402 A CONSTITUIÇÃO E O <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL(Os afluentes do rio)Aquele rioestá na memóriacomo um cão vivodentro de uma sala.Como um cão vivodentro de um bolso.Como um cão vivodebaixo dos lençóis,debaixo da camisa,da pele.João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas)No capítulo anterior, buscamos retomar o debate marxista em torno daformação da consciência social a partir das relações sociais de cada época. Nessecapítulo, pretendemos abordar o processo de formação da consciência individual,isto é, o modo como a consciência individual flui da consciência social e constitui-secomo afluente. É aqui que percebemos as contribuições de Vigotski, autor que dáum papel bastante importante para a mediação dos instrumentos e dos signos naatividade humana. Buscaremos trazer o entendimento da consciência como objetoda psicologia, o papel da cultura na passagem das funções psicológicaselementares para as funções psicológicas superiores e o processo dedesenvolvimento do pensamento e da linguagem, com o objetivo de identificar osprincipais mecanismos psicológicos envolvidos no processo de internalização daconsciência social, ou seja, como a consciência social se particulariza. Visto que nãoé o próprio mundo que é internalizado pela consciência, mas uma concepção demundo, o processo de apropriação constitui-se sempre como um processo mediadopelo outro através da linguagem. Os objetos, os fenômenos e as situações do realsão fixados em um sistema de conceitos, que serve como mediação na apropriaçãodo mundo pelo indivíduo. Além disso, ao serem apropriados pelos indivíduos eserem elementos constituintes de sua consciência, passam a incorporar asobjetivações desses indivíduos, que a partir de sua atividade podem reproduzir e/ ouproduzir mudanças no meio social. Buscaremos na obra de Vigotski possíveischaves para o entendimento desse processo.
412.1 A CONSCIÊNCIA COMO OBJETO DA PSICOLOGIANa década de 20, Vigotski é responsável pela retomada da consciênciacomo categoria central da psicologia. Embora apareça como objeto de estudo dapsicologia já em seu surgimento, nas últimas décadas do século XIX e no início doséculo XX, há fortes correntes que buscam negar a possibilidade de estudo dachamada ‘psique’, sistematizando formas de analisar a conduta humana segundoum enfoque estritamente objetivo. (VIGOTSKI, 1998a; FURTADO, 1992; LUNA,1999).No Prefácio da obra A construção do pensamento e da linguagem,VIGOTSKI (2001a) salienta que, diante dos estudos das diversas teorias dopensamento e da linguagem e dos estudos de seu grupo, o tema da relaçãopensamento e linguagem constitui-se como o cerne da psicologia humana, levandoà concepção de uma nova teoria psicológica da consciência.Segundo essa teoria, qualquer ação ou produção humana deriva daarticulação entre condições objetivas e subjetivas e é determinada pelosmovimentos anteriores e produtora de movimentos posteriores, que constituem aprópria transformação histórica coletiva e individual. (VIGOTSKI, 1999a, p. 175).O conceito de consciência passou por mudanças no decorrer da produçãoteórica de Vigotski, relacionadas com o contexto sócio-histórico em que vivia e como contato com a produção existente no campo da psicologia, especialmente naprópria União Soviética. Nas primeiras conceituações de Vigotski, em 1924 e 1925,evidencia-se a influência de Pavlov, ao considerar a linguagem como um segundosistema de sinalização (diferente da simples sinalização sensorial) e a consciênciacomo a interação de sistemas de reflexos. Ao buscar uma maior integração aomarxismo, esses conceitos iniciais vão se transformando e o autor passa a dar maiordestaque ao papel dos instrumentos e signos no desenvolvimento da consciência. Apalavra passa a ter novas funções, das quais se destaca a de autodomínio docomportamento através do signo, o que ocorre pela internalização do domínio docomportamento da criança pelo outro. (TOASSA, 2006).Surge, então, um novo conceito de consciência. Para o autor soviético, aconsciência é processo e produto; é um sistema estrutural e um sistema semântico,dotado de operações conectadas e de relações interfuncionais, que se modificam
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