92Desse modo, não existe uma essência revolucionária ou reformista da classetrabalhadora, mas ela movimenta-se conforme a oscilação de seu ser social e queconforma sua consciência de classe.E é nesse complexo processo que se forjam os sujeitos capazes de realizara transformação social e emancipar a humanidade, superando o abismo existenteentre a produção do ser genérico e sua apropriação pelos indivíduos. No entanto, étão somente de forma coletiva, organizada e consciente que essa ruptura torna-sepossível. Que mediações são necessárias entre a consciência de classe doindivíduo e a ação coletiva como classe?Marx, em A miséria da filosofia, discorre sobre a formação da classe em si eda classe para si, com base em que Lukács formula os conceitos de consciência emsi e consciência para si. Segundo Marx,As condições econômicas tinham primeiramente transformado a massa dopaís em trabalhadores. A dominação do capital criou para essa massa umasituação comum de interesses comuns. Assim, essa massa já constitui umaclasse em relação ao capital, porém não para ela mesma. Na luta (...), essamassa se reúne, constitui-se em classe por si própria. Os interesses que eladefende tornam-se interesses de classe. A luta, porém, entre classe e classeé uma luta política. (MARX 2007, p. 190-191).Quem cria objetivamente a classe em si é o domínio do capital, que coloca amassa da população em condições iguais. Quem cria a classe para si é omovimento de resistência e luta política da própria classe. Podemos analisar essesconceitos através de duas trajetórias. A primeira é da análise histórica, quando amassa da população constitui-se como classe trabalhadora por sua relação comoutra classe. Como condição de sobrevivência, à classe expropriada dos meios deprodução resta a venda de sua força de trabalho. A partir da consolidação dosistema capitalista e da opressão voltada à classe trabalhadora pela burguesia, aclasse trabalhadora começa a organizar-se e agir como classe, a partir dascondições objetivas colocadas. Exemplo disso é a reunião de muitos trabalhadoresnum mesmo espaço de trabalho, sua articulação no processo produtivo etc.Percebemos então que historicamente a classe em si surge antes da classe para si.Quando a classe trabalhadora tem seus primeiros movimentos autônomos,organizada como classe com interesses próprios, é que se pode falar em classepara si.No entanto, uma vez alcançada a posição de classe para si, não quer dizer
93que o proletariado permaneça organizado na luta política e não volte a amoldar-seao capital. Há dois movimentos em jogo: um é o de a classe colocar-se comoautônoma pela primeira vez no movimento histórico, e o outro é o dela reconquistaressa posição em diferentes momentos, em busca da superação das relaçõescapitalistas.Iasi destaca esse movimento e retoma essas conceituações, afirmando quea classe em si define-se por ser determinada por suas relações com as outrasclasses, a classe trabalhadora na sua relação com a burguesia, é um ser-para-outro;enquanto a classe para si, além de ser uma classe do capital, se reconhece comotal, possui uma ‘autoconsciência’. Além de saber para si mesma que vende a forçade trabalho e produz valor, a classe trabalhadora sabe que pode interromper oprocesso de valorização. (IASI, 2006, p. 321-322).Algumas aproximações nos parecem possíveis no desenvolvimento daconsciência individual. Ao enunciar a lei geral do desenvolvimento cultural, Vigotskiaponta que todo o desenvolvimento cultural passa por três estágios: em si, paraoutros e para si. Como exemplo, podemos citar o gesto indicativo. De início, o bebêestende o braço em direção a um objeto como um movimento mal sucedido dealcançar (em si). Sua mãe passa a entender o gesto como indicação, pois estemovimento objetivo é significado pelo meio social como tal, e ajuda-o a alcançar oobjeto (para outros). Só depois a criança começa a indicar, ou seja, internaliza osignificado social e passa a usá-lo como mediador em sua ação (para si).(VIGOTSKI, 2000a, p. 24).O mesmo ocorre em todo o desenvolvimento cultural, com os signos, com alinguagem, com as funções psicológicas. Assim também com o processo deformação da personalidade. Para Vigotski (2000a, p. 25), “a personalidade torna-separa si aquilo que ela é em si, através daquilo que ela antes manifesta como seu emsi para os outros.” Daí explica-se que tudo que é interno e autoconsciente (para si),foi antes externo (para outros).Parece-nos coerente dizer que movimento semelhante ocorre no processode consciência de classe. Inicialmente, a consciência social na forma de ideologia éinternalizada como consciência fragmentada ou consciência alienada. Setomássemos os termos usados por Vigotski 33 , poderíamos denominá-la como33 Note-se que os termos utilizados por Vigotski para o processo da consciência individual: em si,para outros e para si; não coincidem com os usados por Iasi para o processo da consciência de
- Page 1:
MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDAA RELA
- Page 4 and 5:
4AGRADECIMENTOSÀ Prof.ª Dra. Clau
- Page 6 and 7:
6RESUMOA presente pesquisa teve por
- Page 8 and 9:
8SUMÁRIOINTRODUÇÃO..............
- Page 10 and 11:
10INTRODUÇÃOO que vivenão entorp
- Page 12 and 13:
12de nossa pesquisa, qual seja, a r
- Page 14 and 15:
14dos autores.As obras de Vigotski
- Page 16 and 17:
16mundo e a formação e desenvolvi
- Page 18 and 19:
181.1 O SALTO ONTOLÓGICO DO ANIMAL
- Page 20 and 21:
20mesma um objeto da sua vontade e
- Page 22 and 23:
22As relações sociais caracterís
- Page 24 and 25:
24homens. A organização das inten
- Page 26 and 27:
criado. 12 Identificam-se ainda com
- Page 28 and 29:
28OLIVEIRA (2005) complementa essa
- Page 30 and 31:
30b) está alienado de si mesmo (de
- Page 32 and 33:
32consciência. A consciência obje
- Page 34 and 35:
34ensinará as técnicas para cada
- Page 36 and 37:
36universalizar e estabelecer uma v
- Page 38 and 39:
38necessário um processo real de r
- Page 40 and 41:
402 A CONSTITUIÇÃO E O DESENVOLVI
- Page 42 and 43: 42pela mediação da linguagem, ou
- Page 44 and 45: 44Contrário a isso e apoiado em Ma
- Page 46 and 47: 46O desenvolvimento das funções p
- Page 48 and 49: 48Para Vigotski (2000b, p. 35), o d
- Page 50 and 51: 50primeiro momento, todas as funç
- Page 52 and 53: 52de trabalho, servindo de mediaç
- Page 54 and 55: 54partir da apropriação de conhec
- Page 56 and 57: 56processo de conhecimento, modific
- Page 58 and 59: 58relacionar o estímulo visual com
- Page 60 and 61: 60oxigênio conserva a combustão.
- Page 62 and 63: 62fundamenta-se no desenvolvimento
- Page 64 and 65: 64Vigotski (1999a, p. 182) demonstr
- Page 66 and 67: 66A partir disso, podemos pensar qu
- Page 68 and 69: 68resultado do significado, ou seja
- Page 70 and 71: 70vez que se desenvolve o pensament
- Page 72 and 73: 721) Todo conceito científico-natu
- Page 74 and 75: 74para a compreensão da consciênc
- Page 76 and 77: 76lembrança desse período porque
- Page 78 and 79: 783 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DA CON
- Page 80 and 81: 80socialmente. Isso significa que m
- Page 82 and 83: 82das conquistas humanas de nosso m
- Page 84 and 85: 84do que os sistemas e relações s
- Page 86 and 87: 86Baseando-se nas elaborações de
- Page 88 and 89: 88contribuição, por sistematizar
- Page 90 and 91: 90revolucionária expressam diferen
- Page 94 and 95: 94consciência de classe em si. Em
- Page 96 and 97: 96da assimilação subjetiva e port
- Page 98 and 99: 98Iasi (2006, p. 198-199; 2007a, p.
- Page 100 and 101: 100velhos valores, internalizados c
- Page 102 and 103: 1023.6 DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE EM
- Page 104 and 105: 1043.7 DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE PA
- Page 106 and 107: 106sentido, destacamos a seguinte p
- Page 108 and 109: 108realidade. (LÖWY, 1987, p. 199-
- Page 110 and 111: 110atividade psicológica. O domín
- Page 112 and 113: 112em relações alienadas, nem sem
- Page 114 and 115: 114Em primeiro lugar, porque os ind
- Page 116 and 117: 116desenvolvimento histórico da hu
- Page 118 and 119: 118CONSIDERAÇÕES FINAISPorque é
- Page 120 and 121: 120materiais da sociedade se chocam
- Page 122 and 123: 122psiquismo humano de cada períod
- Page 124 and 125: 124suas verdadeiras relações e co
- Page 126 and 127: 126REFERÊNCIASAGUIAR, W. M. J. Ref
- Page 128 and 129: 128KLEIN, L. R. Fundamentos para um
- Page 130 and 131: 130ROSSLER, J. H. Sedução e alien