Assentamentos Humanos V.5 nº1 - Unimar

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13.07.2015 Views

germinada, intrínseca à própria formaçãodas sociedades modernas e se traduz naprogressiva restrição do espaço público,tanto no nível físico, quanto nos níveis éticoe político. Contudo, pensar a questão daqualidade de vida e da mobilização socialenquanto coisa pública, impõe constituirum espaço e uma mentalidade pública quevai adiante, e muitas vezes se contrapõeàquilo que se mostra mais adequado a umamentalidade restrita ou a um espaçoparticular. A questão mais radical a serabordada não é a solução dos problemasmais imediatos, mas um ponto quegeralmente não é evidente, que é a perdade sentido da dimensão e do espaçopúblico da existência.A crise dos ambientes em que se vivenão é uma questão de planejamento etécnica, mas uma crise ou mesmo umaincapacidade de “habitar”. SegundoBRANDÃO, o verbo “habitar” remonta aolatim habere, haver-se, ter-se, conquistarse,construir-se, compreender-se, tomarposse de si (e não das coisas), portanto,habitar um lugar é identificar-se com ele,promover no local que habitamos apossibilidade de que ele nos conduza a umavida feliz e nos leve a conferir sentido àsnossas vidas. O maior problema das cidadese, talvez, o cerne dos demais problemas, énão ser mais percebida como lugar que dásentido à existência, lugar que educa epermite construir a identidade pessoal.Perdeu-se a capacidade de habitar o mundo,de ter nas cidades o lócus familiar eadequado ao aprimoramento do corpo,e doespírito, além dos usos e hábitos atuais.Portanto, melhorar a qualidade devida das cidades implica, em primeirolugar, reabilitá-las enquanto espaçopúblico e não como área de colisão dosinteresses particulares, mesmo porqueno jogo desses interesses a maior partedos cidadãos não são jogadores, maspeças jogadas, que não se identificamcom esse jogo, não se interessam por elee não se mobilizam, mas sãomobilizados, são alienados desse jogo enão conseguem ver a cidade comoespaço habitável, não lhes parecepúblico, nem resultado de interessescomuns. Esse espaço público onde estãocompetindo o interesse de gruposisolados e os capitais, não desperta ocuidado e o movimento de ninguém.O ESPAÇO PÚBLICO E A MODERNIDADEPartindo do conceito jurídico,observa-se que o espaço público é umespaço submetido a normas específicas porparte da Administração Pública, que possuio domínio do solo e garante seu acesso atodos além de fixar as condições de suautilização e de instalação de atividades. Oespaço público moderno surge daseparação formal (legal) entre apropriedade privada urbana e apropriedade pública, que reserva este sololivre de construções (exceto equipamentoscoletivos e serviços públicos) para destináloa usos sociais característicos da vidaurbana como o lazer, as manifestações, amobilidade, as atividades culturais, etc..O espaço público possui tambémuma dimensão sócio-cultural por ser umlugar de relação e de identificação, decontato e de animação urbana. A dinâmicada cidade e dos comportamentos pode criarespaços públicos que juridicamente não osão, ou que não foram previstos assim,podendo ser abertos ou fechados: umafábrica, edificações abandonadas, espaçosresiduais, acessos, caminhos, praças, pátiose também áreas reservadas para obraspúblicas ou de proteção ecológica. Nessescasos,o que define a natureza do espaçopúblico é o uso e não o estatuto jurídico.O urbanismo moderno reconstruiucidades após a Segunda Guerra mundial,focalizando no funcionalismo, dotado deum instrumental que separou mais queintegrou (el zoning) modelo acentuado pelacompartimentação das AdministraçõesPúblicas e alguns profissionais. O88

esultado, na maioria das vezes, tem sido aaplicação de políticas setoriais ao invés depromover atuações que articulem adiversidade e a complexidade dasdemandas urbanas.O funcionalismo desqualificou oespaço público ao atribuir-lhe usosespecíficos. Em alguns casos, seconfundiu com a circulação, em outros sesubmeteu às necessidades do poderpúblico. Em propostas bem sucedidasforam priorizadas a monumentalidade e oembelezamento urbano, ou aindaapareceram vinculados a atividadescomerciais ou culturais. No entanto,houveram situações onde foram utilizadoscomo mecanismo de segregação social.A crítica feita à cidade modernistarefere-se ao fato de não perceber o real significadoda sociabilidade nos espaços de ruase praças, relegando estes espaços a umsegundo plano ou chegando até mesmo a serdesconsiderados. Quanto à importância queas práticas contemporâneas tem dado a estafalta de sociabilidade do urbanismo modernista,do desejo “comum às teorias urbanaspós-modernas, de recuperar a riqueza simbólicadas formas urbanas tradicionais, baseadasna maior variedade possível de articulaçõesfeitas entre tecido urbano, espaçospúblicos e construções” o que está sendoobservado? (SANTOS & DEL RIO, 1998:8).O espaço público supõe domíniopúblico, uso social coletivo emultifuncionalidade, além de caracterizarsepor sua acessibilidade, o que o torna umfator de centralidade. A qualidade doespaço público pode ser avaliadaprincipalmente pela intensidade e pelasrelações sociais que facilita, por sua forçade mesclar grupos e comportamentos e porsua capacidade de estimular a identificaçãosimbólica, a expressão e integraçãoculturais. Por isso, convém que o espaçopúblico contemporâneo tenha qualidadesformais tais como: a continuidade dodesenho urbano e sua facilidade deorganização, a generosidade de suasformas, de sua imagem, de seus materiaise apresentar possibilidades de adaptaçãoaos diferentes usos através dos tempos.O PROJETO URBANOOs projetos urbanos caracterizam ourbanismo atual. Entende-se por projetosurbanos as atuações estratégicas dediferentes escalas, que vão desde umapraça até grandes intervenções, que secaracterizam pelas respostas a váriasdemandas ou por cumprir diversas funções,provocando dinâmicas transformadorasem seus entornos. As transformaçõesnesses locais ocorrem por apresentarobjetivos de competitividade e de ligaçãosocial, porque combinam em seudesenvolvimento o setor público e aparticipação de atores privados ou, ainda,porque promovem uma melhoria naqualidade de vida na cidade ou n o bairro.O urbanismo atual deve darrespostas relativamente rápidas aosdesafios de competitividade e coesão,tirando partido das oportunidades e, senecessário até, inventá-las, pois os grandesprojetos somente são viáveis utilizando-seuma série de circunstâncias favoráveis, oque só ocorre quando se pode contar comas vontades de um conjunto de atorespúblicos e privados.Analisando as novas dinâmicasurbanas percebe-se que na elaboração derespostas aos desafios que são colocadosestão: a atenção ao espaço público e arelação entre sua configuração e o exercícioda cidadania, entendida como o estatutoque permite exercer um conjunto dedireitos e deveres cívicos, políticos esociais. Segundo BORJA, o espaço públicointeressa principalmente por que é onde semanifesta, com maior intensidade, a crisede “cidade” ou de “urbanidade”, é o pontopara atuar quando se pretende impulsionarpolíticas de “fazer cidade” na cidade.Interessa também, porque as novas89

germinada, intrínseca à própria formaçãodas sociedades modernas e se traduz naprogressiva restrição do espaço público,tanto no nível físico, quanto nos níveis éticoe político. Contudo, pensar a questão daqualidade de vida e da mobilização socialenquanto coisa pública, impõe constituirum espaço e uma mentalidade pública quevai adiante, e muitas vezes se contrapõeàquilo que se mostra mais adequado a umamentalidade restrita ou a um espaçoparticular. A questão mais radical a serabordada não é a solução dos problemasmais imediatos, mas um ponto quegeralmente não é evidente, que é a perdade sentido da dimensão e do espaçopúblico da existência.A crise dos ambientes em que se vivenão é uma questão de planejamento etécnica, mas uma crise ou mesmo umaincapacidade de “habitar”. SegundoBRANDÃO, o verbo “habitar” remonta aolatim habere, haver-se, ter-se, conquistarse,construir-se, compreender-se, tomarposse de si (e não das coisas), portanto,habitar um lugar é identificar-se com ele,promover no local que habitamos apossibilidade de que ele nos conduza a umavida feliz e nos leve a conferir sentido àsnossas vidas. O maior problema das cidadese, talvez, o cerne dos demais problemas, énão ser mais percebida como lugar que dásentido à existência, lugar que educa epermite construir a identidade pessoal.Perdeu-se a capacidade de habitar o mundo,de ter nas cidades o lócus familiar eadequado ao aprimoramento do corpo,e doespírito, além dos usos e hábitos atuais.Portanto, melhorar a qualidade devida das cidades implica, em primeirolugar, reabilitá-las enquanto espaçopúblico e não como área de colisão dosinteresses particulares, mesmo porqueno jogo desses interesses a maior partedos cidadãos não são jogadores, maspeças jogadas, que não se identificamcom esse jogo, não se interessam por elee não se mobilizam, mas sãomobilizados, são alienados desse jogo enão conseguem ver a cidade comoespaço habitável, não lhes parecepúblico, nem resultado de interessescomuns. Esse espaço público onde estãocompetindo o interesse de gruposisolados e os capitais, não desperta ocuidado e o movimento de ninguém.O ESPAÇO PÚBLICO E A MODERNIDADEPartindo do conceito jurídico,observa-se que o espaço público é umespaço submetido a normas específicas porparte da Administração Pública, que possuio domínio do solo e garante seu acesso atodos além de fixar as condições de suautilização e de instalação de atividades. Oespaço público moderno surge daseparação formal (legal) entre apropriedade privada urbana e apropriedade pública, que reserva este sololivre de construções (exceto equipamentoscoletivos e serviços públicos) para destináloa usos sociais característicos da vidaurbana como o lazer, as manifestações, amobilidade, as atividades culturais, etc..O espaço público possui tambémuma dimensão sócio-cultural por ser umlugar de relação e de identificação, decontato e de animação urbana. A dinâmicada cidade e dos comportamentos pode criarespaços públicos que juridicamente não osão, ou que não foram previstos assim,podendo ser abertos ou fechados: umafábrica, edificações abandonadas, espaçosresiduais, acessos, caminhos, praças, pátiose também áreas reservadas para obraspúblicas ou de proteção ecológica. Nessescasos,o que define a natureza do espaçopúblico é o uso e não o estatuto jurídico.O urbanismo moderno reconstruiucidades após a Segunda Guerra mundial,focalizando no funcionalismo, dotado deum instrumental que separou mais queintegrou (el zoning) modelo acentuado pelacompartimentação das AdministraçõesPúblicas e alguns profissionais. O88

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