significa<strong>do</strong>, ou seja, o valor emocio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> espaço, <strong>do</strong> lugar vai além <strong>da</strong> sua função específica,pois ele “resume a vi<strong>da</strong> e as experiências públicas e íntimas.” (POL, s/d, p. 45).Isso significa dizer, por exemplo, que um quarto não se resume a um cômo<strong>do</strong> <strong>da</strong>casa onde se <strong>do</strong>rme, nem <strong>na</strong>s suas quatro paredes com uma cama e um móvel para guar<strong>da</strong>r asroupas, dispostos em um canto qualquer, pois um quarto pode assumir o lugar de um retiroespiritual ou de um lugar sagra<strong>do</strong>, um oratório: “[...] (no quarto) faço minha oração, eu rezo.É onde eu fico mais né? Porque qualquer coisa, eu vou pro quarto, né?” (DONAERUNDINA, abril/2008).Desse mo<strong>do</strong>, o espaço apropria<strong>do</strong> é um espaço recria<strong>do</strong>, concreta esimbolicamente, pois nele o sujeito imprime a sua logomarca pinta<strong>da</strong> em tons emotivos e aorecriá-lo o sujeito é modifica<strong>do</strong> por ele, ou seja, o fenômeno <strong>da</strong> apropriação é um processo d<strong>ea</strong>ção-transformação recíproca entre entorno e sujeito.Corroboran<strong>do</strong> o argumento acima, Petit afirma: “nos apropriamos <strong>do</strong> espaço, maso espaço se apropria de nós.” (1976 apud POL, s/d, p. 48), pois <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de o espaço como um<strong>na</strong><strong>da</strong> a priori passa à condição de lugar ao receber <strong>do</strong> sujeito apropriante uma marca pessoal,uma logomarca, algo que não se pode imitar ou transferir para outrem. Isso corresponde àidéia de recriar, refazer o “outro” diferente <strong>da</strong>quilo que ele era no princípio, isto é, um <strong>na</strong><strong>da</strong>.Essa noção de apropriação como uma via de mão dupla surgiu no contexto <strong>da</strong>psicologia social fenomenológica e de raízes marxistas e culturalista. (POL, s/d). AFenomenologia descarta a dicotomia sujeito-objeto em favor de uma relação de intercâmbioentre eles.Entretanto, para Marx, que origi<strong>na</strong>lmente criou o conceito (GRAUMANN 1976apud POL, s/d, p. 46), “a apropriação se relacio<strong>na</strong> com o conceito de alie<strong>na</strong>ção”. Pelo trabalhoo homem se r<strong>ea</strong>liza. Defini<strong>do</strong> pelo autor, trabalho é uma ação transforma<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> homemsobre o “mun<strong>do</strong> exterior que produz objetos materiais e imateriais.” (p. 46). Alie<strong>na</strong>ção, porsua vez, ocorre quan<strong>do</strong> o sujeito não se identifica com os objetos produzi<strong>do</strong>s por si mesmo.De acor<strong>do</strong> com Pol (s/d, p. 46), para Marx a apropriação tem <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s basais:“apropriação como possessão <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza, <strong>do</strong> produto, por parte <strong>do</strong> ser humano; e apropriaçãocomo processo histórico”, este último ocorren<strong>do</strong> em três níveis: Coletivo, Histórico-individuale Histórico <strong>do</strong> sujeito. De acor<strong>do</strong> com Pol, no nível coletivo a cultura agrega tu<strong>do</strong> o que seusantepassa<strong>do</strong>s desenvolveram; no nível histórico-individual to<strong>do</strong> indivíduo agrega nele próprioo desenvolvimento de seus antepassa<strong>do</strong>s e no nível histórico <strong>do</strong> sujeito o indivíduo antes de“apropriar” não é o mesmo que depois de “apropriar”. (s/d, p. 46).Assim, para Lefebvre (apud POL, s/d, p.46) “a apropriação é um processo
importante contra a alie<strong>na</strong>ção”, a não identificação, pois a apropriação não é tanto exter<strong>na</strong>,mas pertence à esfera <strong>do</strong> cotidiano, ao íntimo e, portanto, relacio<strong>na</strong>-se com a privaci<strong>da</strong>de, aintimi<strong>da</strong>de, attachment (apego), com a vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> <strong>do</strong> dia-a-dia.Gonçalves (2002) concebeu a apropriação <strong>do</strong> espaço também por meio <strong>da</strong> síntesepoética. Para a autora “a poética seria uma dimensão huma<strong>na</strong> comum a to<strong>do</strong>s os homens emque a pessoa transcende a própria história e o próprio tempo.” (GONÇALVES, 2007, p. 39).Assim, de acor<strong>do</strong> com a autora, essa experiência ocorre não em um tempo comum, mas emum tempo psicológico ativa<strong>do</strong>, livre e instantan<strong>ea</strong>mente, por um objeto poético.Nesse momento poético, em que o sujeito vai além de si mesmo, ele setransforma, pois vê no objeto poético a síntese de si mesmo. Porque o significa<strong>do</strong> dessaexperiência falará de suas delícias e amarguras, prazeres e repúdios, esperanças e frustrações,fé e dúvi<strong>da</strong>s, amor e <strong>do</strong>r vivencia<strong>do</strong>s ativamente com o to<strong>do</strong> o seu corpo, seja consciente ouinconscientemente. Ou, como diz Bachelard: “A poética seria um produto direto <strong>do</strong> coração.Fala de alma e de espírito como duas dimensões <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de, no senti<strong>do</strong> de que o espíritoestrutura o poema e a alma faz devaneios.” (1998a apud GONÇALVES, 2007, p. 43).Dessa forma, buscou-se compreender o processo de apropriação <strong>do</strong> espaçoocorri<strong>do</strong> <strong>na</strong> <strong>periferia</strong> de Criciúma/SC. Nesse processo, cultura, grupo, subjetivi<strong>da</strong>de, corpo <strong>ea</strong>ção constróem-se mutuamente numa trama em que o cenário, enquanto ambiente físico esimbólico, também atua ativa e indissociavelmente tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, por vezes, impossível distinguiruns <strong>do</strong>s outros.Nesse senti<strong>do</strong>, a conceituação <strong>do</strong> espaço neste trabalho parte de um referencialmultidiscipli<strong>na</strong>r envolven<strong>do</strong> discipli<strong>na</strong>s como, por exemplo, a Geografia, a Arquitetura e aPsicologia, esta última em suas vertentes social e ambiental.As mulheres entrevista<strong>da</strong>s chegaram ao bairro quan<strong>do</strong> este ain<strong>da</strong> era o local ondese depositava o lixo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de; seja quan<strong>do</strong> o “lixão” ocupava a ár<strong>ea</strong> central e adjacências <strong>do</strong>bairro, ou após, quan<strong>do</strong> passou para uma ár<strong>ea</strong> mais retira<strong>da</strong> e menor. Nas palavras de Do<strong>na</strong>Iraci (abril/2008):[...] porque tinham <strong>do</strong>a<strong>do</strong> os terrenos pra nóis e quan<strong>do</strong> eles <strong>do</strong>aram era só lixo. Aídepois é que os caminhão viero e botaro aterro. Aí botaro aterro, botaro carvãoembaixo <strong>do</strong> lixo, depois botaro terra por cima <strong>do</strong> carvão. Aqui embaixo: só carvão.Nessa época, ali não havia acolhimento, habitação, tu<strong>do</strong> o que tinha era muitolixo, insetos, roe<strong>do</strong>res, fe<strong>do</strong>r, pirita 9 , rejeito de carvão e uma estrutura de concreto que <strong>da</strong>vasustentação à caixa d’água <strong>da</strong> mi<strong>na</strong> desativa<strong>da</strong>. A mi<strong>na</strong> quatro. Mi<strong>na</strong> Quatro também foi o9 Pirita: Sulfureto de ferro, emprega<strong>do</strong> <strong>na</strong> fabricação de áci<strong>do</strong> sulfúrico. (SILVEIRA BUENO, 2000)
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