MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ...

MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ... MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ...

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36universalizar e estabelecer uma visão parcial e distorcida da realidade, mas quecorresponde às relações de dominação. Assim acontece, por exemplo, quando aideologia expressa idéias que tiram a historicidade das relações sociais,naturalizando as relações sociais capitalistas e colocando-as como lente para olharpara outras relações. Com isso, eterniza tais relações através da impressão do“sempre foi assim”, o que leva como conseqüência ao “sempre será assim”. Nessemomento, essas idéias funcionam como justificativas para legitimar determinadassituações, por exemplo, ao dizer que a pobreza sempre existiu, busca-se justificar asituação atual de pobreza da humanidade.Faz-se necessário apontar que não pretendemos dar conta da riqueza dodebate sobre a questão da ideologia, mas somente levantar algumas das questõesrelevantes à nossa temática. Devemos destacar que há, mesmo dentre os autoresmarxistas, diferentes abordagens sobre a questão. Lênin, por exemplo, adotaideologia como um conjunto de concepções de mundo ligadas às classes sociais,incluindo-se entre eles o próprio marxismo (LÖWY, 1987; IASI, 2007a). Iasi apontaque Lênin, assim como outros teóricos revolucionários (Gramsci, Rosa Luxemburgo,Trotski) utiliza o termo ‘ideologia proletária’ em contraste com a acepção de Marx doconceito. Seu argumento baseia-se no fato de queA ideologia alemã só foi publicada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo deMoscou no ano de 1932, assim mesmo incompleta, pois a primeira parteencontrava-se desaparecida. A publicação na íntegra aconteceu entre 1962 e1966, a tradução para o inglês e para o alemão surgiu apenas em 1968 e1969. (IASI, 2007a, p. 83)Faz-se importante notar que Lênin morre em 1924. Assim, parece-lhe que“Os revolucionários marxistas da primeira metade do século 20 popularizaram umconceito de ideologia útil à luta que se travava como conjunto de idéias, mas quepossui uma contradição, que não é pequena, com o conceito de Marx.” (IASI, 2007a,p. 83)Löwy contrapõe-se à acepção tomada por Lênin e aponta o marxismo nãocomo ideologia, mas como uma “visão social de mundo”. Para Löwy (1987, p. 12-13), a visão social de mundo “circunscreve um conjunto orgânico, articulado eestruturado de valores, representações, idéias e orientações cognitivas,internamente unificado por uma perspectiva determinada, por um certo ponto de

37vista socialmente condicionado”. 18Löwy (1987, p. 11) defende que, na origem, Marx e Engels definemideologia como “uma forma de pensamento orientada para a reprodução da ordemestabelecida”. Assim, parece-nos que a teoria marxista revolucionária estaria maispara uma “contra-ideologia”, que busca desvendar os aspectos histórico-sociais darealidade para entender e buscar intervir em seu movimento.Como exemplo dessa luta, podemos citar o embate entre Marx e oseconomistas políticos, analisado por Mészáros. Tomando como pressuposto que apropriedade privada é um atributo essencial e natural do ser humano, oseconomistas políticos apontam o ‘egoísmo’ como característica inerente àhumanidade. Avaliam, assim, uma característica humana produzida historicamenteem determinadas relações sociais como uma característica natural e universal e,além disso, determinante na produção das relações tais como são.Na visão de Marx, o homem não é, por natureza, nem egoísta nem altruísta.Ele se torna, por sua própria atividade, aquilo que é num determinadomomento. E assim, se essa atividade for transformada, a natureza humanahoje egoísta se modificará, de maneira correspondente. (MÉSZÁROS, 2006,p. 137).Assim, a natureza humana atual, embora seja egoísta, não é estática ouimutável. Pelo contrário, transformando-se o conjunto das relações sociais,transforma-se, em conseqüência, tal natureza humana. Se, como foi exposto,consideramos o homem como ser histórico, cujas características se produzem nesseprocesso, na sociedade capitalista, atual momento histórico, o homem apresentaalgumas peculiaridades. Dentre elas, algumas se destacam: individualismo,liberdade, igualdade, propriedade 19 . Para transformar a natureza humana e superara liberdade e igualdade como conceitos meramente formais, para superar aindividualidade alienada e a propriedade, é necessário transformar a vida real doshomens, seu modo de produzir socialmente a vida.Para que os seres humanos adquirissem essas características, foi18 As visões sociais de mundo, segundo Löwy, podem ser ideológicas (quando servem para legitimar,justificar, defender ou manter a ordem social do mundo), utópicas ou combinar elementos ideológicose utópicos. Para o autor, “O pensamento utópico é o que aspira a um estado não existente dasrelações sociais, o que lhe dá, ao menos potencialmente, um caráter crítico, subversivo, ou mesmoexplosivo.” (LÖWY, 1987, p. 12) Assim, não toma o conceito como um sonho imaginário irrealizável,mas um estado inexistente que pode vir a se realizar.19 Em O capital, Marx ironiza com esses quatro princípios liberais que imperam na esfera dacirculação das mercadorias. Ver MARX (1988. p. 141).

37vista socialmente condicionado”. 18Löwy (1987, p. 11) defende que, na origem, Marx e Engels definemideologia como “uma forma de pensamento orientada para a reprodução da ordemestabelecida”. Assim, parece-nos que a teoria marxista revolucionária estaria maispara uma “contra-ideologia”, que busca desvendar os aspectos histórico-sociais darealidade para entender e buscar intervir em seu movimento.Como exemplo dessa luta, podemos citar o embate entre Marx e oseconomistas políticos, analisado por Mészáros. Tomando como pressuposto que apropriedade privada é um atributo essencial e natural do ser humano, oseconomistas políticos apontam o ‘egoísmo’ como característica inerente àhumanidade. Avaliam, assim, uma característica humana produzida historicamenteem determinadas relações sociais como uma característica natural e universal e,além disso, determinante na produção das relações tais como são.Na visão de Marx, o homem não é, por natureza, nem egoísta nem altruísta.Ele se torna, por sua própria atividade, aquilo que é num determinadomomento. E assim, se essa atividade for transformada, a natureza humanahoje egoísta se modificará, de maneira correspondente. (MÉSZÁROS, 2006,p. 137).Assim, a natureza humana atual, embora seja egoísta, não é estática ouimutável. Pelo contrário, transformando-se o conjunto das relações sociais,transforma-se, em conseqüência, tal natureza humana. Se, como foi exposto,consideramos o homem como ser histórico, cujas características se produzem nesseprocesso, na sociedade capitalista, atual momento histórico, o homem apresentaalgumas peculiaridades. Dentre elas, algumas se destacam: individualismo,liberdade, igualdade, propriedade 19 . Para transformar a natureza humana e superara liberdade e igualdade como conceitos meramente formais, para superar aindividualidade alienada e a propriedade, é necessário transformar a vida real doshomens, seu modo de produzir socialmente a vida.Para que os seres humanos adquirissem essas características, foi18 As visões sociais de mundo, segundo Löwy, podem ser ideológicas (quando servem para legitimar,justificar, defender ou manter a ordem social do mundo), utópicas ou combinar elementos ideológicose utópicos. Para o autor, “O pensamento utópico é o que aspira a um estado não existente dasrelações sociais, o que lhe dá, ao menos potencialmente, um caráter crítico, subversivo, ou mesmoexplosivo.” (LÖWY, 1987, p. 12) Assim, não toma o conceito como um sonho imaginário irrealizável,mas um estado inexistente que pode vir a se realizar.19 Em O capital, Marx ironiza com esses quatro princípios liberais que imperam na esfera dacirculação das mercadorias. Ver MARX (1988. p. 141).

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