100velhos valores, internalizados como signos. Os signos são instrumentospsicológicos, inseridos pela pessoa em sua atividade, que ampliamsignificativamente as possibilidades dadas pelas funções psicológicas e querepresentam as suas relações reais.Reportemo-nos ao processo de desenvolvimento de conceitos, entendidoscomo unidade do pensamento e da palavra. Nesse momento do processo deconsciência, da consciência cotidiana alienada, predominam os conceitosespontâneos, isto é, aqueles que são resultado do aprendizado espontâneo naexperiência pessoal e imediata, compreendendo processos que mobilizam asdimensões afetiva e cognitiva, constituindo uma unidade entre intelecto e afeto. Valedestacar que qualquer apropriação é sempre mediada socialmente e, de início,mediada pelo meio social mais próximo, a família. Vigotski (2001a) aponta que osconceitos espontâneos servem à atividade cotidiana, mas caracterizam-se pelaausência de um sistema, o que leva ao sincretismo, à justaposição e insensibilidadeà contradição. Por aí vemos que há um mecanismo psicológico que contribui paraque as normas e valores internalizados como conceitos espontâneos não sejamentendidos como sistemas em conflito ou contradição. Essa possibilidade se coloca,com o desenvolvimento dos conceitos científicos que terão importante papel naformação da consciência de classe para-si e do que trataremos adiante.3.5 DA REVOLTA INDIVIDUALDifícil é saberse aquele homemjá não estámais aquém do homem;mais aquém do homemao menos capaz de roeros ossos do ofício;capaz de sangrarna praça;capaz de gritarse a moenda lhe mastiga o braçocapazde ter a vida mastigadae não apenasdissolvidaJoão Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas)
101Segundo Iasi, “a chave do movimento das formas de consciência é umacontradição, ou um jogo de contradições, cuja síntese é uma não-correspondênciaentre a antiga visão de mundo e o mundo real em movimento.” (IASI, 2006, p. 231).Por ‘antiga visão de mundo’, Iasi entende que no desenvolvimento dacriança, em primeiro lugar, ela internaliza, pela mediação da família, em geral umavisão de mundo naturalizada que reproduz as relações sociais alienadas e quecorresponde a certo contexto material. Com a realidade contraditória e emmovimento, as pessoas vivenciam durante sua vida novos contextos materiais, quepodem ser contraditórios com os vividos e internalizados anteriormente. E a partir domomento em que a consciência fragmentada e alienada entra em contradição com arealidade em movimento, abre-se a possibilidade de que essa contradição venha àtona na consciência. Em razão dos mecanismos ideológicos, de início, essacontradição é vivida subjetivamente, gerando um estado de revolta. Podemos citarcomo exemplo o caso da pessoa que aprende por toda a vida que a forma deenriquecer em nossa sociedade é através do próprio trabalho. Há, na realidade,vários exemplos que comprovam essa expressão ideológica. No entanto, essapessoa trabalha muito e não enriquece. A ideologia oculta que nem todos aquelesque trabalhem muito, ficarão ricos e, além disso, oculta que a riqueza, na sociedadecapitalista, não é fruto do próprio trabalho, mas da apropriação do valor produzidopelo trabalho alheio. Essa pessoa tem, fundamentalmente, duas formas de explicarsua situação: a primeira é entendendo essa realidade a partir dos valoresideológicos internalizados, atribui a culpa a si mesma por não trabalhar o suficiente.Nesse caso, a não correspondência deve se manifestar como uma revolta individuale a conseqüência é novamente naturalizar, anunciando que infelizmente “sempre foiassim” o que leva a um “sempre será assim”. (IASI, 2006; 2007a). A segunda épercebendo que aquele enunciado não corresponde diretamente à realidade. Nessasituação, ocorre um choque de sistemas, do sistema internalizado anteriormente ede um novo sistema que emerge. Esse choque, conforme apresentamos acima ecomo aponta Vigotski (2000a, p. 34-37), é vivenciado como drama, um conflitoexterno internalizado pelo choque de hierarquias divergentes vividas pela pessoanas suas diferentes relações e que pode ou não avançar a outra forma deconsciência, a depender de certas condições.
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