106sentido, destacamos a seguinte passagem de Duarte,A concepção histórico-social não se limita a responder o que o gênerohumano é, mas, na resposta ao que ele é, procura os elementos pararesponder o que ele pode vir-a-ser e dentre as alternativas possíveis, aconcepção histórico-social elege aquelas que considera como constitutivasdo que o gênero humano deve vir-a-ser. (DUARTE, 1993, p. 69)Pensamos, com isso, que para eleger um deve vir-a-ser dentre aspossibilidades, é preciso conhecer as alternativas do pode vir-a-ser. O processo deconhecimento ocorre mediado pelos conceitos, pela linguagem. Quando mediadopor conceitos espontâneos, o conhecimento tem um grau de generalização maisimediato, é mais permeável à ideologia, à tradição, à ultrageneralização. Pararomper com modos de pensar, agir e sentir cotidianos, é necessário superar osconceitos espontâneos, desenvolvendo o que Vigotski chama de conceitoscientíficos. Os conceitos científicos passam também a mediar a relação do sujeitocom o mundo, com um grau de generalização superior que permite operações maiscomplexas, através da formação de um sistema de conceitos organizado e quebusque apreender a realidade para além de sua aparência, percebendo suasrelações, conexões e contradições. Com isso se produz a consciência reflexiva e ocontrole deliberado sobre as próprias funções psicológicas, que permite umdistanciamento da realidade (externa e interna) para avaliá-la.O desenvolvimento da consciência de classe rompe com a ideologia pormeio da produção de um sistema teórico que busque desvelar as contradições doreal, suas leis e suas relações. Para fazer avançar o processo de consciência daclasse trabalhadora e conseqüentemente, transformar a realidade, é necessárioconhecer cada vez mais o real, o que exige uma tomada de consciência dessarealidade. O desenvolvimento dos conceitos científicos permite uma tomada deconsciência mais elevada do que os espontâneos, além de maior arbitrariedade,levando ao desenvolvimento da consciência reflexiva. Para reafirmar a importânciados conceitos científicos no processo de tomada de consciência, repetimos umacitação de Vigotski colocada no capítulo 2: “Descobrimos que a tomada deconsciência dos conceitos se realiza através da formação de um sistema deconceitos, baseado em determinadas relações recíprocas de generalidade, e que taltomada de consciência dos conceitos os torna arbitrários.” (VIGOTSKI, 2001a, p.295).
107No entanto, não podemos esquecer que também a produção doconhecimento científico é um processo marcado pelas contradições do processo dehumanização e alienação e pela luta de classes.Para Chauí (1984, p. 80-81), o papel da teoria revolucionária não éconscientizar ou criar uma consciência verdadeira, para se opor à falsa, masdesvendar os processos reais e históricos enquanto resultados e condições daprática humana em situações determinadas, prática que dá origem à existência e àconservação das relações de dominação. A teoria precisa apontar os processosobjetivos que levam à dominação e à exploração e os que podem levar à liberdade.Nesse sentido, Löwy defende que a visão de mundo proletária é maisfavorável ao conhecimento social do que a das outras classes. Para o autor, acontribuição mais importante de História e consciência de classe de Lukács foi demostrar que o proletariado foi colocado pela história diante da tarefa de umatransformação consciente da realidade; por isso conhecer a realidade objetivamenteé uma necessidade para a sua ação. (LÖWY, 1987, p. 126).Löwy (1987, p. 197) afirma que “à cada época é a classe revolucionária querepresenta o máximo de consciência possível; este privilégio, que era no passado daburguesia revolucionária (filosofia do Iluminismo, economia política clássica, etc.),pertence agora à classe revolucionária de nossa época: o proletariado” e acrescentaqueo ponto de vista potencialmente mais crítico e mais subversivo é o da últimaclasse revolucionária, o proletariado. Mas não há dúvida de que o ponto devista proletário não é de forma alguma uma garantia suficiente doconhecimento da verdade social: é somente o que oferece a maiorpossibilidade objetiva de acesso à verdade. (LÖWY, 1987, p. 208-209).Com isso, aponta para as especificidades do proletariado como classerevolucionária, que difere das demais classes revolucionárias da história. Emprimeiro lugar, por ser a primeira classe revolucionária cuja visão social de mundotem a possibilidade objetiva de ser transparente. Diferente da burguesia, que tinhainteresses particulares a defender diferentes da massa e, portanto, o que ocultar, ointeresse do proletariado de abolir a dominação de classes coincide com o dagrande maioria da humanidade. Em segundo lugar, porque o proletariado só podetomar o poder, transformar a sociedade e construir o socialismo por uma série deações deliberadas e conscientes, por isso precisa conhecer objetivamente a
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