3 CONCLUSÃOA maioria <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong>s mulheres entrevista<strong>da</strong>s mora<strong>do</strong>ras no bairroRe<strong>na</strong>scer/Mi<strong>na</strong> Quatro, veio para Criciúma numa época em que o sistema político econômicovigente, autoritário e excludente, obrigou as famílias <strong>do</strong> campo a migrarem para a ci<strong>da</strong>de embusca de melhores condições de vi<strong>da</strong>, porém, sem oferecer a elas as condições básicas deinfra-estrutura. Sem a possibili<strong>da</strong>de de acesso nos locais apropria<strong>do</strong>s ficaram excluí<strong>da</strong>s <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de, às margens, <strong>na</strong> <strong>periferia</strong>, inseri<strong>da</strong>s num contexto sócio-cultural e ambiental bemdiferente <strong>da</strong>quele que elas conheciam.As mulheres entrevista<strong>da</strong>s, que <strong>na</strong>quela época eram crianças e a<strong>do</strong>lescentes,também tinham a difícil tarefa de construir a si mesmas, inter<strong>na</strong>mente, a partir <strong>do</strong> outro quelhe é semelhante, porém, distinto, ou seja, precisavam empreender a construção <strong>da</strong> própriasubjetivi<strong>da</strong>de.Nesse processo se percebeu, pelas marcas psicológicas impressas pelas interaçõessociais, que a cultura já traz em seu bojo um projeto de subjetivi<strong>da</strong>de a ser desenvolvi<strong>do</strong> pelosujeito. Estas marcas surgiram <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong>de de acesso aos serviços básicos de saúde,educação, ao emprego e à moradia dig<strong>na</strong>. Através delas o sofrimento causa<strong>do</strong> pelas per<strong>da</strong>smateriais e afetivas, pelo desabrigo, alie<strong>na</strong>ção, preconceito e pela fome tor<strong>na</strong>ram-se maisvisíveis. Contu<strong>do</strong>, perceberam-se também aquelas deixa<strong>da</strong>s pelos gestos maternos queensi<strong>na</strong>ram o compartilhamento, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.As mães foram percebi<strong>da</strong>s como principal ponto de sustentação para asentrevista<strong>da</strong>s, cujas marcas refletem as ligações afetivas pauta<strong>da</strong>s no cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com o outro, notrabalho árduo, no enfrentamento sadio frente às adversi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Perceberam-se,também, essas mães como veículo de reprodução cultural, porém, mais <strong>do</strong> que repetirconteú<strong>do</strong>s culturais elas apontaram possibili<strong>da</strong>des de mu<strong>da</strong>nças.De mo<strong>do</strong> contrário, no papel simbólico de madrasta, a socie<strong>da</strong>de deixou cicatrizes<strong>da</strong> exploração trabalhista, <strong>da</strong> humilhação social, <strong>do</strong> desamparo e <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no moral. Nessarelação não teve espaço para experiências de compreensão, acolhimento, proteção,sustentação e favorecimento para o desenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des e habili<strong>da</strong>des pessoais.Assim, a socie<strong>da</strong>de se mostrou incompetente e i<strong>na</strong>dequa<strong>da</strong> ao favorecimento de relaçõeshumaniza<strong>da</strong>s, revelan<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong>de de se promover novas formas de vi<strong>da</strong> que venham adifundir novos modelos de subjetivi<strong>da</strong>des que levem a sério “os vínculos de amizade,hospitali<strong>da</strong>de, cortesia, honra, l<strong>ea</strong>l<strong>da</strong>de, fideli<strong>da</strong>de” (COSTA, 1998, p. 5), enfim, de amorpelos outros, como única maneira de “transformação <strong>do</strong> egoísmo em altruísmo”, como disse
Freud (apud DAMERGIAN, 2001, p. 106).Enfrentar vários desafios e superar as adversi<strong>da</strong>des fez parte <strong>da</strong> história de vi<strong>da</strong><strong>da</strong>s mulheres entrevista<strong>da</strong>s, pois a partir de lutas concretas e simbólicas elas foram à busca desuas casas.A casa se mostrou como objeto concreto, porém, para servir de abrigo ao objetosimbólico. As ações <strong>na</strong> casa se mesclaram em ativi<strong>da</strong>des objetivas e simbólicas, entretanto,estas, se constituíram no elo entre o passa<strong>do</strong> e o presente que acio<strong>na</strong>m os afetos que falamdiretamente ao coração.A casa também apareceu como sonho a ser r<strong>ea</strong>liza<strong>do</strong> e como força impulsio<strong>na</strong><strong>do</strong>rapara o crescimento pessoal, um “trampolim” que facilita o impulso para cima, em direção aoencontro consigo mesmo.A apropriação <strong>da</strong>s casas também se deu através <strong>da</strong> poética, e assim, ca<strong>da</strong> uma aseu mo<strong>do</strong>, materializou os seus afetos fornecen<strong>do</strong> ao seu entorno elementos impreg<strong>na</strong><strong>do</strong>s devalor emocio<strong>na</strong>l extraí<strong>do</strong>s de um passa<strong>do</strong> que foi vivi<strong>do</strong> de corpo e alma. Pela poéticaretor<strong>na</strong>m à <strong>na</strong>tureza e se reintegram à totali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ser, infinitas vezes.O fenômeno <strong>da</strong> apropriação de um espaço tão hostil e desprovi<strong>do</strong> de valor sócioemocio<strong>na</strong>lsó foi possível pelo entrecruzamento <strong>da</strong> ação-transforma<strong>do</strong>ra, que age, avalia,rejeita e modifica, com a identificação simbólica, por parte <strong>do</strong>s sujeitos; e, as relaçõesinterpessoais cria<strong>do</strong>ras de significações, pois assim um espaço oco, inóspito e sem senti<strong>do</strong> foitransforma<strong>do</strong> em um lugar significativo.Defender seu espaço significou também defender a própria vi<strong>da</strong>. Foi assim comduas entrevista<strong>da</strong>s que, com foices e facões, enfrentaram os homens <strong>da</strong> prefeitura municipal eos estranhos que am<strong>ea</strong>çaram invadir suas casas. Segun<strong>do</strong> Pol (s/d), estan<strong>do</strong>-se em situação deextrema insegurança, o sujeito desenvolve estratégias para defender o seu território.Desse mo<strong>do</strong>, as mulheres entrevista<strong>da</strong>s, defenderam, mas também, reformaramsuas casas e ao fazerem isso reformaram as suas próprias vi<strong>da</strong>s. Dotaram seus entornos designificações: plantaram arbustos e flores; estamparam suas marcas e abriram suas portas parao convívio e para as trocas sociais.A apropriação mostrou não só os mo<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>, hábitos e costumes <strong>da</strong>s famíliase <strong>da</strong>s pessoas entrevista<strong>da</strong>s, mas acima de tu<strong>do</strong>, revelou os sentimentos emprega<strong>do</strong>s <strong>na</strong>formulação <strong>do</strong>s seus espaços e <strong>na</strong>s (re) construções r<strong>ea</strong>liza<strong>da</strong>s em seus íntimos. Também,deixou descobertas as marcas produzi<strong>da</strong>s pelos padrões sociais de interação, apontan<strong>do</strong> paraa necessi<strong>da</strong>de de alter<strong>na</strong>tivas mais huma<strong>na</strong>s.Desse mo<strong>do</strong>, a compreensão <strong>do</strong> processo de apropriação <strong>do</strong> espaço mostrou-se
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