13.07.2015 Views

a produção da subjetividade ea apropriação do espaço na periferia ...

a produção da subjetividade ea apropriação do espaço na periferia ...

a produção da subjetividade ea apropriação do espaço na periferia ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

trabalhar com ela, porque me achou muito caprichosa, novinha, que ela disse quenão se conformava de eu ser tão novinha e tão limpa. Aí ela me chamou pratrabalhar com ela, aí eu trabalhei cinco anos... ela me <strong>da</strong>va de tu<strong>do</strong>, de tu<strong>do</strong>. Ela me<strong>da</strong>va roupinha, eu saí <strong>da</strong>li que foi uma princesinha <strong>da</strong> casa dela, ela me vistia detu<strong>do</strong>. Ela me pagava pouquinho, ela me pagava um cruzeiro por mês. Eu ganhavaum cruzeiro por mês, mas ela me vestia de tu<strong>do</strong>, dinheiro era só pra minha mãe, ela<strong>da</strong>va direto pra minha mãe. (DONA IRACI, abril/2008).Essa história parece refletir o desejo de ser uma princesinha <strong>do</strong>s contos de fa<strong>da</strong>. Ameni<strong>na</strong> boazinha, caprichosa, serviçal, também sonhou com o mun<strong>do</strong> perfeito e feliz parasempre <strong>da</strong>s princesas. Na estória “A Gata Borralheira” fica-se diante de dilemas humanostrazi<strong>do</strong>s pela r<strong>ea</strong>li<strong>da</strong>de como: morte <strong>da</strong> mãe, aquisição de nova família, diferenças sociais,olhar <strong>do</strong>s responsáveis, amizade, amor e ódio. A meni<strong>na</strong> pobre, um dia, se vestiu igual a umaprincesa. Como bem disse Damergian (2001), no tempo e no espaço os absur<strong>do</strong>s sociais setor<strong>na</strong>m visíveis, pois enquanto Criciúma e os minera<strong>do</strong>res <strong>da</strong> região “cresciam”, Iraci tambémcrescia, porém, para entrar no mun<strong>do</strong> r<strong>ea</strong>l <strong>do</strong>s “lobos” e <strong>da</strong>s “bruxas”.Na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s outras mulheres entrevista<strong>da</strong>s a história sempre se repete: “Olha agente era bem pobre. E eu também tinha que trabalhar pra aju<strong>da</strong>r os pais.” (DONAERUNDINA, abril/2008); e repete:Oh <strong>da</strong>quele tempo atrás assim a gente não tinha infância né? (...) Era muitotrabalha<strong>do</strong> (...) Com nove anos eu eu já trabalhava (...) conheci uma professora queela era muito queri<strong>da</strong>. Meu pai era <strong>da</strong> lavoura, aí ele fazia assim prantação, coisaassim, né? (DONA JOANA, abril/2008).A repetição insiste porque é uma história social. Por isso, a memória chama para oâmbito <strong>da</strong> linguagem aquilo que não faz senti<strong>do</strong> ain<strong>da</strong>, pois “<strong>na</strong> palavra encontra-se apossibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> recomeço” (COSTA,1998, p. 1):Aí trabalhemo ali de novo de derrubar mato, tirá lenha. Eu lembro que meu pai ficou<strong>do</strong>ente, deu aquela febre amarela. Minha mãe também teve um aborto. Eu quetrabalhava pra sustentá a casa. (...) eu tinha uns treze anos. Catorze, eu acho. (DONAZULMIRA, abril/2008).Como demonstra<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> os vários autores já cita<strong>do</strong>s, a subjetivi<strong>da</strong>de é costura<strong>da</strong> ponto aponto a partir <strong>da</strong>s relações com o outro, e sempre começa pela mãe ou adulto cui<strong>da</strong><strong>do</strong>r. Aca<strong>da</strong> trama, poder-se-ia dizer, surge uma nova configuração, que embora inspira<strong>da</strong> pelo outroé, sempre, singular. Em ca<strong>da</strong> ponto ficam impressas as marcas deixa<strong>da</strong>s pela interação social,conforme Figura 2, que dá senti<strong>do</strong> à fala de Do<strong>na</strong> Erundi<strong>na</strong> (2008): “(...) porque a gente éemprega<strong>da</strong> <strong>na</strong> casa <strong>do</strong>s outros, então tu<strong>do</strong> que a minha patroa me <strong>da</strong>va eu trazia e botava noslugarzinhos.”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!