66A partir disso, podemos pensar que a consciência se constitui como reflexoda realidade. Entretanto, esse reflexo não ocorre de forma direta, imediata, masmediada pelo universo de significações e conceitos lingüísticos produzidossocialmente e que dependem da natureza das relações sociais de que é resultado.Como vimos, os significados não são estáticos e imutáveis, mas também setransformam. Na análise do desenvolvimento do significado, Leontiev traz umavaliosa contribuição. Ao remontar o desenvolvimento histórico da consciência,percebe que há uma estreita relação entre a estrutura da atividade e da consciênciahumana. Duarte (2005) analisa que Leontiev amplia sua unidade de análise para arelação entre o significado e o sentido, ou seja, a relação entre o motivo e oconteúdo da ação humana.Para Leontiev (1978), o significado social de um objeto cultural, seja estematerial ou simbólico, está ligado à prática social e está acumulado na experiênciahistórica de muitas gerações. No processo de apropriação dos objetos culturais, osindivíduos reproduzem capacidades e aptidões humanas historicamentedesenvolvidas. Para entender melhor aquela relação, traremos o clássico exemplode Leontiev, sobre a atividade de caçada em uma tribo primitiva. A linguagemproduz na consciência, a possibilidade de planejamento e de conexão conscienteentre uma ação realizada individualmente e a atividade social como um todo. Osseres humanos conseguem conectar em sua consciência sua ação parcial com aatividade geral e o objetivo a ser conquistado. A atividade de caçada na triboprimitiva, por exemplo, constitui-se de várias ações, que são realizadas pordiferentes membros do grupo. Nesse caso, um grupo que espera escondido em umlugar pré-estabelecido para onde a caça deve ser conduzida e outro grupo queespanta a caça para tal lugar. Pode haver ainda os que preparam o fogo para assara caça ou os que preparam os instrumentos a serem utilizados no preparo. O motivoda ação de qualquer um envolvido nessa atividade é a fome ou, a necessidade dealimentar-se. No entanto, o conteúdo da ação varia de acordo com o grupo a que sepertence. O batedor deve espantar a caça e, portanto, o conteúdo de sua ação éconstituído por aquilo que ele realiza – correr, gritar, acenar. O conteúdo da ação dooutro grupo é abater a caça, usando os utensílios desenvolvidos naquela tribo.O que interessa aqui é que o que dá sentido à atividade do batedor são asrelações sociais que o ligam ao restante do grupo. Ou seja, o que conecta sua ação– que aparentemente pode parecer incoerente, por afastar o alimento de si – ao
67motivo da ação é o fato de sua consciência captar a conexão entre sua ação e aatividade coletiva. Assim, Leontiev define ação como sendo o processo em que oconteúdo e o motivo não coincidem e afirma que: “A decomposição de uma acçãosupõe que o sujeito que age tem a possibilidade de reflectir psiquicamente a relaçãoque existe entre o motivo objectivo da relação e seu objecto. Senão, a acção éimpossível, é vazia de sentido para o sujeito.” (LEONTIEV, 1978, p. 79). O sentido éentendido como aquilo que liga o conteúdo da ação ao seu motivo na consciência dosujeito.Duarte ressalta que essa relação que se produz na consciência ocorre tantonos aspectos cognitivos quanto nos afetivos:Quando ele vê os animais que poderiam satisfazer sua fome distanciarem-sevelozmente dele, de maneira que objetivamente ele não poderia alcançá-lose abatê-los, seu estado emocional interior não será o de frustração se osanimais se dirigirem para o local no qual os outros seres humanosintegrantes do grupo estão à espreita. Na realidade o batedor antecipa emsua subjetividade a sensação eufórica que acompanha a caçada bemsucedida.Tanto em termos cognitivos como em termos afetivos, a estruturado psiquismo humano diferencia-se da estrutura do psiquismo animal, talcomo ocorre com a estrutura objetiva da atividade. Na mente humana há,portanto, uma relação indireta, mediatizada, entre o conteúdo da ação e omotivo da mesma. (DUARTE, 2005, p. 35)E o Leontiev não pára por aí. Ao remontar o desenvolvimento histórico daconsciência, esclarece que com a divisão social do trabalho e com a propriedadeprivada sucede uma dissociação entre o conteúdo e o motivo da atividade, ou, umaruptura entre o significado e o sentido. Nas relações sociais capitalistas, a alienaçãoprovoca o efeito de que o sentido do trabalho de um operário passa a ser o salário(relação com o trabalho abstrato), com o que obtém os meios de satisfação de suasnecessidades e não a significação social de seu trabalho concreto, relacionado coma demanda social de tal ou qual produto. O exemplo dado por Leontiev é do tecelão.O sentido da tecelagem para o operário é dado por aquilo que o leva a tecer. Nasociedade capitalista, o único sentido é a obtenção do salário, e não asnecessidades sociais de tecido. (Leontiev, 1978) Fica evidente a relação entre aatividade material do trabalho e a estrutura da consciência, que também dissocia osentido da significação social.Vigotski, em suas análises das relações entre pensamento e linguagem,diferencia o sentido e o significado da palavra. Para ele, embora o significado estejaem movimento, tem maior estabilidade que o sentido. O sentido é produto ou
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