levantaram a questão da necessidade deespaços de convivência e de significadosimbólico. Os debates estavam longe deapontar para um consenso, pois algunsestimavam que o problema era de naturezameramente econômica, uns (poucos)arquitetos acreditavam no poder do espaçoem criar interações sociais, enquantooutros acreditavam na capacidade dasconfigurações urbanas em gerar oupossibilitar formas de interação social maisou menos válidas.O fato é que, primeiramente,assistiu-se nos Estados Unidos a todo ummovimento preocupado em re-urbanizar aarquitetura para logo em seguida chegar-sea uma certa perspectiva de retorno aocentro da cidade, em parte estimulada pelomovimento do New Urbanism. O padrão deurbanização norte-americano,predominantemente suburbano, diferebastante do padrão europeu de moradiaurbana, inclusive no centro das cidades,mas, mesmo assim, observou-se emcidades européias um fenômeno deintervenções como a criação do Fórum LesHalles e do Centro Cultural GeorgesPompidou, em Paris, entre outros, quelançaram paradigmas de estratégias derevitalização de áreas degradadas.Percebe-se que, apesar dadiversidade dos padrões de urbanização, asiniciativas norte-americanas e européiasrevelam um processo semelhante derequalificação e revalorização das áreasurbanas, atravessado pela segregação, fatoque no Brasil surge com mais evidênciaperante a escala de desigualdade social,além de tornar difícil aplicar às cidadescontemporâneas essa definição de espaçode convivência, pois toda a lógica deapropriação do território brasileiro ocorre apartir da visão privada, desde as capitaniashereditárias. Torna-se complexo reverteressa lógica que incorporou elementos àarquitetura urbana tais como: muros altos,grades, guaritas e lanças metálicas,mostrando-se obras da população acuada,que começou a cercar de grades nãoapenas residências, mas também igrejas,colégios e cinemas, imagens agoratotalmente integradas à paisagem urbana.Paralelamente, têm-se situaçõescomo a ocupação dos espaços públicospor camelôs, o apartheid prometido porcondomínios de luxo, as formasdiferenciadas de apropriação de espaçospela população, decorrentes de propostasarquitetônicas, como a do Sesc Pompéia,em contraste com os espigões defachadas envidraçadas da AvenidaBerrini, em São Paulo.ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADOA sociedade atual foi condicionada aentender espaços fechados, a se protegerem mundos isolados e a compreender deuma maneira unilateral o que é fora e o queé dentro. Edificam-se, cada vez mais,espaços de convivência artificiais(shoppings, praças de alimentação) querepresentam atualmente, sem dúvida, osespaços públicos das cidades, ao mesmotempo em que as praças e os parques,sendo fechados com grades, tornam-seespaços inatingíveis. O que se percebe é acrescente privatização dos espaçospúblicos em todos os âmbitos da sociedadecontemporânea. “O espaço público que, étido como espaço aberto a todos, tem sidona verdade palco de práticas excludentespor questões de raça, classe social, etc”GHIRARDO.O declínio do espaço público começoua ocorrer com a ascensão da burguesia noséculo XVIII, e o processo foi acelerado pelaemergência da sociedade de massas doséculo XX, fenômeno que tem relação com odesenvolvimento do mercado e vice-versa:“o declínio da esfera pública permitiu que omercado aumentasse a sua influência,enquanto que a incursão do mercado emnossas vidas contribuiu para o eclipse daesfera pública” ELLIN.A cidade que se constitui tendo porbase grandes contradições, com o centrofinanceiro e a classe alta isolando-se,86
acaba por produzir espaços, quedeveriam ser públicos (parques, ruas,locais de lazer ou transporte urbano),“desvalorizados, enquanto bem estarsocial, redefinidos como problemas deplanejamento que deveriam sereliminados ou privatizados” DAVIS.Tendo em conta as inúmerasinsistências e discursos a respeito danecessidade de revalorizar o espaçopúblico, parece óbvio que um novo conceitode público já começa a surgir. Os atuaisconceitos de público e privado distanciamsedo conceito tradicional que o associavaao conceito jurídico de propriedade: ruas epraças, instituições governamentais,administrativas ou de oferta de serviços,justamente na medida em que novosespaços privados ou semi-públicosparecem assumir a função de abrigo davida coletiva urbana. Esses espaçosabertos ao público, localizados no interiorde áreas comerciais (shopping centers) oumesmo residenciais (condomínios) são,atualmente, o palco de grandes eventosprofissionais e familiares.Enfim, o espaço público convivenas cidades com os espaços privados,onde o acesso coletivo é facilitado ou nãode acordo com os interesses específicosde seus proprietários. Diversos espaçosprivados: shopping- centers, clubessociais, estádios, grandes conglomeradosde shows e eventos, cumprem hojefunções equivalentes aos exercidos peloespaço público ao longo da história. O quese tem é, novamente, a dissociação deâmbitos distintos do homemcontemporâneo e suas qualidades decontribuinte-consumidor e de cidadão.O que caracteriza o espaço público éa sua posse pela comunidade e o equilíbrionecessário ao bom funcionamento dessapropriedade compartilhada onde ocorremfenômenos, como a violência urbana, máadministração, leis inadequadas,desigualdade social, má educação coletiva,etc., que geram abandono e degradação.Nestas condições, paga-se pela qualidadedo espaço público, em locais livres dasujeira e do perigo, por não serematendidas parte de suas necessidadescomo contribuintes. Segundo GUERRA, asnovas e luxuosas “catedrais da diversão edo consumo” consolidam-se comoespaços da exclusão, onde osprivilegiados que podem pagar peloacesso abandonam voluntariamente oespaço público. Com isso, abdicam de suacondição de cidadão, assumindounilateralmente seu lado consumidor.A desigualdade social é alarmantee o espaço público, local onde a cidadaniase efetiva, vê-se cada vez mais relegadoa um segundo plano, além de serconsiderado como potencialmenteperigoso e de uso de classes menosfavorecidas. Enquanto isso, a elite seauto-segrega em um novo tipo de espaçopúblico moldado para atender àsnecessidades de quem pode pagar parausufruí-lo. Ocorrendo, assim, a “reduçãoda noção cívica de participação aoconsumo” GHIRARDO.Eduard RELPH, o geólogocanadense, considera que a paisagemurbana é a expressão do que se é, umespelho da existência cotidiana. No mesmosentido pode-se dizer que, como espaço devida cívica, o espaço urbano é um bempúblico, e como tal, seu tratamento deveser considerado no mesmo nível dosserviços e equipamentos básicos.Os novos espaços urbanos devemcelebrar a combinação de raças, idades,culturas e atividades, a mistura decomunidade e anonimato, familiaridadee surpresa, devem exaltar tanto osgrandes espaços como o entusiasmo quesimples bares e cafés ao ar livre trazemà ruas, a vivacidade informal das praçaspúblicas, a mistura de locais de trabalho,lojas e residências que constroembairros cheios de vida.A crise da qualidade de vida não éapenas contemporânea, mas longamente87
- Page 4 and 5:
Correspondência e artigos para pub
- Page 7:
SUMÁRIO11Esio Glacy de Oliveira61S
- Page 10 and 11:
A verdadeira arquitetura é aquelaq
- Page 12 and 13:
14interno, buscou aproximar o verde
- Page 15 and 16:
DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO P
- Page 17 and 18:
Toda e qualquer construção, refor
- Page 19 and 20:
a legislação urbana à nível mun
- Page 21 and 22:
vernos (federal, estadual e municip
- Page 23 and 24:
ANÁLISE ERGONÔMICA DO MANUSEIO DA
- Page 25 and 26:
É importante salientar que após o
- Page 27 and 28:
Opinião dos entrevistados, sobre o
- Page 29 and 30:
lagem contém, como acabar com a vi
- Page 31 and 32:
A ESTRUTURA MORFOLÓGICA DA CIDADE
- Page 33 and 34: peculiaridades de diferentes cultur
- Page 35 and 36: q u a l q u e r e s p a ç ointenci
- Page 37 and 38: O TRAÇADO DA CIDADE E AORGANIZAÇ
- Page 39 and 40: menos sistemática e rigorosa nas
- Page 41 and 42: a um período marcado por uma séri
- Page 43 and 44: cidades recentemente fundadas [...]
- Page 45 and 46: espaço da cidade adquiriu uma nova
- Page 47 and 48: de áreas verdes. Em síntese, a no
- Page 49: uma definição de arquitetura. Por
- Page 52 and 53: apontaram novas atividades no ambie
- Page 54 and 55: necessidades, funções e atividade
- Page 56 and 57: seu uso é bastante expressivo. Vá
- Page 58 and 59: habitação social à circulação
- Page 60 and 61: mainly, in the concepts related to
- Page 62 and 63: A digitalização está colocadaape
- Page 64 and 65: vista determina a mudança radical
- Page 66 and 67: intermediário. Baseado em modelos
- Page 68 and 69: BIBLIOGRAFIADUARTE, Fábio. Arquite
- Page 70 and 71: transformações latentes e suasrep
- Page 72 and 73: Urbanismo, reafirmando no cotidiano
- Page 74 and 75: d e A r q u i t e t u r a ,localiza
- Page 76 and 77: medida que não esquece a visão am
- Page 78 and 79: ELABORAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS EEN
- Page 80 and 81: EPUSP-Civil : Um exercício deMetod
- Page 82 and 83: partir do qual se procura tecer uma
- Page 86 and 87: germinada, intrínseca à própria
- Page 88 and 89: ealidades urbanas, principalmente a
- Page 90 and 91: surgimento das grandes aglomeraçõ
- Page 93 and 94: ELEMENTOS PARA UM ORDENAMENTO TERRI
- Page 95 and 96: monitoramento, sua poluição. Lix
- Page 97 and 98: diversos tipos, assim, pode-se prop
- Page 101: Sobre a RevistaFormato:210 x 270mmM