60oxigênio conserva a combustão. O pesquisador não conseguiria explicar a relaçãoentre eles. (VIGOTSKI, 2001a, p. 5-6)Em contraposição, Vigotski propõe que o estudo seja feito através dadecomposição da totalidade complexa em unidades de análise constituídas departes vivas e indecomponíveis da unidade. Essa unidade mantém as propriedadesdo todo e é produto da própria análise. No caso da relação entre pensamento elinguagem, a unidade será o significado da palavra.No entanto, para melhor compreender como o autor chega no significadocomo unidade de análise, é importante refazer a trajetória seguida pelo pensamentoe pela linguagem no desenvolvimento humano.No percurso da filogênese, percebe-se que o pensamento e a linguagemtêm diferentes raízes genéticas e desenvolvem-se por linhas diferentes eindependentes, estabelecendo uma relação não constante e desigual. Os clássicosestudos de Köhler com antropóides mostram que esses animais possuem um tipo deintelecto independente da linguagem, no emprego de instrumentos em sua atividade,e uma linguagem independente do intelecto, na expressão de estados emocionais erudimentos de função social. É possível identificar uma fase pré-verbal no intelecto euma fase pré-intelectual na fala. (VIGOTSKI, 2001a, p. 128).Na ontogênese, percebem-se algumas semelhanças no início dodesenvolvimento da criança, mas que a partir de sua inserção na cultura e nasrelações sociais, tem o percurso de seu desenvolvimento alterado. Há também nodesenvolvimento humano individual, diferentes raízes do pensamento e da fala. Oemprego simples de instrumentos ocorre antes do desenvolvimento da linguagem.Na fase pré-verbal do pensamento, a criança pequena possui uma inteligênciaprática que lhe permite fazer uso de instrumentos; na fase pré-intelectual da fala, alinguagem (gritos, balbucios, primeiras palavras) cumpre a função de descargaemocional e do início de um contato social.Num determinado momento do desenvolvimento, as linhas do pensamentoe da linguagem se cruzam e dão origem ao pensamento verbal e à linguagemintelectual. A partir daí, os processos constituem-se sobre novos patamares: em umaunidade, a linguagem passa a organizar o pensamento e o pensamento a planejar alinguagem. (VIGOTSKI, 2001a, p. 133).Ao remontar a história da humanidade, constata-se que a linguagem surgeda necessidade de comunicação no processo de trabalho. Não sendo possível a
61comunicação direta entre duas consciências, os seres humanos desenvolvemmediações para a comunicação. Comunicação pressupõe generalização edesenvolvimento do significado da palavra, ou seja, a generalização se tornapossível se há desenvolvimento da comunicação. Por exemplo, para comunicar queestou com frio, posso fazer gestos e movimentos expressivos, mas a verdadeiracompreensão e comunicação se dá quando realizo um movimento de generalizaçãoe nomeio o que estou vivenciando. Assim, situo o frio sentido por mim, em umaclasse de estados conhecidos pelo interlocutor e trago novas possibilidades para odesenvolvimento da consciência.A linguagem 26 é reconhecida pela psicologia sócio-histórica como uma dasfunções mais importantes no desenvolvimento cultural da criança. Ao apropriar-seda linguagem, a criança se insere em um nível de práticas sociais que lhe possibilitaalçar-se a novas dimensões do desenvolvimento do gênero humano.No desenvolvimento do bebê, a linguagem desenvolve-se baseada emalgumas reações inatas No bebê, a reação vocal é o sintoma de uma reaçãoemocional geral que expressa a existência ou a perturbação do equilíbrio da criançacom o meio, ou seja, constitui-se como uma reação inata, um reflexo incondicionado.Nos termos de Vigotski, é ainda uma linguagem pré-intelectual, ou uma linguagemem si.Nas primeiras semanas, passa a cumprir a função não só de expressãoemocional, mas de contato social, transformando-se em reflexos vocaiscondicionados. Já nas primeiras palavras do bebê se produz o maior drama dodesenvolvimento humano: o choque entre o natural e o histórico-social. (VYGOTSKI,2000b, p. 169-171; 305). Começa, então, a se constituir como linguagem paraoutros.O desenvolvimento do pensamento e da linguagem no homem não é asimples continuação do desenvolvimento animal, mas ocorre uma mudança no tipode desenvolvimento: do biológico para o histórico-social. Tal mudança, reafirmamos,26 Ao investigar as raízes genéticas da linguagem, Vigotski refere-se a uma fase pré-intelectual dalinguagem, presente tanto na filogênese quanto na ontogênese. Isso quer dizer que há certo tipo delinguagem não-intelectual, nos animais e nos bebês, que tem um desenvolvimento independente dopensamento. No chimpanzé e em outras espécies animais, por exemplo, “A linguagem não é só umareação expressivo-emocional mas também um meio de contato psicológico com seus semelhantes.”(VIGOTSKI, 2001a, p. 127). No entanto, quando falamos do papel central da linguagem para asfunções psicológicas superiores, referimo-nos, assim como Vigotski, à linguagem em unidade com opensamento, à linguagem intelectual, fruto do desenvolvimento histórico-social e que se desenvolvenos indivíduos por sua mediação com o meio social.
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