46O desenvolvimento das funções psicológicas superiores supõe dois gruposde fenômenos em unidade, mas não em identidade. O primeiro grupo refere-se aosprocessos de domínio dos meios externos do desenvolvimento cultural e dopensamento, como a linguagem, a escrita, o cálculo, o desenho. O segundocorresponde aos processos de desenvolvimento das funções psicológicassuperiores: a atenção voluntária, a memória lógica, a formação de conceitos, etc.(VYGOTSKI, 2000b, p. 29). Assim, para passar pelo processo de humanização,precisamos nos apropriar tanto dos meios externos de inserção na cultura(linguagem, cálculo, pensamento, escrita) como desenvolver as funções psicológicassuperiores.Além disso, esse desenvolvimento não pode ser entendido como linear, quesegue etapas regulares no caminho da evolução. Vigotski define o desenvolvimentoinfantil comoum complexo processo dialético que se distingue por uma complicadaperiodicidade, a desproporção no desenvolvimento das diversas funções, asmetamorfoses ou transformação qualitativa de umas formas em outras, umentrelaçamento complexo de processos evolutivos e involutivos, o complexocruzamento de fatores externos e internos, um complexo processo desuperação de dificuldades e de adaptação. (VYGOTSKI, 2000b, p. 141,tradução nossa).Conforme o exposto, fica claro o caráter dialético do desenvolvimento, comoum processo vivo de formação e de luta. O conceito de desenvolvimento incluimudanças evolutivas e revolucionárias, retrocessos, falhas, movimentos emziguezague, conflitos. A conduta cultural da criança se baseia em suas formasprimitivas, mas supõe luta, deslocamento de estruturas velhas ou até sua totaldestruição. Além disso, expressa a contradição entre o natural e o histórico, entre oprimitivo e o cultural, entre o orgânico e o social. (VYGOTSKI, 2000b, p. 303)Baseado em algumas reflexões de Hegel, Vigotski (2000a; 2000b)apresenta três fases ou etapas pelas quais o desenvolvimento histórico-social dacriança passa: em si para outros para si. No texto conhecido como Manuscritode 1929, Vigotski (2000a, p. 25) ressalta como esse processo transparece naconstituição da personalidade: “A personalidade torna-se para si aquilo que ela é emsi, através daquilo que ela antes manifesta como seu em si para os outros.”A constituição da personalidade e da individualidade se dá, por conseguinte,na própria relação social. E é somente na relação que o indivíduo passa a
47reconhecer a si mesmo como pertencente à humanidade ou, melhor dizendo, aogênero humano. Cada um de nós se reconhece como humano a partir da relaçãocom o outro. Assim fica demonstrado na seguinte passagem de Marx:O homem se vê e se reconhece primeiro em seu semelhante, a não ser quejá venha ao mundo com um espelho na mão ou como um filósofo fichtianopara quem basta o ‘eu sou eu’. Através da relação com o homem Paulo, nacondição de seu semelhante, toma o homem Pedro consciência de si mesmocomo homem. Passa, então, a considerar Paulo – com pele, cabelos, em suamaterialidade paulina – a forma em que se manifesta o gênero homem.(MARX, 2001, p. 74-75).2.3 A LEI GENÉTICA DO <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO CULTURAL(...) no movimento mais íntimo e pessoal do pensamento,do sentimento, etc., o psiquismo de um indivíduo particularé efetivamente social e socialmente condicionado.VigotskiA partir dessa nova compreensão do desenvolvimento humano, em que anatureza psíquica do homem é dada pelo conjunto de relações sociais trasladadasao interior e convertidas em funções da personalidade e em formas de sua estrutura,Vigotski traça a lei genética do desenvolvimento cultural. Não devemos esquecerque, para Vigotski, todo cultural é social; a cultura é produto da vida social e daatividade social do ser humano e o próprio mecanismo das funções psíquicassuperiores é uma cópia do social (VYGOTSKI, 2000b, p. 151).A grande questão deixa de ser como uma ou outra criança se coloca nasociedade e em suas classes sociais, mas como a sociedade e os grupos sociaiscriam, em uma ou outra criança, as funções psicológicas superiores. E pararesponder a isso, Vigotski evidencia que toda forma superior de comportamentoaparece sempre em dois planos: primeiro no plano social ou interpsicológico –quando a função está dividida entre duas pessoas, constituindo um processopsicológico mútuo; depois no plano intrapsicológico, em um complexo sistema defunções no sujeito. Com isso, o autor aponta que “a vertente individual se constróicomo derivada e como secundária sobre a base do social e segundo seu exatomodelo” (VIGOTSKI, 1999a, p. 82); só há reconhecimento do eu no reconhecimentodo outro.
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