Assentamentos Humanos V.5 nº1 - Unimar
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“essa relação entre aarquitetura e a cultura possui,na história da arquitetura emgeral [...], um duplo aspecto. Aarquitetura constitui, por umlado, uma força ordenadora darealidade social e individual. Elaé um artefato, um instrumentode manipulação da realidade.Mas, ao mesmo tempo, aarquitetura visualiza essarealidade da cultura e dadominação, mostra-a comorepresentação espacial, põe-naem evidência como valorsimbólico. Ambos os aspectossão complementares e definemaquela dimensão artísticagraças a qual a arquitetura seconverte, para lá doconstrutivismo e do tectônico,[...] em símbolo de umacivilização e em memóriahistórica”.Se classificados conforme anatureza de sua autoria, a forma singular quea maioria expressiva dos lugares vêmadquirindo ao longo do tempo, se caracterizana concretização de um processo natural edinâmico de modificação e renovação espacialque, em grande porcentagem é resultado daprodução popular, ou seja, não foi idealizadopor um Arquiteto ou por outro profissionaligualmente reconhecido pelos mecanismosoficiais.Mesmo diante destecontexto, estes espaços foram ignoradosou depreciados por um longo tempo. Érecente o princípio de conscientizaçãosobre seu real valor nos universos daarquitetura, do urbanismo e da dinâmicaurbana. Tradicionalmente eramreconhecidos e qualificados comoarquitetônico ou urbanístico somenteambientes projetados e/ou planejados poragentes institucionalizados. Isto significaque apenas uma pequena parcela doslugares passava efetivamente a fazer parteda “História Oficial da Arquitetura e doUrbanismo”. De acordo com KOHLSDORF(1996, p. 18-19), “esta abordagem temdividido as cidades e seus edifícios em‘planejados’ e ‘espontâneos’. [...] Noprimeiro caso, os lugares são considerados‘legais’, ‘oficiais’, ‘formais’; no segundo, são‘informais’, ‘ilegais’”.No entanto, como sãoocupados conforme a realidade cultural decada indivíduo e da comunidade, os espaços“informais”, da mesma forma que os“planejados”, também materializamimportantes aspectos das lutas e dasconquistas humanas alcançadas por váriasgerações. Se confrontadas como artefatosda paisagem, a principal diferença percebidaentre a obra dos Arquitetos e a dos nãoarquitetosreside no fato da posturaprofissional resultante da especialização,conferir à obra do Arquiteto que é “refletidae artístico-científica”, um caráter distinto daarquitetura das massas, que é identificadapor seu aspecto de “emergente e utilitária”(MEIRA, 1992, p. 82).Ainda assim, foi apenas nasúltimas quatro décadas que esta forma deexpressão arquitetônica, denominada porSILVA (1994, p. 128), “arquiteturavernácula, ou arquitetura-sem-arquiteto”começou a ser vista e valorizada como umtipo de produção que não poderia serignorada, ou seja, como um “rico territóriode realizações que independe da posse eutilização de um conhecimentosistematizado”. Desde então, deu-se início aum período em que surgiu uma série denovos paradigmas que buscam proporcionarmaior sustentação ao conceito de espaçoarquitetônico. Entre estes se destaca o deKOHLSDORF & AZEREDO (apudKOHLSDORF, 1996, p. 19), que“definem a arquitetura e seuobjeto a partir do trabalhohumano e seu processo deprodução, afirmando que acaracterística fundamentaldos mesmos é sua‘intencionalidade’: o que fazas ações serem humanas é ofato de conterem umaestratégia de atendimento aobjetivos conscientes.Portanto, é arquitetônico36
q u a l q u e r e s p a ç ointencionalmente produzido, etoda construção social é,efetivamente projetada”.Enfim, é justamente o fatode a cidade ser “produto de muitosconstrutores que constantementemodificam sua estrutura por razõesparticulares” (LYNCH, 1996, p. 12), queconfere a cada um dos espaçosarquitetônicos que a compõem,características físicas distintas, onde semanifestam diferentes padrões decomportamento, emoções e formas deapropriação e uso, conseqüentemente, sãomuitos os significados atribuídos a cada umdestes (CASTRO & NASCIMENTO JÚNIOR,1996). Isto significa que o físico e oabstrato se misturaram de maneiraindissociável, conferindo um caráter únicoao espaço humanizado.O SUPORTE FÍSICO E ACONFIGURAÇÃO DO ESPAÇO DACIDADEDesde os primórdios o suportefísico vem se destacando entre os principaiselementos estruturais que determinam aforma da cidade. ROSSI (1995, p. 147) citacomo exemplo que, “a escolha do lugar,tanto para uma construção como para umacidade, tinha um valor preeminente nomundo clássico: a ‘situação’, o sítio, eragovernado pelo ‘genius loci’, pela divindadelocal, uma divindade de tipo intermediárioque presidia tudo o que ocorria naquelelugar”. Esta importância de sua atuaçãotambém foi colocada em evidência porVILLAÇA (1998) quando analisou odesenvolvimento das metrópoles brasileiraspor meio da comparação dos modelossimplificados de desenvolvimento de suasestruturas espaciais.Por outro lado, os impactosgerados pelas características formais dosuporte físico sobre a estruturaçãourbana e o cotidiano da cidade têmsignificativa semelhança com aquelesque a configuração territorial produz navida, na integração social e cultural, nodesempenho político e econômico, bemcomo na consolidação da identidadenacional. Em seus estudos geopolíticos,RENNER apud BRASIL (1992), constatouque a forma do território pode atuarcomo um agente positivo e/ou negativo,influenciando vários aspectos, emespecial, os modos de apropriação e uso,os costumes e a própria cultura.Selecionando quatro tipos de forma queele considera as principais, esclareceque, enquanto a figura compactanormalmente é favorável à integração e acoesão, a alongada é propensa a gerargrandes problemas de diferenciaçãoentre grupos. Por sua vez, os formatosrecortado e fragmentado oferecem asdesvantagens de colaborar tanto para adescontinuidade territorial como para amaterialização da segregação.A influência do suporte físicoé tão acentuada que mesmo “quando seutilizam modelos idênticos em sítiosdistintos, a diversidade dos lugaresconferirá identidade própria a cada um”(LAMAS, 1992, p. 64). SegundoKOHLSDORF (1985a, p. 166), um únicotipo de sítio também pode oferecer “váriaspossibilidades para usos urbanos”resultando em diferentes configurações.Neste contexto, uma das principaisparticularidades do suporte físico é suaflexibilidade a mudanças e adaptações. Emsuas pesquisas ela verificou que “oselementos do meio natural do DistritoFederal comparecem de maneiras distintasna paisagem dos assentamentos”.Contrariando a dinâmica daregião do Distrito Federal onde é aparentea maleabilidade do suporte físico, hálugares em que sua hegemonia comoagente ordenador da forma urbana éincontestável. Em seus estudos, REISFILHO (1968) concluiu que elementosnaturais como o relevo e os cursos d’água,bem como, primitivos caminhos, que naépoca eram os meios mais eficazes decomunicação e acesso, foram decisivos na37
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q u a l q u e r e s p a ç ointencionalmente produzido, etoda construção social é,efetivamente projetada”.Enfim, é justamente o fatode a cidade ser “produto de muitosconstrutores que constantementemodificam sua estrutura por razõesparticulares” (LYNCH, 1996, p. 12), queconfere a cada um dos espaçosarquitetônicos que a compõem,características físicas distintas, onde semanifestam diferentes padrões decomportamento, emoções e formas deapropriação e uso, conseqüentemente, sãomuitos os significados atribuídos a cada umdestes (CASTRO & NASCIMENTO JÚNIOR,1996). Isto significa que o físico e oabstrato se misturaram de maneiraindissociável, conferindo um caráter únicoao espaço humanizado.O SUPORTE FÍSICO E ACONFIGURAÇÃO DO ESPAÇO DACIDADEDesde os primórdios o suportefísico vem se destacando entre os principaiselementos estruturais que determinam aforma da cidade. ROSSI (1995, p. 147) citacomo exemplo que, “a escolha do lugar,tanto para uma construção como para umacidade, tinha um valor preeminente nomundo clássico: a ‘situação’, o sítio, eragovernado pelo ‘genius loci’, pela divindadelocal, uma divindade de tipo intermediárioque presidia tudo o que ocorria naquelelugar”. Esta importância de sua atuaçãotambém foi colocada em evidência porVILLAÇA (1998) quando analisou odesenvolvimento das metrópoles brasileiraspor meio da comparação dos modelossimplificados de desenvolvimento de suasestruturas espaciais.Por outro lado, os impactosgerados pelas características formais dosuporte físico sobre a estruturaçãourbana e o cotidiano da cidade têmsignificativa semelhança com aquelesque a configuração territorial produz navida, na integração social e cultural, nodesempenho político e econômico, bemcomo na consolidação da identidadenacional. Em seus estudos geopolíticos,RENNER apud BRASIL (1992), constatouque a forma do território pode atuarcomo um agente positivo e/ou negativo,influenciando vários aspectos, emespecial, os modos de apropriação e uso,os costumes e a própria cultura.Selecionando quatro tipos de forma queele considera as principais, esclareceque, enquanto a figura compactanormalmente é favorável à integração e acoesão, a alongada é propensa a gerargrandes problemas de diferenciaçãoentre grupos. Por sua vez, os formatosrecortado e fragmentado oferecem asdesvantagens de colaborar tanto para adescontinuidade territorial como para amaterialização da segregação.A influência do suporte físicoé tão acentuada que mesmo “quando seutilizam modelos idênticos em sítiosdistintos, a diversidade dos lugaresconferirá identidade própria a cada um”(LAMAS, 1992, p. 64). SegundoKOHLSDORF (1985a, p. 166), um únicotipo de sítio também pode oferecer “váriaspossibilidades para usos urbanos”resultando em diferentes configurações.Neste contexto, uma das principaisparticularidades do suporte físico é suaflexibilidade a mudanças e adaptações. Emsuas pesquisas ela verificou que “oselementos do meio natural do DistritoFederal comparecem de maneiras distintasna paisagem dos assentamentos”.Contrariando a dinâmica daregião do Distrito Federal onde é aparentea maleabilidade do suporte físico, hálugares em que sua hegemonia comoagente ordenador da forma urbana éincontestável. Em seus estudos, REISFILHO (1968) concluiu que elementosnaturais como o relevo e os cursos d’água,bem como, primitivos caminhos, que naépoca eram os meios mais eficazes decomunicação e acesso, foram decisivos na37