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Como imos, o conceito de intertextualidade é estudado em ...

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LINGUÍSTICA DE TEXTOAULA 03: INTERTEXTUALIDADETÓPICO 02: AS RELAÇÕES INTERTEXTUAIS POR COPRESENÇAVERSÃO TEXTUAL<strong>Como</strong> v<strong>imos</strong>, o <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong> é <strong>estudado</strong> <strong>em</strong>diferentes áreas, o que gera distintas perspectivas, assim comodistintas categorias analíticas, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência do pressupostodialógico da linguag<strong>em</strong> discutido no tópico 1. Se enten<strong>de</strong>rmos aintertextualida<strong>de</strong> numa perspectiva ampla (lato sensu), então s<strong>em</strong>prehaverá relação entre todo e qualquer texto já produzido ou que seráproduzido, mesmo que não haja marcas explícitas para tanto, o quecaracteriza a intertextualida<strong>de</strong> stricto sensu.Neste tópico, vamos estudar as relações intertextuais estabelecidas porcopresença, que são aquelas <strong>em</strong> que é possível perceber, por meio <strong>de</strong>distintos níveis <strong>de</strong> evidência, fragmentos <strong>de</strong> textos previamente produzidosque são encontrados <strong>em</strong> outros textos. Os estudos recentes da Literatura e daLinguística <strong>de</strong> Texto apontam quatro formas principais <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong>copresencial. Entre essas quatro formas, há uma escala, segundo Genette(1982), que vai do mais explícito (citação) ao menos explícito (alusão).Ressaltamos que a escolha por uma forma <strong>de</strong> estabelecimento nãoimplica a anulação das <strong>de</strong>mais, pelo contrário, é bastante comum aconvivência <strong>de</strong> diversas formas <strong>de</strong> relação intertextual num único texto,como ver<strong>em</strong>os <strong>em</strong> vários ex<strong>em</strong>plos a seguir.CITAÇÃOPo<strong>de</strong>-se afirmar que a citação canônica é a forma mais evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> intertexto, uma vez que é realizada por sinais tipográficosdiversos (como aspas, recuo <strong>de</strong> marg<strong>em</strong>, itálico, diminuição <strong>de</strong> fonte etc.)que <strong>de</strong>marcam uma fronteira entre a produção original <strong>de</strong> um autor e ointertexto citado, conforme perceb<strong>em</strong>os no ex<strong>em</strong>plo a seguir:EXEMPLOEXEMPLO DE CITAÇÃO CANÔNICA15/09/2009 - 08H00EM BOA VISTA, DILMA CHAMA RORAIMA DE RONDÔNIAda FOLHA DE S.PAULO


"Esse país está mudando, e Rondônia mudando mais rápido quenosso país", discursou a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ont<strong>em</strong> paracerca <strong>de</strong> 15 mil pessoas <strong>em</strong> Boa Vista, capital <strong>de</strong> Roraima.Ao perceber um silêncio seguido <strong>de</strong> vaias, a ministra se <strong>de</strong>u conta dagafe e se <strong>de</strong>sculpou.Dilma voltou <strong>de</strong> férias nesta segunda-feira e acompanhou opresi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula da Silva <strong>em</strong> viag<strong>em</strong> a Roraima.Dilma tirou uma s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> férias. Ont<strong>em</strong>, com Lula, ela participouda cerimônia <strong>de</strong> <strong>de</strong>scerramento <strong>de</strong> placa alusiva à inauguração do terminal<strong>de</strong> passageiros do Aeroporto Internacional <strong>de</strong> Boa Vista, entre outrasativida<strong>de</strong>s.http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u624072.shtml [1]Nessa notícia, um trecho do discurso da ministra da casa civil, DilmaRoussef, candidata à presidência do Brasil nas eleições 2010 pelo PT, foireproduzido, configurando-se uma citação. Nesse caso específico, conforme éprática dos gêneros do âmbito jornalístico, o intertexto é marcado por aspas.Neste ex<strong>em</strong>plo, chamamos a atenção para a função discursiva do trechocitado, qual seja, a <strong>de</strong> apresentar com exatidão a gafe da ministra. Not<strong>em</strong>,entretanto, que o título da notícia parafraseia o trecho posteriormente citadoe acaba direcionando a interpretação do leitor, pois o verbo chamar estáusado com o sentido <strong>de</strong> confundir, <strong>de</strong> modo que a citação também po<strong>de</strong>servir para <strong>de</strong>sfazer esse julgamento. Um outro ponto relevante a respeito dafunção discursiva da intertextualida<strong>de</strong> diz respeito às escolhas. Neste texto,escolheu-se fazer citação do trecho <strong>em</strong> que ocorre o equívoco da ministra,mas o pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas é somente nomeado.Ainda resta dizer que gêneros textuais da área jornalística e, maisespecialmente, acadêmica têm formas padronizadas <strong>de</strong> citação, pois namaioria das vezes as relações intertextuais por meio <strong>de</strong> citação exerc<strong>em</strong> afunção discursiva da autorida<strong>de</strong>, ou seja, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se recorrer àpalavra especializada para se sustentar o que está sendo dito.Vale ressaltar que n<strong>em</strong> toda citação v<strong>em</strong> necessariamente marcada, sejacom aspas, seja com itálico ou outro tipo <strong>de</strong> evidência. Vejamos a tirinhaabaixo.Você consegue reconhecer a citação, mesmo não estando marcada? Noprimeiro quadrinho, a personag<strong>em</strong> Mônica repete as palavras da Madrastada personag<strong>em</strong> Branca <strong>de</strong> Neve: “Espelho, espelho meu”, configurando umex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> citação não marcada.


Fonte [2]O plágio se configura como uma apropriação in<strong>de</strong>vida ao texto alheio,como se a autoria fosse do plagiário. Muitas vezes tal prática é <strong>de</strong>liberada, <strong>de</strong>modo que se procura ocultar o intertexto. Outras vezes, porém, é efeito <strong>de</strong>um <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> autoria, como <strong>em</strong> práticasdiscursivas do mundo acadêmico, <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>ve marcar a proprieda<strong>de</strong> doque é dito a partir da referência ao autor e à data <strong>de</strong> publicação on<strong>de</strong> asi<strong>de</strong>ias discutidas (por meio <strong>de</strong> citações e paráfrases) se encontram inseridas.Vejamos o conteúdo <strong>de</strong> um <strong>em</strong>ail cujo assunto era “Carta aberta: plágio nomeio acadêmico”.CARTA ABERTA: PLÁGIO NO MEIO ACADÊMICObr>De: Comissão <strong>de</strong> Pós-Graduação do IEL


elaciona a tradição com a renovação”. E o que eu escrevo na página18 : “(...) cujas inovações não encobriam <strong>de</strong> todo os traços neosimbolistasque impregnavam a maioria <strong>de</strong>les”, com o que ela escrevena mesma página 101: “(...) mas as inovações nela apresentadas nãoencobr<strong>em</strong> <strong>de</strong> todo os traços neo-simbolistas que as impregnam”. E t<strong>em</strong>mais, muito mais. Senão, observ<strong>em</strong>os um trecho do meu ensaio: “Umavez que estreou <strong>em</strong> 1940, cronologicamente po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>radoum integrante da chamada Geração <strong>de</strong> 45. Mas não o foi no essencial,ou seja: na linguag<strong>em</strong>” (página 19). E o que ela escreve como sendo <strong>de</strong>sua autoria, na página 102: “Por outro lado, uma vez que estreou <strong>em</strong>1940, cronologicamente po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rado um integrante dachamada Geração <strong>de</strong> 45. Contudo, não o foi no essencial: na linguag<strong>em</strong><strong>de</strong> matiz coloquial a par <strong>de</strong> uma t<strong>em</strong>ática regida pelo cotidiano, que seaproxima muito mais do Movimento <strong>de</strong> 22”. O arr<strong>em</strong>ate <strong>de</strong>sseperíodo, ela o copiou, <strong>de</strong> forma literal, <strong>de</strong> um trecho da página 22 domeu livro: “(...) o poeta incorporou do mo<strong>de</strong>rnismo uma linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong>matiz coloquial a par <strong>de</strong> uma t<strong>em</strong>ática regida pelo cotidiano”. T<strong>em</strong>mais. Página 19, do meu livro: “(...) o quanto se torna difícil situar eavaliar a obra <strong>de</strong> Quintana no contexto da lírica nacional”. Página 102,do livro “Na Esquina do T<strong>em</strong>po – 100 anos com Mario Quintana”:“Apesar <strong>de</strong> ser difícil situar e avaliar a obra do poeta no contexto dalírica nacional...” Já na página 76, eu escrevo: “Quer dizer: se o‘hábitat’ natural dos sapatos é o chão, qu<strong>em</strong> os colocou ‘próx<strong>imos</strong>’ aoCéu não o fez movido por nenhuma predisposição nefelibata, mas pelo<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> minorar, n<strong>em</strong> que fosse ilusoriamente, as agruras da vidaterrena. Daí os sapatos do Soneto XV cumprir<strong>em</strong> uma funçãometonímica e possuír<strong>em</strong> atributos humanos, além <strong>de</strong> <strong>em</strong>prestar<strong>em</strong>uma contextura concreta ao mundo subjetivo do sujeito <strong>em</strong>issor”.Trecho copiado pela professora, com ligeiras modificações, na página103: “<strong>Como</strong> o local <strong>em</strong> que, normalmente, os sapatos ficam é o chão,supõe-se que eles tenham sido colocados próx<strong>imos</strong> ao céu com oobjetivo <strong>de</strong> minorar as amarguras e dissabores da vida terrena. Aoadquirir<strong>em</strong> atributos humanos, esses objetos <strong>em</strong>prestam umacontextura concreta ao mundo subjetivo do <strong>em</strong>issor, cumprindo umafunção metonímica”. Por último, página 76, do livro “Longe daqui,aqui mesmo – a poética <strong>de</strong> Mario Quintana”, <strong>de</strong> minha autoria: “Tantoque costumam distinguir e enfatizar na sua obra os recursos parnasosimbolistas<strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> alguns preceitos da poesia mo<strong>de</strong>rna quea permeiam, <strong>de</strong>ntre eles a materialização dos sentimentos a partir dosatos e das coisas banais do cotidiano”. Página 105, do livro “NaEsquina do T<strong>em</strong>po – C<strong>em</strong> Anos com Mario Quintana”: “Po<strong>de</strong>-seafirmar, consequent<strong>em</strong>ente, que a materialização dos sentimentos apartir dos atos e das coisas banais do cotidiano aproxima Quintana davida mo<strong>de</strong>rna”.A minha reação, num primeiro instante, foi relevar a atitu<strong>de</strong> daProfessora Adiani Fogali Marinello. Posteriormente – e já mesmo porconta do clima <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong> que grassa <strong>em</strong> todo o país –, resolvitomar algumas providências. Uma <strong>de</strong>las, a <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciá-la através<strong>de</strong>ste artigo que, enviado para editoras, universida<strong>de</strong>s, professores,


etc., talvez a iniba <strong>de</strong>, novamente, usurpar o patrimônio intelectualalheio.Um fato curioso a respeito <strong>de</strong>sse texto é que ele, valendo-se do amplo <strong>de</strong>massa possibilitado pelas novas tecnologias, circulou por meio <strong>de</strong> e-mailsnuma espécie <strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> repúdio a essa prática. O autor, para comprovara configuração do plágio, utilizou do recurso <strong>de</strong> citação, mostrando <strong>em</strong> qu<strong>em</strong>omentos teve seu texto reproduzido s<strong>em</strong>, entretanto, nenhuma referência<strong>de</strong> sua autoria. Cabe ainda l<strong>em</strong>brar que o plágio não se restringe à cópia fiel<strong>de</strong> textos, no sentido <strong>de</strong> que i<strong>de</strong>ias também po<strong>de</strong>m ser plagiadas, ou seja,fazer paráfrase <strong>de</strong> textos s<strong>em</strong> especificar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiram as i<strong>de</strong>iasinformadas também constitui plágio, <strong>em</strong>bora mais difícil <strong>de</strong> ser comprovado.REFERÊNCIAEnten<strong>de</strong>-se por referência o processo <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issão a outro texto s<strong>em</strong>necessariamente haver citação <strong>de</strong> um trecho <strong>de</strong> outro texto. A r<strong>em</strong>issão po<strong>de</strong>realizar-se, por ex<strong>em</strong>plo, por meio da nomeação do autor do intertexto, dotítulo da obra e/ou <strong>de</strong> personagens <strong>de</strong> obras literárias etc. Vamos ler o textoabaixo?NOTÍCIAS DO SUBMUNDO( SAMUEL ROSA/CHICO AMARAL)Todos ouv<strong>em</strong> o sinalQue atravessa a galeriaNo sentido da centralA serpente risca o un<strong>de</strong>rgroundEntra gente <strong>em</strong> profusãoNas entranhas do metrô<strong>Como</strong> ULISSES na ODISSEIAQuantos <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>rão voltar?Veja só o marQue se abre um abismoE cospe as notícias da s<strong>em</strong>anaAs pare<strong>de</strong>s vêm trazerOs jornais do subwayEstações do inferno e céuCujo nome exato eu não seiAs artérias, os pulmõesPlenos <strong>de</strong> <strong>de</strong>silusãoVejo a mim não vejo maisTudo aqui dispara <strong>em</strong> lentidãoVeja só o marQue se abre um abismoE cospe as notícias da s<strong>em</strong>anaNinguém percebeuE você enxerga algoQue ultrapassa as folhas da vidraça


MULTIMÍDIAQue tal escutar a canção “Notícias do Submundo”? Clique no linkabaixo e acompanhe a letra.Para Assistir ao ví<strong>de</strong>o Acesse o Ambiente SolarFonte: http://www.youtube.com/watch?v=clyTDDq8K38 [3]Para Assistir o Ví<strong>de</strong>o Acesse o Ambiente Solar.Num trecho <strong>de</strong>ssa canção gravada pelo grupo Skank (Estandarte,2008), há uma referência à Odisséia feita por meio do título <strong>de</strong>sta obra e donome da personag<strong>em</strong> principal, Ulisses, <strong>de</strong> modo que é necessário aointerlocutor um conhecimento prévio acerca do conteúdo da obra referidapara construir, principalmente, o sentido dos versos Quantos <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>rãovoltar?, uma vez que a obra <strong>em</strong> r<strong>em</strong>issão trata do conturbado regresso <strong>de</strong>soldados à sua terra, após Troia ser <strong>de</strong>rrotada. No po<strong>em</strong>a, apenas apersonag<strong>em</strong> Ulisses consegue retornar a seu lar, Ítaca, vinte anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sua partida.No meio acadêmico, as referências costumam ser indicadas por meio doúltimo sobrenome do autor, seguido do ano <strong>de</strong> publicação da obra na qual asi<strong>de</strong>ias são parafraseadas. De forma menos recorrente, coloca-se o título daobra. Vejamos:Segundo Koch (1997), uma das regras para o<strong>em</strong>prego dos artigos como formas r<strong>em</strong>issivas é aquela<strong>em</strong> que um referente, ao ser introduzido por umartigo in<strong>de</strong>finido, somente po<strong>de</strong> ser retomado por umartigo <strong>de</strong>finido. (BENTES, 2008, p. 279)No excerto acima, <strong>em</strong> nenhum momento há uma citação direta, mas,ainda assim, perceb<strong>em</strong>os uma relação intertextual. O texto original éparafraseado, isto é, adaptado ao discurso da autora <strong>de</strong>sse texto, marcandoseo intertexto por meio da referência, tanto para i<strong>de</strong>ntificar a proprieda<strong>de</strong>intelectual das informações, quanto para usar <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong> ao se fazercertas afirmações. S<strong>em</strong> a referência à obra original (KOCH, 1997), a autoriateria se apropriado das i<strong>de</strong>ias e teria se configurado o plágio. Além <strong>de</strong> seruma referência, há também uma paráfrase, como ver<strong>em</strong>os no tópico 3,evi<strong>de</strong>nciando o fato <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m convergir no mesmo texto diversos tipos<strong>de</strong> relação intertextual.


EXERCITANDO 1Vamos estudar um pouco: que tal i<strong>de</strong>ntificar <strong>em</strong> quais textosapresentados há ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> referência? Não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> especificar ointertexto.TEXTOSVocê com certeza não conseguiria fazer as relações intertextuais senão ativasse conhecimentos prévios relativos a contos <strong>de</strong> fadas e a ditadospopulares.


ALUSÃODiferent<strong>em</strong>ente da referência, que apresenta marcas explícitas por meiodas quais é possível reconhecer o intertexto ao qual se está fazendo r<strong>em</strong>issão(tais como nome do autor, título da obra, nome <strong>de</strong> personagens etc.), aalusão é implícita, isto é, não apresenta marcas diretas e, portanto, seureconhecimento <strong>de</strong>manda maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inferência por parte doenunciador. Vejamos um trecho da canção Terra (do álbum Muito, lançado<strong>em</strong> 1978), do cantor e compositor baiano Caetano Veloso:Fonte [4]Na canção <strong>de</strong> Caetano, há versos que alu<strong>de</strong>m a uma outra canção,Paraíba, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. O interessante éque na canção Terra o eu-lírico compara a si próprio com o ‘saudosopoeta’ (Humberto Teixeira) e, paralelamente, compara a Terra – t<strong>em</strong>a dacanção – com a Paraíba, t<strong>em</strong>a da canção à qual alu<strong>de</strong>.De acordo com Koch, Bentes e Cavalcante (2008), n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre umcoenunciador <strong>de</strong>tém as informações necessárias para o reconhecimento dosindícios intertextuais da referência e da alusão. Vejamos a letra <strong>de</strong>ssa canção,gravada recent<strong>em</strong>ente pela cantora Adriana Calcanhotto, no disco Maré <strong>de</strong>2008:PORTO ALEGRE (NOS BRAÇOS DE CALIPSO)(Péricles Cavalcante)Amarrado num mastroTapando as orelhasEu resistiAo encanto das sereiasEu não ouviO canto das sereiasEu resistiMas chegando à praiaNão fiz nada dissoEntão caíNos braços <strong>de</strong> CalipsoEu sucumbi


Ao encanto <strong>de</strong> CalipsoNão resistiDes<strong>de</strong> então eu não tiveNenhum outro vícioSenão dançarAo ritmo <strong>de</strong> CalipsoPois eu caíNas graças <strong>de</strong> CalipsoNão resistiAo encanto <strong>de</strong> CalipsoSó sei dançarAo ritmo <strong>de</strong> CalipsoMULTIMÍDIAQue tal escutar a canção “Porto Alegre (nos braços <strong>de</strong> Calipso)”?Clique no link abaixo e acompanhe a letra. Fonte:Para Assistir ao ví<strong>de</strong>o Acesse o Ambiente SolarFonte: http://www.youtube.com/watch?v=2OgbIKmp-Hg [5]Para Assistir o Ví<strong>de</strong>o Acesse o Ambiente Solar.Nesta canção, há uma série <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a uma passag<strong>em</strong>da Odisséia, <strong>de</strong> Homero, como a referência à personag<strong>em</strong> Calipso, e a alusãoa diversos fatos, como amarrar-se ao mastro e tapar os ouvidos para evitar ocanto das sereias. Além disso, a elevada recorrência ao nome da ninfa po<strong>de</strong>estar relacionada ao longo t<strong>em</strong>po que Ulisses passou ‘preso’ na ilha. Somentecompartilhando essas informações é possível ao coenunciador i<strong>de</strong>ntificar queo eu-lírico é a personag<strong>em</strong> Ulisses. A falta <strong>de</strong> um conhecimento prévio po<strong>de</strong>provocar uma leitura ina<strong>de</strong>quada da canção <strong>de</strong> Péricles Cavalcante, guiadapor outras pistas. Por ex<strong>em</strong>plo, os versos Só sei dançar/ao ritmo <strong>de</strong> Calipsopo<strong>de</strong> direcionar a uma interpretação relacionada a um <strong>de</strong>terminado ritmopopular brasileiro. Não <strong>de</strong>scartamos, todavia, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um duplosentido pretendido pelo autor, mas <strong>de</strong>sejamos ressaltar que umainterpretação calcada somente na referência a um ritmo popular fica<strong>de</strong>masiadamente comprometida.Fonte [6]


O fato aludido na canção Porto alegre (nos braços <strong>de</strong> Calipso) tambémfoi t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>sta gravura sobre um antigo vaso grego. Curiosamente, arepresentação das sereias ass<strong>em</strong>elha-se ao que atualmente se representamcomo harpias.EXERCITANDO 2No último Exercitando, trabalhamos com a referência. Agora pens<strong>em</strong>elhor: aproveitando os mesmos textos, vamos i<strong>de</strong>ntificar os ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>alusão.TEXTOSAinda resta dizer que “os fenômenos da referenciação e da alusãoexce<strong>de</strong>m <strong>em</strong> muito o da intertextualida<strong>de</strong>, pois é possível falar <strong>de</strong> ambass<strong>em</strong> estar, necessariamente, diante <strong>de</strong> ocorrências intertextuais” (KOCH,BENTES, CAVALCANTE, 2007, p. 126), isto é, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre que houvercasos <strong>de</strong> referência e alusão, há casos <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong>.


Neste conto, do escritor argentino Jorge Luís Borges, perceb<strong>em</strong>osreferências e alusões ao mito grego do minotauro (Creta, Minotauro,labirinto) e uma referência ao poeta da renascença italiana Dante Alighieri eà sua obra, A divina comédia, na qual retoma muitas personagens <strong>de</strong> mitosantigos, entre os quais o Minotauro. Todas essas referências sãointertextuais, no sentido <strong>de</strong> que o leitor necessita ter um conhecimentoprévio <strong>de</strong> tais informações adquiridas por meio dos textos originais ou poradaptações <strong>de</strong>stes para construir os sentidos do texto. Todavia, há no contouma referência não necessariamente intertextual, quando o autor r<strong>em</strong>ete oleitor à Maria Kodama, escritora argentina que fora sua esposa.EXERCITANDO 3N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre que houver referência e alusão haverá necessariamenteintertextualida<strong>de</strong>. Isso ocorre porque a referência e a alusão sãofenômenos distintos, <strong>em</strong>bora muito s<strong>em</strong>elhantes e extrapolam os limitesda intertextualida<strong>de</strong>. Uma maneira <strong>de</strong> fixar essa compreensão é por meio<strong>de</strong> análises <strong>de</strong> textos. Sendo assim, procure comprovar isto analisando aletra da canção a seguir, <strong>de</strong> Rita Lee. Durante esse exercício, fique atente elocalize alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> referência.MÚSICATODAS AS MULHERES DO MUNDO(RITA LEE)Mães assassinas, filhas <strong>de</strong> MariaPolícias f<strong>em</strong>ininas, nazijudiasGatas gatunas, kengas no cioEsposas drogadas, tadinhas, mal pagasGarotas <strong>de</strong> Ipan<strong>em</strong>a, minas <strong>de</strong> MinasLoiras, morenas, messalinasSantas sinistras, ministras malvadasImeldas, Evitas, Beneditas estupradas


Paquitas <strong>de</strong> paquete, Xuxas <strong>em</strong> criseMacacas <strong>de</strong> auditório,velhas atrizesPatroas babacas, <strong>em</strong>pregadas mandonasMadonnas na cama, Dianas corneadasSocialites plebéias, rainhas <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntesManecas alcéias, enfermeiras doentesMadrastas malditas, superhom<strong>em</strong> sapatasIrmãs La Dulce beai<strong>de</strong>tificadasToda mulher quer ser amadaToda mulher quer ser felizToda mulher se faz <strong>de</strong> coitadaToda mulher é meio Leila DinizFONTES DAS IMAGENS1. http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u624072.shtml2. http://1.bp.blogspot.com/-n57nbgo7tzg/TVQLT-CwdAI/AAAAAAAADFM/p_kLs4VEg8Q/s1600/plagio.jpg3. http://www.youtube.com/watch?v=clyTDDq8K384. http://www.muzenzaleon.com/files/imagenes/nota-musical-1.png5. http://www.youtube.com/watch?v=2OgbIKmp-Hg6. http://3.bp.blogspot.com/_7vZ5y1KCPcA/SQjkNF-U56I/AAAAAAAAACI/iMM7QayTu60/s1600-h/Odisseia.bmpResponsável: Prof. Kilpatrik Muller CampeloUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará - Instituto UFC Virtual

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