82das conquistas humanas de nosso momento histórico. Parece-nos que umaimportante conquista é o pensamento por conceitos, que não existe a priori aonascermos, mas precisa ser desenvolvido através da dinâmica da apropriaçãoobjetivação.Ao desenvolver o sistema de conceitos, nos apropriamos de formas decompreensão da realidade (de uma concepção de mundo), o que ocorre através denossa atividade sobre o mundo e que serve para significar nossas experiências. Detal modo, o sistema psicológico modifica-se no decorrer de nosso desenvolvimento.O papel do sonho, por exemplo, altera-se também conforme nossa idade, ou nossograu de apropriação do desenvolvimento cultural. É diferente o papel do sonho paraum bebê, uma criança de 10 ou uma pessoa de 30 ou 70 anos.No seguinte trecho, Vigotski volta a demonstrar que as palavras, unidadesde som e significado, têm sua origem nas relações vivas e concretas e surgem danecessidade de dar significado para comunicar, abstrair, generalizar a realidade:No desenvolvimento da linguagem, as palavras não se originamarbitrariamente, senão sempre em forma de signo natural relacionado comuma imagem ou uma operação; na linguagem infantil, os signos nãoaparecem como inventados pelas crianças: os recebem das pessoas que osrodeiam e tão somente depois tomam consciência ou descobrem as funçõesde tais signos. (VIGOTSKI, 2000b, p. 179, tradução nossa).Havendo uma relação intrínseca entre a palavra e a consciência - como dizVigotski, “a palavra consciente é o microcosmo da consciência humana” (2001a, p.486) - a história da palavra demonstra o caráter histórico da consciência.Vimos através dos exemplos apresentados, que os sistemas psicológicossão constituídos por um sistema de significação – que é um sistema construídosocial e historicamente para compreensão da realidade e, portanto, permeado porsuas contradições. Os significados são forjados no intercâmbio social e terãocaracterísticas das relações sociais, dos modos de vida, da base material que dãoorigem a esses significados. Sendo as relações sociais permeadas por contradições– no caso da sociedade capitalista, contradições de classe - os significados tambémestarão. Mas qual o impacto das contradições de classe na produção dossignificados e em sua constituição como ideologia?
833.2 A CONCEPÇÃO <strong>DE</strong> MUNDO CONVERTIDA EM I<strong>DE</strong>OLOGIADe acordo com o debate apresentado no capítulo 1, entendemos que aconsciência social produzida em uma sociedade de classes converte-se emideologia, concebida como as idéias da classe dominante e que contribuem - pelaposição social daqueles que a produzem, a classe dominante - para justificar enaturalizar a ordem estabelecida, mantendo ocultos aspectos da realidade quepossam levar à percepção das contradições sociais. Não quer dizer que a classedominante faça isso necessariamente de maneira intencional, pelo contrário, pormais que a ideologia possa ser produzida de forma a distorcer o real, ela é tambémproduzida para conhecer e explicar o real, ainda que da perspectiva e da posição daclasse dominante.Há, portanto, um discurso dominante em cada época histórica, que forjarádeterminados significados fixados na forma de consciência social. A concepção demundo - presente no sistema de significação, nos signos, na palavra – estáimpregnada das idéias dominantes do momento em que é produzida. Paratransformar a concepção de mundo, não se trata, porém, de trocar as idéiasdominantes por outras idéias, já que estas são fruto das relações materiaisdominantes, e não simples idéias. Há que transformar o próprio mundo material esuas relações que serão expressas em novas concepções de mundo.Como vimos no capítulo anterior, as idéias dominantes serão apropriadas eassumidas pelos indivíduos, como as suas idéias. Ao falar da estética em Psicologiada Arte, Vigotski mostra como a consciência individual constitui-se tendo comoreferência a consciência social. Para tanto cita Pliekhánov:A natureza do homem faz com que ele possa ter gostos e conceitosestéticos. As condições que o cercam determinam a transformação dessapossibilidade em realidade, por elas se explica que determinado homemsocial (isto é, dada sociedade, dado povo, dada classe) tenha justamenteesses e não outros gostos e conceitos estéticos... (PLIEKHÀNOV apudVIGOTSKI, 1999b, p. 10, grifos no original).Com isso, Vigotski nos remete novamente à idéia de que a personalidade seforma com base em sistemas sociais internalizados e que “os traços sociais e declasse formam-se no homem a partir de sistemas interiorizados, que nada mais são
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