88contribuição, por sistematizar e aprofundar esse debate em sua obra intituladaHistória e consciência de classe, de 1922. O próprio autor faz posteriormente umaanálise crítica dessa obra, compilada no Prefácio publicado em 1967. Emborareconheça várias contribuições para o estudo no campo do marxismo,especialmente ao sistematizar o debate em curso na época, entende que o texto de1922 tem alguns aspectos subjetivistas e não incorpora aspectos fundamentais daontologia marxista. Ainda assim, entendemos que suas reflexões são úteis parafazer avançar o debate e o estudo de nosso objeto.LUKÁCS (2003) faz uma análise histórica das consciências de classe,trazendo, por exemplo, a consciência estamentária presente na ordem feudal. Alémdisso, mostra o importante papel da consciência da classe burguesa, bem comoseus limites a partir do capitalismo estabelecido.Embora o capitalismo se constitua como a primeira forma de organização daprodução que tende a penetrar de todos os lados da sociedade e estando aburguesia em condições, portanto, de ter consciência da totalidade do modo deprodução; sua posição na produção e os interesses que determinam sua ação,tornam impossível dominar, mesmo teoricamente, sua própria organização daprodução. (LUKÁCS, 2003).(...) esta [a burguesia] age como classe no desenvolvimento econômicoobjetivo da sociedade, mas só pode tornar-se consciente do desenvolvimentodesse processo que ela mesma efetua como um processo que lhe é exterior,submetido a leis e que ela só pode experimentar de modo passivo.(LUKÁCS, 2003, p. 163).Levando em conta o caráter da consciência possível à burguesia, o autorhúngaro traz outra reflexão, sobre o caráter distinto da consciência de classe doproletariado. Entende o proletariado como a classe que, nas relações sociaiscapitalistas, tem a possibilidade de desenvolver uma consciência revolucionária.Assim destaca que a consciência revolucionária não é o que pensam os indivíduos,mas constitui-se como uma possibilidade objetiva. (LUKÁCS, 2003; IASI, 2002)Essa possibilidade é determinada, pois, objetivamente, o que leva Lukács aafirmar que a consciência de classeNão é, portanto, nem a soma, nem a média do que cada um dos indivíduosque formam a classe pensam, sentem etc. E, no entanto, a açãohistoricamente decisiva da classe como totalidade é determinada, em última
89análise por essa consciência e não pelo pensamento do indivíduo; essa açãosó pode ser conhecida a partir dessa consciência. (LUKÁCS, 2003, p. 142)Outra importante contribuição ao nosso estudo vem de um autor brasileiro,pesquisador do processo de consciência de classe segundo a perspectiva marxista.Iasi tem seus estudos concentrados nesse tema, inclusive seu mestrado edoutorado, dos quais resultaram as seguintes obras: O dilema de Hamlet: o ser e onão ser da consciência (2002) e As metamorfoses da consciência de classe: o PTentre a negação e o consentimento (2006). Nelas, o autor aponta síntesesfundamentais, que servirão para nós como orientação para o estudo. Entre elas, opróprio conceito de consciência de classe.A consciência de classe deve ser entendida como a consciência de umaclasse social, que é determinada por seu ser social. Sendo assim, a consciênciaburguesa também pode ser entendida como uma consciência de classe, da classedominante e aquela que se universaliza como consciência social. No entanto, nossointeresse na presente pesquisa é sobre o processo de desenvolvimento daconsciência de classe dos trabalhadores como consciência revolucionária, narelação com a trajetória de seu ser social, amoldado ou como resistência à ordemestabelecida. Neste caso, um interesse especial pelas possibilidades deapropriação da visão social de mundo marxista pela consciência individual e suaimportância na produção de ações que visem a superação da sociedade capitalista.Para Iasi (2006), a consciência de classe tem relação direta com o ser socialda classe. Bem como seu ser social, a consciência da classe se define pelos váriosmomentos de seu movimento. Olhando para diferentes momentos históricos,percebemos que a classe trabalhadora ora amolda-se à ordem do capital oraapresenta ações coletivas de resistência (às vezes mais e às vezes menosorganizadas) e de busca pela superação dessa ordem, ou seja, seu ser social nãose coloca de forma homogênea na relação com o capital. Assim, a consciência declasse dos trabalhadores não se define exclusivamente pela consciênciafragmentada e alienada do indivíduo isolado, nem pela consciência da classe comosujeito revolucionário, mas pelo movimento que leva de um a outro.A classe trabalhadora não é, segundo essa concepção, nemessencialmente subordinada e amoldada ao capital nem essencialmenterevolucionária como alternativa histórica ao capital. Por essa definição, tanto aconsciência alienada como a consciência da alienação ou a consciência
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