64Vigotski (1999a, p. 182) demonstra ainda que “o pensamento não apenas seexpressa na palavra mas nela se realiza.” Isso quer dizer que não há umpensamento verbal a priori que apenas tem sua expressão na palavra, pelocontrário, o pensamento se constitui e se desenvolve na relação direta com apalavra, se reestrutura, se modifica e se completa.O significado é produzido nas relações sociais e passa a ser operadoatravés dos signos. Ao nascerem, ganham corpo no signo. A cooperação entreconsciências - as relações sociais ou interpsicológicas - é o que move e determina odesenvolvimento dos significados. Os significados são forjados, portanto, noprocesso de alteridade da consciência. Como esse processo de alteridade émovimento, os significados não são imutáveis e constantes, mas também estão emmovimento. O movimento da palavra revela-se quando Vigotski a define como sendo“uma caixa de mosaicos onde há numerosos elementos diversos e onde aocombiná-los podem criar, graças a essa enorme multiplicidade de vínculos, cada veznovas integridades” (VYGOTSKI, 2000b, p. 275, tradução nossa).Vigotski, no capítulo sobre o desenvolvimento da linguagem oral do volumeIII de suas Obras Escolhidas, apresenta de forma interessante a história da palavra.De início, ele explica que a função primária da linguagem é a indicação e não osignificado. Diz o autor: “As palavras adquirem, em virtude de algum indíciofigurativo, uma determinada significação.” (2000b, p. 190). Não podemos deixar demencionar que esses indícios figurativos são produzidos de acordo comdeterminada concepção de mundo, constituída nas relações sociais e permeadapela consciência social. Vemos, então, que as palavras não são simplesmenteinventadas, mas surgem num processo de desenvolvimento relacionadas a umaimagem e dão origem a novas palavras segundo as leis do desenvolvimentopsicológico. O surgimento de novas palavras ocorre pela transferência de velhossignificados a novos objetos. Para a humanidade inventar um instrumento, tem quelevar em conta as propriedades físicas do material utilizado. Dessa forma, ocorretambém com o signo, que deve possuir certas propriedades psicológicas para serusado como tal. Segundo Vigotski,(...) no desenvolvimento de nossa linguagem, as palavras não se originamarbitrariamente, senão sempre em forma de signo natural relacionado comuma imagem ou uma operação; na linguagem infantil, os signos nãoaparecem como inventados pelas crianças: os recebem das pessoas que osrodeiam e tão somente depois tomam consciência ou descobrem as funções
65de tais signos. (VYGOTSKI, 2000b, p. 179, tradução nossa).Com isso, Vigotski esclarece que em primeiro lugar a criança reproduz ouso do signo, para somente depois compreender seus mecanismos e dominá-los. Apalavra cumpre o papel de distinguir os diversos objetos, fraciona a conexãosincrética e analisa o mundo. Constitui-se como instrumento fundamental de análise,pois designar verbalmente um objeto – transformá-lo em palavra - significa separá-loda massa geral dos objetos, dando-lhe destaque.Visto que a palavra traz uma nova dimensão à consciência, não podemosdeixar de citar a importante afirmação de Goethe, lembrada por Vigotski, de que noprincípio era a ação, não a palavra. Coerente com sua concepção materialista, oautor lembra que a palavra é um reflexo generalizado da realidade, ou seja, apalavra é fruto da necessidade de nomear e comunicar que surgem na ação humanasobre a realidade.Outro aspecto relevante a ser considerado é a relação do significado com oinconsciente. Vigotski (1999a) considera lícito falar do conceito de inconsciente, mascomo unidade do psíquico e do fisiológico, ou psicológico. Ressalta, porém -diferente de outras teorias, especialmente a freudiana - que o inconsciente épotencialmente consciente. Há o psicologicamente consciente e o psicologicamenteinconsciente. O autor admite uma relação entre o inconsciente e o não-verbal eargumenta que: “Em geral, não existe signo sem significado. A formação de palavraé a principal função do signo. Há significado ali onde há signo. Esta é a facetainterna do signo. Mas na consciência há também algo que não tem significado.”(VIGOTSKI, 1999a, p. 182). Acontece que mesmo depois do cruzamento das curvasdo pensamento e da linguagem, que dá origem à fala intelectual e o pensamentoverbal, não deixa de existir uma fala não-intelectual e um pensamento não-verbal.No adulto, pensamento e linguagem não estão necessariamente interligadossempre. Dessa formulação, pode-se entender que há aspectos não significados, aque poderíamos chamar de inconscientes, mas que são potencialmente conscientes.Leontiev (1978, p. 88) ajuda-nos a caracterizar a consciência na seguintesíntese: “(...) a consciência individual do homem só pode existir nas condições emque existe a consciência social. A consciência é o reflexo da realidade, refractadaatravés do prisma das significações e dos conceitos lingüísticos, elaboradossocialmente.”
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