2.1 FUNDAMENTOS DA “REFORMA” 9 DA EDUCAÇÃO SUPERIOR202.1.1 Produção <strong>em</strong> Massa, Escola <strong>de</strong> MassasAs reformas promovidas no sist<strong>em</strong>a superior <strong>de</strong> ensino nas últimas décadas, b<strong>em</strong>como o sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas políticas para a área <strong>de</strong> educação, guardam estreita relaçãocom a crise <strong>em</strong> que mergulhou o capitalismo a partir da década <strong>de</strong> 1970.As conjunturas <strong>de</strong> crise vividas por esse modo <strong>de</strong> produção não constitu<strong>em</strong> nenhumanovida<strong>de</strong>. Elas ocorreram <strong>em</strong> diversos momentos da história, suce<strong>de</strong>ndo períodos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>expansão dos setores produtivos e <strong>de</strong> euforia com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento contínuo daeconomia.Na década <strong>de</strong> 1970 o capitalismo mundial mergulhou <strong>em</strong> mais uma fase <strong>de</strong> crise, daqual até hoje não conseguiu <strong>em</strong>ergir. O período anterior, <strong>de</strong> 1950 a 1973, representou a etapa,na maioria das regiões, <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1820. O crescimento do PIB atingiu,nesse período, uma taxa média anual <strong>de</strong> 4,7 na Europa Oci<strong>de</strong>ntal; 4,0 nos Novos PaísesOci<strong>de</strong>ntais; 6,3 na Europa Meridional; 4,7 na Europa Oriental; 5,3 na América Latina; 6,0 naÁsia e 4,4 na África.Mais impressionante ainda foram os índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, que nãosuperaram 1,5% na Europa Oci<strong>de</strong>ntal e 3,4% na América Latina. (GENTILI, 1998, p. 82-83).Ao contrário do que se possa imaginar, todo esse crescimento não resultou apenas dasforças do mercado. “As gran<strong>de</strong>s histórias <strong>de</strong> sucesso econômico <strong>em</strong> países capitalistas nopós-guerra, com raríssimas exceções (Hong-Kong), são histórias <strong>de</strong> industrializaçãosustentadas, supervisionadas, orientadas e às vezes planejadas e administradas por governos:da França e Espanha na Europa a Japão, Cingapura e Coréia do Sul.” (HOBSBAWM, 1995,p. 264). A dilatação do Estado, nesse período, foi fundamental para o capital. Ao mesmo9 O termo “reforma” não é a expressão mais isenta que se po<strong>de</strong> utilizar para fazer referência ao conjunto <strong>de</strong>mudanças que ocorreram nos últimos anos na educação superior. A adoção <strong>de</strong>sse termo s<strong>em</strong> restrições sugereuma avaliação positiva das transformações ocorridas. Como essa é a expressão mais recorrente, adotar<strong>em</strong>os amesma terminologia ressalvando que não a enten<strong>de</strong>mos no seu sentido estritamente literal.
21t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que ele assegurou as condições materiais para que a classe operária pu<strong>de</strong>sseconsumir os produtos industrializados, anulou conflitos ao incorporar as reivindicaçõessociais dos trabalhadores. (COELHO; ZAINKO, 2005, p. 43)O compromisso político com o pleno <strong>em</strong>prego, com a segurida<strong>de</strong> socialeprevi<strong>de</strong>nciária, proporcionou o surgimento <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong> consumo. “Nos eufóricos anos60 alguns governos incautos chegaram a garantir aos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados – poucos então – 80%<strong>de</strong> seus antigos rendimentos” (HOBSBAWM, 1995, p. 277). Os salários também atingiramníveis elevados, <strong>em</strong> conseqüência da boa fase e das altas taxas <strong>de</strong> lucro. A previsibilida<strong>de</strong> dosmercados consumidores, <strong>em</strong> contínua expansão, facilitava o planejamento das <strong>em</strong>presas.Além <strong>de</strong>sses fatores, merece menção a revolução tecnológica vivida no período,principalmente no setor químico e farmacêutico (Ibid. p. 270-277).Em que pese o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todas as regiões no período <strong>de</strong> 1950 a1973, “a Era do Ouro 10 pertenceu “essencialmente aos países capitalistas <strong>de</strong>senvolvidos, que,por todas essas décadas, representaram cerca <strong>de</strong> ¾ da produção do mundo, e mais <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong>suas exportações manufaturadas” (Ibid. P. 255). As diferenças, acentua Gentili (1998, p. 83),revelaram-se na intensida<strong>de</strong> do crescimento das várias regiões e, principalmente, no “impactosocialmente <strong>de</strong>sigual que teve a distribuição <strong>de</strong>sse crescimento <strong>em</strong> alguns países”. Apesar dasdisparida<strong>de</strong>s, não há dúvidas <strong>de</strong> que os países pobres se beneficiaram das elevadas taxas <strong>de</strong>crescimento do período.Se tomarmos apenas o indicador “níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego” erealizarmos uma comparação <strong>de</strong>sse período áureo com o início do século XXI, perceber<strong>em</strong>osque a <strong>de</strong>sproporção é expressiva. Em meados dos anos 60 o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, na América Latina,era inferior a 3,5%. Em 2001, a taxa média brasileira era da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 9,4%, chegando a 18%entre os jovens (POCHMANN, 2004, p. 3).10 A Era do Ouro foi o termo que HOBSBAWM escolheu para o título <strong>de</strong> uma das partes <strong>de</strong> seu livro sobre oséculo XX, “A Era dos Extr<strong>em</strong>os”. Nessa parte da obra o autor discute a ascensão e <strong>de</strong>cadência do períodoáureo do capitalismo.
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