94consciência de classe em si. Em seu desenvolvimento, a consciência de classe podetomar a forma de reivindicação: para outros. Por exemplo, quando reivindica aocapitalista o aumento do salário. E finalmente pode assumir a forma de consciênciarevolucionária: para si. Tal nomenclatura difere um pouco da convencionada porLukács e Iasi, mas o sentido do movimento é correlato.3.4 DA CONSCIÊNCIA ALIENADA E FRAGMENTADAComo às vezespassa com os cães,parecia o rio estagnar-se.Suas águas fluíam entãomais densas e mornas;fluíam com as ondasdensas e mornasde uma cobra.João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas)Já vimos que a consciência alienada é gerada por uma atividade materialalienada e que a sociedade de classes, fonte da alienação, produz também umaconsciência social na forma de ideologia. Mas que fatores contribuem para aperpetuação da alienação e que características a consciência alienada assume noindivíduo?Tomando como base a teoria da vida cotidiana de Heller 34 , buscaremosalgumas contribuições importantes para o entendimento da consciência alienada,utilizando especialmente as leituras de Duarte (1993) e Rossler (2004; 2006b) sobrea obra de Heller.Rossler (2004, p. 102-104; 2006b, p. 27-35) observa que Heller divide a vidasocial em dois grandes âmbitos, o da vida cotidiana e o das esferas não-cotidianas.A vida cotidiana constitui-se pelas objetivações genéricas em-si, ou seja, aquelascuja apropriação está voltada à reprodução de nossa existência como indivíduos e àsatisfação das necessidades básicas. São objetivações genéricas em-si: aclasse: consciência alienada, em si (como a para outros, reivindicatória) e para si (como aautoconsciente).34 Agnes Heller, autora húngara e discípula de Lukács, tem seus primeiros trabalhos situados nocampo do marxismo, do qual se afasta posteriormente. Utilizaremos parte de suas discussõesconsideradas como contribuições à teoria histórico-social de formação do indivíduo (ver em DUARTE,1993, p. 133)
95linguagem, os objetos (instrumentos e utensílios) e os usos e costumes de cadasociedade. Outro aspecto fundamental para nossa discussão é que “a vida dohomem nessa esfera, suas atividades, suas apropriações e objetivações, isto é, oprocesso de formação de sua individualidade, se dá essencialmente de formaespontânea, natural, não-reflexiva (...)”, reproduzindo assim sua cultura de formatambém natural e espontânea. (ROSSLER, 2006b, p. 32).Já o âmbito não-cotidiano embora tenha sua gênese na própria vidacotidiana, se estrutura a partir das objetivações genéricas para-si, isto é, dasciências, artes, filosofia, ética e política. Tais objetivações estão voltadas àreprodução da existência da sociedade e satisfazem a necessidades superiores.(Rossler, 2006b, p. 35).Entende-se que o desenvolvimento pleno dos indivíduos não se dáenquanto ele estiver cerceado pela cotidianidade, é necessário que o indivíduo entreem relação com a genericidade para-si, que faz parte das conquistas dahumanidade em seu desenvolvimento. Como diz Rossler,O homem que não se apropriou das esferas não-cotidianas da vida socialhumana não pode conduzir sua vida quando assim se fizer necessário,guiado pela razão, pelo espírito crítico da lógica e da reflexão filosófica, pelosconhecimentos filosóficos e científicos produzidos e acumulados ao longo dahistória, pelas leis da ética e pela sensibilidade estética inerente a todas asformas de arte (como a literatura, por exemplo). (ROSSLER, 2006b, p. 43-44)É aqui que entra a relação da cotidianidade com a alienação. O cotidianonão é necessariamente alienado, mas na sociedade de classes apresenta-se comoterreno fértil à alienação, pois reduz os homens à reprodução da existênciaindividual e satisfação de necessidades básicas, impedindo-os de se apropriarem deesferas do gênero humano, nesse caso, da genericidade para-si. O fenômeno daalienação depende, porém, de outras determinações materiais (a divisão social dotrabalho e a propriedade privada dos meios de produção, tema que já tratamos nocapítulo 1). Além disso, a estrutura da vida cotidiana penetra nas esferas nãocotidianas,quando as pessoas se mostram incapazes de romper com a vidacotidiana mesmo quando isso se faz necessário (ROSSLER, 2006b, p. 45).A estrutura da vida cotidiana desenvolve um psiquismo cotidiano, comformas próprias de pensar, sentir e agir. Como nos diz Vigotski (2000a, p. 33), a todaideologia social corresponde uma estrutura psicológica de tipo definido, no sentido
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