MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ...

MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ... MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA A RELAÇÃO ENTRE A ...

13.07.2015 Views

10INTRODUÇÃOO que vivenão entorpece.O que vive fere.O homem,porque vive,choca com o que vive.Viveré ir entre o que vive.(...)O que vive é espessocomo um cão, um homem,como aquele rio.João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas)Em tempos de grande ofensiva ideológica em que se anuncia o fim dasclasses sociais, faz-se necessário retomar o debate acerca das classes nocapitalismo. A partir dos anos 80, com a ‘reestruturação produtiva’ do capital,surgem teses que apontam para o fim das classes sociais ou para a perda de suacentralidade no mundo atual. Como conseqüência, teríamos o fim da luta de classescomo centro da história, quando não o fim da própria história e o fim da totalidade.Tais teses estão baseadas em importantes mudanças no mundo do trabalho, comoas novas formas de gestão e inovações tecnológicas que tem por objetivo aintensificação, isto é, eliminar os ‘poros’ do processo de produção, além de diminuirao máximo as formas de trabalho improdutivo, ou seja, aquele que não produz maisvalia.Essas mudanças no processo produtivo repercutem no perfil da classetrabalhadora, que se desconcentra e é realocada em outros setores da economia egeopoliticamente. (GERMER, 2008; IASI, 2007b). 1No entanto, percebe-se que, ainda que tenham ocorrido importantesmudanças no perfil e na localização geopolítica da classe trabalhadora,a reestruturação produtiva não altera as relações de propriedade ou muda ocaráter da grande propriedade monopolista, pelo contrário, aprofunda oprocesso de centralização e concentração da produção. As relações detrabalho se precarizam, cortam-se direitos, revertem-se conquistas, quebra-1 Há extensos e ricos debates sobre a atualidade das classes sociais e da luta de classes, que fogemà alçada desse trabalho. Algumas referências para aprofundamento: ANTUNES, R.Adeus ao trabalho? (ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho).São Paulo: Cortez, 1995. GERMER, C. M. O proletariado ‘invisível’: a centralidade da classetrabalhadora e a transição para o socialismo. Curitiba, 2008. IASI, M. L. Classes sociais e areestruturação produtiva do capital. São Paulo, 2007b.

11se o patamar organizativo anterior, completa-se a subordinação real dotrabalho ao capital, mas seguem sendo relações assalariadas. (IASI, 2007b,p. 4)Nesse sentido, nos somamos àqueles que partem de uma leitura marxistada realidade, entendendo-a como totalidade e que vivemos em uma sociedadedividida em classes sociais e antagônicas, que, a depender do momento domovimento em que se encontram, entram em luta, ‘ora disfarçada, ora aberta’ 2 .Reafirmamos que o mecanismo de produção e distribuição da riqueza continuabaseado na exploração do trabalho alheio e na produção de mais-valia,concentrando-se e centralizando-se cada vez mais nas mãos da classe capitalista efazendo da grande massa da população cada vez mais uma classe de expropriadosdos meios de produção. A sociedade capitalista ainda não foi superada e por isso énecessário estudá-la e conhecê-la cada vez mais para contribuir na organização deações transformadoras que busquem a sua superação e a construção de umasociedade sem classes.Com a presente pesquisa, buscamos analisar o processo de produção daconsciência de classe da classe trabalhadora na relação com a formação daconsciência individual, na tentativa de contribuir com esse estudo. Tomamos comobase o debate marxista e as contribuições de Vigotski.Lev Semenovich Vigotski (1896-1934), autor soviético que tem suaprodução teórica localizada no contexto de consolidação da Revolução Russa einterrompida pela tuberculose aos 38 anos de idade, apoiava-se no referencialteórico marxista e pressupunha a historicidade do ser humano e, por conseguinte,de sua consciência, o que fica explícito na seguinte passagem:O sistema de análise psicológica adequado para desenvolver uma teoriadeve partir da teoria histórica das funções psíquicas superiores, que por suavez se apóia em uma teoria que responde à organização sistemática e aosignificado da consciência do homem. Essa doutrina atribui um significadoprimordial a: a) variabilidade das conexões e relações interfuncionais; b) aformação de sistemas dinâmicos complexos, integrantes de toda uma sériede funções elementares; e c) reflexão generalizada da realidade naconsciência. Esses três aspectos constituem, na perspectiva teórica quedefendemos, o conjunto de características essenciais e fundamentais daconsciência humana. (VIGOTSKI, 1999a, p. 193).Uma vez que Vigotski não aprofunda diretamente os estudos sobre o objeto2 Referência à expressão utilizada por Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista (2002, p.45) para aludirem-se às formas de expressão da luta de classes.

10INTRODUÇÃOO que vivenão entorpece.O que vive fere.O homem,porque vive,choca com o que vive.Viveré ir entre o que vive.(...)O que vive é espessocomo um cão, um homem,como aquele rio.João Cabral de Melo Neto (O cão sem plumas)Em tempos de grande ofensiva ideológica em que se anuncia o fim dasclasses sociais, faz-se necessário retomar o debate acerca das classes nocapitalismo. A partir dos anos 80, com a ‘reestruturação produtiva’ do capital,surgem teses que apontam para o fim das classes sociais ou para a perda de suacentralidade no mundo atual. Como conseqüência, teríamos o fim da luta de classescomo centro da história, quando não o fim da própria história e o fim da totalidade.Tais teses estão baseadas em importantes mudanças no mundo do trabalho, comoas novas formas de gestão e inovações tecnológicas que tem por objetivo aintensificação, isto é, eliminar os ‘poros’ do processo de produção, além de diminuirao máximo as formas de trabalho improdutivo, ou seja, aquele que não produz maisvalia.Essas mudanças no processo produtivo repercutem no perfil da classetrabalhadora, que se desconcentra e é realocada em outros setores da economia egeopoliticamente. (GERMER, 2008; IASI, 2007b). 1No entanto, percebe-se que, ainda que tenham ocorrido importantesmudanças no perfil e na localização geopolítica da classe trabalhadora,a reestruturação produtiva não altera as relações de propriedade ou muda ocaráter da grande propriedade monopolista, pelo contrário, aprofunda oprocesso de centralização e concentração da produção. As relações detrabalho se precarizam, cortam-se direitos, revertem-se conquistas, quebra-1 Há extensos e ricos debates sobre a atualidade das classes sociais e da luta de classes, que fogemà alçada desse trabalho. Algumas referências para aprofundamento: ANTUNES, R.Adeus ao trabalho? (ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho).São Paulo: Cortez, 1995. GERMER, C. M. O proletariado ‘invisível’: a centralidade da classetrabalhadora e a transição para o socialismo. Curitiba, 2008. IASI, M. L. Classes sociais e areestruturação produtiva do capital. São Paulo, 2007b.

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