MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÃÃO ENTRE A ...
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98Iasi (2006, p. 198-199; 2007a, p. 18-19) também apresenta algumascaracterísticas próprias da primeira forma de consciência. A primeira é que asrelações preestabelecidas são vivenciadas pela criança como realidade dada e, comisso, aparece um segundo aspecto, em que a pessoa passa a entender essa relaçãoatravés do mecanismo da ultrageneralização. Por ultrageneralizar, ou seja, tomar aparte pelo todo ou tomar uma realidade (a sua realidade imediata) como sendo arealidade, as relações sociais perdem seu caráter histórico e são tidas comonaturais, terceira característica dessa forma de consciência. Em quarto lugar, está adependência de outro para a realização de suas necessidades, isto é, a realizaçãodo desejo implica a aceitação de uma autoridade. Como quinto aspecto, Iasi levantaque as normas e exigências das relações sociais não permanecem externas, masinteriorizam-se e a pessoa assume-as como suas. A sexta característica é quediante do conflito entre a realização de um desejo e a satisfação de umanecessidade, o indivíduo tende a satisfazer sua necessidade e, por último, a pessoaalém de assumir tais valores e normas como seus, zela por sua continuidade ereprodução. 36Levando em conta essas características, poderíamos dizer que essaconsciência alienada encarna a ideologia, na universalização e explicação dasrelações sociais. Haveria, a partir disso, uma tendência em entendermos, porexemplo, que a nossa escola é a única forma de escola possível, ou de que asrelações de assalariamento são naturais. Tudo isso compõe o senso comum ereforça a ideologia, por naturalizar e justificar determinadas relações sociais que,apesar de alienadas, beneficiam uma das classes em luta, contribuindo para a suamanutenção. Além disso, o outro é visto como quem satisfaz as necessidades,assumindo uma posição importante nas relações de poder.Essa forma de consciência pode ser confirmada e reforçada (o que ocorrena maioria das vezes) ou negada pelas novas relações que a pessoa estabelece nodecorrer de sua vida nos mais variados lugares: na escola, no trabalho, na igreja, nosindicato, no movimento social.incorporação de valores e normas pela criança (na brincadeira, por exemplo), há a mediação de umsistema de significação com que o outro opera, que tem sua dimensão cognitiva e afetiva e que setorna autoconsciente no curso do desenvolvimento. Por outro lado, mesmo considerando que Freudtraga importantes contribuições à análise do psiquismo, vemos que sua perspectiva naturaliza euniversaliza processos históricos.36 De certa forma, na quarta e na sexta características reaparece, de fundo, a concepção freudiana dodesenvolvimento humano adotada por Iasi, com a qual já dissemos ter importantes diferenças.
99Segundo Vigotski (2000b, p. 284), vemos apenas um fragmento do mundo,pois um olho que tudo visse, nada veria; assim como uma consciência que se desseconta de tudo, não se daria conta de nada. Para o autor, a consciência estáencerrada entre certos limiares e no interior desses limiares não se capta toda adiversidade de mudanças e matizes, mas a percepção das mudanças depende denovos limiares. É como se a consciência fosse um órgão seletor, que selecionapontos estáveis da realidade em meio ao fluxo geral. É uma peneira que filtra omundo e o modifica de modo que seja possível agir.A realidade converte-se em concepção de mundo fixada na consciência naforma de linguagem, o que lhe confere certa estabilidade. Essa concepção pode sernaturalizada ou ainda mecanizada, fossilizada (em analogia ao mecanismopsicológico do comportamento fossilizado) com base na alienação. Pensamos, comisso, que a alienação e a ideologia oferecem obstáculos ao avanço para novoslimiares da consciência, já que dão uma aparência de ausência de movimento,quando a realidade é movimento contínuo. No entanto, a ideologia não pode impediro movimento do real, pode no máximo lhe dar uma aparência estática.Sob as relações sociais capitalistas, os limiares da consciência sãodeterminados pela atividade alienada e pela consciência fragmentada da totalidade.Ou seja, são determinados pelas relações materiais dominantes e suascorrespondentes idéias de dominação. Não apenas todos e cada um se inserem emalgum ponto das relações capitalistas, como a consciência social universalizada é aconsciência liberal burguesa.Mas se a formação da consciência se dá pela internalização de certasrelações sociais, devemos lembrar, em primeiro lugar, que as relações sociais sãocontraditórias e que a situação objetiva da classe trabalhadora lhe possibilita apercepção de aspectos contraditórios dessa realidade. Em segundo lugar,entendemos que a inserção da pessoa em novos contextos materiais (mudar decidade, começar a trabalhar ou participar de uma greve, por exemplo) permite novasinternalizações. Ocorre, então, que enunciados, normas, regras sempre aceitas pordeterminada pessoa, podem se somar às já internalizadas ou entrar em choque comessa nova realidade, a partir da percepção e da vivência de um contexto materialque não corresponde, pelo menos em parte, à concepção anterior. Não quer dizerque a mudança no contexto material produza diretamente a internalização de outrosvalores, pois a pessoa pode (e tende a) entender a nova realidade a partir dos
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98Iasi (2006, p. 198-199; 2007a, p. 18-19) também apresenta algumascaracterísticas próprias da primeira forma de consciência. A primeira é que asrelações preestabelecidas são vivenciadas pela criança como realidade dada e, comisso, aparece um segundo aspecto, em que a pessoa passa a entender essa relaçãoatravés do mecanismo da ultrageneralização. Por ultrageneralizar, ou seja, tomar aparte pelo todo ou tomar uma realidade (a sua realidade imediata) como sendo arealidade, as relações sociais perdem seu caráter histórico e são tidas comonaturais, terceira característica dessa forma de consciência. Em quarto lugar, está adependência de outro para a realização de suas necessidades, isto é, a realizaçãodo desejo implica a aceitação de uma autoridade. Como quinto aspecto, Iasi levantaque as normas e exigências das relações sociais não permanecem externas, masinteriorizam-se e a pessoa assume-as como suas. A sexta característica é quediante do conflito entre a realização de um desejo e a satisfação de umanecessidade, o indivíduo tende a satisfazer sua necessidade e, por último, a pessoaalém de assumir tais valores e normas como seus, zela por sua continuidade ereprodução. 36Levando em conta essas características, poderíamos dizer que essaconsciência alienada encarna a ideologia, na universalização e explicação dasrelações sociais. Haveria, a partir disso, uma tendência em entendermos, porexemplo, que a nossa escola é a única forma de escola possível, ou de que asrelações de assalariamento são naturais. Tudo isso compõe o senso comum ereforça a ideologia, por naturalizar e justificar determinadas relações sociais que,apesar de alienadas, beneficiam uma das classes em luta, contribuindo para a suamanutenção. Além disso, o outro é visto como quem satisfaz as necessidades,assumindo uma posição importante nas relações de poder.Essa forma de consciência pode ser confirmada e reforçada (o que ocorrena maioria das vezes) ou negada pelas novas relações que a pessoa estabelece nodecorrer de sua vida nos mais variados lugares: na escola, no trabalho, na igreja, nosindicato, no movimento social.incorporação de valores e normas pela criança (na brincadeira, por exemplo), há a mediação de umsistema de significação com que o outro opera, que tem sua dimensão cognitiva e afetiva e que setorna autoconsciente no curso do desenvolvimento. Por outro lado, mesmo considerando que Freudtraga importantes contribuições à análise do psiquismo, vemos que sua perspectiva naturaliza euniversaliza processos históricos.36 De certa forma, na quarta e na sexta características reaparece, de fundo, a concepção freudiana dodesenvolvimento humano adotada por Iasi, com a qual já dissemos ter importantes diferenças.