84do que os sistemas e relações sociais entre pessoas trasladados para apersonalidade” (VIGOTSKI, 1999a, p. 133).Não podemos esquecer, porém, que essas relações sociais e a realidadesão contraditórias. A dinâmica social e, por conseqüência, a dinâmica dapersonalidade desenvolvem-se com essas contradições. Ao trasladarem-se para apessoa, os sistemas sociais internalizam-se como sistemas psicológicos em luta. Aochoque dos sistemas em luta, que vai caracterizar a dinâmica da personalidade,Vigotski chama de drama. (Vigotski, 2000a, p. 34-37).O drama é entendido como um conjunto múltiplo e contraditório de relaçõesque se estabelece na vida social de cada pessoa e constitui-se, além de ação e ummisto entre comédia e tragédia (tal como própria vida), de um choque de hierarquiasdivergentes entre funções vivenciadas pela pessoa nas suas diferentes relações. Talconflito se dá tanto entre os significados divergentes dos papéis em confronto, que apessoa desempenha nas diferentes relações, como entre os sentimentos e valoresvinculados a elas. (MELO, 2001, p. 42-44). Essa nos parece ser uma chave paraentender alguns conflitos entre a consciência individual e a consciência de classe,como mostraremos à frente.Vigotski (1998a) discute ainda outro mecanismo psicológico que deve serlevado em conta no estudo das funções psicológicas: o do comportamentofossilizado. O comportamento fossilizado constitui-se de uma automatização oumecanização dos processos psicológicos. Quer dizer que no decorrer dodesenvolvimento, alguns processos que foram repetidos inúmeras vezes, tornaramsemecanizados. A partir desse momento, sua aparência externa não revela maissua natureza interna, já que o produto esconde o processo necessário àautomatização. O comportamento fossilizado nega a etapa anterior dedesenvolvimento e se configura como um aparente retorno, mas qualitativamentesuperior. Vigotski exemplifica esse processo com a atenção voluntária e ainvoluntária. A atenção voluntária, depois de estabelecida, aparece de forma igual àinvoluntária. Entretanto, há entre elas uma diferença qualitativa por conta dainserção dos signos no processo.Se, como nos diz Vigotski, o mecanismo do comportamento fossilizadoocorre com as funções psicológicas, supomos que também acontece com aformação da consciência. Ou seja, alguns aspectos são internalizados e seautomatizam, podendo naturalizar-se. Poderíamos pensar, então, que relações
85sociais internalizadas na forma de concepção de mundo mecanizam-se ounaturalizam-se como explicações e representações automáticas da realidade. Aconcepção de mundo dominante na forma de ideologia é naturalizada como aconsciência social e é internalizada pelos indivíduos dessa sociedade.As relações sociais que predominam na sociedade capitalista são relaçõesde pessoas umas com as outras como possuidoras de mercadorias. Dessa forma,cada relação social aparece como uma relação entre mercadorias, entre coisas. Sãoos homens, em suas relações de produção, que criam as mercadorias. Os objetosproduzidos na forma de mercadoria se personificam e o homem se coisifica. É comose a mercadoria ganhasse autonomia daquele que a produziu, caracterizando ofetichismo da mercadoria, quando “determinada relação social entre os próprioshomens (...) assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas” (MARX,1988, p. 71). Esse tipo de relação histórica é naturalizada pelos membros dessasociedade, como se não houvesse sociedades que tivessem sido diferentes, o queimplica que também não deve haver a possibilidade de produzir uma organizaçãosocial que elimine a relação coisificada. (MARX, 1988).Assim como as relações coisificadas são mecanizadas ou naturalizadas –sua aparência não mostra mais o que lhe deu origem, o próprio trabalho humano –,as relações alienadas, decorrentes do processo produtivo e do modo de produçãocapitalista da existência, também se naturalizam. Naturalizam-se porque seencontram instituídas, naturalizadas e legitimadas nas relações de poder que sereproduzem.Esse instituído reproduz-se no sistema de significação. Assim, o signoaparece como monovalente (com uma significação rígida), de acordo com aideologia. Isso tem conseqüências na relação entre o significado social e o sentido,que sob relações alienadas cindem. O indivíduo produz sentidos correspondentes àsua atividade e que se cristalizam. Numa sociedade em que a prática materialnecessária à reprodução da vida produz os valores do individualismo, dacompetitividade, da propriedade e que estes predominam como significados, asações das pessoas e seu sistema de conceitos são mediados por esses significadosdominantes. Mas também circulam outros valores, fazendo com que o que se vivenão necessariamente seja confirmado pelo que se diz.
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