Assentamentos Humanos V.5 nº1 - Unimar
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espaciais que sucessivamente iam seincorporando ao conjunto e compondonovos modelos tipológicos. Todavia, asistemática de estruturação e composiçãoda forma urbana conservou a dinâmicapreviamente estabelecida, “a rupturamorfológica que se processa no séculoXIX é de dimensão, escala e forma geralda cidade” (LAMAS, 1992, p. 203).Notadamente desencadeadapela implementação de profundasmudanças nos modos de produção, aalteração radical no tradicional equilíbrioentre cidade e campo foi um dosprimeiros fenômenos a se concretizar.Acontecendo ao mesmo tempo em que aexpansão do mercado e estimulada porum acelerado desenvolvimento industrialfundamentado na divisão do trabalho,esta modificação na forma de distribuiçãopopulacional no território deu origem aum crescimento demográfico semprecedentes (BENEVOLO, 1994). Este porsua vez, provocou a expansãodesordenada das cidades e foiresponsável pelo aumento expressivo desua complexidade estrutural. Nesta novadinâmica imposta pela RevoluçãoIndustrial, os antigos limites definidospelas muralhas foram ultrapassados pelasáreas urbanizadas que se distribuíram demaneira descontínua e indiscriminadapelo território dando origem, por um lado,à indefinição dos perímetros urbanos epor outro, ao aparecimento daespeculação fundiária.“É neste período que surgemgrandes extensões deloteamentos que repetemquadrículas até à exaustão,sem preocupações urbanísticasou estéticas. [...] Os interioresdos quarteirões sãodensificados. Aparecem as‘ilhas’ e ‘vilas’ comoaproveitamento do solo, paraconstrução de casas para asclasses operárias maisdesfavorecidas. A cidadedesenvolve-se por extensão deloteamentos e construções, enão pela organização do espaçourbano” (LAMAS, 1992, p. 208).Entre os artefatos que setransformaram em elementos morfológicosde composição e estruturação espacial dacidade, a fábrica foi o primeiro a gerarmudanças, influenciar a organização física ese destacar na paisagem. Principalmente apartir da invenção da máquina a vapor em1775, as fábricas, que eram movidas àenergia hidráulica e precisavam serinstaladas às margens de correntes fluviais,passaram a ser implantadas em espaçosdefinidos, próximas umas das outras,produzindo alta concentração industrial, bemcomo, favorecendo e incrementando aprodução em massa. Como a “divisão dotrabalho, a mecanização e a possibilidade deobter fontes de energia, também odesenvolvimento dos meios de transporte foioutro factor fundamental para que oindustrialismo prosperasse e, com ele, osgrandes centros fabris” (GOITIA, 1996, p.157). Já no final do século XIX, quando “aprática construtiva se desloca da arquiteturapara a engenharia e a técnica sobrepõe-se àarte”, o homem supera seus antigos limites(FERRARI, 1991, p. 229). Foi o momento emque ao se firmar como o último artefato aentrar para o grupo dos elementosmorfológicos que dão forma a paisagem, oarranha-céus consolidou o processo demudanças que definiu e estruturou acomposição espacial básica da cidadecontemporânea.Esta seqüência de fatos quegerou profundas transformações em todos osníveis do cotidiano foi responsável por umasubstancial redução na qualidade de vida,sobretudo das camadas populares. SegundoFERRARI (1991, p. 230), a realizaçãomáxima deste processo foi “a dicotomiaprodução-consumo que originou nas cidadesdois grupos antagônicos: ‘trabalhadores’residindo em cortiços, favelas centrais ouperiféricas e proprietários dos meios deprodução (burgueses) em bairrosresidenciais” que se distinguiam napaisagem, entre outros fatores, pela baixadensidade, luxo das habitações e presença48
de áreas verdes. Em síntese, a novaconjuntura, baseada na economia capitalistaproduziu uma cidade ao mesmo tempoburguesa e industrial, mergulhada emnumerosos problemas estruturais.CONSIDERAÇÕES FINAISIndependentemente daparte física da cidade habitualmente serassociada aos elementos estruturais doambiente, enquanto a abstrata érelacionada, sobretudo aos aspectosconceituais, emocionais, históricos esimbólicos, é evidente que o equilíbrio e aharmonia na interação entre ambascaracterizam-se em condições básicaspara a consolidação das relações deidentidade e para a atribuição designificados. Isto significa que além deencontrar-se subordinada àscaracterísticas dos elementos estruturais,a definição da forma está igualmentecondicionada a fatores como os materiaisdisponíveis no local ou nas proximidades,as tecnologias aplicadas, a cultura e asnecessidades socialmente definidas.Assim, à medida que cadainovação tecnológica é apropriada pordeterminada sociedade, vai deixando seusreflexos nas formas de organização social,política e econômica das sociedades e, porconseguinte imprimindo suas marcas noespaço físico das cidades. Entretanto, adespeito das expressivas variações naconfiguração da paisagem ao longo dostempos, não aconteceram mudanças nomodo tradicional dos elementosmorfológicos estruturais, ou seja, doquarteirão, lote, edifício, fachada, rua,praça, monumento, etc., se relacionar.Por outro lado, enquanto noaspecto geral a configuração espacial dacidade aparentemente conserva suasprincipais características, no pormenorpermanece em constante transformação,não podendo ser vista como um produtoacabado. Logo, cada elemento morfológicoque atua na configuração espacial dacidade não revela apenas a história de umaépoca, estilo e idéia, traz consigo um modode conceber a vida em sociedade.Caracteriza-se ao mesmo tempo emsímbolo e materialização de sonhos,ideologias e aspirações. Neste contexto,especialmente em conseqüência dosavanços tecnológicos, o suporte físico quepor longo tempo se destacou como oprincipal elemento estruturador da formada cidade se torna vulnerável atransformações, ficando sujeito a exercerum papel secundário no processo dedefinição da configuração espacial, quepassa a ter como elementos estruturaisartefatos construídos pelo homem, isto é, aArquitetura.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBENEVOLO, Leonardo. Origens daurbanística moderna. 3. ed. Lisboa:Editorial Presença. LDA., 1994. 172p.BRANDÃO, Carlos Antonio Leite. Aformação do homem moderno vistaatravés da arquitetura. Belo Horizonte:A P Cultural, 1991. 212p. Série Arquitetura,n. 1.BRASIL, Escola Superior de Guerra, 1983.Fundamentos teóricos. Rio de Janeiro:ESG – Escola Superior de Guerra, 1992.230p.CASTRO, Cléia Rubia de Andrade &NASCIMENTO JÚNIOR, Antônio Fernandes.A cidade de Coronel Xavier Chaves, MG. -usos, costumes e construção espacial. In:Reunião anual da SBPC – ciência parao progresso da sociedade brasileira.48, v. II., 1996, São Paulo. Anais ... SãoPaulo. p. 11.CRICHYNO, Jorge. O ensino dearquitetura na UFF: concepções eperspectivas. Monografia apresentadapara a conclusão do Curso de Pós-Graduação em nível de Especialização emMetodologia do Ensino Superior daFaculdade de Educação da UFF –49
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