54partir da apropriação de conhecimentos na relação com o outro, a criançadesenvolve suas funções psicológicas superiores. A criança possui um nível dedesenvolvimento real, que corresponde ao nível de desenvolvimento já atingido pelacriança e que se constitui da solução independente de problemas. Além do nívelreal, a criança possui uma zona de desenvolvimento proximal (ZDP),correspondente às funções que estão em processo de amadurecimento. Com basena ZDP, a criança é capaz de realizar tarefas e solucionar problemas com acolaboração de adultos ou colegas mais desenvolvidos, em um processo deaprendizado. (VIGOTSKI, 1998a, p. 112 e 113).Na produção de ZDPs, a brincadeira contribui fundamentalmente para acriação do campo simbólico na criança e para seu desenvolvimento. Como já foidito, na brincadeira a criança cria situações imaginárias, a partir das quais sedesprende das impressões mais imediatas e opera psicologicamente com ossignificados. Por exemplo, quando a criança toma uma vassoura por um cavalo. Aofazer isso, desprende-se da percepção imediata da própria vassoura, de seu usosocial, para operar com o significado de cavalo, os gestos e movimentos exigidospor este etc. Com isso, a brincadeira contribui para o desenvolvimento dopensamento abstrato.Duarte (2006a) contribui com esse debate, trazendo elementosfundamentais para a análise da brincadeira na sociedade de classes. O autor lembraque, na sociedade capitalista, os papéis sociais são alienados e queSe a brincadeira de papéis sociais for deixada ao sabor da espontaneidadeinfantil, o mais provável será que essa atividade reproduziráespontaneamente a alienação própria aos papéis sociais com uma presençamais marcante no cotidiano da sociedade contemporânea. (DUARTE, 2006a,p. 95).A brincadeira cumpre, portanto, papel fundamental no desenvolvimentoinfantil, ainda que sob relações sociais de dominação, para apropriar-se de papéissociais alienados. Na brincadeira (bem como em outras relações com o mundosocial), a criança passa a incluir o signo como mediação de sua atividade. E, comosabemos, a inserção dos signos nos processos psicológicos será fundamental parao salto qualitativo que diferencia o ser humano dos animais. Vigotski traz essa(1998a), é o aprendizado que leva ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores e daconsciência.
55discussão em diversas passagens, mostrando o quanto o sistema simbólico trazmudanças qualitativas no desenvolvimento da consciência. Vejamos no trecho aseguir.Como no caso da memória e da atenção, a inclusão de signos na percepçãotemporal não leva a um simples alongamento da operação no tempo; mais doque isso, cria as condições para o desenvolvimento de um sistema único queinclui elementos efetivos do passado, presente e futuro. Esse sistemapsicológico emergente na criança engloba, agora, duas novas funções: asintenções e as representações simbólicas das ações propositadas. Essamudança na estrutura do comportamento da criança relaciona-se àsalterações básicas de suas necessidades e motivações. (...) As premênciasinstintivas predominantes dos animais tornam-se secundárias nas crianças.Novas motivações, socialmente enraizadas e intensas, dão direção à criança.(VIGOTSKI, 1998a, p. 48-49).2.5 O AUTODOMÍNIO DAS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS E DA CONDUTAComo resultado do processo de internalização e do desenvolvimento dasfunções psicológicas superiores, podemos situar o autodomínio da conduta. Paradiscutir o autodomínio da conduta, Vigotski traz as observações de Engels sobre aliberdade, quando o autor equipara o domínio da conduta com o domínio sobre anatureza:A liberdade não consiste em uma independência imaginária em relação àsleis da natureza, mas no conhecimento dessas leis e na possibilidade,baseada em tal conhecimento, e obrigar sistematicamente a que essas leisda natureza atuem para determinados fins. Isto se refere tanto às leis danatureza exterior como as leis que regem a natureza física e espiritual dopróprio homem. São duas classes de leis que somente mentalmentepodemos dissociar, porém não na realidade. O livre arbítrio, portanto, nãosignifica mais que a capacidade de tomar decisões com conhecimento doassunto. (ENGELS apud VYGOTSKI, 2000b, p.300).Com isso, os autores trazem uma concepção de liberdade como a escolha,que supõe uma ação na realidade, baseada no conhecimento sobre asnecessidades da natureza ou o domínio tanto sobre a natureza exterior como sobrea natureza interior. Apoiada nas reflexões de Vigotski, Toassa afirma queTornar-se livre é, portanto, assimilar um significado diferençando-se dele – étornar-se indivíduo humano que recria a realidade na consciência,constituindo um ativo conhecimento das determinações da conduta e, nesse
- Page 1:
MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDAA RELA
- Page 4 and 5: 4AGRADECIMENTOSÀ Prof.ª Dra. Clau
- Page 6 and 7: 6RESUMOA presente pesquisa teve por
- Page 8 and 9: 8SUMÁRIOINTRODUÇÃO..............
- Page 10 and 11: 10INTRODUÇÃOO que vivenão entorp
- Page 12 and 13: 12de nossa pesquisa, qual seja, a r
- Page 14 and 15: 14dos autores.As obras de Vigotski
- Page 16 and 17: 16mundo e a formação e desenvolvi
- Page 18 and 19: 181.1 O SALTO ONTOLÓGICO DO ANIMAL
- Page 20 and 21: 20mesma um objeto da sua vontade e
- Page 22 and 23: 22As relações sociais caracterís
- Page 24 and 25: 24homens. A organização das inten
- Page 26 and 27: criado. 12 Identificam-se ainda com
- Page 28 and 29: 28OLIVEIRA (2005) complementa essa
- Page 30 and 31: 30b) está alienado de si mesmo (de
- Page 32 and 33: 32consciência. A consciência obje
- Page 34 and 35: 34ensinará as técnicas para cada
- Page 36 and 37: 36universalizar e estabelecer uma v
- Page 38 and 39: 38necessário um processo real de r
- Page 40 and 41: 402 A CONSTITUIÇÃO E O DESENVOLVI
- Page 42 and 43: 42pela mediação da linguagem, ou
- Page 44 and 45: 44Contrário a isso e apoiado em Ma
- Page 46 and 47: 46O desenvolvimento das funções p
- Page 48 and 49: 48Para Vigotski (2000b, p. 35), o d
- Page 50 and 51: 50primeiro momento, todas as funç
- Page 52 and 53: 52de trabalho, servindo de mediaç
- Page 56 and 57: 56processo de conhecimento, modific
- Page 58 and 59: 58relacionar o estímulo visual com
- Page 60 and 61: 60oxigênio conserva a combustão.
- Page 62 and 63: 62fundamenta-se no desenvolvimento
- Page 64 and 65: 64Vigotski (1999a, p. 182) demonstr
- Page 66 and 67: 66A partir disso, podemos pensar qu
- Page 68 and 69: 68resultado do significado, ou seja
- Page 70 and 71: 70vez que se desenvolve o pensament
- Page 72 and 73: 721) Todo conceito científico-natu
- Page 74 and 75: 74para a compreensão da consciênc
- Page 76 and 77: 76lembrança desse período porque
- Page 78 and 79: 783 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DA CON
- Page 80 and 81: 80socialmente. Isso significa que m
- Page 82 and 83: 82das conquistas humanas de nosso m
- Page 84 and 85: 84do que os sistemas e relações s
- Page 86 and 87: 86Baseando-se nas elaborações de
- Page 88 and 89: 88contribuição, por sistematizar
- Page 90 and 91: 90revolucionária expressam diferen
- Page 92 and 93: 92Desse modo, não existe uma essê
- Page 94 and 95: 94consciência de classe em si. Em
- Page 96 and 97: 96da assimilação subjetiva e port
- Page 98 and 99: 98Iasi (2006, p. 198-199; 2007a, p.
- Page 100 and 101: 100velhos valores, internalizados c
- Page 102 and 103: 1023.6 DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE EM
- Page 104 and 105:
1043.7 DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE PA
- Page 106 and 107:
106sentido, destacamos a seguinte p
- Page 108 and 109:
108realidade. (LÖWY, 1987, p. 199-
- Page 110 and 111:
110atividade psicológica. O domín
- Page 112 and 113:
112em relações alienadas, nem sem
- Page 114 and 115:
114Em primeiro lugar, porque os ind
- Page 116 and 117:
116desenvolvimento histórico da hu
- Page 118 and 119:
118CONSIDERAÇÕES FINAISPorque é
- Page 120 and 121:
120materiais da sociedade se chocam
- Page 122 and 123:
122psiquismo humano de cada períod
- Page 124 and 125:
124suas verdadeiras relações e co
- Page 126 and 127:
126REFERÊNCIASAGUIAR, W. M. J. Ref
- Page 128 and 129:
128KLEIN, L. R. Fundamentos para um
- Page 130 and 131:
130ROSSLER, J. H. Sedução e alien