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a produção da subjetividade ea apropriação do espaço na periferia ...

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As palavras de Do<strong>na</strong> Iraci revelam aquilo que já se sabe: não foi um temporal 3que causou to<strong>da</strong> aquela per<strong>da</strong>, afi<strong>na</strong>l o resto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ficou intacto, mas as condições demoradia <strong>na</strong>s quais ela e sua família se encontravam, ou seja, moravam em ár<strong>ea</strong> de riscosócio-ambiental, assim chama<strong>da</strong> por não oferecer a menor segurança em termos de proteção àvi<strong>da</strong> e aos bens materiais.Caiu a barreira e aí a família ficou assim: “<strong>na</strong>... <strong>na</strong> rua, bem dizê”!A barreira, que impede que alguns vejam a subjetivi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> pobre por outraperspectiva que não a <strong>do</strong> preconceito, caiu. Assim, Do<strong>na</strong> Iraci começa a sua história fazen<strong>do</strong>referência à sua mãe e à pobreza <strong>da</strong> família: “... aqui minha mãe passou muito trabalho, que anossa família era muito pobre, muito pobre mesmo. Nóis era uma família que nóis era aju<strong>da</strong><strong>do</strong>por to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> aqui em Criciúma”. Do<strong>na</strong> Iraci <strong>na</strong>sceu em berço pobre e, como tal, sereconheceu desde criança. A pobreza deixou marcas <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> de Do<strong>na</strong> Iraci, são as marcas <strong>da</strong>adversi<strong>da</strong>de enfrenta<strong>da</strong> estan<strong>do</strong>-se em desvantagem. São as marcas <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> falta<strong>do</strong> “pão nosso de ca<strong>da</strong> dia”:[...] muitos dias não tinha o que comê, mais a minha mãe nunca deixou passá... nóispassá necessi<strong>da</strong>de, ás vezes, os vizinhos <strong>da</strong>vo <strong>do</strong>is, três ovo ali pra nóis. Dava pros<strong>do</strong>ze filho comê! Então, nóis fomo cria<strong>do</strong> assim: pirão d’água, ovo frito, quan<strong>do</strong> osvizinhos <strong>da</strong>vo, que <strong>na</strong>quela época, agora tu<strong>do</strong> é mais coisa, né? Mais <strong>na</strong>quela épocaera tu<strong>do</strong> muito difícil. Meu pai trabalhava nessa mi<strong>na</strong> aqui, e... o ganho dele erapouco pra sustentá <strong>do</strong>ze filhos, né? (DONA IRACI, abril/2008).Aquilo que Do<strong>na</strong> Iraci aprendeu com as vicissitudes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e com alguém que lheera significativo, mais tarde, quan<strong>do</strong> teve seus filhos, foi reproduzi<strong>do</strong>: “Eu disse: não! Noprato onde come uma, come duas (...) farinha pelo menos não vai faltá pra elas (filhas) comê.”Um aprendiza<strong>do</strong> volta<strong>do</strong> para o dividir, repartir o pouco que se tem com to<strong>do</strong>s, compartilhar<strong>da</strong> mesma fome e <strong>da</strong> mesma sacie<strong>da</strong>de: “Dava pros <strong>do</strong>ze filho comê!” Estas marcas elacarrega consigo, ain<strong>da</strong> hoje, em suas lembranças e em seu mo<strong>do</strong> de ser no mun<strong>do</strong>.Da perspectiva de M<strong>ea</strong>d “la perso<strong>na</strong> es algo que tiene desarrollo, no está presenteinicialmente, sino que surge em el processo de experiência y la activi<strong>da</strong>d sociales.” (1974, p.167, apud GARAY, 2002, p. 2). Isto quer dizer que o ser humano não está pronto a priori,como quer a concepção i<strong>na</strong>tista 4 , mas que se constitui a partir <strong>da</strong>s relações sociais, e,principalmente, com aquelas pessoas que desempenham um papel significativo <strong>na</strong> infância <strong>do</strong>sujeito; e <strong>do</strong>s papéis que elas desempenham <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de, complementa a autora Sant’A<strong>na</strong>3 Temporal: chuva forte, tempestade, aguaceiro. (BUENO, 2000).4 I<strong>na</strong>tista: concepção que se opõe à influência <strong>da</strong> cultura no desenvolvimento psíquico e <strong>na</strong>s capaci<strong>da</strong>desindividuais, pois concebe que estes são regi<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> leis específicas e, portanto, são independentes <strong>da</strong>sexperiências, <strong>do</strong> conhecimento e <strong>da</strong> cultura. (BOCK, 2002).

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