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a produção da subjetividade ea apropriação do espaço na periferia ...

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os pobres.Desse mo<strong>do</strong>, a subjetivi<strong>da</strong>de construí<strong>da</strong> numa socie<strong>da</strong>de madrasta, <strong>na</strong> perspectivade Damergian (2001, p. 107) é uma subjetivi<strong>da</strong>de “esvazia<strong>da</strong>”, “nega<strong>da</strong>”, o pobre é culpa<strong>do</strong>por tu<strong>do</strong>: por não trabalhar, por não estu<strong>da</strong>r, por não salvar o bebê <strong>na</strong> hora <strong>do</strong> parto, por nãose vestir adequa<strong>da</strong>mente, por não se alimentar sau<strong>da</strong>velmente e até por não votar“corretamente”, pois “o povo tem o governo que merece”, diz o dito popular. As instituiçõesrepresentativas são eximi<strong>da</strong>s de suas responsabili<strong>da</strong>des porque “o povo não sabe votar!”Dizem.Daí, as subjetivi<strong>da</strong>des se conformam dependentes <strong>do</strong> sistema administrativo.Dependências planeja<strong>da</strong>mente produzi<strong>da</strong>s, segun<strong>do</strong> Crochík (1998).Quem é pobre também aceita aquela idéia sem questio<strong>na</strong>mento e, desse mo<strong>do</strong>,acaba por reproduzir, objetivamente, as crenças preconceituosas que ele mesmo sofre e queforam produzi<strong>da</strong>s, aceitas e incorpora<strong>da</strong>s <strong>na</strong> cultura. Foi dessa maneira que Do<strong>na</strong> Iraci (2008)se referiu à violência que está ocorren<strong>do</strong>, atualmente, no seu bairro:Não, acho que é bandi<strong>da</strong>ge mesmo. Acho que é. Não tem <strong>na</strong><strong>da</strong> de falta de serviçonão, porque serviço tem. É só querê trabalhá. Mais eu acho que é bandi<strong>da</strong>ge,vagabun<strong>da</strong>ge. É falta de... é preguiça, é tu<strong>do</strong> isso aí. Porque tu vê, os guri que tãomorren<strong>do</strong> é tu<strong>do</strong> de dezesseis, dezessete anos. Eles não chegaram nem <strong>na</strong> metade <strong>do</strong>que eu vivi, né? Porque que não vão pegar um servicinho <strong>na</strong> mão pra variar?Falta algo, mas Do<strong>na</strong> Iraci não consegue expressar o que está faltan<strong>do</strong>, por isso,limita-se a deixar a frase pela metade: “É falta de...”. Para Vala<strong>da</strong>res (2000, p. 88) “é <strong>na</strong> falha<strong>do</strong> pensar que surge in<strong>do</strong>mável, o não assujeitável, o sujeito.” Isso nos remete aospressupostos <strong>da</strong> psicanálise lacania<strong>na</strong> quan<strong>do</strong> fala <strong>da</strong>s lacu<strong>na</strong>s ou <strong>da</strong>s falhas <strong>do</strong> pensarexpressas <strong>na</strong> falha <strong>da</strong> linguagem, ou seja, o “in<strong>do</strong>mável” referi<strong>do</strong> pelo autor é a explicitação<strong>do</strong> desejo, a energia vital e ali se encontra a potência para a transformação, ain<strong>da</strong> que tardia:“Eles não chegaram nem <strong>na</strong> metade <strong>do</strong> que eu vivi, né?” Disse Do<strong>na</strong> Iraci (2008).Crenças, modelos e idéias. Esses também são elementos forma<strong>do</strong>res desubjetivi<strong>da</strong>de porque são constitui<strong>do</strong>res <strong>da</strong> cultura e por sua sutileza são capazes de garantirque modelos ideológicos gera<strong>do</strong>res de discrimi<strong>na</strong>ção e exclusão social se perpetuem através<strong>da</strong> reprodução <strong>do</strong>s valores culturais e <strong>da</strong>s vivências. Foi o que aconteceu no bairroRe<strong>na</strong>scer/Mi<strong>na</strong> Quatro (Figura 1), pois lá “surgiu” um lugar ain<strong>da</strong> mais pobre.A história se repetiu e quem chegou depois ficou excluí<strong>do</strong>. Não por coincidência,mas por um processo de reprodução <strong>do</strong> próprio sistema social excludente, tal qual ocorreu <strong>na</strong>ci<strong>da</strong>de no episódio <strong>da</strong> migração. A força reprodutora <strong>da</strong> pobreza inventa novas razões de ser:se hoje não é pela migração em massa, o é pela indisposição em agir, em cui<strong>da</strong>r, em acolher,

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