50primeiro momento, todas as funções psicológicas superiores passam por uma etapaexterna, pois são sociais, ou seja, antes de tornar-se interna a função psicológicaera uma relação social de pelo menos duas pessoas.Sendo essencialmente formadas pelas relações sociais,todas as funções superiores constituíram-se na filogênese, nãobiologicamente, mas socialmente; (...) Elas são transferidas para apersonalidade, relações interiorizadas de ordem social, base da estruturasocial da personalidade. Sua composição, gênese, função (maneira de agir)– em uma palavra, sua natureza – são sociais. Mesmo sendo, napersonalidade, transformadas em processos psicológicos -, elaspermanecem ‘quase’-sociais. O individual, o pessoal – não é ‘contra’, masuma forma superior de sociabilidade. (VIGOTSKI, 2000a, p. 27).Como vimos, Vigotski entende que o desenvolvimento ocorre de maneiradialética, isto é, as mudanças não ocorrem de forma gradual e lenta, mas hámudanças bruscas e essenciais (revolucionárias) no próprio tipo dedesenvolvimento. Dessa forma,Cada etapa sucessiva no desenvolvimento do comportamento nega, emparte, a etapa anterior, a nega no sentido de que as propriedades inerentes àprimeira etapa do comportamento se superam, se eliminam e se convertemàs vezes em uma etapa contrária, superior. (VYGOTSKI, 2000b, p. 157,tradução nossa).Através disso, o autor busca demonstrar como a etapa anterior dedesenvolvimento existe dentro da seguinte, mas de maneira modificada. Usa, paraisso, o exemplo dos instintos, dos reflexos condicionados e das reações intelectuais.Ao mesmo tempo em que os instintos estão presentes de forma oculta nas formasmais superiores de comportamento, são modificados e de certa forma ‘negados’. Oreflexo condicionado nega o instinto e a reação intelectual nega o reflexocondicionado. Ao dominar a própria conduta - característica das funçõespsicológicas superiores – a pessoa nega também o instinto.Segundo Vigotski (2000b, p.160-164), o processo de internalização, queconstitui o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, passa por quatroetapas. A primeira é a etapa natural ou primitiva, quando a conduta da criança édeterminada pelo estado natural de seu aparato cerebral. A partir de sua inserçãonas formas culturais das relações, a criança começa a desenvolver outras conexões.A segunda etapa é da psicologia ingênua, em que a criança começa a estabelecernexos externos entre um estímulo e o meio, ainda de forma associativa. Acontece de
51acordo com a experiência adquirida de forma direta, no emprego prático de signosadquire certa experiência psicológica. Segue a terceira etapa, da utilização designos externos, quando a criança organiza estímulos externos para executar suaação. Na tentativa de dominar sua reação, começa a dominar os estímulos, queservem de mediadores no autodomínio. Na quarta e última etapa, ocorre oenraizamento, que é quando a operação externa converte-se em interna, há umcrescimento para dentro e o processo de internalização dos processos culturais secompleta, enraizando no indivíduo.O autor soviético destaca a existência de três tipos de enraizamento, isto é,dessa passagem de fora para dentro: 1) tipo sutura, análogo à sutura de um tecidovivo, em que se suturam dois lados com um fio, produzindo uma cicatrização,quando o fio pode ser retirado porque os tecidos já estão unidos sem a necessidadede uma união artificial. Com isso, quer-se dizer que a operação antes mediadapassa a ser direta; 2) enraizamento completo, acontece quando se apaga adiferença entre estímulos externos e internos, por exemplo, depois de repetir muitasvezes uma reação, esta é transladada para o interior; 3) quando a criança assimila aestrutura do processo de utilização de signos externos, opera com mais facilidadescom os signos internos e começa a utilizar estímulos verbais. (VYGOTSKI, 2000b, p.165).Para ilustrar o processo de internalização, tomemos como exemplo amemória. Sua etapa natural caracteriza-se por suas possibilidades de recordardiretamente. Na psicologia ingênua, etapa que segue, a criança começa a utilizarsignos que a auxiliem a recordar, mas ainda sem tomar consciência de como atuam.Na etapa de uso de signos externos, a criança passa a compreender o mecanismode mediação dos signos e os insere ativamente em sua atividade, com o objetivo deauxiliá-la. É quando, por exemplo, ata um barbante com um nó no dedo paralembrar-se de dar um recado. Finalmente, a etapa de enraizamento é quando osigno externo passa a ser desnecessário para a recordação por ter sidointernalizado. O signo não deixa de existir, mas atua internamente, levando a pessoaa lembrar-se de algo que necessitava.Como vimos, os signos têm um papel determinante na passagem dasfunções elementares para as superiores. Mas o que é o signo? Em princípio, o signoé sempre um meio de relação social e de influência sobre os demais, que serve derepresentação simbólica e que surge da necessidade de comunicação no processo
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