721) Todo conceito científico-natural, por mais alto que seja seu grau deabstração em relação ao fato empírico, encerra também uma concentração,um sedimento da realidade concreta e real de cujo conhecimento científicosurgiu, ainda que seja só em uma solução muito fraca. (...)2) (...) todo fato científico-natural isolado, por mais empírico e pouco maduroque seja, já encerra uma abstração primária. (VIGOTSKI, 1999a, p. 232; 234)Com isso, passamos à questão da unidade entre cognição e afeto nodesenvolvimento dos conceitos.2.8.2 A unidade afetivo-cognitiva no desenvolvimento de conceitosPensar é um ato. Sentir é um fato.(...) O fato é um ato?Clarice Lispector (A hora da estrela)Todo o processo de formação de conceitos é constituído também poraspectos afetivo-emocionais, ou seja, mobiliza e constitui as emoções. Vigotski(1998b, p. 101) considera que as emoções produzem alterações não só na estruturado psiquismo como em toda a diversidade de conteúdo da vida psíquica do homeme, nesse sentido, são fundamentais para a formação da estrutura da personalidade.O autor realizou estudos e experimentos sobre as diversas funçõespsicológicas superiores e suas relações. Alguns desses estudos são especialmenteinteressantes para a reflexão da produção da consciência: as emoções e aimaginação. Para ele, há uma relação intrínseca entre o afeto e a cognição:Quando falamos da relação do pensamento e da linguagem com os outrosaspectos da vida da consciência, a primeira questão a surgir é a relaçãoentre o intelecto e o afeto. Como se sabe, a separação entre a parteintelectual da nossa consciência e a sua parte afetiva e volitiva é um dosdefeitos radicais de toda a psicologia tradicional. Neste caso, o pensamentose transforma inevitavelmente em uma corrente autônoma de pensamentosque pensam a si mesmos, dissocia-se de toda a plenitude da vida dinâmica,das motivações vivas, dos interesses, dos envolvimentos do homempensante e, assim, se torna ou um epifenômeno totalmente inútil, que nadapode modificar na vida ou no comportamento do homem, ou uma força antigaoriginal e autônoma que, ao interferir na vida da consciência e na vida doindivíduo, acaba por influenciá-las de modo incompreensível. (VIGOTSKI,2001a, p. 15-16).Nessa passagem, Vigotski além de afirmar a relação entre intelecto e afeto,
73critica as abordagens que separam esses aspectos, mostrando que a explicação dopensamento pressupõe entendê-lo em suas múltiplas determinações: seus motivos,interesses, necessidades, o que está relacionado com a emoção. Da mesma forma,o afeto é também influenciado pelo próprio pensamento, modifica-se, como vemos aseguir:Já dissemos que, como expressava corretamente Spinoza, o conhecimentode nosso afeto altera este, transformando-o de um estado passivo em outroativo. O fato de eu pensar coisas que estão fora de mim não altera nadanelas, ao passo que o fato de pensar nos afetos, situando-os em outrasrelações com meu intelecto e outras instâncias, altera muito minha vidapsíquica. Em termos simples, nossos afetos atuam num complicado sistemacom nossos conceitos e quem não souber que os ciúmes de uma pessoarelacionada com os conceitos maometanos da fidelidade da mulher sãodiferentes dos de outra relacionada com um sistema de conceitos opostossobre a mesma coisa, não compreende que esse sentimento é histórico, quede fato se altera em meios ideológicos e psicológicos distintos apesar de quenele reste sem dúvida um certo radical biológico, em virtude do qual surgeessa emoção. (VIGOTSKI, 1999a, p. 127).VIGOTSKI (2001a, p. 16) afirma, então, a unidade dos processos afetivos eintelectuais em um sistema semântico dinâmico, mostrando que “em toda idéiaexiste, em forma elaborada, uma relação afetiva do homem com a realidaderepresentada nessa idéia”. 29As funções psicológicas que se desenvolvem no homem são perpassadaspor essa unidade afetivo-cognitiva. Dentre elas, uma que se destaca e contribui noentendimento do processo de consciência de classe é a imaginação. Odesenvolvimento da imaginação está intrinsecamente relacionado aodesenvolvimento da linguagem. Com a ajuda da linguagem, a criança obtém apossibilidade de se libertar do poder das impressões imediatas, extrapolando seuslimites. Nesse sentido, configura-se como uma função e um processo fundamental29Ainda nessa direção, podemos destacar a polêmica de Vigotski com Piaget sobre odesenvolvimento do pensamento. Para Piaget, o pensamento primário seria o autístico, que secaracteriza por ser movido pelo desejo, por ser individual e incomunicável pela linguagem. A ele,segue o pensamento egocêntrico, regido ainda pelo devaneio, pela brincadeira e que serve detransição ao pensamento realista, dirigido, adaptado à realidade e comunicável pela linguagem. ParaVigotski, esse seria um raciocínio idealista, que considera um pensamento autístico a priori, que ageindependente do real. O autor soviético afirma que tanto no pensamento autístico como no realista háuma síntese dos processos intelectual e emocional. No pensamento realista, o processo emocionaldesempenha um papel muito mais de acompanhante do que de diretor, mais subordinado do quecondutor, ao passo que no pensamento autista ele tem o papel de direção. Apesar disso, opensamento realista, quando está relacionado com uma importante tarefa ao indivíduo, provoca edesperta uma série de sensações emocionais de caráter muito mais considerável e mais intenso queo pensamento autista. Tanto a imaginação como o pensamento realista podem ser caracterizados poruma ‘elevadíssima emocionalidade’. (VIGOTSKI, 2001a).
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