altruísmo”. Entretanto, Damergian (2001, p. 106) lamenta o fato de não termos aprendi<strong>do</strong> a“lição”, pois “as condições de vi<strong>da</strong> que criamos, ao nos afastarem de nossa subjetivi<strong>da</strong>de, nosafastam de nossa humani<strong>da</strong>de e, conseqüentemente, <strong>do</strong> outro.” Quer dizer, o mo<strong>do</strong> de viverindividualista nos afasta <strong>do</strong> outro e não permite que o reconheçamos como ser humano e pornão reconhecer o outro como ser humano também não vemos em nós mesmos a nossahumani<strong>da</strong>de. Desse mo<strong>do</strong>,o afastamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sentimentos, a falta de estimulação ao seu aspectoamoroso, à pulsão de vi<strong>da</strong>, libera o la<strong>do</strong> negativo desse mun<strong>do</strong> interno, adestrutivi<strong>da</strong>de, o que existe de pior no ser humano, o seu egoísmo, a sua inveja,ambição, <strong>na</strong>rcisismo, busca de satisfação de seus desejos em detrimento <strong>do</strong> desejo<strong>do</strong> outro. (DAMERGIAN, 2001, p. 105).Assim, podemos pensar a subjetivi<strong>da</strong>de como uma tarefa a ser concluí<strong>da</strong>remeten<strong>do</strong> a Dreyfus & Rabinow (1995, p.239 apud PRADO FILHO e MARTINS, 2007, p.6): “[...] Temos que promover novas formas de subjetivi<strong>da</strong>de através <strong>da</strong> recusa deste tipo deindividuali<strong>da</strong>de que nos foi imposta há vários séculos” porque, segun<strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> Filho e Martins(2007, p. 6), é preciso que o saber psicológico supere a praxe centra<strong>da</strong> no sujeito e busque“<strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> singularização”. Pois, enquanto as atuais formas de subjetivação assujeitam, istoé, <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>m, tor<strong>na</strong>m dependente, “a singularização apresenta-se como estetização de sivisan<strong>do</strong> resistir a esta maqui<strong>na</strong>ria moder<strong>na</strong> de produção <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>deindividuais, construin<strong>do</strong> novas formas de vi<strong>da</strong> e de ser.” (PRADO FILHO e MARTINS,2007, p.6).No dizer de Paz (apud REZENDE, 2000, p.17) “o senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> história somos nós,que a fazemos e que ao fazê-la, nos desfazemos. A história e seus senti<strong>do</strong>s termi<strong>na</strong>rão quan<strong>do</strong>o homem se acabar.” Esta reflexão remete a uma relação entre o passa<strong>do</strong>, presente e futurocomo possibili<strong>da</strong>de de ruptura, pois a partir <strong>da</strong> crítica aos velhos padrões cria-se a aberturapara os novos.2.1.5 A Subjetivi<strong>da</strong>de <strong>na</strong>s Marcas Deixa<strong>da</strong>s pelo Trabalho Infantil e Referências SociaisNo contexto social <strong>da</strong>s mulheres entrevista<strong>da</strong>s a utilização <strong>da</strong> mão-de-obra infantilcomo recurso barato não era pensa<strong>da</strong> em termos críticos e, às vezes, até era entendi<strong>da</strong> comofavor ou soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, por ambas as partes: “eu comecei a trabalhar com nove anos (...) Nacasa dela, trabalhei com ela, cinco anos. Ela era professora...” (Do<strong>na</strong> Iraci, abril/2008). Ainfância de to<strong>da</strong>s as entrevista<strong>da</strong>s foi marca<strong>da</strong> pelas adversi<strong>da</strong>des, trabalho e pobreza:[...] uma vi<strong>da</strong> de muita dificul<strong>da</strong>de, minha infância foi de muita dificul<strong>da</strong>de, demuito trabalho, nóis só não pedia esmola (...) depois a mulher me chamou pra
trabalhar com ela, porque me achou muito caprichosa, novinha, que ela disse quenão se conformava de eu ser tão novinha e tão limpa. Aí ela me chamou pratrabalhar com ela, aí eu trabalhei cinco anos... ela me <strong>da</strong>va de tu<strong>do</strong>, de tu<strong>do</strong>. Ela me<strong>da</strong>va roupinha, eu saí <strong>da</strong>li que foi uma princesinha <strong>da</strong> casa dela, ela me vistia detu<strong>do</strong>. Ela me pagava pouquinho, ela me pagava um cruzeiro por mês. Eu ganhavaum cruzeiro por mês, mas ela me vestia de tu<strong>do</strong>, dinheiro era só pra minha mãe, ela<strong>da</strong>va direto pra minha mãe. (DONA IRACI, abril/2008).Essa história parece refletir o desejo de ser uma princesinha <strong>do</strong>s contos de fa<strong>da</strong>. Ameni<strong>na</strong> boazinha, caprichosa, serviçal, também sonhou com o mun<strong>do</strong> perfeito e feliz parasempre <strong>da</strong>s princesas. Na estória “A Gata Borralheira” fica-se diante de dilemas humanostrazi<strong>do</strong>s pela r<strong>ea</strong>li<strong>da</strong>de como: morte <strong>da</strong> mãe, aquisição de nova família, diferenças sociais,olhar <strong>do</strong>s responsáveis, amizade, amor e ódio. A meni<strong>na</strong> pobre, um dia, se vestiu igual a umaprincesa. Como bem disse Damergian (2001), no tempo e no espaço os absur<strong>do</strong>s sociais setor<strong>na</strong>m visíveis, pois enquanto Criciúma e os minera<strong>do</strong>res <strong>da</strong> região “cresciam”, Iraci tambémcrescia, porém, para entrar no mun<strong>do</strong> r<strong>ea</strong>l <strong>do</strong>s “lobos” e <strong>da</strong>s “bruxas”.Na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s outras mulheres entrevista<strong>da</strong>s a história sempre se repete: “Olha agente era bem pobre. E eu também tinha que trabalhar pra aju<strong>da</strong>r os pais.” (DONAERUNDINA, abril/2008); e repete:Oh <strong>da</strong>quele tempo atrás assim a gente não tinha infância né? (...) Era muitotrabalha<strong>do</strong> (...) Com nove anos eu eu já trabalhava (...) conheci uma professora queela era muito queri<strong>da</strong>. Meu pai era <strong>da</strong> lavoura, aí ele fazia assim prantação, coisaassim, né? (DONA JOANA, abril/2008).A repetição insiste porque é uma história social. Por isso, a memória chama para oâmbito <strong>da</strong> linguagem aquilo que não faz senti<strong>do</strong> ain<strong>da</strong>, pois “<strong>na</strong> palavra encontra-se apossibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> recomeço” (COSTA,1998, p. 1):Aí trabalhemo ali de novo de derrubar mato, tirá lenha. Eu lembro que meu pai ficou<strong>do</strong>ente, deu aquela febre amarela. Minha mãe também teve um aborto. Eu quetrabalhava pra sustentá a casa. (...) eu tinha uns treze anos. Catorze, eu acho. (DONAZULMIRA, abril/2008).Como demonstra<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> os vários autores já cita<strong>do</strong>s, a subjetivi<strong>da</strong>de é costura<strong>da</strong> ponto aponto a partir <strong>da</strong>s relações com o outro, e sempre começa pela mãe ou adulto cui<strong>da</strong><strong>do</strong>r. Aca<strong>da</strong> trama, poder-se-ia dizer, surge uma nova configuração, que embora inspira<strong>da</strong> pelo outroé, sempre, singular. Em ca<strong>da</strong> ponto ficam impressas as marcas deixa<strong>da</strong>s pela interação social,conforme Figura 2, que dá senti<strong>do</strong> à fala de Do<strong>na</strong> Erundi<strong>na</strong> (2008): “(...) porque a gente éemprega<strong>da</strong> <strong>na</strong> casa <strong>do</strong>s outros, então tu<strong>do</strong> que a minha patroa me <strong>da</strong>va eu trazia e botava noslugarzinhos.”
- Page 1 and 2: UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARIN
- Page 3 and 4: A PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE E A A
- Page 5 and 6: INTRODUÇÃOO Trabalho de Conclusã
- Page 7 and 8: 1.3 MetodologiaO método utilizado
- Page 9 and 10: Renascer/Mina Quatro, foi necessár
- Page 11 and 12: mandaro ele assinar uma foia. Aí,
- Page 13 and 14: As palavras de Dona Iraci revelam a
- Page 15 and 16: Desse modo, percebe-se a cultura 7
- Page 17 and 18: os pobres.Desse modo, a subjetivida
- Page 19 and 20: sociais, trabalhistas, conjugais, e
- Page 21 and 22: acesso às crenças e às lendas da
- Page 23: abril, 2008). Seria uma simbiose 8
- Page 27 and 28: (corporal), metafísicos (transcend
- Page 29 and 30: importante contra a alienação”,
- Page 31 and 32: manutenção no mundo, no “con-te
- Page 33 and 34: achou um menino dentro duma caixa d
- Page 35 and 36: FIGURA 3 - CRIANÇAS BRINCANDO NAS
- Page 37 and 38: vicioso da pobreza. (2001, p. 101).
- Page 39 and 40: vivida por todo o seu corpo, que me
- Page 41 and 42: memória ambiental (Figura 7).FIGUR
- Page 43 and 44: FIGURA 9 - A PAISAGEM CRIADA POR DO
- Page 45 and 46: partir dessa perspectiva, o signifi
- Page 47 and 48: Freud (apud DAMERGIAN, 2001, p. 106
- Page 49 and 50: REFERÊNCIASAVRITZER, Leonardo. Teo
- Page 51 and 52: n.1, p.17-21, 2004.HALL, Calvin S.;