MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ...

MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ... MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ...

13.07.2015 Views

38necessário um processo real de reificação do homem. A reificação é o processo peloqual o homem ou, de forma mais precisa, sua força de trabalho torna-se ‘coisa’, demodo que possa ser vendida e comprada como mercadoria. Então, diferente dohomem feudal, preso à terra de seu senhor, surge o ‘homem livre’ – livre paravender sua força de trabalho ao capitalista que mais lhe convier. Juridicamenteiguais e igualmente proprietários: uns proprietários dos meios de produção e outrosproprietários da força de trabalho. Os indivíduos vêem-se como seres isolados,entendendo a vontade e o esforço individuais como os determinantes de seussucessos, fracassos e interesses privados. Com isso, perdem a dimensão de suaestreita interdependência com o social.Assim, desde quando o ser humano reifica-se, torna-se possível serelacionar como possuidor da mercadoria força de trabalho. Portanto, na produçãocapitalista de mercadorias, “O trabalho não produz somente mercadorias; ele produza si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em queproduz, de fato, mercadorias em geral.” (MARX, 2004, p. 80).Mas também, os limites impostos pela alienação, ao mesmo tempo em quemantêm o indivíduo alienado, podem trazer à consciência as contradições do real,com o que emerge a possibilidade de que o indivíduo passe a ter consciência de suaalienação. Como bem disse Mészáros (2006, p. 166): “A atividade alienada nãoproduz só a ‘consciência alienada’; mas também a ‘consciência de ser alienado”.Esse movimento isolado não leva à superação da alienação, embora aconsciência da alienação seja fator importante para a sua superação. Em outraspalavras, devemos lembrar que por mais que as contradições do real permitam quea própria consciência alienada tome consciência de sua alienação, a superação daalienação não pode acontecer no plano ideal, mas somente a partir da própriaatividade material. A consciência da própria alienação pode levar o indivíduo ainserir-se em uma ação intencional coletiva que culmine na superação da sociedadede classes. Trataremos mais detidamente desse tema no terceiro capítulo.Mészáros (2006, p. 253) nos traz outra reflexão também importante, quandomostra que a sociedade capitalista produz na relação indivíduo-sociedade umantagonismo, na medida em que a realização da humanidade no indivíduo tem comoobstáculo as próprias relações sociais. Este antagonismo poderia ser superadoatravés da automediação do indivíduo social, que pressupõe relações humanas nãoalienadas. Segundo o autor húngaro, o indivíduo tem capacidades enormemente

39limitadas, enquanto a humanidade tem poderes praticamente ilimitados. Dessemodo, não há transcendência da alienação numa esfera puramente individual, apossibilidade de transcendê-la é com e através da humanidade. A partir disso,ressalta alguns aspectos ontológicos e morais da alienação, como a realização daliberdade humana: “A liberdade humana não é a transcendência das limitações(caráter específico) da natureza humana, mas uma coincidência com elas.”(MÉSZÁROS, 2006, p. 149). Assim, a realização da liberdade humana é tida como asatisfação propriamente humana, e não uma abnegação ou subjugação dasnecessidades humanas. A superação da alienação e, portanto, sua negação é anegação das mediações de segunda ordem (divisão do trabalho – propriedadeprivada – intercâmbio capitalista).De acordo com Marx,A supra-sunção da propriedade privada é, por conseguinte, a emancipaçãocompleta de todas as qualidades e sentidos humanos; mas ela é estaemancipação justamente pelo fato desses sentidos e propriedades terem setornado humanos, tanto subjetiva quanto objetivamente. (MARX, 2004, p.109).Ainda sobre a alienação, Marx e Engels (2007, p. 38-39) argumentam quesó poderá ser superada diante de duas condições práticas: 1) é necessário que elatenha feito da humanidade uma massa totalmente ‘privada de propriedade’, aomesmo tempo em que há um grande desenvolvimento das forças produtivas, dariqueza e da cultura da humanidade; 2) o alto grau de desenvolvimento das forçasprodutivas deve ser universal, além de ser uma condição indispensável para quenão se generalize a penúria.De tal modo, a forma de superação dos ‘sentidos tacanhos’, que estãoconstrangidos à carência prática rude, e a emergência de ‘sentidos humanos’(MARX, 2004, p. 110) só ocorrem pela superação da propriedade privada e dasrelações sociais capitalistas, o que exige a transformação da atividade materialhumana e, por conseqüência, de sua consciência.No próximo capítulo, nossa intenção é entender como se forma aconsciência individual, a partir das contribuições de Vigotski, na relação com essaconsciência social, atentando para o papel das mediações dos signos nainternalização das idéias dominantes como concepção de mundo.

38necessário um processo real de reificação do homem. A reificação é o processo peloqual o homem ou, de forma mais precisa, sua força de trabalho torna-se ‘coisa’, demodo que possa ser vendida e comprada como mercadoria. Então, diferente dohomem feudal, preso à terra de seu senhor, surge o ‘homem livre’ – livre paravender sua força de trabalho ao capitalista que mais lhe convier. Juridicamenteiguais e igualmente proprietários: uns proprietários dos meios de produção e outrosproprietários da força de trabalho. Os indivíduos vêem-se como seres isolados,entendendo a vontade e o esforço individuais como os determinantes de seussucessos, fracassos e interesses privados. Com isso, perdem a dimensão de suaestreita interdependência com o social.Assim, desde quando o ser humano reifica-se, torna-se possível serelacionar como possuidor da mercadoria força de trabalho. Portanto, na produçãocapitalista de mercadorias, “O trabalho não produz somente mercadorias; ele produza si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em queproduz, de fato, mercadorias em geral.” (MARX, 2004, p. 80).Mas também, os limites impostos pela alienação, ao mesmo tempo em quemantêm o indivíduo alienado, podem trazer à consciência as contradições do real,com o que emerge a possibilidade de que o indivíduo passe a ter consciência de suaalienação. Como bem disse Mészáros (2006, p. 166): “A atividade alienada nãoproduz só a ‘consciência alienada’; mas também a ‘consciência de ser alienado”.Esse movimento isolado não leva à superação da alienação, embora aconsciência da alienação seja fator importante para a sua superação. Em outraspalavras, devemos lembrar que por mais que as contradições do real permitam quea própria consciência alienada tome consciência de sua alienação, a superação daalienação não pode acontecer no plano ideal, mas somente a partir da própriaatividade material. A consciência da própria alienação pode levar o indivíduo ainserir-se em uma ação intencional coletiva que culmine na superação da sociedadede classes. Trataremos mais detidamente desse tema no terceiro capítulo.Mészáros (2006, p. 253) nos traz outra reflexão também importante, quandomostra que a sociedade capitalista produz na relação indivíduo-sociedade umantagonismo, na medida em que a realização da humanidade no indivíduo tem comoobstáculo as próprias relações sociais. Este antagonismo poderia ser superadoatravés da automediação do indivíduo social, que pressupõe relações humanas nãoalienadas. Segundo o autor húngaro, o indivíduo tem capacidades enormemente

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