econômica oferecida pelos EUA aos países europeus arrasados pela guerra.12 Apesar da Guerra Fria, a situação “mundial se tornou razoavelmente estável pouco <strong>de</strong>pois da guerra, epermaneceu assim até meados da década <strong>de</strong> 1970” (HOBSBAWM, 1994, p. 225). Apesar da cotidiana ameaçanuclear, as armas não foram utilizadas. EUA e URSS usaram a ameaça nuclear, “com certeza s<strong>em</strong> a intenção <strong>de</strong>cumpri-la”, <strong>em</strong> algumas ocasiões, apenas. (na Coréia, Vietnã e Afeganistão).13 “A data inicial simbólica do fordismo <strong>de</strong>ve por certo ser 1914, quando Henry Ford introduziu seu dia <strong>de</strong> oitohoras e cinco dólares como recompensa para os trabalhadores da linha automática <strong>de</strong> montag<strong>em</strong> <strong>de</strong> carros queele estabelecera no ano anterior <strong>em</strong> Dearbon, Michigan” (HARVEY, 1992, p. 121). No entanto, a maturida<strong>de</strong>do fordismo como regime <strong>de</strong> acumulação ocorreu após 1945 e seu “núcleo essencial manteve-se firme pelomenos até 1973” (Ibid., p. 134).
era interpretado como um el<strong>em</strong>ento fundamental na formação do capital humano necessáriopara garantir a capacida<strong>de</strong> competitiva das economias e, conseqüent<strong>em</strong>ente, o incr<strong>em</strong>entoprogressivo da riqueza social e da renda individual” (GENTILI, 1998, p. 80).Esse otimismo <strong>em</strong> relação à escolarização era possível, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong>do pleno <strong>em</strong>prego. Quase todos os egressos do sist<strong>em</strong>a educacional eram absorvidos pelomercado <strong>em</strong> expansão. O <strong>de</strong>senvolvimento da industrialização <strong>de</strong> alta tecnologia apontavapara uma diminuição do número <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos, mas os efeitos <strong>de</strong>sse processo não foramsentidos na era do ouro (HOBSBAWM, 1995, p. 262). Não por acaso surgiu na década <strong>de</strong>1950, nos EUA, a Teoria do Capital Humano, que passou a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a idéia <strong>de</strong> que ocrescimento econômico era conseqüência natural do <strong>de</strong>senvolvimento educativo. A educação,na formulação <strong>de</strong>sses teóricos, era consi<strong>de</strong>rada um fator <strong>de</strong> incr<strong>em</strong>ento da produtivida<strong>de</strong> dotrabalho (SANCHIS, 1997, p. 210). Segundo Gentili (Ibid, p. 84-85), <strong>em</strong> razão das mudançasocorridas,“os sist<strong>em</strong>as escolares expandiram-se significativamente a partir <strong>de</strong>sse período, atingindo, <strong>em</strong> algunscasos, um crescimento espetacular. Os países do Terceiro Mundo foram um bom ex<strong>em</strong>plo disso, aindaque neles continuass<strong>em</strong> existindo profundos mecanismos <strong>de</strong> discriminação e exclusão educacional.Enquanto a média <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da população não superava, <strong>em</strong> 1913, os 7,86 anos por habitante nosEstados Unidos; 6,99 na França; 8,37 na Al<strong>em</strong>anha; e 5,36 no Japão, <strong>em</strong> 1973 chegava a 14,58; 11,69;11,55 e 12,09, respectivamente. Na América Latina, a taxa média <strong>de</strong> crescimento anual daescolarização foi, no período 1960-70, <strong>de</strong> 5,8 na educação pré-escolar; 5,7 para o nível primário; 7,1para o segundo grau e 11,1 para o nível superior. O crescimento se manteve <strong>em</strong> aumento (com exceçãodo primeiro grau) durante a década <strong>de</strong> setenta, sendo <strong>de</strong> 10,6 no nível pré-escolar; 3,4 no primeiro grau;8,1 no segundo e 11,5 no superior. Processo que se <strong>de</strong>teve <strong>de</strong> forma estrepitosa nos anos oitenta”.Como se vê, existe uma relação nítida entre o <strong>de</strong>senvolvimento dos sist<strong>em</strong>as escolarese as mudanças no mundo produtivo. A socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna exigiu a generalização da escola, eo <strong>de</strong>senvolvimento da ciência o domínio dos códigos da escrita. Por essa razão, a educaçãoescolar se transformou na forma dominante <strong>de</strong> educação na socieda<strong>de</strong> atual. Todo o processo<strong>de</strong> educação que ocorre fora do âmbito da escola é <strong>de</strong>finido por negação: educação não formal(SAVIANI, 1994, p.157).Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar, no entanto, os limites <strong>de</strong>ssa escolarização. Algunspensadores burgueses perceberam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início a importância da escola para a formaçãoprofissional da classe trabalhadora. No entanto, o mínimo <strong>de</strong> instrução era consi<strong>de</strong>rado23
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